Castanheiros queimados pela fúria das chamas, animais carbonizados em explorações de pastorícia e um fogo que lavra há dois dias e que está a deixar o Nordeste transmontano em brasa.
“Um inferno de chamas”, desabafa Francisco Pavão, presidente da Associação dos Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes.
“Prejuízos elevados na agricultura e um fogo que ganha força a cada dia”, lamenta o dirigente. “Foram queimados castanheiros, explorações de animais arderam alfaias e equipamentos de rega destruídos pelo fogo”, elenca Francisco Pavão que confirma o avanço das chamas para Mirandela, depois de progredirem por Murça, Vila Pouca de Aguiar e Valpaços.
Nove máquinas de rasto a rasgarem aceiros nas serranias de Murça, 11 meios aéreos a conter as chamas e um fogo que salta a elevada velocidade, com projeções e que obriga à dispersão de meios.
A situação em Murça é grave, alastrou aos concelhos de Vila Pouca de Aguiar e Valpaços e encaminha-se para Mirandela. “Foi criado um posto de comando diretor e três postos de comando em Vila Pouca de Aguiar, Murça e Carrazedo de Montenegro”, confirma ao Expresso Pedro Araújo, oficial no Comando Nacional de Operações de Socorro.
Com 8 mil hectares de área já consumida pelas chamas e três frentes ativas, esta foi a forma que a Proteção Civil encontrou para acompanhar o evoluir das chamas.
“É uma área muito extensa, com projeções que atingem 800 metros, que não é continua e obriga à dispersão de meios”, adianta o comandante.
A prioridade continua a ser “proteger casas e pessoas” num fogo que se estendeu por 3 concelhos, mas que “não tem continuidade entre si”, conclui o comandante.
Com a capacidade de resposta dos meios de Proteção Civil de Trás-os-Montes esgotada, com fogos em Chaves e Murça, estão no terreno 729 bombeiros e 249 viaturas, oriundas do sul e norte do país. Há ainda meios das Forças Armadas no local.
“Pensámos ter uma janela de oportunidade com a humidade da manhã, mas o fogo tem evoluído com intensidade”, diz Pedro Araújo. E não será na próxima noite que ficará controlado. “Será difícil, devido aos acessos, à vegetação e ao vento que se faz sentir”, apontam os bombeiros.
Com efeito “durante a manhã o fogo abrandou, mas com a subida das temperaturas ganhou peito e está pior que na segunda-feira”.
“Um barulho ensurdecedor, chamas enormes que envolvem os caminhos e uma progressão muito difícil”, conta um dos bombeiros presentes numa das frentes de combate.
Seis aldeias já foram evacuadas e a Proteção Civil não coloca de lado a possibilidade de retirar mais pessoas das suas casas.
O fogo de Murça começou na tarde de domingo, em Cortinhas e já provocou a morte de duas pessoas.
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