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Por SporTV.com — São Paulo


Pai e empresário do principal jogador brasileiro da atualidade, Neymar da Silva Santos foi o entrevistado do "Grande Círculo" que foi ao ar neste sábado (23) no SporTV. Responsável pela carreira do jogador mais caro do mundo – por quem o PSG pagou 222 milhões de euros em 2017 – o pai de Neymar foi sabatinado pelo apresentador Milton Leite e por uma bancada formada por Marcelo Canellas, Mauro Naves, Casagrande, Pedro Bial, Tino Marcos e Marcelo Barreto.

Entre os principais assuntos abordados estiveram as lesões do craque, a transferência para o PSG para sair da sombra de Messi no Barcelona (ele nega esse objetivo), a fama de "cai cai" do filho em campo e os problemas fiscais no Brasil e na Espanha.

Pai de Neymar é sabatinado no "Grande Círculo" — Foto: Reprodução

Neymar da Silva Santos ainda garantiu: aos 27 anos, seu filho está maduro e "crescidinho" para encarar novas etapas da carreira e liderar a seleção brasileira até Copa do Mundo de 2022, no Catar.

Veja abaixo os principais tópicos da entrevista:

Milton Leite: Como foi o momento da lesão do Neymar em 2014?

Neymar: Eu estava no estádio, estava assistindo ao jogo. Foi perto do final da partida. E o jogo termina, a gente sabe que o Neymar foi levado ao vestiário, mas até então não tínhamos informação nenhuma do que tinha acontecido. Nós saímos do estádio, quando meu telefone toca. A família estava esperando na van. Meu telefone toca, era o pessoal da CBF pedindo que eu retornasse ao estádio. Achei estranho. "Seu Neymar, você está aí? Retorna porque o Neymar está fora da Copa do Mundo". Eu fiquei praticamente revoltado, não entendia. Minha família ligando para mim perguntando o que estava acontecendo.

Quando eu chego no vestiário, o Felipão e as pessoas vindo na minha direção pedindo calma e tranquilidade, ele não está aqui, está no hospital. Vamos trocar de roupa, pegar o avião e voltar para a Granja. O Neymar teve um problema, parece que teve uma pequena fratura na coluna. Eu começo a chorar. O Felipão estava chorando também, muita gente comovida. A gente vai em direção ao ônibus. Todos os jogadores embarcam, eu fico no final com o pessoal da segurança para esperar o Neymar. A gente consegue avistar a ambulância. Quando a ambulância caminha em direção ao avião, eles pedem que eu suba. Todo mundo sentado em silêncio. Felipão já tinha conversado comigo, todo mundo tinha pedido para ficarmos tranquilos para dar força ao Neymar. Ele estava desesperado no hospital, gritava pelo nome, queria falar comigo. Eles tinham desmontado um pedaço do avião, alguma coisa, para poder passar a maca.

A primeira poltrona do avião era o lugar onde iam estender a maca para o Neymar. Me sentei atrás. Eu me tranquilizo para não chorar na frente do Neymar, dar força para ele. Mas ele entra de uma forma que emociona a todos, ele começa a gritar meu nome. Quando eu apareço para ele eu falo para ele ficar tranquilo, ter forças. Mas ele começa a perguntar o porquê, e eu realmente não sabia dizer o porquê. Era sonho dele naquele momento. E todo mundo começa a chorar, a aeromoça começa a chorar. Quando o avião começa a taxiar e entra para a decolagem, e ela percebe que o Neymar não parava. Ela deixa decolar mesmo comigo em pé. A gente decola chega na Granja e é a história que todo mundo sabe.

Milton Leite: Isso ainda te emociona?

– Emociona, foi um momento difícil para a minha família.

Pedro Bial: Qual foi seu maior temor?

– Tinha esse risco (de perder parte dos movimentos). Era uma alça da vértebra que tinha se partido. Sabíamos que isso ia cicatrizar. Mas para um atleta, se você tem um problema de ciático ou púbis, isso leva um tempo muito grande. Não sabíamos se essa dormência que ele tinha seria um processo demorado, poderia ser que não tivesse sequela nenhuma, dependia dele, da recuperação e de muita coisa. Nós ficamos atônitos durante um bom tempo, até ver ele retornar com as atividades. O desespero da minha filha no telefone... Eu não conseguia dar a notícia para ninguém. Eu e o Neymar ficamos na Granja, embarcamos de helicóptero para voltar para casa. Não sabíamos o que falar. Mas vimos o Brasil e o mundo inteiro com o Neymar. Vimos o quanto ele era amado, o quanto as pessoas participaram e sentiram o drama dele. Isso deu força para nós.

Pedro Bial: Neymar sente que tem que provar ou desmentir os que criticaram em 2018?

– Da mesma forma que o tempo trouxe ele para 2018, o tempo vai levar ele para 2022. Ele tem que ter tranquilidade. Quando a gente aproveita os elogios, as críticas positivas, temos também que saber... Isso dá parâmetros para sabermos o que está errado ou certo.

Pedro Bial: Ele reconheceu alguma crítica?

– Era um momento de que você não tivesse que falar nada. Não adianta você argumentar enquanto a dor do brasileiro não era a dor de todos de perder uma Copa do Mundo, era a dor de quem tinha participado. O Neymar estava dolorido também. Ele falar alguma coisa naquele momento não era necessário. Ele também não tinha as palavras certas, ele tinha que pensar e refletir para se posicionar na hora certa.

Casagrande: Como vocês viram toda a repercussão que teve a opinião que eu dei sobre o Neymar ser um jogador mimado?

– Quando as coisas são faladas repentinamente, várias vezes, ainda mais por alguém do seu tamanho e de uma emissora como a Globo, isso pode começar a virar uma verdade. Era um momento de você chegar e falar, pô, freia, segura.

Casagrande: Eu falei no Redação [programa do Sportv], depois as outras pessoas repercutiram...

– Seu comentário foi muito pessoal, né? Não foi pertinente o comentário. Por mais que você quisesse colocar o Neymar em uma posição de mimado, não era pertinente, você tinha que falar desportivamente. Toda ação gera uma reação. O mimado, se você analisar o Neymar, ele não é protegido dentro de campo, nem por árbitro e nem por adversário. É natural que um filho seja protegido pelos pais. Você mesmo falou o que é a palavra mimado. Eu aceito. Se ele é protegido pelos pais, amém. A posição de mimado desportivamente não é nada pertinente. Só ia causar uma especulação. A família está do outro lado, as pessoas estão do outro lado. Se você fala uma pessoa mimada, eu entendo. Mas jogador mimado não. O atleta não é mimado. Não tem treinador passando a mão na cabeça dele. É um dos caras que mais treinam, tem muita responsabilidade profissional, ele está em todos os campeonatos que exigem, não foge de nada. Então a minha resposta... Se eu te falei alguma coisa, desculpa aqui agora, mas não foi pertinente.

Casagrande: Foi uma coisa que me atrapalhou muito também. Qualquer coisa que eu falava do Neymar, falavam que era perseguição.

– Se a gente analisar hoje, esse tipo de situação, vou tentar explicar no meu ponto de vista. O Neymar teve uma lesão agora. Esse posicionamento que você teve fez com que todo mundo se posicionasse contra ele. Ele não aceita cair no chão, uma falta. Hoje, se meu filho me escutasse realmente, ele teria caído. Vamos levando o Neymar a um erro. O futebol que trouxe ele... Podem falar que é cai-cai e que simula. Ele não simula, é um artifício que ele usa desde a base, desde quando se profissionalizou. Estamos completando 10 anos da sua estreia. E quem viu o Neymar estrear, gente, vocês sabem que ele não tinha porte físico, não tinha força física, era estranho ver ele dentro de campo em uma final. Disputando uma final contra o Corinthians, contra o Ronaldo de uma força física tremenda, e ele foi um dos destaques. O Neymar não simula situações, mas ele foge do contato. Futebol não é contato. Você tem que fugir do contato. O Neymar tem que ter potência. Toda vez eu falo para ele, que já ouvi até do Neymar, não divida com o goleiro e não perca gol fácil.

Neymar em ação na Copa do Mundo — Foto: Reuters

Eu falei para ele, toda dividida que você entrar você vai perder Mas chegar antes sim. Se você ver que vai receber o choque, que esteja projetado no ar. Você pode colocar uma vareta de churrasco, jogar para o alto, pegar uma marreta de ferro e dar no meio, não quebra. Mas apoia no solo, qualquer toque vai quebrar. Eu precisava dar essa advertência para o meu filho que ele não ia vencer, então ele precisava ter inteligência dentro de campo até estar maturado para disputar. E nessa de cai-cai levamos ele a um erro. Se você analisa o jogo, tem uma jogada antes, ele dá o drible para dentro, recebe a falta e o árbitro não dá. Ele vai na mesma jogada, pega a bola novamente, recebe um toque do cara que está passando, vai para o drible, recebe a falta, e vai no desequilíbrio. Na hora que o cara dá, chuta ele, fez com que ele... Eu estou falando para ele, que talvez, escutou que o Neymar estava bem, não cai... Eu falei: "Ei, você tem que jogar seu futebol. Você caindo você já levou o Brasil na Olimpíada, foi campeão da Champions com o Barcelona. Não mude. Você não pode ficar escutando carroça." Carroça vazia faz muito barulho. Isso é responsabilidade da arbitragem, não é uma discussão nossa. Não estou criticando quem fala que ele é cai-cai ou não, estou falando que a arbitragem tem que ter entendimento para poder coibir certas coisas, saber se é ou não simulação.

Tino Marcos: Você não está dificultando ainda mais o trabalho da arbitragem quando você diz para ele cair?

– Não, qual o problema? Para o jogo, dá a falta. Se você vê que é simulação dá o amarelo. Qual o problema? Estamos criando uma proteção desnecessária para a arbitragem. Ah, não pode fazer nada porque a torcida vai colocar o árbitro, não vai ter poder no jogo. Ele é o dono da partida. É o responsável legal por tudo que acontece ali dentro. Ele não precisa ter medo. Ele não pode entrar lá pré-determinado que certos jogadores simulam ou caem. Ele tem que entender isso. Eu não posso chegar aqui, não posso interferir. Mas também temos que ter um pouquinho de bom senso.

Mauro Naves: O senhor acha que ele tem como objetivo ser melhor do mundo?

– Eu nunca coloquei isso como objetivo para o meu filho, e acho que ele também nunca colocou isso como objetivo. Mas disputar os melhores campeonatos, estar nos grandes centros do futebol, isso tenho certeza que ele tem ambição. Se ele vai ganhar ou não... É claro, ninguém é hipócrita de dizer que é uma premiação do melhor do mundo, isso faz bem para o nosso currículo e ego. Isso vai depender do trabalho dele. Ele tem tempo o suficiente para conquistar isso. Mas as coisas precisam cooperar. Isso não é uma coisa individual, é coletiva. Ninguém foi eleito melhor do mundo individualmente. Foi necessário o coletivo ter ganho. Então é necessário que o Neymar ganhe coletivamente, para que ele possa ter a esperança de ter um prêmio desse. Ele não está pensando em ser melhor do mundo sozinho, porque não vai conseguir. Todos que ganham podem ter certeza que ganharam alguma coisa.

Mauro Naves: Mas ele não quis sair da sombra do Messi?

– Não foi sair da sombra do Messi. Foi muito complexa essa decisão. Era um país pedindo para nós ajudarmos nesse projeto, dar visibilidade para essa liga. Já tivemos jogadores importantes na França. Mas eles saíram desse centro e foram para maiores. O que a França tentou fazer? Uma coisa inversa. Trazer dos grandes centros algum jogador que possa dar essa visibilidade. Então a responsabilidade do Neymar apanhar na Liga é de toda a Liga. Você traz um jogador desse quilate para que isso seja... E todo mundo perde com o Neymar fora desse campeonato. Quando você não tem um todo preparado para isso, aí as coisas acontecem e você não vai ter sucesso. Isso é um projeto especialmente de uma liga francesa, de um país, se olhar entrelinhas não é uma ambição só do Neymar, é muito maior.

Marcelo Barreto: Em casa ele é Júnior?

– Em casa ele é Juninho. Para nós, a família, sempre é Juninho.

Marcelo Barreto: O Neymar tem que deixar de ser Júnior para se firmar como jogador?

– Eu acho que o meu filho hoje está bem crescidinho. Já é bem adulto, tem 27 anos, para saber o que ele acha que é bom para ele. Se é continuar ouvindo meus conselhos ou não. Ele não está amarrado ou preso em um sistema de opressão, pelo contrário. É um cara muito feliz e livre para fazer o que ele quiser, e da forma que quiser. Mas eu estar na vida do Neymar não significa que eu controlo. Eu administro a carreira do Neymar, é diferente. Eu tenho a gestão de carreira dele. Não dá para o Neymar, como um atleta profissional e do tamanho que se encontra, tomar conta da carreira dele. Ele não consegue fazer a agenda comercial. O Neymar tem uma gestão de carreira de sua imagem, da celebridade que ele virou. Não estou na vida dele para falar o que acontece dentro de campo. Tenho certeza que o Neymar tem muito mais talento que eu para me ensinar, eu não tenho que ensinar. Eu tenho conselhos de pai. A gente não vai se furtar, nunca, de ele ser júnior e eu Neymar.

Milton Leite: Já teve momento que ele fez algo que você não queria e você ficou irritado?

– Todas as vezes. Eu sou o cara do não. Sempre criei meus filhos com muito não, tudo é não. Eu não fiquei rico agora. Eu fui muito pobre, sei das dificuldades que tinha. Como você vai oferecer alguma coisa para os seus filhos se não tem dinheiro? Só com o não. Hoje eu continuo falando não. Eu controlei o dinheiro do Neymar até determinado momento, depois é impossível. Eu sempre aconselhei o meu filho a guardar. Quantas histórias temos no futebol, se você não administrar sua carreira e dinheiro. Médico e jornalista trabalham até os 80. O atleta tem tempo determinado. E os outros dois terços da vida? Se ele não se preparar vai estar fadado ao erro. O Neymar não teve tempo de estudar, não fez um curso profissionalizante, não teve experiências de atleta. Essa administração e gestão é a gente que faz. Para quando ele parar de jogar futebol ele possa viver daquilo que ele exerceu.

Marcelo Canellas: Ano passado, aos 26, ele levou uma vaia estrondosa da torcida no Paris porque ele não deixou o Cavani bater o pênalti. O que que o senhor acha, na linha do tempo, observando os dois episódios (do PSG e com Dorival Júnior), o que você acha que ele aprendeu? O Neymar é esportivamente mal educado?

– Eu nunca vi meu filho repetir erros. O Neymar não xinga o Dorival. Mas todo mundo até hoje fala que ele xingou. Nós temos as imagens, temos tudo, e se você ver ele está xingando o companheiro de campo. A discussão era com o Dracena, porque ele tinha falado para ele não bater. O Neymar está de costas para o Dorival. Aí sim, o Neymar não dá ouvidos ao Dorival, não olha para trás, e continua discutindo com o Dracena. Claro que aconteceram coisas dentro do vestiário, mas não vem ao caso aqui. Com relação ao pênalti... Poxa, quem sou eu para falar para você do que deveria ter acontecido, do que o Neymar deveria ter feito. Eu não daria a bola, está pré-determinado quem bateria. Eu faço uma autocrítica. Eu estou aqui para explicar os motivos dele. Era o Neymar o batedor dos pênaltis. Houve uma discussão antes que o treinador não se posicionou quem bateria. Em várias partidas teve um pênalti, e em nenhum momento o Cavani ofereceu. Mas ele já tinha feito o gol, o Neymar solicita o pênalti, o Neymar se chateia, e morreu lá. Essa discussão de Neymar e Cavani não existia, só dentro de campo. As coisas dentro de campo terminam. Depois o treinador decide que o Neymar bate. O Cavani tinha inúmeras partidas pela frente para ser o artilheiro, não era naquela partida. Ele tinha 50 partidas pela frente, ele tinha que fazer um gol.

Neymar e Cavani comemoram um dos gols do Paris Saint-Germain na goleada por 4 a 1 sobre o Reims — Foto: Christian Hartmann/Reuters

Casagrande: Neymar tem um psicólogo? Como vocês lidam com ele quando acontecem frustrações e críticas?

– Há anos. Não só para ele, como para minha família. Esses profissionais são importantes. Tem que ser pessoas que não sejam próximas. Você precisa contar seus segredos, motivos, desabafar. É claro que a gente tinha.

Pedro Bial: Vocês levaram um brasileiro para fazer a terapia?

– Eu faço um investimento muito alto na carreira do meu filho. Ele tem um preparador desde o Barcelona. Quando o Neymar sai do Santos, o preparador físico Ricardo Rosa e o fisioterapeuta Rafael Martini, eles eram do Santos, e eu proponho que eles me acompanhem. Eles conheciam o Neymar, estavam há cinco anos com ele. O nosso futebol brasileiro treina dois períodos aqui. A gente sabia que ele só treinaria um período na Europa. Lá se treina com mais intensidade, mas em um período só. Aqui no Brasil é de manhã e tarde todos os dias, e ainda concentra. É diferente. Como eu vou levar o Neymar em um processo de adaptação. Fui me cercando desses profissionais para que eles pudessem me ajudar. A gente precisava chegar forte na Europa. Sabíamos se o Neymar ficasse ocioso pela tarde, poderia não dormir de noite, dormiria a tarde, trocaria a tarde pela noite e de manhã estaria cansado. Ainda mais nesse fuso horário que a gente tinha. Tínhamos que planejar tudo isso para o Neymar se adaptar o mais rápido possível. É o mesmo com psicólogo.

Mauro Naves: Você levou um auditor fiscal para lá também?

– Não auditor fiscal, mas tenho mais de sete escritórios de advocacia. Eu já tinha antes. Cada advogado tem uma especialidade. Eu precisava de um advogado tributarista, um comercial para elaborarmos e discutirmos os contratos comerciais e de trabalho... Tínhamos que ter cuidado para não cair em armadilhas.

Marcelo Canellas: Vocês fizeram um acordo com a Receita Federal no Brasil?

– Não teve acordo não. Nós ganhamos a denúncia. Recebemos uma autuação e ganhamos dentro do CARF. (E não pagaram?) Como não pagaram? Nós ganhamos. Não fomos condenados. Ela era indevida, ganhamos, dentro do CARF, transitado e julgado.

Mauro Naves: E na Espanha?

– Nós não temos processo na Espanha. Temos um processo de corrupção entre particulares, um tipo de crime que não existe no Brasil, só lá fora. Foi uma empresa do Brasil que abre uma denúncia lá, e o Ministério Público de lá acolhe isso e manda investigar. Se houve esse crime. O que é corrupção entre particulares? Se a gente criou dano para esse terceiro (DIS). Nós não temos processo na Espanha, é uma denúncia do Ministério Público motivado por uma denúncia de uma empresa no Brasil. E lá entra Santos, Barcelona, Odílio, Luís Álvaro, Neymar pai, Nadine que é minha sócia, Neymar Junior, Sandro... todos. Quando entra essa denuncia o primeiro juiz fala que é incompetente, isso não tem crime. A DIS vai lá, entra com recurso. Outro juiz vai lá, somos incompetentes também. Está em outra vara. Só que a promotoria lá afastou essa empresa, você não tem direito nenhum sobre isso, desqualificou todo mundo e estão discutindo se o Barcelona ou o Santos criaram dolo para essa empresa.

Marcelo Barreto: Por qual motivo aparecem tantas irregularidades?

– Zero de erro. Essa do Santos, o Santos vai na Fifa... E não foi a gestão, foi a gestão da oposição que entra. Entra falando que houve um problema na venda do Neymar. A denúncia é motivada por informações. Eu nunca recebi uma fiscalização da Receita Federal. A minha empresa é aberta desde 2006, quando o Neymar tinha 14 anos. Em 2010, os únicos detentores da imagem do Neymar eram o Santos. No projeto do Neymar, o Santos começa a me devolver o direito da imagem. Até eu me tornar dono, exclusivamente, da imagem do Neymar. Quando entra a próxima gestão, acha que tudo que a gente tinha feito, que os 40 milhões que ganhamos como prioridade de entregar o Neymar em 2014, o Santos reivindica isso. Todo mundo discute, como que uma família ganha mais dinheiro que o próprio clube. Então motivado por tudo isso, por ninguém saber o que realmente aconteceu. Tanto que a fiscalização começa assim, motivado por denúncias de veículos de comunicação nós começamos a fazer uma investigação sobre você. Começou sobre isso. Há sete anos estamos nessa batalha e graças a Deus vencemos todas.

Tino Marcos: Acha que há uma articulação global contra o Neymar? Como você avalia a construção da imagem dele?

– Só pegar um parênteses aqui. Antes do Neymar se profissionalizar, vou dizer que eu acho que tive a sorte da precocidade dele. A precocidade dele fez com que a gente acertasse muito. Se não, talvez, eu cometeria o mesmo erro de todos os atletas e de todos que usam sua imagem indevidamente. A empresa que cuida da imagem do Neymar veio antes de sua profissionalização e sua federação como atleta amador. Essa empresa pertence ao pai e a mãe. Houve uma grande confusão quando olharam, confundiram o nome. É uma empresa de fachada, abriu quando ele tinha 14 anos. Mas o Neymar dessa relação é o Neymar pai, um CPF diferente, que é sócio da mãe. Houve uma confusão tributária muito grande no começo porque era uma coisa nova. Ele é cliente (Neymar). O que a Receita imaginava. Imaginava que tínhamos montados uma empresa de fachada para pagarmos 10% a menos que o Neymar tributa. O Neymar é um jogador de futebol, tem uma discussão muito grande na RF em tributação na carreira de atleta, artista e jornalista, que usa seu PJ (pessoa jurídica), a empresa, para diminuir seu imposto que é de 10%. Quando eles fizeram essa fiscalização falaram que era de fachada. Colocaram todas as nossas empresas em uma coisa só. Tudo isso é salário de Neymar. Tudo que ele ganhou de imagem é salário. Você está devendo 10% de tudo que você ganhou. Como se eu tivesse deixado de pagar. Eu paguei tudo. O Neymar pagou seu imposto de pessoa física e eu de jurídica. O Neymar não é sócio da empresa, mas ele pode ser. Não sei, mas acho que a maioria aqui deve ser PJ. Nós temos um problema no nosso país com essa discussão tributária. Mas esclarecendo aqui, a Receita viu que realmente nós estávamos certos, que a empresa é legítima. Empresa hoje que controla todos os negócios.

Mauro Naves: Quem assina o contrato com o PSG?

– O Neymar. PSG paga o Neymar no contrato de trabalho, pessoa física. Hoje a gente conseguiu separar. Os contratos do Neymar de trabalho não se misturam com os de imagem. A gente tem um problema sério no país, que hoje é determinado na Lei Pelé, que até 40% dos seus rendimentos podem ser pagos na pessoa jurídica. Como se falasse assim, você pode ser 40% sonegador. É muito louco.

Marcelo Barreto: A sua empresa tem contrato com o PSG? Teve com o Barcelona?

– Não. Nós não tínhamos contrato com o Barcelona, tínhamos contrato com o Barcelona da imagem. Tinha porque era interessante ao Barcelona ter a imagem dele. O Barcelona comprava a imagem dele. Vamos falar aqui de imagem coletiva, de três ou mais jogadores. Aqui no Brasil é cinco. Acima de três jogadores eu posso usar sua imagem sem permissão, isso se chama imagem coletiva. Individual, apenas com autorização, mediante ao uniforme dos atletas. Tem uma discussão grande nisso. Nem todos sabem usar esse tipo de situação comercial entre imagem individual e coletiva. Nós, graças a Deus, soubemos usar isso.

Milton Leite: Catar é a Copa do Neymar?

– Eu espero que seja uma oportunidade. É mais uma oportunidade para que ele possa levar a Seleção a mais um título de campeão do mundo. Quando eu falo que esse prêmio depende do coletivo, eu estou citando que... Não precisa ser o Neymar, tenho certeza que quando a Seleção for campeã do mundo vão ter mais brasileiros concorrendo. Temos muita qualidade. Quantos jogadores você conhece. Se pegar Coutinho... Um monte de jogadores que temos. Se a Seleção for campeã, a probabilidade é grande.

Casagrande: Te assustou a tragédia no Ninho? O Instituto Neymar está em ordem?

– Poxa vida. Foi uma tragédia enorme para todos nós o que aconteceu. A gente sabe o que fizemos dentro da Instituição, está tudo em ordem. As crianças não dormem lá. Mas o que acontece durante o dia tem todos seus trâmites legais, e o estabelecimento está todo aprovado.

Tino Marcos: A imagem do seu filho como pessoa, para você, é satisfatória, positiva?

– Sim. Para mim é bastante. Eu sou um cara suspeito para falar do Neymar. É impossível eu chegar para você que o trabalho que fizemos com ele... Porque o que a gente preserva nele é ele não perder a essência. Não posso só porque é politicamente correto que ele seja assim. Vai ser melhor para todos, que o Neymar mantenha sua imagem... Para nós não, ele tem que ser feliz sendo ele mesmo.

Marcelo Canellas: Você acha que não precisa mudar nada?

– Quando ele está errado ele muda. É muito difícil pedir perdão e desculpas. Quem está no jornalismo aqui, quantas vezes já viram o Neymar vir pedir desculpas? Inúmeras vezes. Ele já falou que errou e pediu desculpas. Você falou do Dorival. Você lembra dele ter xingado, mas não lembra dele ter vindo pedir desculpas.

Marcelo Barreto: Vamos relembrar da discussão que você teve com a repórter Camila Mattoso na Copa do Mundo.

– Primeiro que está editado. Tá com a sua mãe, com seu pai... (Casagrande: "Seu pai veio para disfarçar"). Não veio não. Eu vou falar um negócio para você, eu mostro toda a gravação. (Barreto: "Foi um erro ficar com a Seleção? Pediria desculpas para a repórter?") Pediria. Mas não foi erro nenhum ficar lá. A gente ia ficar em Moscou, com a minha família. A gente queria ir, porque todos estavam em Sochi. Não tinha mais vaga em hotel em Sochi. Só tinha no hotel onde estava a Seleção. Não estava só eu. Praticamente todos os repórteres estavam lá. Não era uma ala só. Tinha um prédio a Seleção e nós em outro, não tínhamos acesso. Não tinha problema nenhum. E eu acho que posso ir aonde eu quiser, se eu tiver condição de fazer. Eu tenho a gravação. Mas não poderia fazer a mesma coisa que ela. Ela tinha cometido um crime ali, alguém liga para você no seu telefone e grava você. Eu avisei que estava gravando. Ela ficou muito tempo me perguntando a mesma coisa. E eu falei que não estive em Sochi, deixei minha família lá e fui para Moscou. Eu fiquei um dia em Sochi. Eu fiquei baseado em Moscou, tinha negócios para resolver lá. Ela ficou perguntando se fiz festa em Sochi. Quem te falou isso? Não posso falar. Falei que não tinha nada para falar com ela. Ela ficou insistindo, eu tinha isso gravado. Ela tinha que soltar a gravação dela primeiro, mas ela teve o cuidado de editar. Como está gravado aqui agora.

Mauro Naves: Surgiu uma reportagem também, que você teria tido uma discussão com Edu Gaspar lá no hotel e você teria dito a ele: "Fica na sua ou até vou influenciar no seu cargo". Isso é tudo papo furado?

– Claro que é.

Mauro Naves: Então, aproveito para perguntar, que tipo de conversa você tem com Edu em relação a CBF? Em relação ao seu filho com a CBF? Até que ponto você interfere? Quando o Tite esteve para ser indicado e acabou sendo, surgiu também um papo que você disse “com o Tite ele não vai jogar, eu não vou deixar ele ser técnico”. Porque o Tite havia também discutido com ele. Enfim, qual é a sua relação com a direção da seleção e da CBF? Não digo Presidente, digo normalmente os gerentes ali.

– Zero. Zero. Primeiro eu não tenho gerencia sobre a CBF. Que poder que eu tenho? É muito louco as pessoas imaginarem que "poxa, o pai do Neymar enganou o Barcelona, o pai do Neymar enganou o Santos Futebol Clube, o pai do Neymar enganou..." Pô, como? Que poder... Devo ser muito bom. Eu enganei a Receita Federal, como que eu vou? (Mauro Naves: Mas você nunca pediu para ele, deixa eu ir em um avião particular? Ou deixa eu sair mais cedo? Nada? Você nunca pediu nada por ele ali? Sabendo a estrela que ele é, ele até poderia...) Sabendo a estrela que ele é e a importância que tem no time, a gente já viu exemplos no passado, do Romário querer uma coisa diferente de outro. O Neymar você nunca pediu nada?) Eu tenho muito cuidado em relação a isso. A interferir na vida profissional do meu filho, com relação a qualquer um. O Edu Gaspar já conversei várias vezes com Edu Gaspar, em relação a lesão, as vezes que o Edu Gaspar me ligou era para a convocação do profissional do Ricardo Rosa, porque o Ricardo Rosa queira ou não, ele trabalha para mim. É como se fosse um clube, você tem que... então ele teve a humildade de chegar e fala assim “olha vamos convocar esse profissional”, porque ele trabalha para o Neymar. Vai atrapalhar se a gente tirar ele? Eu falei, poxa eu acho que não, porque o Neymar sempre é convocado, não vai interferir. Então, me ajuda. Então não tem essa conversa, não tem gerencia dentro da CBF. É querer colocar pelo em ovo, é querer fantasiar certas coisas que não existem.

Casagrande: Você acha que o Neymar é perseguido pela imprensa?

– Não acho que é perseguido pela imprensa. Pelo contrário, a imprensa também noticia coisas boas do Neymar. Vocês podem ficar tranquilos, porque tudo que vocês falam aqui, a gente escuta, sim. Eu acho que o Neymar, não, muito pouco. Mas claro que chega nele qualquer informação, porque ele tem vários amigos, "alguém falou de você isso e tal". (Casagrande: Mas aí, isso não chega contaminado?). Mas ele vê muito pouco, chega a ser alienado até. Para certas coisas. Os caras têm o mundo dele, esses caras são especiais, por mais que seja o meu filho, eu sei que ele tem o mundo dele. Ele vive meio down, meio negócio, nas coisas dele. É normal isso até, porque você não consegue ter tudo.

Pedro Bial: Agora que ele está sem namorada firme, ele está mais saidinho? Como está essa vida amorosa e sexual do seu filho?

– Ele está bem caseiro, viu?

Marcelo Barreto: O texto que ele leu sobre a Copa do Mundo, queria saber se aquilo foi aprovado por vocês aquele conteúdo? E o que que o Neymar passa que a gente não sabe e que foi tão importante naquele momento?

– Foi uma ideia da Gillette. (Marcelo Barreto: Vocês aprovaram?). Aprovamos. Se eu chegar e falar aqui todas as minhas estratégias comerciais, eu entregar o ouro para o bandido. Eu começo a perder forças, vou falar para você: poxa ... não tinha nada a ver com a imprensa ou com nada que está acontecendo aqui ou com alguém discutindo alguma coisa. Nós estamos indo comercialmente falando, para um mercado onde o sistema de televisão, vamos dizer assim, por exemplo, desculpa falar aqui isso, está ultrapassado. Os caras estão indo para o sistema digital e o Neymar é muito digital. O que que a Gillette, naquele momento, queria? O que que a gente queria? Era experimentar qual seria o nosso alcance. Vamos colocar o negócio aqui no Brasil e vamos ver, onde o negócio vai repercutir? E repercutiu no mundo inteiro. (Barreto: Não foi uma repercussão boa). Tudo bem, tudo bem. Mas não foi porque a gente queria atingir alguma coisa ou algo. Mas as palavras que estavam ali, a gente aprovou, porque eram sinceras. (O maior publicitário da história do Brasil, o Pelé da publicidade, Washington Olivetto, disse que depois da Copa, o Neymar teria que fazer um longo trabalho de recuperação da imagem, que a imagem dele estava desgastada seriamente. E que essa recuperação aconteceria em campo, jogando bola, mais que qualquer campanha publicitária.) Mas não é na campanha publicitária, a gente devia uma diária pra Gillette e a Gillette precisava colocar alguma coisa. Não é porque perdeu que a Gillette não ia fazer a sua ação, entendeu? Se a gente ganhasse, a Gillette estava preparada para fazer a ação dela. Mas se perdesse, ela também tinha o direito de fazer a ação dela. Eu não tinha como me furtar disso, porque isso está dentro de um contrato. (Você se aconselha com alguém para tomar essa decisão, porque é uma decisão muita técnica, né? Publicidade). Mas já tinha passado um tempo determinado e o que o Neymar estava falando ali era verdadeiro. Se quisesse colocar alguma coisa ali, tinha que ser verdadeira. (Não parecia, parecia que ele estava lendo um texto que não tinha sido escrito por ele). Foi aprovado por ele.

Marcelo Barreto: O que ele passa fora do campo, que a gente não sabe, que é tão difícil?

– Poxa vida, a vida de um atleta profissional não é fácil. O Casão não vai deixar eu mentir aqui. Não é saudável. Por mais que você ache que a carreira de um jogador de futebol é saudável, não é. Pressão vem de todos os lados. Para vencer, para perder, para a família... então você tem que filtrar tudo isso. Para você conseguir tirar tudo isso do Neymar... Para poder deixar vazar eu tive que colocar um monte de escape para ele. Amigos, famílias, são escapes. Situações que você providencia para ele para que ele possa realmente estar feliz, para que ele se sinta em um ambiente dele. Então a gente começa a dar escapes para que ele não seja pressionado. Eu tenho que ter um cuidado mental com o meu filho também. Ele precisa se manter feliz. Tem jogadores que não aguentam essa pressão. Muitos jogadores se perdem nesse caminho.

Marcelo Barreto: Você já se flagrou pressionando o Neymar? Projetando nele um sucesso que você não conseguiu ter na carreira de jogador?

– De modo algum. O futebol não foi bom para mim. Não fui um cara feliz. Parei aos 32 anos, sem dinheiro algum. Eu tinha um terreno na Praia Grande, não conseguia construir nem um baldrame, não conseguia fazer nada. Então quando eu parei de jogar, eu não tinha outra profissão. Eu poderia chegar quando eu avistei meu filho correndo atrás da bola falando que queria ser jogador de futebol e dizer ‘meu filho, vai estudar’. Como muitos pais falariam, vai estudar, para com isso, isso aí é caminho sem futuro, pode acabar que nem eu.

Tino Marcos: Quando você prepara esse terreno para proteger ele, você não está mimando ele?

– Não. Estou dando estrutura para ele. Não confunda mimar com estrutura. Não tem escudo. Meu filho joga toda quarta e domingo. Que escudo? (Tino: O mundo dele não está dentro dessa bolha?) Não, ele vive a vida dele, ele está livre. Ele não mora na casa dos pais dele, ele tem a dele, tem os amigos dele.

Casagrande: Como você enxerga as ações dos amigos do Neymar após a Copa, que gravaram vídeos xingando jornalista?

– Você não sabe, mas eu reprimi todos eles. Na hora que eu vi, e eu não gostei, e sabia que eram amigos dos meus filhos... Eu coloquei uma mensagem para alguns. Parem com isso, vocês não estão ajudando meu filho em nada. Se vocês são amigos do meu filho, parem com isso. Deixem a Copa do Mundo acabar. Parem de entrar nesse braço de ferro de quem tem razão ou não. Não vai adiantar nada xingar quem está xingando o Neymar. Não vai trazer problemas para vocês. Eu tomei providencia em relação aos amigos do meu filho. Acho que até vazou que eu tinha pedido.

Milton Leite: Tem uma relação tensa entre Neymar e imprensa?

– Tem. A imprensa é muito maluca, nunca vi.

Pedro Bial: Essa questão dos pais e filhos está muito aguda. O pai mais poderoso do Brasil tem filhos que não param de dar trabalho para ele. Que conselho você daria para Bolsonaro com esses filhos?

– Quem sou eu. Não tem conselho, não posso dar. Tenho que torcer para que o nosso presidente consiga.. (Em quem você votou?) Votei no Bolsonaro. Neymar não votou, ele estava em Paris. Estou alienado à essa atuação, não estou muito a par. Eu já fiz minha participação, foi o voto. Agora é torcer para que as coisas deem certo.

Mauro Naves: Vocês blindam o Neymar dos problemas do Brasil?

– Nós amamos o Brasil. Quem não ama? A gente roda o mundo e continua amando isso aqui. (Mas ele acompanha?) Acompanha. Hoje não temos a instituição para nosso benefício, eu não ganho um centavo, pelo contrário, minha família deixou 25 milhões de reais para construir aquele complexo na Praia Grande. O Neymar é o herói impossível. Ele saiu de lá. Aquelas três mil crianças ali... É possível. Mas tem um preço alto para se pagar. Não é fácil ser pai.

Milton Leite: E como é ser avô?

– Ser avô... Aí eu sou o cara do sim, tudo pode. (E se ele falar que quer jogar futebol?) Você pode ter certeza que não vai acontecer isso.

Mauro Naves: Você já se acostumou com a vida de milionário?

– Sabe quando eu parei de trabalhar? Eu trabalhava, batia cartão às sete da manhã e sai às cinco da tarde. Meu filho estava jogando no profissional. 2009 eu batia cartão com meu filho ganhando 25 mil reais no Santos. (O que você fazia?) Companhia de Engenharia de Tráfego, era chefe de manutenção. (Você saiu disso e foi para milhões) Eu me preparei também. Quando vi a possibilidade do meu filho ser atleta profissional, eu entrei em uma faculdade. Eu bati na porta do Marcelo Teixeira e pedi uma bolsa de estudo. O que eu ganho trabalhando na CET não me dava condições. (Que língua você consegue negociar bem?) Português mais ou menos, com o Sheik a gente coloca o inglês. Mas no business o inglês sai.

Marcelo Barreto: Vocês não precisam da imprensa?

– É um erro você imaginar isso. Se você pegar o Facebook do Neymar, a gente administra. O Instagram é dele, a gente não rela nisso. Tanto que várias vezes acontecem coisas que não temos o que fazer. Eu preciso vender a verdade. Você não vai enganar o patrocinador. Todo mundo saca se aquilo é produzido ou não. Qual foi a nossa sacada? É deixar o Neymar ser Neymar. Deixa meu filho ser meu filho.

Marcelo Barreto: O Neymar gosta de ouvir o que se fala dele?

– Você falou a palavra certa, o silêncio. Ele não está mandando ninguém calar a boca. Você interpreta como quiser isso. Ele está falando para ele mesmo. Tenha certeza. Aí você vai falar que esse pai do Neymar responde tudo, consegue sempre achar uma defesa para ele. Eu sei tudo, vivo 24 horas esse cara. Ele está lá em Paris, não tenho capacidade de saber o que ele está fazendo lá, ele tem a vida dele e eu estou trabalhando aqui, tem a instituição e o escritório. Eu comecei o escritório com duas pessoas, hoje temos 203 funcionários. Quando você souber o que é regime de empreendedor, saber o que é folha de pagamento, o que é o 14º pagamento, aí podemos começar a conversar. O Neymar hoje é uma grande empresa.

Marcelo Canellas: Quando ele se manifesta politicamente, quem determina isso?

– Poxa vida, a posição do Neymar naquela época (em 2014) foi bem clara. O Aécio era um candidato que ele achava que deveria... Mas ele falou, independente quem ganhe eu vou continuar apoiando o presidente eleito pelo povo. (Mas isso sai da cabeça dele ou discute com o senhor?) Sai da cabeça dele, porque na hora que ele decide apoiar é da cabeça dele. Mas a gente orienta o posicionamento dele. Eu não decidi meu filho ter filhos, foi uma decisão dele. Em determinado momento, quando vi que ele seria pai... O Davi foi um acidente, mas amém. Mas em determinado momento ele estava perdido. A imprensa falava que era o próximo Bruno. Uma coisa muito louca. Como se ele fosse... Esse cara do jeito que é, esse menino do jeito que é vai ser outro cara... Muita loucura. A gente sentou com ele, ele totalmente perdido. (Mas quem falou isso?) Imprensa, rede social.

Casagrande: Parece mesmo que você sempre arruma uma saída para o Neymar. Trouxemos várias coisas, e está acabando aqui e parece que tudo é normal para vocês. Nada influencia, tipo as redes sociais mostrando ele rolando, o mimado que eu falei, as críticas... parece realmente que tudo é o externo que critica demais e é exagerado. Eu tive que assumir os meus problemas. Nenhuma vez você trouxe para o senhor ou para o Neymar uma situação generalizada

– Quem foi prejudicado nisso aí? (Estou perguntando se foi exagero) Eu não posso chegar aqui e condenar o que todo mundo achou. (Aquilo não existiu?) O Neymar se comportou daquela forma. Mas se foi exagerado ou não está na consciência de cada um. Agora eu, como pai, pude fazer o que? Absolver a situação e falar que tínhamos que mudar. E ele não mudou a postura? E levou ele a qual situação? A lesão. (Mas são coisas diferentes, eu fui jogador de futebol, no lance ele tem tempo para passar a bola) Ele não tem tempo para passar a bola. (Tem sim) Mas se ele passar a bola ele não é Neymar. Aí você me desculpa. Se ele for mais um que vai passar a bola, não fizer o papel dele. (Mas uma crítica que ele recebe, naquela jogada ele pega a bola e vai indo para trás). Não estava, ele joga centralizado. Ele mudou a posição. (Ele levou a falta porque pediu, ele machucou porque teve duas chances de tocar a bola e sair para o jogo e não tocou). Ele não vai saber se vai machucar. Ele tem que continuar jogando o futebol dele. (Não é questão de saber se vai se machucar, estou falando no jogo em geral). Mas é fácil falar depois. Ali é a decisão dele. É a característica dele, ele não pode ser igual aos outros, ele foi contratado pelo PSG para decidir. (Toda hora? Tem mais dez para jogar) O risco de se machucar esta inerente a profissão dele. (Não estou discutindo isso) Eu respeito sua opinião, mas você tem que respeitar a minha. (Lógico que respeito. Eu fui jogador e entendo algumas coisas) Eu também fui, mas não no mesmo nível. (Eu passei por situações que o senhor não passou, mas o Neymar está passando) Você está errado nisso, não é porque um jogador não alcança o sucesso que não tem o mesmo nível que os outros. Não pode ter essa arrogância de achar que só porque jogou em time menor você não passa o que jogadores em time menores passam. (Não estou falando isso, mas sim em disputar a Copa do Mundo, todo mundo ficar preocupado com seu comportamento). As importâncias são proporcionais, às vezes um campeonato de várzea tem importância de Copa do Mundo para outros.

Marcelo Barreto: Qual o maior jogador brasileiro depois do Pelé?

– Fazer esse tipo de comparação é sem sentido. Eu sou “pelezista”. Vi o Pelé jogar futebol. Pouco, mas vi. (Pelé é melhor que Messi?) Para mim, sim. Quem viu o Pelé jogar sabe o que estou falando, ainda mais sendo santista. A gente achava que não veria nada igual. O ídolo do meu filho no futebol é o Robinho. Da mesma forma que o Pelé me inspirou, o Neymar foi inspirado pelo Robinho. Na época que o Santos ganha em 2002, a faixa era da cabeça para baixo. Quando íamos na Vila ver o Robinho era como se fossemos ver o Pelé. Quando você via o Robinho jogar, era de uma grandeza. E todo santista falava que não ia ver ninguém maior que o Robinho, aí apareceu o Neymar. (A opinião da Placar é que o Neymar é maior que o Pelé. Então dá o seu voto) Casagrande.

Mauro Naves: Neymar está indo para o Real Madrid?

– Não.

Pedro Bial: Ganso vai voltar a ser o Ganso que apareceu com o Neymar?

– Nós estamos torcendo muito para isso. Sabemos o quanto ele trabalhou para ter sucesso. Estamos torcendo para que isso aconteça. Quantas vezes o Milton falou Paulo Henrique Ganso.

Neymar e Ganso — Foto: Reprodução

Milton Leite: Como foi esse processo que você passou aqui? Ruim demais?

– Olha, não é confortável não. É uma experiência, eu quis participar. Óbvio que vai ter polemicas, mas vivemos dessa forma. Sabemos que o que fizemos com a carreira do Neymar, temos orgulho disso, é a maior gestão de atleta. (Tem algum jogador que fatura mais que ele?) Não posso falar isso aqui agora. Se não daqui a pouco tenho outra autuação. Jogando futebol ele tem um excelente salario, tem um contrato muito bom para ele, e seus direitos de imagem... hoje fomos considerados entre as 10 mil empresas que mais contribuem para esse país. Para você ver o tamanho que o Neymar e a nossa empresa tomou.

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