Saúde
Por , Em Colaboração para Marie Claire — São Paulo

A influenciadora digital carioca Isabella Savaget, 22, estava prestes a completar 15 anos quando começou a desenvolver anorexia nervosa. O transtorno alimentar era visto por ela, que tem paralisia cerebral, como uma forma de ter controle sobre o próprio corpo. algo que deficiência nunca permitiu que ela tivesse. Ainda hoje, ela lida com a distorção de imagem trazida pelo distúrbio alimentar, mas a academia tem sido uma ferramenta importante para fazer as pazes com o próprio corpo.

“Devido à minha deficiência, eu dependo das pessoas para fazer certas coisas. Com a anorexia nervosa, eu tinha total controle do que eu comia ou não, por exemplo. Já que eu não tinha isso com a deficiência, eu arrumei um jeito de ter o controle sob alguma parte de mim”, desabafa.

Além disso, Savaget comenta que o distúrbio alimentar caminhava lado a lado com a possibilidade de se sentir pertencente a algum padrão social que a paralisia cerebral nunca permitiu.

“A anorexia nervosa veio como uma válvula de escape. Eu, com a minha deficiência, nunca me encaixei em um padrão. Então, o transtorno alimentar veio como uma forma de disfarçar a minha deficiência, porque é algo existente em pessoas sem deficiência. Era uma doença para esconder minha paralisia cerebral”, reflete.

O gatilho para desenvolver anorexia nervosa foi um fim de semana que Savaget passaria com amigos em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, para comemorar os 15 anos. Nessa viagem, ela queria usar biquíni. Só que, para isso, acreditava que precisava perder peso. Então, a jovem começou a restringir a alimentação a ponto de consumir cerca de 200 calorias por dia. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, um indivíduo adulto deve ingerir de 2.000 a 2.400 calorias diariamente.

“Na minha festa de 15 anos, eu estava tão magra que as roupas que eu tinha comprado duas semanas antes da viagem, não cabiam mais em mim. Elas caiam”, lembra. No dia da celebração, Savaget supostamente poderia curtir o momento por ter alcançado o corpo que almejava, embora ainda não parecesse suficiente pela distorção corporal. Mas ela já não tinha forças pela alimentação tão prejudicada.

Os pais da jovem perceberam que a restrição que a filha estava fazendo em relação à comida já não era mais sobre ter uma alimentação saudável e decidiram levá-la até uma nutricionista. Só que a profissional, ao invés de auxiliar a influenciadora digital, acabou restringindo ainda mais o que ela estava ingerindo.

“Ela não percebeu que eu, com paralisia cerebral, era capaz de ter mais uma dificuldade. A partir disso, foi só ladeira abaixo. Comecei a perder cada vez mais peso e cheguei no meu limite de 30 quilos para 1,51 metros de altura. Na minha cabeça, isso estava super normal porque eu não via minha imagem no espelho como ela era. Eu me via muito maior, por isso nunca era suficiente. Eu queria perder mais e mais peso”, relata.

Savaget ficou com os ossos das costas aparentes por causa da magreza excessiva — Foto: Arquivo pessoal
Savaget ficou com os ossos das costas aparentes por causa da magreza excessiva — Foto: Arquivo pessoal

A vida da jovem passou a ser única e exclusivamente sobre comida. Ela pensava em calorias do momento que acordava ao instante que ia dormir. Inclusive, isso fez com que ela se isolasse porque todo ambiente que tivesse algum tipo de alimento, a deixava desconfortável.

A anorexia nervosa acabou afetando Savaget em relação a paralisia cerebral também. Ela precisou parar com alguns dos tratamentos que ela realizava, como a fisioterapia. “O meu corpo estava no limite. Ele não podia perder mais nada do que já havia perdido. Isso fez com que eu perdesse massa muscular, o que fez meu corpo ficar muito mais descontrolado, e interrompi minha evolução”, reflete.

Com o auxílio dos pais, a influenciadora digital foi direcionada a uma equipe multidisciplinar, composta por nutricionista, psicóloga e psiquiatra, voltada a transtornos alimentares. Foi nesse momento que ela ouviu que se ela não se engajasse no tratamento, teria que ser internada para conseguir reverter o quadro de emagrecimento exacerbado, uma vez que corria o risco de vir até mesmo a óbito devido ao distúrbio alimentar.

“Foi um choque. Comecei a pensar que não era essa a vida que eu queria para mim. Tinha tanta coisa para viver e tinha conquistado tanta coisa até aqui. Não queria mais isso para mim. Só que eu precisava de uma motivação maior do que a de perder peso”, lembra.

Foi nesse momento que a carioca conversou com os pais sobre a possibilidade del adotar uma cachorra, que sempre foi o seu sonho, ao chegar ao peso ideal e desde que arcasse com as despesas do animal de estimação. “Não foi fácil, mas me agarrei a isso”, relata.

Só que conforme a anorexia alimentar foi sendo superada, Savaget começou a entrar em um limbo depressivo porque embora tivesse a perspectiva de ter uma cachorrinha, o sonho ainda parecia distante. Os pais sugeriram, então, que eles começassem a procurar pelo animal de estimação, mas com a condição de que só seria adotado no futuro quando a jovem já estivesse completamente recuperada.

Em uma das idas a um canil, a carioca encontrou a tão sonhada cadela. “Não fui eu quem escolhi a Belinha, foi ela quem me escolheu. No momento que eu vi aquele serzinho, do tamanho da minha mão, eu sabia que era ela. Uma semana depois, ela estava em casa. Ela transformou minha vida, entendi que o amor realmente salva. Eu tinha que estar bem para cuidar dela”, lembra.

Savaget com Belinha — Foto: Arquivo pessoal
Savaget com Belinha — Foto: Arquivo pessoal

No processo de recuperação, Savaget também voltou a dançar, algo que ela sempre gostou de fazer. Junto com o desejo de compartilhar os momentos com a Belinha, ela decidiu criar o Instagram para mostrar seu lado dançarino e, assim, desmistificar as limitações que são colocadas em relação a pessoas com deficiência.

“Antes de começar a andar, comecei a dançar. Minha fisioterapia era à base de funk. Eu não conseguia andar, mas conseguia colocar a mão no joelho e ir até o chão”, conta.

Atualmente, a academia também tem sido uma ferramenta importante para conseguir lidar com os resquícios da anorexia nervosa, especialmente a distorção corporal. “Eu percebi que se eu não comesse, não ia conseguir malhar e ter um corpo, dessa vez, realmente saudável. A academia me ajudou a entender que a comida é minha aliada”, reflete.

Anorexia nervosa: o que é, sintomas e tratamento

A anorexia nervosa é um transtorno alimentar que, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), tem três características essenciais: “restrição persistente da ingesta calórica, medo intenso de ganhar peso ou de engordar ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso, e perturbação na percepção do próprio peso ou da própria forma”.

Esses comportamentos costumam levar a perda de peso excessiva, em um curto espaço de tempo, podendo acarretar em um nível importante de desnutrição. Não por acaso, o índice de mortalidade é alto quando há esse diagnóstico sem tratamento, variando de 15% a 20%.

“Os sintomas físicos da anorexia nervosa variam de acordo com a duração do transtorno e o grau de desnutrição. Entre eles, os mais presentes são cansaço, tontura, síncope, edema, constipação, extremidades frias, amenorreia, arritmia cardíaca e fraturas”, explica a psicóloga Teresa Muller, especializada em transtornos alimentares.

Um dos gatilhos da anorexia nervosa, como aconteceu com Savaget, é a questão do controle. “Indivíduos com anorexia nervosa tendem a relatar que a restrição alimentar severa e o controle do peso proporcionam uma sensação de domínio e poder sobre suas vidas, especialmente quando sentem que outras áreas estão fora de controle”, relata Muller.

Outros estopins são:
- Pressão estética e hipervalorização da magreza na sociedade, especialmente entre mulheres;
- Histórico de transtornos alimentares na família;
- Tendências perfeccionistas;
- Experiências traumáticas, como abuso e bullying;
- Profissões ou esportes que enfatizam a magreza extrema e o peso corporal, como balé, ginástica ou modelagem.

“O tratamento da anorexia nervosa requer uma abordagem multidisciplinar, incluindo psicólogo, nutricionista, psiquiatra e, em alguns casos mais severos, internação para que o paciente seja monitorado por conta do grau de desnutrição”, explica a psicóloga.

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