Uma menina de 12 anos pode ter tido o acesso ao aborto impedido por uma organização católica antiaborto, em Santa Fé, província Argentina. Ela está grávida do próprio pai, que a estuprou, e desapareceu na última segunda-feira (2). Após buscas intensas, autoridades a encontraram na terça-feira (3) em uma sede da organização Grávida. A Argentina descriminalizou o aborto até a 14ª semana há dois anos.
Segundo informações do El País, a busca começou após a menina não comparecer ao hospital onde o procedimento estava marcado. A menina já havia expressado que não tinha interesse em continuar com a gravidez e contou com apoio da mãe e do sistema de saúde argentino. O pai da menina tem 42 anos e foi detido também na segunda-feira, após mais de uma semana foragido. Ele teve a prisão preventiva solicitada e será indiciado pelo crime de abuso sexual e estupro.
Grupos feministas do país estão pressionando a Justiça para que investiguem se a menina foi impedida de abortar e o que aconteceu durante as horas em que foi dada como desaparecida, bem como os vínculos políticos e econômicos da organização católica. Mariángeles Guerrero, que faz parte do grupo Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto, afirmou que "hoje a menina está bem e em bom estado de saúde"
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A ONG Grávida já foi denunciada anteriormente por impedir o acesso ao aborto voluntário de outra mulher. A promotora do caso, Alejandra del Río Ayala, aponta que ainda há poucas informações. No entanto, a equipe que as acompanhavam afirmou que foram convidadas para participar de uma missa. A Secretaria da Infância, Adolescência e Família emitiu nota em que afirma ter solicitado uma "medida protetiva excepcional" para "ouvir sua voz como sujeitos de direitos como todas as meninas, meninos e adolescentes”.
A menina vive na cidade rural de Garibaldi, a 122 quilômetros de Santa Fé, e foi levada a uma clínica pela mãe. Ao ter a gravidez confirmada, ela contou que foi sexualmente abusada pelo pai. Ela e a mãe foram acompanhadas pelo sistema de saúde da província, a quem a menina demonstrou querer realizar o aborto. "Não quero ter", respondeu aos médicos quando foi avisada da gestação, segundo o El País.
Após o desaparecimento no dia 2, as buscas para encontrar a menor de idade duraram 24 horas. Ela foi encontrada na Casa Hermanas de Betania, uma das sedes da organização antiaborto Grávida. A outra denúncia foi realizada em 2016, quando o aborto só era permitido em casos de estupro e risco à vida da pessoa gestante. Uma psicóloga do grupo fingiu se passar por membro da Secretaria Infantil para impedi-la de abortar.
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