Brazil China Meeting
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Por Vitor Paolozzi — Para o Valor, de João Pessoa


Jogadores do Shanghai Shenhua (de azul) e do Shandong Taishan disputam bola em partida do campeonato chinês — Foto: CFIDC/VCG via Getty Images
Jogadores do Shanghai Shenhua (de azul) e do Shandong Taishan disputam bola em partida do campeonato chinês — Foto: CFIDC/VCG via Getty Images

Acostumada a colher sucessos nas mais diferentes áreas de atividades econômicas e científicas, a China não conseguiu repetir o feito com o futebol. O Brasil ocupou lugar de destaque na tentativa, iniciada na década passada, de tornar o país uma superpotência no esporte: metade das dez principais contratações de jogadores estrangeiros para atuar no país asiático foram de jogadores brasileiros - incluindo as quatro mais caras.

“Eles não eram necessariamente os nomes mais famosos, mas foram perfeitos para o que a China estava procurando. Eles impulsionaram os times e as ligas. Não sei onde [os jogadores] ficam em termos das exportações do Brasil, mas são provavelmente as exportações [brasileiras] mais famosas”, afirma o jornalista inglês Mark Dreyer, autor do livro “Sporting Superpower", que faz um raio-x das ambições esportivas da China. A chegada de astros estrangeiros começou por volta de 2012, mas o auge do sonho chinês aconteceu entre as temporadas 2015-2016 e 2016-2017, quando os clubes investiram mais de US$ 1 bilhão em contratações, um volume de negócios que colocou o país entre as cinco principais ligas de todo o planeta, segundo o site Transfermarkt.

Nos últimos 12 anos, os chineses surpreenderam o establishment da bola, levando para o país craques como o argentino Carlos Tévez, o marfinense Didier Drogba, o francês Nicolas Anelka e os brasileiros Hulk, Paulinho, Ramires, Alex Teixeira e Oscar - este, tirado do inglês Chelsea em 2017 por US$ 65,4 milhões, na maior transação do futebol chinês. O ex-jogador do São Paulo e do Internacional, que assinou contrato com o Shanghai Port para receber US$ 510 mil por semana, é o único dos grandes nomes que continua na China.

Fora do campo, também foram atraídos muitos técnicos de currículo respeitável: entre outros, os brasileiros Luiz Felipe Scolari, Vanderlei Luxemburgo, Mano Menezes e Cuca e os italianos Marcello Lippi (campeão mundial com a Itália em 2006) e Fabio Capello, com passagens por Milan, Juventus, Real Madrid e as seleções da Inglaterra e da Rússia.

O desejo da China de ter relevância no universo do futebol deve-se especialmente a uma pessoa: o presidente Xi Jinping, um grande fã do esporte. Antes mesmo de chegar ao cargo máximo do país, em 2013, Xi, ainda como vice-presidente, tentou usar o peso do Estado para impulsionar o futebol, talvez inspirado em Mao Tsé-Tung. No começo da década de 1950, o comandante da revolução comunista de 1949 decidiu estabelecer o pingue-pongue como o esporte nacional, investindo em um jogo que não demandava gastos significativos. Foi um projeto tão bem-sucedido que hoje a China é dona de 33 das 37 medalhas de ouro já disputadas na história dos Jogos Olímpicos.

Precisamos ver os impactos do programa de futebol escolar”
— Tom Byer

O boom do futebol na década passada foi financiado sobretudo por estatais e empresas de grande porte, principalmente incorporadoras imobiliárias, interessadas em agradar ao governo. Além de patrocinar competições da Fifa e da Uefa (a confederação europeia de futebol), as empresas passaram não só a pôr suas marcas nas camisas de times, como também a comprar ou criar seus próprios times. O principal time dessa nova fase foi o Guangzhou Evergrande, bancado pela gigante do comércio online Alibaba e pela incorporadora Evergrande, a segunda maior do setor imobiliário chinês. Enquanto o dinheiro dava em árvores, e com Felipão como técnico, o Evergrande ganhou sete títulos em três anos, incluindo uma Liga dos Campeões da Ásia.

Em 2014, o Shandong Taishan até mesmo colocou um pé por aqui, comprando o time Desportivo Brasil, de Porto Feliz (SP), para ser usado como base de formação. O time chinês mandou dezenas de jovens atletas para cá para treinarem e enfrentarem jogadores brasileiros. As viagens foram interrompidas em 2019, mas a previsão é que recomecem este ano.

E então veio o colapso da Evergrande, que deu início à grande crise do setor imobiliário na China a partir de 2020. A pandemia agravou ainda mais a situação. Com o longo lockdown imposto por Pequim, os times começaram a jogar em estádios vazios. Os patrocinadores se afastaram e os profissionais estrangeiros começaram a debandar, cansados de viver num virtual regime de prisão domiciliar imposto pela covid-19. Times começaram a fechar as portas (35 em todas as seis divisões) e a dar calotes nos jogadores. Os brasileiros Renato Augusto, Miranda e Fernando Martins são alguns dos que não receberam seus salários.

Também não ajudaram os casos de corrupção envolvendo suborno, arranjo de resultados e apostas ilegais. Diversos dirigentes da federação chinesa de futebol (CFA) foram afastados e estão sendo investigados, incluindo o presidente da entidade, Chen Xuyuan. Até um ex-técnico da seleção chinesa, Li Tie, foi indiciado por acusações de pagar e receber suborno.

O projeto de Xi ia bem além do futebol profissional. Em 2015 foi lançado o ambicioso Programa para a Reforma e o Desenvolvimento do Futebol chinês, que tinha entre as metas montar uma seleção nacional competitiva, sediar uma Copa do Mundo, expandir o número de praticantes do esporte e ter, até 2025, 50 mil escolas primárias e secundárias “especializadas em futebol”.

Dreyer diz que o plano tinha metas realistas, mas o problema foi a falta de paciência para ver resultados no longo prazo e a crença de que se podia disseminar o futebol por decreto. “A China é uma sociedade do alto para baixo e o futebol precisa de uma abordagem de baixo para cima. Muitas pessoas jogam, mas não da mesma maneira como estamos acostumados no Reino Unido ou Brasil. Toda criança brasileira vai crescer jogando futebol. Isso simplesmente não é o caso na China. Nove anos após a divulgação do programa, não houve avanço nenhum”, afirma Dreyer.

A seleção masculina da China é uma boa ilustração desse fracasso. Atualmente na 79ª posição do ranking da Fifa, a China no começo do ano jogou um amistoso com Hong Kong e perdeu para os rivais, algo que não acontecia há 29 anos.

O técnico americano Tom Byer, que foi contratado como consultor e ajudou na implementação do programa envolvendo 50 mil escolas, acha que ainda é cedo para decretar um fracasso completo do futebol chinês. “As pessoas com frequência confundem o que está acontecendo em relação aos times com o que se passa no nível de base. Acho que precisamos esperar mais para ver os impactos do programa de futebol escolar da reforma de 2015”, diz

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