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Por Carin Petti — Para o Valor, de São Paulo


Patrícia Caires: para a empresa é bom contratar mão de obra em que investiu — Foto: Divulgação
Patrícia Caires: para a empresa é bom contratar mão de obra em que investiu — Foto: Divulgação

Os recém-formados Pietro Itria, de 19 anos, e Matheus Cavalheiro, de 20, acabaram de concluir o curso técnico no modelo alemão no Humboldt, colégio particular bilíngue em São Paulo. Na prova oral final, apresentaram a executivos da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha trabalhos que desenvolveram estagiando respectivamente na Audi e na própria escola - um projeto na área de eletrificação e emissão de CO2 nos carros da montadora e um sistema de automação do controle de empréstimos de notebooks do colégio.

A 1.200 quilômetros dali, em Ilhéus, na Bahia, alunos do Centro Estadual do Ensino Profissional (Ceep) do Chocolate Nelson Schaun, da rede pública, dividem o aprendizado do ensino médio entre salas de aula, plantações de cacau, fábrica do colégio e encontros com produtores em feiras do setor. De origem e perfil socioeconômico diferentes, estudantes paulistas e baianos têm algo em comum na formação: a participação de empresas e outros representantes do mercado de atuação na concepção da grade curricular e treinamento.

A prática é recomendada pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em estudo comparativo entre a educação profissional e tecnológica do Brasil e outros países.

“Em um sistema de alta qualidade, os estudantes dividem seu tempo entre a escola, onde recebem educação geral, e locais de trabalho onde podem adquirir e aplicar seus conhecimentos e habilidades em situações reais”, diz relatório da entidade. Ainda tímida no país, a prática é comum na Europa.

Na Suíça, por exemplo, a grande maioria dos estudantes do ensino técnico dedica cerca de 80% ao componente trabalho, mostra a pesquisa. A parcela é de 70% na Holanda. E, na Suécia, todos os estudantes de programas de educação profissional tecnológica com duração de três anos passam pelo menos 15 semanas em formação numa empresa.

Ao analisar práticas internacionais, o estudo da OCDE defende a participação de empregadores e empregados não só na concepção do conteúdo dos cursos, mas também nas avaliações e certificações para alinhar a formação a práticas e necessidades do mercado. A prática é adotada na Alemanha, referência mundial em educação profissionalizante, com o chamado ensino dual, disponível a partir do primeiro ano de ensino médio, e que forma aproximadamente 40% dos estudantes do país.

Pelo sistema, empresas, por intermédio de sindicatos, participam, com o governo, da concepção do currículo e do treinamento dos alunos, com estágios remunerados. Já as câmaras locais de indústria e comércio são responsáveis pelo acompanhamento do programa no local de trabalho, pela aplicação das provas e formação dos tutores responsáveis pelos alunos nas empresas.

Quem conta é Patrícia Caires, diretora do centro de competência de formação profissional da Câmara da Indústria e do Comércio Brasil-Alemanha, parceira do programa do colégio Humboldt.

“Durante dois anos nossos alunos fazem um estágio em diversas áreas da mesma empresa para colocar em prática tudo o que aprenderam”, afirma Jan Detmering, diretor responsável pelo ensino dual do colégio, com cursos técnicos em língua alemã em administração, tecnologia da informação e logística.

Segundo a escola, 75% dos estudantes da modalidade recebem, após a formatura, proposta de efetivação em empresas como Mercedes-Benz, Bayer e Hospital Oswald Cruz. “Para as empresas é bom negócio contratar a mão de obra em que investiu tanto treinamento”, avalia Caires.

Neste ano, Pietro Itria também pretende engrossar a parcela dos novos empregados. “Acabei agora em março meu estágio na Audi e estou esperando o processo de contratação”, diz ele. “Dificilmente eu teria a oportunidade de já começar a trabalhar numa grande multinacional se não fosse pelo ensino dual”, diz.

Ele conta que sua formação foi dividida em blocos com duração entre um mês e meio e três meses. Os períodos eram alternados entre a sala de aula, com disciplinas em áreas como economia, finanças e direito tributário, e a prática em diferentes áreas da montadora, como inovação, RH e vendas.

“Cerca de 70% do tempo eu passava estagiando”, conta. Já na Alemanha, o modelo pode ser diferente, com três dias semanais na empresa e dois na escola.

No Brasil, porém, a prática fora dos muros escolares ainda é incomum. Os alunos da Ceep do Chocolate são exceção. No ensino médio profissionalizante, aprendem técnicas para o cultivo do cacau com aulas práticas em agroflorestas, áreas de agricultura familiar, propriedades maiores e uma fazenda de produção de mudas da Bahia. Mas nem sempre foi assim.

Até 2019, a escola oferecia um curso de agroindústria com foco na produção de produtos industrializados a base de leite, como doces e chocolates. “Como a maioria dos nossos alunos é da zona rural e muitos vêm de famílias de pequenos produtores de cacau, optamos por um novo modelo, que leva o ensino também para o lado dentro da porteira”, diz o diretor da escola, Julierme Barros Couto. “Incluímos na grade toda a cadeia produtiva, do processo da escolha de mudas, plantio, colheita e secagem do cacau até a produção do chocolate.”

Com o novo modelo, o Ceep do Chocolate pretende possibilitar o plantio de processamento da fruta de melhor qualidade, com preços mais atraentes para os produtores. Segundo ele, o produto certificado com selos de origem e qualidade pode custar cerca de 160% a mais que o cacau convencional. Com fábrica própria, o colégio possibilita que ex-alunos continuem usando suas instalações, para produzir chocolate e começar o próprio negócio.

A grade curricular e a estrutura do curso foram concebidas por professores da escola e representantes da Secretaria estadual da Educação, com a participação do Itaú Educação e Trabalho, braço da Fundação Itaú. Também colaboraram representantes da cadeia produtiva, como organizadores do Festival do Chocolate - feira de produtores agrícolas e industriais do setor - e integrantes do Instituto Cabruca, associado à cooperativa com o mesmo nome de produtores orgânicos do sul do Estado. Outro reforço importante foi a presença de professores da Universidade Federal do Sul da Bahia.

A parceria com a universidade garantiu que os formandos do curso técnico possam ingressar já no segundo semestre do recém-criado curso superior de tecnologia em produção de cacau e chocolate da Universidade Federal do Sul da Bahia. Metade das 50 vagas do curso de três anos é reservada a estudantes da escola, selecionados pelo Enem.

“Vinte e três dos 50 alunos que se formaram no ano passado entraram no curso”, diz Couto.

A Secretaria da Educação da Bahia prevê agora, sem data definida, a replicação do modelo de parceria com universidades e setor produtivo em outras regiões. “Estamos conversando com a Universidade Federal do Oeste da Bahia para criação de um curso em áreas como fruticultura ou cultivo de grãos com irrigação na região da cidade de Barra, também com aproveitamento de créditos da formação técnica no curso universitário”, diz Ezequiel Westphal, superintendente da Educação Profissional e Tecnológica da Secretaria da Educação do Estado. Segundo ele, há estudos também para a implementação do sistema em diversos campi da Universidade Estadual da Bahia.

Modelos do gênero são bem-vindos por Fausto Augusto Junior, diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos). “São importantes as iniciativas que mantêm os jovens no campo e interior do país, como cursos técnicos que contemplem a agroecologia e modernização da agricultura familiar”, diz ele. O especialista também aprova o chamado itinerário contínuo, com o aproveitamento de créditos do ensino técnico no ensino superior - prática ainda bastante tímida no país.

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