O filme que fez Sylvester Stallone engordar 18 quilos para ser levado a sério e os risos na sessão teste

Ícone do cinema de ação sentiu que era preciso se reinventar e correu riscos. Produtores ficaram desesperados com reação de fãs em uma das primeiras exibições

Por Rubinho Damasceno


Sylvester Stallone em Cop - Land' Divulgação

Os anos 1980 estavam mortos e enterrados e Sylvester Stallone já não estava mais com aquela bola toda. Pelo contrário, na década de 1990, o astro amargou mais fracassos do que sucessos e tinha consciência de que precisava urgentemente se reinventar. Foi aí que apareceu em suas mãos o roteiro do drama policial 'Cop Land', projeto totalmente pessoal do então jovem diretor e roteirista James Mangold, hoje um dos grandes nomes de Hollywood, com trabalhos como 'Logan' (2017), 'Ford vs. Ferrari' (2019) e 'Indiana Jones e o Chamado do Destino' (2023) no currículo.

O ator se habilitou e precisou enfrentar logo de saída o ceticismo do próprio cineasta novato, que não o achava capaz de interpretar o protagonista do filme - um xerife de uma pequena cidade dormitório de tiras de Nova York, imersa em corrupção e aparentemente conformado e impotente com a sua função de "engavetador" de casos delicados envolvendo as autoridades. Há ainda um importante background: ele nunca conseguiu realizar o sonho de ser um "policial de verdade" porque sofreu um acidente que lhe deixou surdo de um ouvido, salvando a mulher por quem foi apaixonado por toda a vida.

"Eu não o queria. Quando vieram com a ideia, eu reagi com um 'Deus, por favor, não'. Minha percepção de Sly àquela altura (e ele é um amigo e vai entender o que vou dizer) é que o cara tinha feito uma série de filmes nos quais era uma figura indestrutível. E eu estava procurando um cara vulnerável, que era meio soft, que não conseguia nem puxar um gatilho direito - e eu estou recebendo o Juiz Dredd?", lembrou Mangold, anos mais tarde, fazendo referência a um papel marcante do ator naqueles tempos de mais baixos do que altos.

Sylvester Stallone e Annabella Sciorra em 'Cop Land' — Foto: Divulgação

Mesmo assim, o diretor engoliu Stallone após ele aceitar as três condições impostas por ele. A primeira era de que o astro não deveria tentar controlar a produção. A segunda: não pedir mudanças no roteiro ou na história. E a última, mais importante, ganhar 18 quilos para interpretar o protagonista Freddy Heflin.

"Sly disse: 'Olha, é o seu filme, é o seu roteiro, então, faremos exatamente o que você escreveu e também vou ganhar peso – eu vou adorar'. E ele foi um anjo sobre isso de uma forma que muitos outros atores que eu contatei para o papel antes dele não tinham sido. Eles não ficaram felizes em interpretar o herói nada sexy ou vacilante hesitante no centro da história, e aqui estava esse cara que realmente estava a fim disso. Por vários motivos, estou feliz por ter feito isso com ele", reconheceu o cineasta.

Ganhar o peso foi a parte fácil para Sylvester Stallone, que interrompeu a rotina intensa de treinamentos que segue até hoje, e passou a se empanturrar de panquecas em uma lanchonete próxima do set.

A esta altura, o roteiro de Mangold tinha atraído uma ótima reputação e vários atores de renome faziam fila para participarem do projeto, entre eles Robert De Niro e Harvey Keitel, dois dos principais nomes do gênero - o primeiro dispensa apresentações e o segundo tinha voltado aos holofotes por uma dupla parceria com Quentin Tarantino em 'Cães de Aluguel' (1992) e 'Pulp Fiction - Tempo de Violência' (1994).

Sylvester Stallone e Ray Liotta em 'Cop Land' — Foto: Divulgação

Isso sem falar de Ray Liotta, protagonista de 'Os Bons Companheiros' (1990), que queria o papel de Stallone, mas teve de se contentar com outro, o do policial infiltrado, melhor amigo de Heflin.

Detalhe: praticamente todo mundo aceitou trabalhar por um cachê bem menor do que normalmente recebia.

Bolo fofo

O problema veio quando os produtores viram o estado de Stallone após o regime de engorda. Ficaram malucos com testes de audiência de 'Cop Land', com pessoas rindo da forma do ator, conhecido até então pelo físico trincado. Chegaram até a pedir para que uma cena mostrando bem a barrigona do astro, que rola na cama até conseguir se sentar, ficasse de fora do corte final.

"Teve uma ótima cena que fez, por algum motivo, o estúdio ficar muito nervoso. Você vê a barriga enorme dele meio que se revelando ao acordar pela manhã. Quando o filme seria lançado, Sly ainda era um grande astro de ação. Quando o mostramos pela primeira vez em uma exibição teste, três caras entre 500 riram quando o viram gordo e isso imediatamente deixou os executivos paranoicos", lembra Mangold.

Stallone com Robert De Niro e Havey Keitel nos bastidores de 'Cop Land' — Foto: Divulgação

"Eles foram direto até a mim: 'Você tem que tirar essa cena'. Mas a realidade para mim é que momentos como esse foram uma grande homenagem. O ganho de peso foi para desempenhar aquele papel e para que ele [Stallone] pudesse sinalizar para o público: 'Eu não vou ser aquele cara[que vocês conhecem]'."

Entre mortos e feridos, menos na sequência final ao estilo faroeste de 'Cop Land', salvaram-se todos. Sylvester Stallone provou que era um ator sério, capaz de duelos inclusive com De Niro (algumas das melhores cenas do filme são com os dois) e o filme deu um bom dinheiro. Custou 15 milhões de dólares e arrecadou 65 milhões. Nada mal para um "bolo fofo", como ele mesmo chegou a se definir, durante a produção.

Confira a seguir o trailer de 'Cop Land' (1997).

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