O polêmico filme trash que Roger Corman fez com heróis da Marvel e morreu sem ter conseguido lançar

As cifras que envolveram 'O Quarteto Fantástico', de Roger Corman, entre 1992 e 1994, eram infinitamente menores. Corman pediu apenas US$ 1 milhão para fazer sua versão dos heróis criados por Stan Lee e Jack Kirby - Reed Richards (Senhor Fantástico), Sue Storm (Mulher Invisível), Ben Grimm (o Coisa) e Johnny Storm (Tocha-Humana), o que foi liberado pelo então detentor dos direitos, o produtor alemão Bernd Eichinger, que queria lançar um filme de qualquer jeito antes que eles expirassem após negociações frustradas com gigantes da indústria cinematográfica, como Warner e Columbia.

O próprio Corman explicou o contexto em entrevistas anos mais tarde. "Ele [Eichinger] tinha a preferência para produzir ‘O Quarteto Fantástico’ com um orçamento de 30 milhões de dólares. Mas a opção expiraria em 31 de dezembro e ele não tinha os 30 milhões de dólares. Você poderia fazer isso por 1 milhão de dólares? Eu respondi: 'Podemos fazer um trabalho muito bom, eu acho, com isso'."

Com a grana curta, Corman contratou um diretor mais conhecido por videoclipes de músicos como Eric Clapton e Gloria Estefan, Oley Sassone, e um elenco dos chamados character actors (gente com quilometragem na indústria, mas que não tinha brilhado em nenhuma produção) - Alex Hyde-White ficou com o Sr. Fantástico, Rebecca Staab foi a Mulher Invisível, Jay Underwood, o Tocha e Michael Bailey Smith (esse pelo menos cultuado dos fãs do cinema de terror) vestiu a fantasia de borracha do Coisa - que, aliás, teria consumido a maior parte do US$ 1 mihão do orçamento - acredite!

O arquiinimigo do Quarteto Fantástico, Doutor Destino, ficou a cargo de Joseph Culp, que teria se inspirado no ditador fascista Benito Mussolini para compô-lo. Entre as lendas sobre escolhas do elenco, uma é daquelas que podem ser chamadas de "full circle moment".

Mark Ruffalo, que décadas mais tarde ganharia uma fortuna como o Hulk do Marvel Cinematic Universe, com participações em filmes com budgets e faturamentos gigantescos, teria feito teste para interpretar o vilão - e não foi aprovado.

De acordo com Stan Lee, o filme - sem o conhecimento do elenco - foi feito apenas pro forma por conta da disputa de direitos de licenciamento e nunca seria lançado de qualquer forma, o que Corman e Eichinger sempre negaram.

Mas a verdade é que ele nunca foi distribuído oficialmente, seja no cinema, vídeo, streaming ou qualquer coisa que seja; os negativos teriam sido destruídos por Avi Arad, executivo e que depois seria presidente da Marvel Studios, responsável por lançar diversos filmes que abriram caminho para a invasão de super-heróis nos cinemas no começo do século 21.

Ele tinha medo que 'O Quarteto Fantástico' destruísse a reputação dos personagens, da Marvel e do próprio gênero de adaptação de histórias em quadrinhos de super-heróis. Só que cópias piratas do filme circulam na internet até hoje, inclusive no YouTube (assista por sua própria conta e risco abaixo).

'Quarteto Fantástico', aliás, 30 anos depois, é a grande aposta da Marvel para o ano que vem, com elenco puxado por estrelas de primeiro time - Pedro Pascal e Vanessa Kirby. Será a terceira (ou melhor, quarta) "encarnação" oficial do grupo nos cinema: já foram lançadas oficialmente versões em 2005 (com uma continuação em 2007) e outra em 2015, além da leitura proibidona de Corman.

Confira abaixo o filme produzido por Roger Corman em 1994 e o trailer do documentário sobre os seus bastidores, 'Doomed! The Untold Story of Roger Corman's The Fantastic Four' (em tradução literal, 'Amaldiçoado! A História não Contada sobre o Quarteto Fantástico de Roger Corman'), de 2015.