Os atores brancos que eram as opções iniciais para o papel icônico de Morgan Freeman em 'Um Sonho de Liberdade'

Impossível pensar em outros atores nestes papéis - estão em qualquer lista que se preze de "melhores duplas" de todos os tempos. Mas saiba que por muito pouco essa parceria não aconteceu e isso tinha a ver com o texto original de Stephen King, o conto 'Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank', contido na coletânea 'As Quatro Estações'.

Na concepção de King, Red tem origem irlandesa e esse apelido vem justamente dos cabelos ruivos. Ao conseguir os direitos junto ao escritor com o maior número de obras adaptadas para filmes e séries em Hollywood, o diretor Frank Darabont não tinha intenção de fazer qualquer mudança nos personagens.

Além disso, enxergava em 'Um Sonho de Liberdade' a chance de trabalhar com um dos seus dois atores preferidos - Gene Hackman, que tinha acabado de ganhar o seu segundo Oscar por 'Os Imperdoáveis', em 1993 (o primeiro havia sido ainda em 1972 por 'Operação França') ou Robert Duvall, vencedor do Oscar por 'A Força do Carinho, em 1984, e responsável por diversos papéis memoráveis em clássicos como 'O Poderoso Chefão 1 e 2' e 'Apocalypse Now'.

Os dois estavam envolvidos em outros projetos na ocasião e indisponíveis, para decepção de Darabont, que estava debutando na função de diretor e tinha reputação em Hollywood apenas como roteirista de filmes de terror B, como 'A Bolha Assassina' e 'A Mosca 2', além de episódios da série 'O Jovem Indiana Jones'.

O cineasta estreante, inclusive, chegou a ter a tutela de um diretor muito mais experiente, Rob Reiner, que tinha no currículo uma das adaptações mais elogiadas de uma obra de King, 'Conta Comigo', de 1986.

De início, ele sugeriu a Darabont vários astros puxadores de bilheteria na indústria cinematográfica, daqueles capazes de fazer brilhar o cartaz de qualquer filme.

Interessante ver como a lista tríplice proposta por Reiner trazia nomes de diferentes gerações, o que mostava que não se tinha muita certeza do caminho que se pretendia dar ao enredo e ao personagem de 'Red'.

Paul Newman, que acabaria fazendo no ano seguinte 'O Indomável: Assim É a Minha Vida', conseguindo sua nona indicação ao Oscar (ainda teria mais uma, em 2003, com 'Estrada para a Perdição').

Clint Eastwood - talvez o nome mais quente em Hollywood naquele momento, diretor consagrado na Academia por 'Os Imperdoáveis', que também estrelou junto com Hackman, e com trânsito livre principalmente nos estúdios Warner, além de ter a experiência icônica de um filme de prisão anterior, 'Fuga de Alcatraz' (1979).

E Harrison Ford, o maior astro de cinema dos anos 1980, com papéis memoráveis nas franquias 'Star Wars' e 'Indiana Jones', além de filmes que trafegavam entre o sucesso e o cult, como 'A Testemunha' e 'Blade Runner - O Caçador de Andróides'.

Ou por problemas de agenda, ou pelos agentes não confiarem no taco de um novato como Darabont ou até por não caberem no orçamento de 'Um Sonho de Liberdade', todos foram descartados.

Aí, surgiu a sugestão salvadora vinda da produtora Liz Glotzer, da Castle Rock, empresa que adminstra as criações adaptações do próprio Stephen King. Foi ela quem disse para Darabont não se prender ao texto original e fazer um convite a Morgan Freeman, no auge da carreira, enfileirando um grande filme atrás do outro - 'Tempo de Glória' (1989), 'Conduzindo Miss Daisy' (1989) e 'Os Imperdoáveis' (1992), este último junto com Hackman e Eastwood - olha só como era pequeno o mundinho de Hollywood.

O diretor e roteirista, que era fascinado por Freeman desde 'Brubaker' (1980), filme de prisão no qual contracena com Robert Redford, deu sinal verde para que ele fosse abordado.

As estrelas se alinharam já que o artista respondeu dias depois que 'Um Sonho de Liberdade era "o melhor script que já tinha lido na vida e que ficaria feliz de fazer qualquer papel". Ao saber que o queriam para interpretar Red, então, ficou em êxtase. "Eu pensei: 'Uau, eu controlo os destinos do filme. Fiquei estupefato com isso".

A escolha por Freeman e a manutenção da alcunha 'Red' para o personagem proporcionou um dos momentos mais impagáveis de 'Um Sonho de Liberdade'.

Acontece quando ele é perguntado por Andy (Robbins) o motivo do apelido e responde: "Talvez seja porque eu sou irlandês".

Morgan Freeman recebeu sua terceira indicação ao Oscar por 'Um Sonho de Liberdade' (uma das sete que o filme teve), mas perdeu para Tom Hanks por 'Forrest Gump - O Contador de Histórias'. Foi uma tônica naquela noite no então Kodak Theatre (hoje Dolby Theatre), com o filme de Darabont não levando nenhum prêmio sequer; hoje, para muitos, uma injustiça histórica.

O ator finalmente receberia sua estatueta dourada, como Melhor Ator Coadjuvante, por 'Menina de Ouro', em 2005. Chegou aos finalistas da Academia mais uma vez por 'Invictus', interpretando Nelson Mandela, em 2010.

Confira a seguir o trailer de 'Um Sonho de Liberdade'.