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Por Cleyton Vilarino, De São Paulo — Valor


No Amazonas, a produção de guaraná enfrenta maior incidência de doenças do que na Bahia, onde a cultura avançou — Foto: Niels Andreas/Valor
No Amazonas, a produção de guaraná enfrenta maior incidência de doenças do que na Bahia, onde a cultura avançou — Foto: Niels Andreas/Valor

Beneficiada por isenções fiscais concedidas pela Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), a indústria de bebidas está engajada em evitar a queda sistemática na produção de guaraná da Amazônia. O setor conta com uma dedução de 75% no Imposto de Renda Pessoa Jurídica e adicionais não restituíveis por um período inicial de dez anos ao se instalarem na região onde produzem o xarope usado em refrigerantes, reduzidos a 37,5% nos anos seguintes. Essas empresas podem ainda reinvestir 30% do imposto na compra de máquinas e equipamentos.

As condições de solo e de clima, contudo, têm favorecido o avanço da produção na região Nordeste, onde o fruto é considerado espécie exótica e não sofre com as mesmas doenças enfrentadas pelos produtores do Norte. Desde 1989, a Bahia supera o Amazonas em volume de produção e produtividade de guaraná. Naquele ano, os agricultores baianos colheram 620 toneladas com produtividade de 478 quilos por hectare, 11 vezes superior ao rendimento registrado no Amazonas, segundo o IBGE.

"Além do solo da Bahia, que é melhor, há a questão da ausência de doenças. Aqui no Amazonas, principalmente na região produtora de Maués, o avanço da antracnose é muito prejudicial aos guaranazais e por isso a produtividade é muito baixa", afirma André Luiz Atroch, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental. Segundo a estatal, a antracnose é um dos principais fatores para a decadência da produção do guaraná no Amazonas, sobretudo em Maués, que concentra a produção do Estado. Em 20 anos, o volume colhido na região caiu quase 30%, enquanto a área colhida recuou 20%.

Atentas a essa mudança, Ambev e Coca-Cola, duas maiores do setor no país, mantêm projetos de extensão rural com produtores locais que, somados aos esforços da Embrapa, contribuem para a sobrevivência da cultura. Detentora de uma das marcas mais famosas da bebida, a Ambev mantém mais de mil hectares destinados à produção de guaraná em Maués, e realiza estudos para melhora da produtividade e qualidade da cultura.

"O nosso principal intuito com a fazenda não é garantir a produção do guaraná para nosso consumo. O objetivo é ser um centro de excelência de cultivo do fruto", diz Felipe Ghiottto, diretor de marketing da Ambev. Segundo ele, a fazenda produz hoje 50 mil mudas por ano, distribuídas para cerca de duas mil famílias do entorno.

Além da produção de plantas mais resistentes, a Ambev, que adquire 90% do seu guaraná da região amazônica, mantém uma equipe técnica que fornece apoio aos produtores locais. "Temos um fomento interno na cidade bem desenvolvido, o que faz com que não tenhamos nenhum tipo de oscilação ou problemas com produção ou produtividade", acrescenta.

arte29agr-102-guarana-b10.jpg — Foto: Legenda
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A mesma preocupação atinge a Coca-Cola, que afirma adquirir 100% do produto da região amazônica. "Entendemos que estamos garantindo o futuro do nosso fornecimento no Estado", reconhece Victor Bicca Neto, diretor de relações corporativas da Coca-Cola Brasil, referindo-se ao projeto "Olhos da Floresta". Criado em 2016, o programa fornece apoio técnico para 350 agricultores familiares interessados em adotar o cultivo em sistemas agroflorestais.

"Com isso, a gente quer ampliar a nossa plataforma de fornecedores oriundos da agricultura familiar", afirma Bicca, acrescentando que o plano é que a totalidade dos fornecedores seja desse segmento. Segundo a Coca-Cola Brasil, a companhia é hoje a maior compradora de guaraná do Amazonas e adquire o produto de onze cidades, entre elas Maués, Urucará e Borba.

A assistência se torna ainda mais importante diante do modo de produção amazônico, quase extrativista quando comparado ao modelo aplicado na Bahia. "O guaraná do Amazonas é plantado, mas ainda vigora a visão extrativista. Os produtores só se juntam na hora de colher, e isso causa um problema sério porque a planta se multiplica sozinha, mas as pragas também", diz Atroch, da Embrapa.

Já em Taperoá, município que concentra a produção na Bahia, cerca de 8 mil pessoas (quase 73% da população local) cultivam guaraná, segundo o Sindicato de Trabalhadores Rurais local. Antonio Oliveira é um deles e destina 80% de sua propriedade, de quatro hectares, para a cultura. Há 30 anos nesse mercado, ele conta que foram os japoneses que levaram as primeira mudas à região. "Foi a colônia de japoneses que chegou aqui na década de 70 e começou a produzir. Como saiu muito bem, os agricultores se interessaram".

Naquela época, os preços praticados em Taperoá se aproximavam dos da Amazônia e equivaliam a R$ 25 o quilo. Contudo, com o aumento da produtividade e da oferta, os preços hoje giram em torno de R$ 5 a R$ 7 o quilo na Bahia, ante a média de R$ 30 no Amazonas.

Mesmo com os preços do guaraná baiano bem abaixo aos de outros Estados, as isenções fiscais da Sudam levam a indústria de bebidas a preferir adquirir as sementes no Norte, o que ajuda a manter o maior valor agregado do guaraná amazônico. "O preço se mantém porque algumas empresas têm que comprar aqui para não perder o incentivo", afirma Atroch.

Com isso, a produção das duas regiões tem recebido destinações distintas. Enquanto o guaraná amazônico segue sendo preferido pela indústria de bebidas, a indústria farmacêutica, que não é contemplada pelos incentivos fiscais, beneficia-se dos baixos preços da Bahia para produção de cápsulas, pó, energéticos e outros produtos derivados. A região também é a preferida dos exportadores.

Segundo Antonio Oliveira, que também é presidente de uma associação de mais de 110 famílias em Taperoá, 50% da produção local é exportada. "Não queremos competir com a Amazônia. A gente sequer vende direto para a indústria de bebidas, a gente vende para São Paulo, o próprio Amazonas, e exporta".

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