A resiliência dos sistemas de saúde em escala global, centrada em políticas públicas financiadas pelos Estados, é o cerne das discussões lideradas pelo Brasil durante sua presidência do G20. Alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, os debates ao longo do ano estão sendo coordenados pelo Ministério da Saúde, com a ministra Nísia Trindade à frente da pasta, culminando na reunião de ministros marcada para o dia 31 de outubro, no Rio de Janeiro.
A ministra explicou as principais propostas do Grupo de Trabalho de Saúde e a expectativa de compromisso até o fim da agenda do G20 no Brasil, em novembro.
Como o Brasil pode discutir propostas de prevenção em resposta à pandemia, mesmo diante da atuação criticada durante a covid-19?
Nísia Trindade: Estamos levando adiante propostas de prevenção em resposta à pandemia exatamente em função das lições aprendidas com os problemas enfrentados durante a pandemia de covid-19. O Sistema Único de Saúde (SUS), assim como outras instâncias similares em outros países do mundo, precisam ser fortalecidos para criar condições de enfrentamento a uma eventual nova pandemia ou uma emergência nacional de maneira mais firme em vários setores. Para alcançar esse objetivo, estamos apresentando a saúde digital como uma das maneiras de fortalecer o funcionamento desses sistemas. Outro ponto nesse sentido é a discussão sobre a força de trabalho em saúde, com o objetivo de preparar e equipar o sistema de saúde com força de trabalho humana em número suficiente e com nível de capacitação adequado. Nessa estratégia, também priorizamos o incentivo à produção local e regional de medicamentos, vacinas e material de diagnóstico. Na eventualidade de uma nova pandemia, queremos que diversos países, especialmente nações da América Latina, África e outras regiões vulneráveis, tenham acesso de maneira igualitária e facilitada a esses insumos estratégicos de saúde.
O que é o plano brasileiro para a Aliança para a Produção Regional e Inovação?
Trindade: A pandemia de covid-19 expôs nossas vulnerabilidades e provocou discussões no mais alto nível sobre maneiras de melhorar a arquitetura internacional e aumentar a resiliência de nossos sistemas nacionais de saúde. Capacidade de vigilância e mecanismos de recuperação, força de trabalho de saúde treinada e produção local e regional de produtos de saúde são a base para a prevenção, preparação e resposta a emergências sanitárias. Essa aliança entre todos os países é fundamental para garantir mais vacinas, mais medicamentos e inovação de forma igualitária. Essa é a agenda do Complexo Econômico Industrial da Saúde do Ministério da Saúde, pauta também prioritária, que converge totalmente com o que queremos avançar com a presidência do Brasil no G20. Temos muito trabalho pela frente e o Ministério está todo empenhado nisso.
Uma das prioridades do grupo para as discussões no G20 é a equidade em saúde. Como o Brasil espera levar o tema adiante e o que se pretende obter ao final das discussões?
Trindade: Entre nossos principais temas, a equidade na saúde é uma prioridade transversal a todas as outras. Estamos pautados pelos ODS, que necessitam de um impulso concreto nas áreas que precisamos avançar e algo sustentável para os próximos anos. Nosso objetivo nessa agenda, com a cooperação internacional, é garantir uma vida saudável, reduzindo as barreiras de acesso aos serviços de saúde, com respeito às diversidades, modos de vida dos povos e populações, garantir igualdade de oportunidades, abordar os vazios assistenciais e promover o direito das populações mais vulneráveis.
Qual seria o compromisso ideal para alcançar até o fim do G20, no geral e especificamente em seu grupo de trabalho?
Trindade: O compromisso geral do G20, estabelecido pelo presidente da República, é uma grande mobilização internacional em favor do combate à fome e à pobreza. A saúde está engajada nesse sentido, pois sabemos que não existe combate à pobreza sem a garantia de acesso à saúde para a população.