Os investimentos chineses no agronegócio brasileiro aproximaram-se de US$ 99 milhões em 2022, segundo o mais recente levantamento do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), beneficiando dois projetos de exploração agrícola em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, segundo Rafaela Debiasi, especialista independente em investimentos e agronegócio. “São projetos focados no agro, para a promoção da sustentabilidade do setor e para a recuperação de áreas degradadas”, afirma.
O valor representou apenas 8% do total investido pelos chineses no país naquele ano, em torno de US$ 1,3 bilhão, num tombo de 78% diante de US$ 5,9 bilhões em investimentos realizados em 2021, conforme Debiasi. Na sua visão, essa queda não deve ser entendida como um desinteresse da China, já que refletiria mais um descompasso entre o anúncio dos projetos e sua concretização efetiva, num atraso gerado pela demora nos processos de licenciamento, questões regulatórias e outros fatores.
De acordo com o levantamento, entre 2007 e 2022, diante de um investimento total de cerca de US$ 71,6 bilhões, a agricultura teve sua participação limitada a 6,4%, o que corresponderia a praticamente US$ 4,6 bilhões ao longo do período, numa média anual próxima de US$ 286,4 milhões ou quase três vezes mais o valor investido em 2022.
Na avaliação de Sueme Mori, diretora do CEBC e da CNA, o investimento chinês na agropecuária brasileira tem sido baixo, especialmente quando considerado o potencial do setor. “Existem áreas de cooperação que poderiam ser mais exploradas, com benefícios bilaterais, já que o Brasil tem essa relevância tão grande como fornecedor de alimentos para a China. Um deles seria investimento em infraestrutura de escoamento e de armazenamento”, avalia ela.
Os gargalos nessas áreas, diz Mori, acabam impondo perdas na competitividade internacional do agronegócio brasileiro e sua solução reduziria custos, favorecendo o crescimento da produção e o suprimento do mercado chinês.
Mori identifica ainda o setor de pesquisa agropecuária como outra área de cooperação entre os dois países, com possibilidades de investimentos em centros de pesquisa e desenvolvimento, envolvendo projetos técnico-científicos destinados a incrementar a produtividade no campo. O país, acrescenta ela, tornou-se referência nesta área como resultado do trabalho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), reconhecido internacionalmente, e também por conta da pesquisa privada.
A possibilidade de conversão de novas áreas para a produção agrícola, com a recuperação de pastagens degradadas, surge como mais uma possibilidade de atração de investimentos estrangeiros, chineses em particular, lembra Mori. O Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestais Sustentáveis (PNCPD) trabalha com a perspectiva de recuperar 40 milhões de hectares. A intenção, conforme Debiasi, seria recuperar em torno de 2 milhões de hectares por ano, o que exigiria um investimento anual entre R$ 30 bilhões a R$ 46 bilhões.
O Brasil deverá responder por 40% do aumento esperado para a produção de alimentos até 2030. “A perspectiva é a de que o país consiga entregar essa produção sem a necessidade de relaxar as restrições para a compra de terras por estrangeiros”, sustenta Debiasi. A Lei 5.709, de 1971, ainda em vigor, limita a aquisição de terras por estrangeiros a 50 módulos rurais, e o Projeto de Lei 2.963/2019, em debate no Congresso, flexibiliza as restrições e autoriza a compra de até um quarto da superfície municipal por estrangeiros, sem a necessidade de avaliação do Conselho de Segurança Nacional.