Pelas estimativas da ABTO, seriam necessários 1.600 transplantes por ano para atender a população do país, dado o seu tamanho, mas só cerca de 400 são feitos. Resultado: três quartos dessas pessoas morrem ou na fila de espera ou sem um diagnóstico adequado.
No Brasil, 302 pessoas esperam na fila oficial por um novo coração. Pelas estatísticas, uma a cada três morrerá antes que chegue sua vez.
Enquanto o coração novo não vem, a saída pode ser usar um dispositivo que auxilie o órgão convalescente. Além do balão intra-aórtico –uma sonda que ajuda a bombear o sangue para a aorta–, há equipamentos de assistência ventricular que são acoplados ao coração e bombeiam sangue a partir dele. Nesses casos, só parte do órgão recebe auxílio.
Outra possibilidade é substituir o coração quase que totalmente por uma versão artificial do órgão, que pode custar mais de R$ 500 mil.
Mas, por mais modernos e funcionais que sejam, esses dispositivos não são as apostas dos médicos para o futuro. Xenotransplantes, ou seja, órgãos vindo de animais, e órgãos totalmente criados em laboratório são os favoritos.
Em porcos, animais de estrutura similar à humana, experimentos buscam um jeito de tornar os órgãos compatíveis. Na teoria é fácil: basta substituir as proteínas responsáveis pela rejeição por outras inertes e neutralizar ameaças, como vírus nas células suínas.
Na prática, porém, é difícil garantir que essa limpeza genética seja bem feita.
Em 1964, o cirurgião americano James Hardy fez uma tentativa: transplantou um coração de chimpanzé em um homem, que viveu poucas horas. O coração era pequeno demais para o corpo do paciente, que, segundo padrões atuais, nem seria elegível para o transplante. Ele tinha feridas com placas de gordura em todo o organismo e havia tido as duas pernas amputadas.
Outros testes de transplantes de corações de porcos para primatas não humanos tiveram relativo sucesso, com sobrevivência de alguns meses.
Como certa vez disse o pioneiro Norman Shumway: "Xenotransplantes são o futuro dos transplantes de órgãos. E sempre serão." Quem sabe demore menos de meio século.
CRÉDITOS
Reportagem Gabriel Alves Edição de texto Mariana Versolato Infografia Luciano Veronezi e Angelo Dias Fotos Lalo de Almeida, Reinaldo Canato e Acervo Folha Edição de foto Daigo Oliva Pesquisa Edgar Lopes da Silva Coordenação e edição Mariana Versolato (concepção), Adriana Mattos, Thea Severino e Kleber Bonjoan
Vídeo
Fotografia Victor Parolin, Marina Garcia, Isabella Faria Produção Melina Cardoso Edição Marina Garcia