A ci�ncia vai vencer a luta contra o c�ncer?

A ci�ncia vai vencer a luta contra o c�ncer?

H� mais de um s�culo, cientistas compartilham a tentativa de entender um pouco mais o c�ncer. Nenhum outro conjunto de doen�as foi t�o estudado e pesquisado. Levantamento mostra que de 2012 a 2014 foram publicados 305.858 artigos cient�ficos sobre c�ncer. Cientistas, m�dicos e a ind�stria farmac�utica apontam tr�s caminhos: imunoterapia (quando o sistema imunol�gico � fortalecido para combater os tumores), terapia-alvo (que vai direto nas c�lulas anormais e preserva as saud�veis) e manipula��o de DNA. Alguns estudos p�em �nfase tamb�m em preven��o e sugerem mudan�as no estilo de vida.

A Folha reuniu hist�rias de pessoas que superaram a doen�a. E promover�, nos dias 29 e 30 de mar�o, em S�o Paulo, semin�rio com especialistas para discutir o assunto. A medicina vencer� essa guerra? Cientistas afirmam que, se for poss�vel fazer do c�ncer uma doen�a control�vel como a Aids, o que pode acontecer em algumas d�cadas, a batalha estar� praticamente ganha.

Avan�os da ci�ncia

Terapia-alvo age diretamente no tumor e preserva c�lulas saud�veis ao redor

NA�LA BARBOSA DA COSTA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BELO HORIZONTE

Rosalina Lopes, 64, j� teve de encarar tr�s vezes um diagn�stico positivo de c�ncer: a primeira em 2001, quando detectou tumor na mama, depois em 2005, com c�ncer no mediastino (regi�o tor�cica), e em 2014, no c�rebro.

Professora aposentada, Rosalina passou por cirurgia para retirada dos tumores al�m de sess�es de qu�mio e radioterapia, que provocaram diversos efeitos colaterais como enjoos e queda de cabelo. Ao mesmo tempo, tenta uma nova t�cnica, chamada terapia-alvo, para controlar a doen�a.

A terapia-alvo age diretamente nas c�lulas malignas e poupa as saud�veis, com resultados mais espec�ficos e efeitos colaterais menos dr�sticos que a quimioterapia. Ela aponta o caminho para uma medicina cada vez mais personalizada, que atenda �s necessidades do paciente ap�s avalia��o de como a doen�a se desenvolve em cada corpo.

A t�cnica j� existe h� pelo menos duas d�cadas, mas o progresso nos �ltimos anos faz dela uma boa aposta no tratamento contra o c�ncer em seus mais diversos tipos. Medicamentos mais efetivos e menos t�xicos comp�em seu arsenal terap�utico, atuando diretamente na causa molecular do desenvolvimento e multiplica��o do tumor.

"O c�ncer n�o � uma doen�a s�, mas um conjunto de doen�as caracterizadas pela prolifera��o celular desordenada. A quimioterapia foi desenvolvida para atacar de forma generalizada c�lulas em fase de multiplica��o, com o objetivo de atingir o tumor, ao passo que a proposta da terapia-alvo � atuar em vias celulares exclusivas do tipo de c�ncer apresentado pelo paciente", afirma Roberto Fonseca, oncologista e presidente do conselho superior da SBC (Sociedade Brasileira de Cancerologia).

No caso de Rosalina, ela usa a droga-alvo Herceptin (Transtuzumabe), espec�fica para pacientes com um tipo de tumor de mama agressivo, em que h� alta express�o de um gene promotor do crescimento celular, o HER2.

Alexandre Rezende/Folhapress
Rosalina Lopes, que enfrentou tr�s tipos de c�ncer e hoje usa terapia-alvo, em cl�nica de Belo Horizonte
Rosalina Lopes, que enfrentou tr�s tipos de c�ncer e hoje usa terapia-alvo, em cl�nica de Belo Horizonte

O medicamento usado pela professora � injet�vel, diferentemente de outras drogas-alvo, de administra��o oral, e composto por anticorpos que bloqueiam o est�mulo ao crescimento tumoral.

O presidente do conselho superior da SBC enxerga a terapia-alvo como complementar � quimioterapia _ela � usada isoladamente apenas em alguns casos. "N�o podemos informar � popula��o que a cura est� no tratamento-alvo, mas ele � hoje um processo que pode ser associado aos tradicionais."

A professora aprendeu a lidar com a doen�a e afirma que, diferentemente da quimioterapia, que lhe causou enjoos, ou da radioterapia que, por ter sido na regi�o da cabe�a, provocou queda de cabelo, o tratamento-alvo � tranquilo e ela n�o sente efeitos colaterais.

Marcos Portella, oncologista do Instituto M�rio Penna, afirma que as drogas-alvo agem contra o tumor em um sistema semelhante ao modo como uma chave combina com sua fechadura. "O medicamento-alvo � a chave que reconhece como fechadura um receptor da c�lula tumoral", diz.

Apesar das vantagens, Portella afirma que � ilus�rio pensar que as medica��es-alvo n�o s�o t�xicas. Luiz Lodi, oncologista cl�nico da Oncomed BH, concorda. "Elas apresentam outros tipos de efeitos colaterais. Podem ocorrer problemas na pele, por exemplo, mas n�o os mesmos efeitos da quimioterapia, como queda de cabelo, enjoos, anemia e demais altera��es no sangue."

A terapia-alvo possui limita��es. "Na maioria das vezes, infelizmente, a c�lula cancerosa desenvolve resist�ncia, e o tratamento deve ser mudado, sendo associado � quimioterapia ou administrado mais de um tipo de medicamento-alvo", afirma Fonseca, da SBC.

Al�m disso, as drogas t�m custo de desenvolvimento elevado e esse valor se reflete no pre�o pago pelo paciente, j� que nem sempre elas s�o oferecidas pelo SUS ou mesmo pelo sistema privado. Portella alerta que o SUS enfrenta um conflito entre o individual e o coletivo.

Sendo os medicamentos muito caros e restritos a um grupo espec�fico de pessoas com a altera��o gen�tica usada como alvo, destinar recursos a eles, ainda que sejam mais eficientes, nem sempre � uma estrat�gia vi�vel aos sistemas de sa�de.