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Por Lúcia Helena de Camargo — Para o Valor, de São Paulo


Anne Caroline, conhecida como Anne Catadora: “Catar, juntar e vender é trabalho que poupa recursos e o ambiente” — Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo
Anne Caroline, conhecida como Anne Catadora: “Catar, juntar e vender é trabalho que poupa recursos e o ambiente” — Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo

Os catadores de materiais recicláveis precisam ser remunerados de maneira digna pelo importante serviço que prestam, para que seja possível avançar nos índices de reciclagem de lixo no Brasil. Esse foi um dos principais consensos consolidados nas conferências da Glocal Experience que trataram sobre destinação de resíduos e economia circular.

Considerando que a média nacional de reciclagem não ultrapassa 4% do total produzido, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), aumentar a reciclagem seria o caminho para diminuir o desperdício, gerar renda e encaminhar soluções e acabar com os lixões - providência prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), de 2010, até hoje não concretizada.

“Estamos passando por transições: digital, ecológica, climática”, diz Rodrigo Perpétuo, diretor executivo para a América do Sul da ONG Governos Locais pela Sustentabilidade (Iclei). “O setor privado precisa assumir responsabilidades. Não podemos contar só com o poder público. O Brasil tem capacidade de produzir bons marcos regulatórios, como a PNRS, mas comete sempre o pecado de não transportar as leis para a prática.”

Para Tião Santos, da associação do Jardim Gramacho, país precisa de políticas públicas que incluam os catadores — Foto: Gustavo Pellizzon/Agência O Globo
Para Tião Santos, da associação do Jardim Gramacho, país precisa de políticas públicas que incluam os catadores — Foto: Gustavo Pellizzon/Agência O Globo

Phelippe Daou Junior, CEO do grupo Rede Amazônica, crê que o caminho para melhorar a situação passa, obrigatoriamente, por mais conscientização da população. “No entorno de Manaus, a maior parte dos igarapés está poluída, em razão de descarte de resíduos. São jogadas até geladeiras e colchões. Como mudar isso? A resposta está na educação”, afirma.

Um dos discursos mais contundentes foi o de Tião Santos, presidente da Associação de Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho (Acamjg). “A reciclagem no Brasil nasce a partir da pobreza e da exclusão. Sempre catei lixo para sobreviver. A consciência ambiental só veio depois”, diz. “Somente o Estado do Rio de Janeiro desperdiça cerca de R$ 1 bilhão anualmente por não fazer a reciclagem como deveria.”

O aterro do Jardim Gramacho foi fechado em 2012. Os 1.700 catadores que então tiravam dali o sustento receberam promessas dos governos das três esferas de que a área seria desenvolvida. Dez anos depois, porém, a população de ex-catadores continua vivendo no entorno de maneira precária, sem água encanada ou saneamento básico. Dos dez galpões para separação projetados, foram construídos dois. O objetivo inicial era gerar 500 empregos; hoje trabalham no local apenas 38 catadores. “Não adianta fechar os lixões. Precisamos de políticas públicas que incluam os catadores como parte da solução”, diz Tião, que ficou famoso em 2010, como um dos protagonistas do documentário “Lixo Extraordinário”, no qual é retratado pelo artista plástico Vik Muniz. O filme, que levou às telas a história dos catadores de Gramacho, concorreu ao Oscar de melhor documentário em 2011.

Jacob Silva Paulsen, diretor de ciência e inovação da embaixada da Suécia no Brasil, relata que seu país chegou ao impressionante índice de 99% de reciclagem dos resíduos sólidos sobretudo por impor a logística reversa ao setor industrial. “Os mecanismos de mercado não resolvem. É sempre mais barato jogar fora do que reciclar. Assim, os produtores têm que ser responsabilizados”, afirma.

Na conferência “Por uma economia circular, colaborativa e solidária”, Lisbeth Randers, coordenadora do programa de simbiose industrial na cidade dinamarquesa de Kalundborg, mostrou que o programa, implantado em 1972, envolve 30 empresas e a prefeitura local e gera vantagens ambientais e econômicas, pois os resíduos de uma empresa viram matéria prima de outras, e os recursos naturais são de uso comum. Todo ano o Kalundborg Symbiosis reaproveita quatro milhões de metros cúbicos de água e já atingiu o índice de zero emissões de gás carbônico na geração de energia. O programa será replicado no ecopolo industrial da cidade de Santa Cruz (RJ). Segundo Randers, para que a simbiose funcione, é preciso “confiança plena entre os parceiros, já que a base de tudo são as informações e dados compartilhados.”

A gestora ambiental Julia Luchesi acredita que o mesmo princípio pode ser aplicado em um sistema de colaboração em grande escala, para se chegar à economia circular. “Se cada pessoa parar para pensar sobre as coisas que compra, reparar em como elas vêm embaladas e para onde vão os materiais após o uso, já teremos um avanço.”

Já Anne Caroline, que ficou conhecida nas redes sociais como “Anne catadora”, segue na mesma linha de Tião, clamando por valorização da categoria. “Nós, catadores, ganhamos R$ 0,40 por um quilo de papelão, por exemplo. Catar, juntar e vender é o trabalho que poupa recursos e o ambiente. Mas somos invisíveis. Precisamos de valorização pela sociedade, de amparo do poder público, de reconhecimento pelo setor privado.”

A certificadora de reciclagem eureciclo, em resposta aos apelos das conferências da Glocal, sugere a venda de créditos de reciclagem como uma das soluções para remunerar melhor os catadores. “Com a comercialização dos certificados de reciclagem, conseguimos remunerar esses atores com valores maiores que os do mercado, porque além do preço de venda dos materiais, esses documentos contemplam também o serviço ambiental, gerando aumento de renda”, diz Marcella Bueno, diretora de operações da eureciclo.

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