G20 no Brasil
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Por — O Globo, do Rio


Carlos Nobre: “Adaptar é uma emergência, seja a inundações, deslizamentos ou calor” — Foto: Carol Carquejeiro/Valor
Carlos Nobre: “Adaptar é uma emergência, seja a inundações, deslizamentos ou calor” — Foto: Carol Carquejeiro/Valor

Porto Alegre (RS) é o mais dramático exemplo no Brasil do protagonismo das cidades na crise climática. Ao mesmo tempo em que emitem gases do efeito estufa, é nas cidades onde mais se sofre com as consequências dos extremos do clima. Eventos como grandes inundações e ondas de calor severo, antes raros, se tornaram mais frequentes e intensos. E tendem a se agravar se não houver medidas de adaptação e mitigação.

Mais da metade da população mundial - e 61% da brasileira - vive em áreas urbanas, segundo dados da ONU e do IBGE. Globalmente, elas abrigarão dois terços da população em 2050. E, apesar de cobrirem cerca de 2% da superfície (no Brasil, 1%) do planeta, consomem 70% da energia global e são responsáveis por 75% das emissões de gases de efeito estufa do setor de energia, de acordo com o Urban 20 (U20), a iniciativa que reúne prefeitos das principais cidades de países do G20.

São Paulo, Rio de Janeiro, Serra (ES), Manaus e Brasília lideram o ranking dos municípios que mais emitem gases do efeito estufa no Brasil, conforme o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (Seeg). O setor de energia é a principal fonte de emissões nas cidades brasileiras.

Se continuarem a crescer com os métodos empregados hoje, as cidades inviabilizarão até mesmo as metas menos ambiciosas de cortes de emissões. Só a produção dos materiais para sua expansão, aponta o U20, responderá por metade das emissões permitidas, caso se atenda ao limite máximo de aumento de temperatura média do planeta de 2 ºC em 2100.

Daí a urgência de medidas de adaptação, algo que foi negligenciado pelos governos, na avaliação do climatologista Carlos Nobre, um dos pioneiros no estudo sobre mudanças climáticas no país. “Os países se comprometeram com reduções de emissões. A adaptação ficou em segundo plano, mas se tornou urgente. Os desastres estão vindo mais depressa. Os extremos explodiram. E a adaptação está atrasada. O Brasil teve avanços significativos em cortes de emissões e caminha positivamente nessa área. Mas adaptar é uma emergência, seja a inundações, deslizamentos ou calor”, diz Nobre.

As cidades precisarão não apenas de obras, planos e políticas públicas, mas de novos modelos de financiamento, que coloquem a sustentabilidade e o clima como fatores obrigatórios de projetos, não importa o setor. Também serão necessários rearranjos políticos e financeiros para que a adaptação no Brasil avance, diz o economista Walter Figueiredo De Simoni, coordenador da iniciativa subnacional do Instituto Clima e Sociedade (ICS), que busca fortalecer ações de mitigação e adaptação climática em Estados e municípios.

De Simoni lembra que o Brasil tem um plano nacional de adaptação, assim como os Estados e alguns municípios, mas afirma que isso não basta. “Será necessário um pacto federativo. E é muito importante que o país, que está à frente do G20 e da COP30, de Belém, avance para que possa liderar e tenha o que mostrar nessas discussões”, enfatiza.

É consenso entre os especialistas que, globalmente, as discussões sobre adaptação estão mais atrasadas do que as de mitigação. “A mudança climática se tornou a maior crise da humanidade e as cidades são onde mais se sofre. É importante que fóruns como a cúpula do G20 discutam os planos de adaptação e mitigação urbanos. Temos que trocar os quatro pneus com o carro andando”, salienta Renata Libonati, professora de Departamento de Meteorologia e coordenadora do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro sofrem alterações na qualidade do ar, na temperatura, na distribuição de nuvens e nos padrões de chuva. Estudo no periódico “Bulletin of the American Meteorological Society” mostrou que a urbanização influencia as chuvas e a temperatura. A catástrofe do Rio Grande do Sul, por sua vez, evidencia a vulnerabilidade urbana. Nos primeiros dez dias de maio, período em que a região metropolitana de Porto Alegre foi submersa e o Estado contabilizava, naquele momento, cerca de 240 mil desabrigados e 1,5 milhão de impactados, também choveu intensamente em áreas do Uruguai e da Argentina. Mas eram zonas rurais pouco povoadas e não houve desastre.

“Grandes chuvas só se tornam desastres se houver pessoas para serem atingidas e isso acontece, sobretudo, nas cidades. Se não, são apenas fenômenos meteorológicos”, afirma Regina Alvalá, diretora substituta do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e especialista em avaliação de risco.

Antes da tragédia gaúcha, os brasileiros já se mostravam preocupados com o impacto da mudança do clima. Uma pesquisa do Programa de Meio Ambiente da ONU (Pnuma), divulgada em março, mostrou que dois em cada três brasileiros dizem que as mudanças do clima causam impacto de forte a extremo em suas vidas. É o índice mais alto de preocupação entre 17 países pesquisados.

A preocupação da população não encontra eco em políticas e instrumentos de gestão públicos. O geógrafo Diosmar Filho, coordenador científico da Associação de Pesquisa Iyaleta, diz que a maioria dos planos diretores municipais mostra a falta de preocupação com o clima. Filho esteve à frente de uma análise sobre a adaptação climática em 762 municípios da Amazônia Legal. “O que vimos foi uma ’desadaptação’ e uma clara relação entre desigualdade e vulnerabilidade. Falamos de adaptação desde a Rio-92, mas o fato é que nenhuma cidade se preparou. O Brasil investe historicamente mais na gestão do desastre”, ressalta Filho.

A catástrofe climática se abateu sobre o Rio Grande do Sul na forma de inundação. Mas Nobre e Libonati chamam atenção também para o calor. Em 2023 foram 11 as ondas de calor no Brasil e este ano somavam cinco nos cinco primeiros meses. A ONU estima que o calor reduzirá em 20% a produtividade urbana até 2050.

“Não existe hoje no mundo qualquer cidade bem preparada para enfrentar ondas de calor. E a adaptação das cidades ao calor é necessária até em países quentes, como o nosso. Há limites, ninguém se acostuma às temperaturas extremas dos últimos anos. Precisamos considerar as ondas de calor desastres, como deslizamentos e inundações”, frisa Nobre.

Feitas de concreto, aço e asfalto e geradoras de poluentes, as cidades são ainda fábricas de calor e dos desastres a ele associados. Produzem tanto calor que muitos especialistas, como Libonati, dizem que as cidades não são apenas ilhas, mas bolhas, aprisionadas em seu próprio calor. “Enfrentamos eventos compostos de seca e calor, que não só se perpetuam quanto aumentam os índices de poluição do ar”, afirma Libonati. “Por sua frequência e abrangência, o calor é o nosso maior inimigo. Ele tem um peso invisível na saúde e na produtividade. Agrava doenças, aumenta a demanda por energia. A qualidade do ar e da água piora.”

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