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Por Eduardo Geraque — Para o Valor, de São Paulo


A líder indígena Samela Sateré Mawé: “As florestas são como os nossos cabelos. Os rios, como as nossas veias” — Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo
A líder indígena Samela Sateré Mawé: “As florestas são como os nossos cabelos. Os rios, como as nossas veias” — Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo

A ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, crítica da política ambiental do governo Bolsonaro, assim como outros especialistas no tema, afirmou durante uma das sessões do Glocal Experience, realizado no Rio de Janeiro na semana passada, que a opção adotada por Brasília de franquear a destruição florestal está causando estranheza no cenário internacional. “Esse caminho escolhido para a Amazônia tira o Brasil do mundo em termos de relações internacionais. Mas a sociedade civil veio para liderar, vozes como a da Greta [Thunberg, ativista ambiental sueca], da Sam [Samela Sateré Mawé] e de tantos outros estão dando um basta”, diz Teixeira.

A tese defendida pela ex-ministra e hoje consultora de várias instituições ambientais diz que, como ocorreu em conferências internacionais recentes, cabe aos líderes sociais do Brasil continuar defendendo, de fato, a tradição brasileira de apontar soluções e caminhos na área ambiental, ao contrário do discurso oficial atual. “O envolvimento da sociedade é uma das alternativas que o Brasil tem. Aliar conhecimento científico com conhecimento tradicional é um novo paradigma no mundo geopolítico. É uma discussão planetária”, afirma Teixeira.

A referência à líder indígena Samela Sateré Mawé, moradora da Manaus, está em sintonia com o que a própria jovem, atualmente estudante de biologia, pensa. “Por muito tempo a gente teve outras pessoas falando por nós, mas temos plena capacidade. É uma questão de identidade. Você não deixa de ser indígena”, afirma Mawé, também presente na sessão sobre o futuro da Amazônia.

Segundo ela, no caso específico dos líderes indígenas, não adianta apenas chamá-los para validar o discurso a favor do meio ambiente em grandes eventos. “Nós queremos estar no centro do debate e participar de fato das tomadas de decisão. Precisamos de ações agora”, diz a representante do povo Sateré Mawé. Segundo ela, entre os amazônidas, existe sempre a desconfiança de que pessoas que nunca estiveram na região ou que nem sempre conhecem a floresta de fato têm que decidir por eles.

“Infelizmente é necessário a gente ficar tanto tempo fora de casa para defender o nosso território. A gente pensa nele como a extensão do nosso corpo. As florestas são como os nossos cabelos. Os rios, como as nossas veias. A Amazônia pode ter um infarto a qualquer momento por causa do entupimento dos rios pelo garimpo ilegal”, afirma Mawé.

Ao ouvir os parentes, como fez recentemente na região de São Gabriel da Cachoeira, percepções até certo ponto singelas sobre o impacto das mudanças climáticas na Amazônia emergem, explica Mawé. O que mostra como a participação mais efetiva das comunidades indígenas faz todo sentido. “Ao perguntar para alguns indígenas o que eles estão percebendo por causa das mudanças climáticas, ouvi sobre o fenômeno das minhocas. Se antes era fácil, e rápido, recolher um balde com os anelídeos usados como isca para pesca, agora, eles sumiram. “Além da dificuldade de obter o pescado, o sumiço também complica a produção da farinha. As minhocas são fundamentais para ajudar na adubação do solo”, lembra Mawé.

Por isso, segundo André Guimarães, diretor do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Ipam), é que as conexões locais, nacionais e globais sobre a Amazônia são essenciais para o futuro da floresta. Certo de que a dicotomia entre preservação e desenvolvimento é um conceito ultrapassado, que deveria ter ficado no século passado, ao contrário do que alguns setores da sociedade defendem, Guimarães usa uma simbologia para ilustrar a importância da maior floresta tropical do planeta, antes de também revelar um sonho.

“Vamos pegar um avião e decolar aqui do Rio de Janeiro para o Leste. Passaremos por uma região da África onde está o deserto de Kalahari. Depois, chegaremos na Oceania sobre o deserto australiano e, de volta à América do Sul, veremos o deserto do Atacama, antes dos Andes. Sabe por que não existe um deserto na mesma região no Brasil? Porque existe a Amazônia irrigando a parte sul do continente. Tem um regador despejando água sobre o Cerrado durante 12 meses do ano”, lembra o diretor do Ipam. Ou seja, pelas estimativas apresentadas pelo líder ambientalista da sociedade civil, por volta de 28% do PIB brasileiro está diretamente atrelado à umidade que circula a partir da Amazônia. Uma riqueza atrelada tanto ao agronegócio quanto ao mercado financeiro das avenidas Paulista e Faria Lima, em São Paulo.

“É por isso que eu tenho um sonho. Espero que um dia veja um fazendeiro típico, com cinto, botas e chapéu entrar no Congresso ao lado de uma liderança indígena para que ambos, em conjunto, peçam aos líderes políticos da casa pela preservação das florestas e o fim do desmatamento.” Mas, enquanto isso não ocorre, como lembra o próprio executivo do Ipam, quase um terço da Amazônia já está desmatado ou degradado. “Uma coisa é inexorável. Estamos caminhando rapidamente para o ponto de não retorno, por isso, temos que encontrar soluções de progresso aliadas à conservação”, afirma Guimarães.

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