Estabelecer parâmetros para a regulamentação de startups vai facilitar a troca de informações e investimentos entre países do G20, defende o Startup20, grupo que representa empresas de base tecnológica junto às maiores economias do planeta.
O fórum foi oficializado como um dos 13 grupos de engajamento do G20 ano passado, durante a presidência indiana. A principal contribuição foi o comprometimento dos líderes dos países com investimento da ordem de US$ 1 trilhão até 2030 para o ecossistema de startups.
Os desafios e oportunidades para atingir a marca trilionária foram pauta do terceiro encontro do Startup20, que aconteceu na quinta-feira (4) e nesta sexta (5) no Recife, com objetivo de descentralizar as discussões do eixo Rio-São Paulo.
Representantes do Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, da prefeitura do Recife, empreendedores e investidores participaram dos debates na capital pernambucana. Os painéis trataram de políticas públicas e regulação, transformação digital, ESG e open innovation. Integrantes de delegações estrangeiras também apresentaram experiências bem-sucedidas em seus países.
A Associação Brasileira de Startups (Abstarups), que coordena o grupo de engajamento na presidência brasileira, identifica a padronização de regulamentações entre os países do G20 como uma das prioridades.
A presidente da Abstartups e chair do Startup20, Ingrid Barth, destaca que o Brasil é pioneiro com o Marco Legal das Startups, de 2021. Ela ressalta, porém, que desde os primeiros encontros do Startup20, na Índia, constatou-se que a diferenciação entre startups e pequenas e médias empresas ainda não é clara em muitos países do grupo.
“A Turquia apresentou 200 mil startups porque não tem distinção entre o que é startup e o que é pequena e média empresa. A unificação do entendimento é necessária para elaborar políticas públicas e endereçar os investimentos”, afirma.
A descentralização de capitais e o alinhamento dos negócios com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU também estão entre as diretrizes principais. Para o grupo, o Brasil espelha a necessidade de dispersão dos investimentos para pequenos negócios e startups em países emergentes.
Para o líder da força-tarefa de investimentos do Startup20, Arthur Garutti, os pequenos negócios e as startups escancaram a concentração de capital no empreendedorismo. Ele diz que o venture capital é um exemplo de modelo cujas regras obrigam o gestor a alocar recursos em projetos grandiosos.
“Por isso fica uma busca constante pelos unicórnios. Mas e se a gente focar só nos unicórnios, como ficam os 30 milhões de CNPJs que precisam ser atendidos também?”, diz ele, que é sócio da ACE Ventures.
O capital para startups pode vir de investidores-anjo, geralmente na figura de uma pessoa física; de fundos de venture capital, voltado a negócios em estágio mais avançados; e do corporate venture capital, quando o investimento é feito por grandes empresas.
Através do communiqué, a força-tarefa quer provocar os chefes de Estado do G20 para que as questões regulatórias sejam aceleradas e a inovação dos investimentos chegue na ponta. Para Garutti, a sequência de Índia, Brasil e África do Sul na presidência rotativa do grupo de maiores economias do mundo representa uma janela de oportunidades.
“À medida em que a gente traz as preocupações e diz, ‘olha, o capital não chega aqui, só está chegando nos potenciais unicórnios, só na Faria Lima, só no venture capital’, você começa a abrir os olhos para a necessidade de acelerar a regulação”, completa.
Outro ponto de discussão junto ao governo brasileiro é o incentivo a investidores-anjo através da mudança de tributação. “O investimento anjo no Brasil é tributado como renda fixa, o que não faz sentido para um investimento de alto risco”, ressalta Barbara Furiatti, diretora de políticas públicas da Abstartups.
O grupo também tem contribuído com o debate sobre a regulação da inteligência artificial (IA), vista como uma tecnologia que pode exponenciar os projetos com custo reduzido. “Nosso foco é a responsible IA, porque tecnologia é um meio, não é o fim. É mais a boa utilização da ferramenta do que, efetivamente, pontos muito específicos ou muito restritivos com relação ao seu uso”, diz Barth.
O Startup20 realizou o primeiro encontro sob presidência brasileira em fevereiro, em Macapá (AP). Depois se reuniu em outubro, no Rio de Janeiro, em paralelo ao Web Summit. A última reunião de cúpula está marcada para 9 a 12 de setembro, em São Paulo.
*A repórter viajou a convite da Associação Brasileira de Startups (Abstartups)