Brazil China Meeting
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Por Flávia Barbosa — O Globo, de Shenzhen (China)


Mesa de abertura do Brazil China Meeting, iniciativa do Valor e Lide, com apoio institucional de “O Globo” e CBN, realizado em Shenzhen: foco do evento foi a ampliação de negócios entre os dois países — Foto: Ding Hongzheng/Su Yi/LIDE
Mesa de abertura do Brazil China Meeting, iniciativa do Valor e Lide, com apoio institucional de “O Globo” e CBN, realizado em Shenzhen: foco do evento foi a ampliação de negócios entre os dois países — Foto: Ding Hongzheng/Su Yi/LIDE

O volume de produção agropecuária e o potencial de reservas minerais são vantagens inequívocas do Brasil em sua longa relação comercial com a China. Não à toa, o país fornece 77% do açúcar, 61% da soja, 42% da carne bovina, 37% do frango e 20% do minério de ferro que a segunda maior economia do mundo demanda anualmente. Mas o que torna os brasileiros alvos prioritários hoje dos chineses é uma trinca de ativos: estabilidade, confiabilidade e gigantismo.

A China implementa atualmente a segunda parte de seu plano de desenvolvimento, que compreende a expansão global de suas empresas, especialmente as de infraestrutura, tecnologia e transição energética, como ficou claro durante as discussões do Brazil China Meeting, evento em Shenzhen, o Vale do Silício chinês, iniciativa do Valor e Lide, com apoio institucional de “O Globo” e CBN. O Brasil é parte do mapa dos investimentos - cabe aos empresários e ao governo brasileiros explorar as nossas vantagens naturais.

A primeira delas é a estabilidade política e econômica. O Brasil tem instituições democráticas funcionais, arcabouço legal, regulação consolidada, economia previsível e players diversificados (dos globais aos de pequeno porte). Quando se fala de investimentos multibilionários de longo prazo, essas questões são chave para quem quer se tornar parceiro preferencial.

“O Brasil tem um ambiente estável e contínuo”, pontuou Liao Jun, presidente da divisão internacional da gigante de infraestrutura CRCC, ao discorrer sobre a atratividade brasileira.

A confiabilidade é outro ponto positivo para o Brasil, que tem longa parceria com a China no fornecimento de matérias-primas. Na produção agropecuária, consolidou-se no plano de segurança alimentar chinês, que visa ao abastecimento de um mercado de mais de 1,4 bilhão de pessoas. Impulsionados por constante inovação que elevou a produtividade de campos e pastos, os embarques brasileiros para a China saltaram de 2,7% em 2000 para mais de um terço da produção exportada em 2022.

Nos minérios, a mesma coisa: o Brasil foi estratégico no fornecimento dos insumos para o aço que construiu a infraestrutura industrial e urbana da nova China, que tem na Vale uma de suas parcerias de mais longa data.

Interesses diplomáticos e climáticos são convergentes no xadrez internacional

Somam-se ao histórico de confiabilidade os laços políticos entre Brasil e China. Das gigantes de infraestrutura às de tecnologia e automotivo, as empresas chinesas, em alinhamento com o discurso oficial de Pequim, destacam a relevância da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2023 ao país como marco de renovação da parceria estratégica entre as duas economias. São vistos objetivos comuns, com interesses diplomáticos e climáticos convergentes nas relações bilaterais e no xadrez internacional.

Raul Jungmann, que esteve à frente do Ministério da Defesa e hoje preside o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), chama atenção, porém, que o Brasil não pode dar como certa a “preferência” e deve se manter pró-ativo. Ele dá como exemplo o desenvolvimento da cadeia dos chamados minerais críticos. A China hoje investe mais no Peru do que no Brasil na extração de lítio, essencial às baterias elétricas e equipamentos fotovoltaicos que são os motores da transição energética. E teve na Argentina o destino de seu principal investimento nesse minério na América do Sul no último biênio.

“Até 2030, o potencial de demanda global de minerais críticos, lítio à frente, é de US$ 1,3 trilhão. O Brasil é um caminho natural para os investidores chineses. Só o Brasil é capaz de produzir lítio verde e acelerar a descarbonização da China. E nossa relação é baseada em confiança. Estabilidade e confiança. Não há parceiro em posição estratégica semelhante”, afirmou Jungmann.

A mineração é fundamental também para a segurança alimentar chinesa. O país, portanto, é um bom destino para investimentos em fosfato e potássio, insumos de fertilizantes, que a agricultura brasileira ainda majoritariamente importa.

Kátia Abreu, ex-ministra da Agricultura e empresária do ramo, lembra que há outros produtos agrícolas que o Brasil tem para vender à China além dos alimentos in natura, frutos do desenvolvimento tecnológico do Brasil no setor. Ela chamou, no evento, particularmente atenção aos DDGs (grãos secos por destilação, na sigla em inglês), subprodutos do etanol fabricado a partir do milho, alimento para o rebanho bovino altamente proteico.

“O que o Brasil produz hoje de DDG daria para alimentar quatro milhões de cabeças de gado confinado pelo período de um ano. Só que não se pode comercializar DDG com a China. Não há um acordo para isso firmado entre os ministérios de agricultura dos dois lados” apontou Kátia Abreu.

Do ponto de vista da magnitude dos números, o ativo final é o mais valioso para o Brasil: o gigantismo. Quando olham para o país, as empresas chinesas veem uma espécie de repeteco das oportunidades existentes em casa nas últimas duas décadas ou mais. O Brasil tem grandes necessidades de investimentos em infraestrutura crítica, como portos, rodovias, ferrovias, mobilidade urbana e conectividade, e os investidores chineses têm a expertise e os fundos necessários à demanda.

Também o setor de energia, especialmente a geração eólica (on e offshore) e o desenvolvimento de novos segmentos, como a biomassa e o hidrogênio verde, está no alvo das empresas chinesas, que já têm grande capital investido no país, como nos casos da CGN e da State Grid.

Likui Fang, presidente da CGN Brasil Energia, foi categórico em afirmar que o setor conta com capital humano e investimentos cada vez mais estruturados e deve aproveitar o bom canal diplomático entre os países para encaminhar questões sobre energias renováveis, potencializando oportunidades abertas com as mudanças climáticas, tais como geração eólica no mar e hidrogênio verde; e agilizar os mecanismos de pagamentos e investimentos em moedas locais, reduzindo os riscos cambiais.

“O Brasil precisa fazer nos próximos 20 anos os mesmos investimentos que a China precisou nas décadas passadas, para os quais tiveram de buscar soluções. Hoje, podem implementá-los sem repetir os mesmos erros, queimando etapas, o que é muito interessante para o Brasil, que tem uma escala muito atrativa para as companhias chinesas, além de um mercado regulado e maduro que se traduz em confiança para os investidores”, resumiu João Andrade, CEO da consultoria Future, que ajuda chineses a desenvolver oportunidades de negócios.

Consumo e serviços são igualmente áreas potenciais para investimentos chineses, e o Brasil se beneficia de um mercado de mais de 200 milhões de pessoas e da posição estratégica na América do Sul. Companhias como a de veículos elétricos BYD e a de equipamentos eletrodomésticos e eletrônicos TCL, em joint-venture com a Semp, já estão instaladas e planejam expansão no Brasil, tanto em volume de produção quanto em soluções, para o consumidor privado e o setor público.

A Tencent, maior empresa de tecnologia da China e uma das maiores do mundo, dona do WeChat e de uma penca de jogos de fama global, já tem um datacenter e 23 pontos de entrega de conteúdo no país.

“O Brasil é hoje um dos principais focos de desenvolvimento de negócios da Tencent no mundo. Jogos, meios de pagamento e gestão de dados e conteúdo são nossos principais filões. Vemos oportunidade também na infraestrutura deficiente de redes para conectividade e na parceria com empresas locais”, afirmou Tom Petreca, que cuida do desenvolvimento de negócios para Américas.

Se o ditado mais repetido pelos chineses durante o Brazil China Meeting foi uma versão do nosso “a união faz a força”, para o Brasil vale outro bem conhecido, na estratégia de atrair capital do gigante asiático: é hora de arregaçar as mangas para fazer do limão de vantagens naturais e comparativas uma limonada de investimentos bilionários de longo prazo.

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