Não foi só a China que ganhou espaço nas relações bilaterais na América Latina, foi o Brasil que perdeu. A constatação é do diplomata Rubens Barbosa, para quem a falta de uma política industrial, um sistema tributário oneroso, gargalos na infraestrutura logística, entre outras barreiras, retiraram, ano a ano, a competitividade da produção nacional. “Hoje, tem-se uma dependência muito grande do agronegócio e alguma participação do setor de serviços na balança comercial. A indústria, que já representou 25%, 27% [da balança], hoje não passa de 10% a 12%”, afirma o embaixador. “Falta, inclusive, uma política comercial do Brasil para a América Latina”, diz.
Estudo da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) mostra que as vendas do Brasil para a América do Sul caíram 25% entre 2011 e 2021, para US$ 33 bilhões. E foi justamente a China o país que mais mercado tirou do Brasil. A participação do país nas importações argentinas cresceu de 10%, em 2011, para 17% em 2021.
Mas não foi só para o mercado argentino e nem só para a China que o Brasil perdeu mercado. A Índia, que praticamente não tinha comércio com o Equador em 2011, tinha participação de 23% em 2021. No total, aponta o estudo, nada menos que 15 países ganharam alguma participação com a perda de mercado pelo Brasil.
“O problema do Brasil, e não só aqui na região, mas no mundo todo, é a falta de competitividade. Hoje, o Brasil tem menos de 1% das exportações de produtos manufaturados, e isso reflete o esvaziamento da indústria aqui. Estamos com um ano de governo que havia prometido um programa de reindustrialização, e até agora o que vimos foram os R$ 19 bilhões de incentivo para a indústria automotriz. Quer dizer, é o modelo antigo, não conseguimos nos renovar na política industrial”, afirma o embaixador Barbosa.
Diretor do departamento de relações internacionais e comércio exterior da Fiesp, Gustavo Bonini lembra que, enquanto o Brasil perde competitividade, a China aumenta o valor agregado de suas exportações. “Antes, os chineses exportavam lâmpadas; agora, vendem plataforma de perfuração de petróleo”, ilustra o executivo.
A China tem papel importante nas duas pontas, tanto como grande exportadora quanto importadora e, ao mesmo tempo em que é a concorrente do Brasil no mercado regional, também seu principal parceiro comercial, lembra Bonini. “Além disso, são importantes fomentadores de infraestrutura na região. A próxima fronteira da relação entre os dois países serão os investimentos chineses nesta área - que já acontecem, mas tendem a aumentar, já que eles têm um estoque de capital bastante elevado”, pondera.