A redução das dúvidas sobre a magnitude da tragédia no Rio Grande do Sul foi o principal vetor para a queda do Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br), que caiu 2,3 pontos em junho, para 110,6 pontos. A diminuição do impacto das chuvas no Estado do Sul do Brasil no noticiário levou à retração da incerteza no componente de mídia, que responde por 80% do IIE-Br.
"A princípio parecia que teria aumento [da incerteza] por conta das questões fiscais, que voltaram a ser o tema principal das discussões", diz Anna Carolina Gouveia, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). "Mas isso não se refletiu por causa do peso do componente mídia", acrescenta.
Ela frisa que as questões fiscais ainda trazem incerteza e podem ser média pelo Componente de Expectativas, que responde por 20% do IIE-Br. Em junho, enquanto o Componente de Mídia caiu 3,4 pontos entre maio e junho, para 110,8 pontos, o Componente de Expectativas subiu 2,8 pontos, para 105,1 pontos, maior nível desde agosto do ano passado.
Gouveia ressalta que as expectativas mostram dúvidas quanto à trajetória de juros, inflação e câmbio, apontando incertezas relativas ao futuro da política monetária não apenas no Brasil, mas também nos Estados Unidos. Gouveia lembra que as decisões sobre taxas de juros nos EUA têm reflexos na economia brasileira.
"A sustentabilidade da dívida pública, os gastos do governo e a reformulação da meta de déficit. Tudo isso gera ruído nas contas públicas e reflete nas expectativas do mercado", pondera a economista.
Nas últimas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu reiteradas declarações que acenderam no mercado a luz de alerta sobre possível aumento de gastos. Essas declarações suscitaram dúvidas sobre a capacidade de o governo de fato conseguir zerar o déficit primário via corte de custos em vez de tentar fazê-lo apenas pelo aumento das receitas.
Gouveia diz que é possível que nos próximos meses esse temor sobre as contas públicas se reflita também no Componente de Mídia, com aumento da incerteza. Por outro lado, não descarta a possibilidade de sinalizações mais concretas de Lula e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a necessidade de conter gastos.
"É possível que haja essa convergência. É um pouco imprevisível [a trajetória do IIE-Br] nos próximos meses", diz Gouveia.
A economista diz que o atual nível do IIE-Br, ao redor dos 110 pontos, é "desconfortável", mas lembra que entre 2015 e 2019, período imediatamente anterior à pandemia, a média do Indicador girou em torno de 115 pontos. Desde 2023, essa média é menor, de 109,3 pontos.
Em termos de média móvel trimestral, o indicador subiu 2,3 pontos em junho, para 110 pontos.
![Vista de Porto Alegre durante a enchente — Foto: Mauricio Tonetto/Secom](https://s2-valor.glbimg.com/DyxZptIefbgPqgelKLhFWfU3Hf4=/0x0:1153x967/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/S/a/y1KnnjQdSkYWjWFJMt0Q/28rel-100-seguros-f18-img01.jpg)