Medidas alternativas do Banco Central para a inflação de serviços mais ligados à mão de obra apresentam variação mais alta dos últimos trimestres do que a inflação geral de serviços (sem contar passagens aéreas). Além disso, por diversas outras medidas analisadas, a autoridade monetária conclui que a inflação de serviços diminuiu desde seu máximo atingido em 2022, “mas o ritmo dessa desinflação está diminuindo”.
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Esses são os apontamentos de dois boxes do Relatório de Inflação (RI) de junho, divulgado nesta quinta-feira (27).
Em um deles, o BC identificou a relevância da remuneração do trabalho, do capital e do custo de insumos (com alimentos, bens e outros) na formação dos preços de cada subitem de serviços no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e construiu medidas para a inflação de serviços que enfatizam essas diferenças.
O subíndice reponderado pelo fator trabalho, por exemplo, tem maior peso de empregado doméstico e serviços de educação e peso menor de aluguel residencial e serviços de comunicação, em comparação aos pesos usuais do IPCA. Já o subíndice reponderado pelo fator capital atribui peso relativamente maior a aluguel, serviços de comunicação e serviços bancários.
Na análise do período pós-pandemia, o BC observou que os quatro subíndices da inflação de serviços (reponderados pelos fatores trabalho, capital, consumo intermediário de alimentos e consumo intermediário de bens) se elevaram até 2022 ou início de 2023, na variação acumulada em 12 meses.
Mais recentemente, diz o BC, todas as medidas apontam para um processo de desinflação, mas esta é menor no caso do componente reponderado pelo fator trabalho. "Dos quatro subíndices, este é o único cuja variação em 12 meses supera a dos serviços ex-passagem aérea", afirma.
O BC pondera que os quatro componentes têm tendências de longo prazo distintas. Por exemplo: a inflação de serviços reponderada pelo fator trabalho teve variações mais altas do que a inflação de serviços (exceto passagem aérea) entre 2007 e 2019 também.
“Vale destacar que a diferença atual entre a inflação reponderada pelo fator trabalho e a inflação de serviços ex-passagem aérea é semelhante à diferença observada no período 2007-2019”, diz o BC.
A autoridade monetária nota também que a inflação de serviços mais ligados ao fator trabalho mostra um recuo ao longo dos últimos trimestres, enquanto outra métrica que o BC construiu em relatório passado, chamada de “serviços intensivos em trabalho”, apresenta elevação moderada.
As duas medidas, no entanto, se situam acima da inflação geral de serviços (ex-passagem aérea). “Em comparação à inflação geral de serviços ex-passagem aérea, a medida reponderada pela intensidade no uso de mão de obra, assim como a medida anterior de ‘serviços intensivos em trabalho’, apresenta variação mais alta nos últimos trimestres”, conclui o BC.
“Esse comportamento pode, em alguma medida, refletir o recente dinamismo do mercado de trabalho”, afirma.
Em outro box, o BC analisa diversas medidas para a inflação de serviços, como a inflação dos serviços mais sensíveis à inércia e à ociosidade da economia.
Essas duas séries confirmam, segundo o BC, a disseminação da desinflação de serviços ao longo de 2022 e 2023. Mas, considerada a variação trimestral dessazonalizada, que é um indicador de tendência, elas “exibem certa estabilidade nos últimos trimestres”, aponta o relatório.
“Pode-se notar que a inflação trimestral anualizada, assim como a inflação em 12 meses, encontra-se ao redor de 5%, um nível mais alto do que o vigente nos anos imediatamente anteriores à pandemia, para a maioria das séries aqui apresentadas”, diz o BC sobre o exercício em geral.
“Em resumo, após analisar diversas medidas, conclui-se que a inflação de serviços diminuiu desde seu máximo atingido em 2022, mas o ritmo dessa desinflação está diminuindo”, afirma.
Para o BC, tal evidência corrobora o diagnóstico apresentado em atas recentes do Comitê de Política Monetária (Copom), de que parte relevante da desinflação de serviços se deu pelo transbordamento da desinflação verificada em alimentos e bens industriais “e que o fortalecimento do processo desinflacionário, agora em seu segundo estágio, estará mais relacionado ao cenário do mercado de trabalho e da demanda agregada”, diz.
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