G20 no Brasil
Group CopyGroup 5 CopyGroup 13 CopyGroup 5 Copy 2Group 6 Copy
PUBLICIDADE
Por — O Globo, do Rio


A pandemia de covid-19 evidenciou a necessidade de diversificar a produção de vacinas — Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
A pandemia de covid-19 evidenciou a necessidade de diversificar a produção de vacinas — Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Equidade em nível global, eficácia na resposta a emergências sanitárias, expansão da telessaúde e discussão do impacto das mudanças climáticas na população são os pilares da agenda brasileira em saúde para o G20, cuja presidência rotativa foi assumida pelo Brasil em dezembro. Com base nessas prioridades e sob o guarda-chuva do tema “Sistemas de Saúde Resilientes”, uma das principais apostas do país é a criação de uma aliança global para a produção de insumos, medicamentos e vacinas, sobretudo após a pandemia de covid-19 ter evidenciado as desigualdades nos sistemas de saúde ao redor do mundo.

Segundo o Ministério da Saúde (MS), que lidera os debates, os três primeiros temas já faziam parte da agenda internacional desde que o Grupo de Trabalho (GT) foi criado, em 2017, durante a presidência alemã do G20, em resposta à crescente necessidade de uma abordagem coordenada entre os países-membros para lidar com os desafios de saúde pública em escala internacional. Também estão alinhados com a agenda de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), a ser cumprida até 2030.

Leia mais:

“Países mais pobres são desproporcionalmente afetados pelas crises de saúde. A maioria dessas prioridades estava sendo construída pelas presidências anteriores. Ainda que vejamos essa continuidade, daremos ênfase diferenciada nas necessidades específicas dos países em desenvolvimento e nas instâncias de governança global de saúde”, explicou a ministra Nísia Trindade em comunicado sobre as ações do Brasil que integram a trilha de sherpas em saúde no G20.

Um dos principais focos para o GT de Saúde é a formação da chamada Aliança para a Produção Regional e Inovação, visando a produção descentralizada de medicamentos, vacinas e diagnósticos, especialmente para doenças socialmente determinadas que acometem países do sul global, como dengue e malária. Segundo o ministério, a ideia é corrigir uma falha de mercado para o desenvolvimento de produtos inovadores de combate e prevenção a essas doenças, que ainda não recebem investimento suficientemente amplo.

A dependência dos poucos produtores de insumos farmacêuticos ficou evidente na pandemia. Sem uma arquitetura global preparada para responder a uma emergência sanitária em grande escala, a propriedade intelectual para a produção de insumos das vacinas - o que inclui informações sobre a tecnologia de fabricação, formulações específicas e metodologia - ficou nas mãos de poucos países, como Estados Unidos (com a Pfizer e Moderna), Reino Unido (com a Astrazeneca /Oxford) e China (com a Sinovac). “Há adesão à ideia de que nós precisamos de esquemas para diversificação da produção, para aumento da produção de remédios e vacinas de material de diagnóstico. O campo está bastante fértil para avançar nessa iniciativa”, disse o embaixador do GT de Saúde, Alexandre Ghisleni, após a primeira reunião do grupo sobre o tema, em fevereiro.

O assunto foi novamente discutido na primeira quinzena de março, em uma reunião virtual dos ministros da Saúde do G20, coordenada por Trindade e com a participação do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom. Espera-se que a aliança seja aprovada na cúpula com outros ministros, que ocorrerá em 31 de outubro, no Rio.

“A propriedade intelectual é um tema que ficou muito quente durante a pandemia de covid-19. A China, que é um grande produtor de insumos, chegou a decretar que a vacina seria um bem público, mas esse debate precisa ser levado adiante”, disse a médica especialista em saúde pública e professora da UFRJ, Ligia Bahia. “Não dá mais para somente alguns países serem detentores do conhecimento para a produção de insumos e o resto do mundo ficar dependente disso.”

Para o diretor do centro de relações internacionais da Fiocruz, Paulo Buss, o tema da produção local deve ser discutido com mais contundência, já que, como alerta a comunidade científica, é questão de tempo até a próxima pandemia (chamada por muitos de “doença X”) ocorrer.

“Não sabemos se será um vírus, e se sim, se será novamente um Sars-Cov”, explica. “O fato é que já deveria ter começado o compromisso de transferência da tecnologia de vacinas de RNA-mensageiro [como a Pfizer], que também pode ser utilizada para o combate de outras doenças. Não é fácil porque há muita resistência da indústria farmacêutica e é preciso que os países onde essas empresas estão sejam firmes para permitir que isso aconteça.”

A proposta de um protocolo global de resposta a emergências sanitárias incide diretamente no tema da equidade em saúde, eixo transversal de todas as prioridades definidas pelo GT. O objetivo é promover acesso e integração em escala mundial à saúde, fundamental para a redução das desigualdades - que, por sua vez, é uma das bandeiras centrais do Brasil no G20.

Além do foco em inovações em saúde digital acessível e ampliada, a premissa nas discussões é ter o Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil como um modelo para outros países, devido à alta capacidade de capilarização em assistência a toda a população brasileira. “O SUS tem para oferecer como experiência positiva o fato de que somos capazes de nos articular em comunidades com muita rapidez”, diz Ligia Bahia. “Não pudemos fazer isso durante a pandemia de covid-19 sob o governo Bolsonaro, mas fizemos isso com a epidemia de aids [na década de 1980], por exemplo, e fomos muito bem sucedidos. O SUS tem um conjunto de unidades básicas e uma tecnologia social de mobilização exemplar.”

Estreante no escopo de prioridades do GT de Saúde do G20, a questão das mudanças climáticas está inerentemente ligada a outros debates em pauta, podendo afetar a distribuição e a prevalência de doenças infecciosas em regiões mais vulneráveis, além de estar associada à exacerbação de condições médicas pré-existentes.

Para o pesquisador do Observatório do Clima e Saúde, Christovam Barcellos, as mudanças são globais e devem ser tratadas como tal, com a devida articulação de países, entidades, associações da sociedade civil e agências internacionais. “Não é a temperatura em si, são também os eventos climáticos derivados do aumento de temperatura, eventos climáticos extremos, como furacões, ventos, secas, inundações”, explica. “ É urgente monitorarmos a evolução de doenças sensíveis ao clima, bem como a capacidade de resposta dos sistemas de saúde à crise.”

Mais recente Próxima Perdão de dívidas em troca de investimentos

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!

Mais do Valor Econômico

Queda do CPI de junho reforça percepção de que início do ciclo de cortes de juros americanos está mais próximo

Dólar e juros futuros passam a cair após inflação ao consumidor dos EUA abaixo do esperado

A greve é por tempo indeterminado, pois, segundo o sindicato, a empresa não tentou dialogar durante os três dias de paralisação

Samsung Electronics enfrenta maior greve trabalhista em 55 anos de história

Mudança poderá alterar carreiras, prejudicar empresas e afetar a economia de um país com nove milhões de habitantes que depende da cooperação e apoio internacional

Boicotes a Israel levam isolamento também à ciência e à educação do país

Cada acusação contra Bill Hwang, fundador da Archegos Capital Management, acarreta uma pena máxima de 20 anos de prisão; ex-diretor financeiro também foi considerado culpado

Investidor que contribuiu para colapso do Credit Suisse é condenado por fraude e manipulação de mercado

A varejista disse que o lucro deverá aumentar 23%, para um recorde de 365 bilhões de ienes (US$ 2,26 bilhões), sobre vendas de 3,07 trilhões de ienes no ano fiscal encerrado em 31 de agosto

Fast Retailing, dona da Uniqlo, aumenta novamente projeção de lucro

Dona do iPhone assinou uma série de compromissos para atender às demandas antitruste do bloco até o próximo dia 25 de julho

Apple faz acordo com UE e permitirá uso por terceiros de tecnologia do Apple Pay

Segundo a autoridade policial, investigações revelaram que membros dos três poderes e jornalistas foram alvos de ações de organização criminosa voltada ao monitoramento ilegal

PF deflagra nova fase de operação contra produção de notícias falsas

Analistas de mercado tinham projeção média de queda de 0,5% para o volume de vendas do varejo restrito (que desconsidera veículos, construção e atacarejo)

Vendas no varejo surpreendem e sobem 1,2% em maio, diz IBGE

Caso o índice de preços ao consumidor (CPI) de junho confirme as expectativas do mercado, a taxa anual da inflação americana se aproximaria um pouco mais da meta de 2% do Fed, o que pode consolidar ainda mais os cortes de juros esperados para este ano

Dólar inicia sessão praticamente estável antes de dado de inflação dos EUA