Uma grande amiga jornalista tem o hábito, no fim de cada ano, de fazer uma fogueira imaginária com termos que foram massacrados de tão usados e dão enjoo de ouvir. Nas chamas de 2023 queimaram “alinhar”, “é sobre”, “literalmente”, “narrativa”. A coleta de clichês que serão lançados ao “fogo” é um esforço de purificar ideias, criar “novas narrativas” e risadas. Ruy Castro escreveu uma coluna na Folha de S.Paulo (“Simples Assim”) costurando frases com “lugar de fala”, “empoderado”, “novo normal”, “robusto”. Para quem quer “sair fora da caixinha”, 2023 foi também o ano de publicação de “A terra dá, a terra quer”, do pensador quilombola Antônio Bispo dos Santos. Nas 107 páginas editadas pela Ubu, nada fica no lugar. Conceitos e termos, é tudo original em Bispo, simples e demolidor.