Se estiver caminhando depressa, você vai passar reto, sem ver a entrada. O Futuro Refeitório, no número 808 da rua Cônego Eugênio Leite, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, tem a entrada original de outros tempos. É preciso percorrer a pé um pequeno pátio, com mesinhas e cadeiras sobre o gramado, até que se entre no galpão.
Criado pela chef Gabriela Barretto, do tradicional Chou, em parceria com a irmã, Karina Barretto, que fez hotelaria, é uma espécie de fenda no espaço-tempo do circuito gastronômico que se instalou naquela parte do bairro.
O local serviu como estacionamento —as faixas em amarelo e preto nas paredes não deixam dúvida. Antes, porém, ali operou uma fábrica de lápides, dessas que adornam cemitérios, e é isso que explica o imenso pé-direito e a estrutura de madeira que segura o telhado.
A herança visual prosaica ganha ares contemporâneos com piso de cimento queimado, luminárias suspensas, como as de escritórios, cadeiras de plástico, sofás e poltronas com jeito de couro velho e cozinha aberta. O ambiente tipicamente urbano faz com você sinta que está fazendo a sua refeição em qualquer grande cidade culturalmente alternativa. Poderia ser Nova York. Poderia ser Berlim.
O café da manhã também respeita a diversidade própria das metrópoles sem pátria ou compromisso com o fuso. É uma refeição servida até as 19h, o que atende retardatários da lida diária ou notívagos de despertar tardio.
O menu, porém, é memória gastronômica, quase um momento de fazenda que só os mais antigos conseguem descrever no detalhe. Traz torrada com pães integral e de fermentação natural. Manteigas, a tradicional ou com sabores. Granola. Ovos mexidos bem miudinhos.
Também é possível pedir no balcão surpresas doces rústicas, dessas que apenas avós de livros de história parecem ser capazes de servir hoje: croissant com amêndoas, bolo de banana. O cremoso de chia com manga, banana e coco lembra mingau da infância.
Aos que apreciam a tradicional bebida do desjejum um pouco mais leve, porém encorpada, o expresso denso pode ser substituído por um café passado em coador e servido em copo generoso. Os grãos são da Bahia.
A maior surpresa, porém, é o iogurte da casa com fruta do dia, sementes e mel. Visto a distância, o creme branco até lembra uma coalhada seca, mas não há como descrever o seu sabor leve, suave e generoso. Zero acidez.
Pode ser nas mesas compridas, na companhia de amigos, nas acomodações mais reservadas, a dois ou sozinho, com essa combinação inesperada entre visual moderno e sabor dos mais velhos, é fácil perder a noção do tempo.
Futuro Refeitório
Um antigo estacionamento abriga o novo restaurante da chef Gabriela Barretto (Chou), que também tem padaria e torrefação de café. As receitas destacam vegetais, legumes e cereais, caso da berinjela finalizada na chapa com missô e do arroz preto com abóbora, lascas de coco e sementes. Também brilham os itens de café da manhã --não deixe de provar as torradas, com os pães da própria casa.
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