Brazil China Meeting
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Por Marco Aurélio Canônico — Para o Valor, do Rio


Brasil e China completam cinco décadas de relações diplomáticas neste ano no ápice de seu comércio bilateral. Em 2023, o país asiático tornou-se o primeiro a comprar mais de US$ 100 bilhões em produtos brasileiros em um único ano (exatos US$ 104,3 bilhões), respondendo por 30,7% de nossas exportações e por 52% do superávit recorde da balança brasileira no período, de US$ 98,8 bilhões. E manteve a liderança como fornecedor de produtos manufaturados, responsável por 22,1% de nossas importações.

Ao longo deste século, o Brasil teve só dois anos de déficit no comércio com a China (2007 e 2008); desde 2018, o país asiático responde por mais de um quarto das vendas brasileiras ao exterior, 74% delas concentradas em soja, petróleo e minério de ferro.

“O relacionamento entre o Brasil e a China é prioritário para o governo brasileiro, como ficou demonstrado pela visita do presidente Lula a Pequim nos primeiros meses do seu terceiro mandato”, afirma o Itamaraty, em nota. “Nos dois últimos anos, as exportações do Brasil para a China foram maiores do que as para os Estados Unidos e a União Europeia somadas. No ano passado, a margem em favor da China, nessa comparação, foi ainda maior. Isso é também favorecido pelo bom diálogo no nível político”, completa o texto.

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O padrão de comércio entre os dois países revela, no entanto, desequilíbrios que preocupam especialistas. Primeiro, o superávit brasileiro em commodities agropecuárias e atividade extrativa tem como contraparte expressivo déficit em bens acabados da indústria de transformação. “Brinco que, hoje, o Brasil para a China é um país exportador de peso, no sentido de quantidade. A China para o Brasil é um país exportador de peso em termos de valor”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). “A China mudou o Brasil, mas apenas em termos de commodities. O custo Brasil inviabiliza a exportação de manufaturados, não temos preços competitivos.”

Outra questão é que a importância da China no total das vendas externas do país não tem paralelo com o número de empresas brasileiras exportando para aquele mercado. “Soja, petróleo, minério de ferro têm uma concentração, a presença marcante de grandes empresas que exportam grandes volumes”, diz Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento (Mdic). Ela afirma que a diversificação da pauta exportadora é objetivo do governo e já poderia estar mais avançada, não fosse o desconhecimento dos produtores nacionais a respeito do mercado chinês. “A ideia é partir de uma base já competitiva do nosso agronegócio e subir degraus na escala de agregação de valor, aproveitando o aumento de renda na China e expansão da classe média, novos hábitos de consumo. Então, alimento processado é algo, por exemplo, em que há um potencial interessante ainda a ser explorado. Isso envolve esforço público e privado”, explica.

O relacionamento entre Brasil e China é prioritário para o governo brasileiro”
— Itamaraty

Na parte que cabe ao governo, ela cita ações como remoção de barreiras para diferentes tipos de carne, promoção comercial a cargo da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e abertura de um novo consulado na China, com a intenção de expandir oportunidades comerciais para novas empresas e novos setores. Já o esforço privado, avalia, depende principalmente de maior presença de empresas brasileiras no outro lado do mundo.

“É necessário que os empresários conheçam pessoalmente potenciais clientes, fornecedores, parceiros, conheçam os canais de distribuição, o ecossistema digital chinês, que é completamente diferente do nosso”, diz Prazeres, que morou no país asiático por três anos antes de aceitar seu atual cargo. “Se as empresas brasileiras pretendem atingir consumidores finais na China, é fundamental que haja maior presença física e um melhor entendimento de como utilizar a internet para negócios no país.”

Essa aproximação esteve em pauta no Brazil China Meeting, evento em Shenzhen, o “Vale do Silício” chinês, iniciativa do Valor e Lide, com apoio institucional de “O Globo” e CBN, realizado de 10 a 13 de janeiro, com o propósito de debater oportunidades de negócios entre os dois países.

Para Célio Hiratuka, diretor do Instituto de Economia da Unicamp, a mudança do perfil de comércio sino-brasileiro depende da forma como se estruturarem as relações de investimento da China no Brasil. “Temos recebido nos últimos anos investimento da BYD na Bahia e da Great Wall em São Paulo, no setor automotivo. É uma novidade, empresas chinesas investindo fortemente num setor industrial associado à transição energética, apostando em veículos elétricos”, diz Hirakuta. Segundo o diretor, esse investimento contribui para a incorporação de conhecimento e geração de emprego, mas poderia ir além. “Num segundo momento, pode atrair mais fornecedores chineses para o Brasil, adensando a cadeia produtiva e transformando o país em um hub para distribuição na América Latina”, opina.

A China mudou o Brasil, mas apenas em termos de commodities”
— José de Castro

Desde 2010, o Brasil passou a ser o maior destino de investimentos chineses na América do Sul (48% do total entre 2007 e 2022), com destaque para os setores de eletricidade e extração de petróleo e gás. O Mdic destaca também a importância da visão compartilhada entre dois países com respeito à sustentabilidade. “Isso gera uma série de oportunidades, desde investimentos em energias renováveis e finanças verdes a cooperação em foros internacionais, inclusive no G20 [grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo], que o Brasil preside”, afirma Prazeres.

Biotecnologia é uma área em que o Brasil tem interesse em avançar, afirma ela. “A abertura do mercado de milho, por exemplo, é resultado de um diálogo entre autoridades dos dois países no que diz respeito ao reconhecimento de eventos de biotecnologia”, aponta. “No setor de carnes, há várias questões específicas que estão no nosso radar, para além da habilitação de novas plantas: reconhecimento de novas áreas como livres de febre aftosa, abertura de mercados importantes, como o de miúdos.”

A secretária aponta também “uma sinergia grande” entre os objetivos brasileiros com o Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o que a China busca com sua Iniciativa do Cinturão e Rota, lançada em 2013 e que prevê o desenvolvimento de uma rede multimilionária de projetos de infraestrutura na Ásia, África, Europa e América. Isso não significa que há interesse do Brasil necessariamente em aderir à rota. “O que eu posso dizer é que estamos empenhados em explorar essa complementariedade que existe entre o interesse brasileiro em atrair investimento chinês para a infraestrutura de maneira geral, e para as obras do PAC em particular, e o interesse da China em investir no mundo, em projetos como esse”, afirma.

A crescente afinidade e interdependência comercial sino-brasileira não esconde, no entanto, embates em áreas como a siderúrgica e a química, que sofrem com importados baratos graças ao excesso de produção chinesa e à desaceleração do mercado interno, além do acesso à energia mais barata em função de circunstâncias geopolíticas. “Química e siderurgia respondem à principal fatia de medidas de defesa comercial que o Brasil tem hoje contra práticas desleais, sobretudo dumping”, diz Prazeres. O governo brasileiro recompôs a tarifa de importação para esses setores e analisa os pleitos da indústria.

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