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Por , Folhapress — Lajeado

Não são somente as famílias com perdas de casas que devem trocar de endereço após as enchentes de proporções históricas no Rio Grande do Sul. Empresas afetadas pela crise climática também estão se mudando em busca de áreas mais seguras para retomar os negócios no estado.

É o caso de indústrias como a Lajeadense Vidros, do município de Lajeado (a 120 km de Porto Alegre). De setembro de 2023 a maio de 2024, a vidraçaria foi atingida por três cheias do rio Taquari.

A mais grave, registrada em maio, devastou grande parte da estrutura da fábrica e estragou equipamentos que ainda estavam no local.

A empresa já havia levado parte da operação para um espaço provisório na cidade vizinha de Estrela. Em paralelo, trabalha no projeto de construção de uma nova sede em um terreno adquirido em Lajeado, mais distante do rio.

O plano é iniciar as atividades no novo endereço até março, de acordo com Régis Arenhart, 31, diretor administrativo e financeiro da Lajeadense Vidros. A empresa emprega em torno de 115 pessoas.

"A ideia é sair daqui e esquecer, até porque já teve roubo [após a enchente de maio]. Naquela máquina lá, depenaram os fios elétricos todos", diz o empresário, apontando para um equipamento da fábrica devastada em Lajeado.

Segundo ele, o local deve ser alugado para a instalação de uma marina, já que fica próximo ao rio Taquari. Arenhart conversou com a Folha de S.Paulo no dia 4 de junho e, nesta semana, a cidade de Lajeado voltou a registrar pontos de alagamento.

"O foco é deixar a nova sede pronta o quanto antes e manter os empregos. Lidamos com um produto de valor agregado. Então, dependemos do funcionário que sabe trabalhar com isso", afirma.

O diretor estima um prejuízo na faixa de R$ 50 milhões com as três enchentes de setembro a maio. Na visão dele, a retomada das empresas gaúchas depende da chegada de medidas prometidas de auxílio, como crédito mais acessível.

"Estamos desde setembro esperando ajuda", afirma. "É algo necessário neste momento. Não desligamos pessoas por motivo de enchente. Estamos segurando a turma."

Para o economista Gustavo Inácio de Moraes, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), a mudança de endereços de empresas é esperada após uma tragédia como a de maio.

Esse movimento, diz Moraes, também já ocorreu depois de eventos similares no exterior. "As empresas vão ter uma postura mais defensiva, no sentido de tentar manter seus níveis de operação."

Segundo o professor, é possível que as mudanças de sede criem novos polos econômicos dentro das cidades gaúchas. Porém, se as obras de contenção de enchentes saírem do papel e gerarem maior proteção no futuro, áreas hoje depreciadas poderão retomar protagonismo, atraindo negócios novamente, prevê Moraes.

O empresário Marco Aurélio Rozas Munhoz, 62, também decidiu mudar o endereço de sua empresa, a imobiliária Arruda & Munhoz. O negócio operava em um imóvel próprio que foi atingido pela água em setembro do ano passado e em maio deste ano na área central de Lajeado.

Na última cheia, a água alcançou o segundo piso do prédio, destruindo computadores, pastas e outros materiais.

Para recomeçar as atividades, a solução encontrada foi levar a imobiliária para uma sala alugada mais distante do rio Taquari, no bairro São Cristóvão.

"Tomamos essa decisão, e acho que foi acertada. Depois da segunda enchente, não tínhamos o que fazer. Não podíamos correr o risco de sermos impactados por uma terceira", conta Munhoz, que é sócio-diretor da imobiliária.

De acordo com ele, a ideia é manter a empresa no novo local. Munhoz afirma que há uma "migração" de negócios em busca de endereços mais seguros após a tragédia climática de maio.

"Está havendo, gradativamente, uma mudança do centro econômico de Lajeado. Antigamente, era só o centro da cidade. Agora, novos polos estão se criando", aponta. O Vale do Taquari foi uma das áreas mais destruídas pela catástrofe ambiental no estado.

O economista Marcos Lélis, professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), diz que a migração de empresas só causará grandes problemas para um município se a mudança ocorrer para outra cidade, devido ao risco de perda de renda e arrecadação.

Segundo Lélis, o programa do governo federal que prevê o pagamento de duas parcelas mensais de salário mínimo a trabalhadores formais do Rio Grande do Sul pode ajudar a impedir a saída de negócios de determinadas localidades.

Empresas que aderem à iniciativa precisam manter os empregos, requisito que dificulta uma eventual mudança de município, avalia o professor.

"Se a empresa fosse para outra cidade, provavelmente teria de demitir. Não poder demitir ajuda a empresa a ficar no município."

Antes das enchentes, a economia gaúcha vinha em ritmo acelerado, sob impacto positivo da recuperação da safra agrícola após estiagens, de acordo com Lélis. Com as inundações, o estado passa por uma reversão de cenário.

Lélis estima que, de maio a agosto, a atividade econômica do Rio Grande do Sul poderá perder de R$ 27 bilhões a R$ 30 bilhões, considerando prejuízos na renda dos trabalhadores e no faturamento das empresas.

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