Política

Por Débora Miranda

“É como se aquelas pessoas estivessem em um transe. Sabe transe, de seita? A sensação é essa.”

Assim a advogada criminalista Flávia Guth, conselheira Seccional da OAB no Distrito Federal e integrante dos coletivos femininos Elas Pedem Vista e UMA, descreve o que encontrou ao visitar, na última terça-feira (10), o ginásio da Polícia Federal, em Brasília, para onde os acusados de participar do ato golpista do último domingo foram levados após o ocorrido.

“A maioria dos detidos era de pessoas que não tinham vivência política, que acreditavam estar participando de um movimento, não digo que pacífico nem democrático, mas que elas achavam ser correto. Ainda que violasse fundamentos da democracia, elas não tinham essa percepção.”

Segundo a advogada, grande parte dos detidos não tinham dimensão da situação que estavam enfrentando. “Muitos me disseram que estavam rezando pelo ex-presidente [Jair Bolsonaro, que está nos EUA], esperando que ele voltasse. Alguns me perguntaram se a Damares [Alves, ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos] ia até lá. Eles estavam esperando um movimento de ser libertados. Sinceramente, eles não têm a dimensão nem da gravidade do que estavam pedindo.”

O objetivo de Flávia era ver como as coisas estavam funcionando, checar se os direitos dos detidos estavam sendo respeitados e se havia alguma necessidade de atendimento emergencial que precisasse ser encaminhada à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). “Eu fui para ver se aquelas pessoas estavam tendo o atendimento conforme exige a Constituição e a legislação federal. Todos, independentemente do que fizeram, devem ter respeito às suas garantias constitucionais.”

A advogada conversou com dezenas de pessoas ao longo de mais de seis horas no local, ouviu suas reclamações, suas angústias e conta que ficou particularmente comovida com a situação das mulheres.

Encontrei pessoas com sentimento de abandono. Mulheres muito tristes. Vi duas cenas que achei emblemáticas. Tinha uma mulher recebendo soro e chorando compulsivamente, com uma outra abraçada a ela. E vi uma senhora de uns 55 anos, com a Bíblia no colo, rezando, também sendo abraçada por uma outra mulher. As duas chorando. Me fez perceber que a ficha daquelas pessoas estava caindo naquele momento.
— Flávia Guth, advogada criminalista

E completa: “Não estou passando pano para ninguém. Essas pessoas têm que responder pelo que fizeram, ninguém tem que ser perdoado. Mas acho que elas não dimensionavam a gravidade do que fizeram e não tinham dimensão das consequências de seus atos”.

Atualmente, as mulheres e os homens que não foram liberados pela polícia já se encontram nos presídios.

Mulheres do QG

Segundo Flávia, na terça-feira (10) as mulheres idosas e as que estavam acompanhadas de crianças já haviam sido liberadas pela polícia. Então, o perfil que ela encontrou em sua visita era da faixa etária entre 48 e 60 anos. “Eram mulheres muito ligadas à religião, com clara vulnerabilidade emocional. Algumas me disseram que tinham família distante e que viviam sozinhas. São de um perfil mais solitário, pelo que pude observar, e talvez por isso tenham se unido.”

Ainda de acordo com a advogada, a maior parte das pessoas que estavam na academia da PF havia sido detida nos acampamentos montados em quartéis. “Não eram necessariamente pessoas que estavam na Praça dos Três Poderes. Conversei com pessoas que chegaram a Brasília no domingo à noite, depois do quebra-quebra".

Acampamento dos detidos na academia da Polícia Federal — Foto: Reprodução/ Twitter
Acampamento dos detidos na academia da Polícia Federal — Foto: Reprodução/ Twitter

"Uma senhora com quem falei repetia: ‘Não sou bandida, não sou criminosa. Estava com a minha irmã, rezando’. Não tenho como saber, claro, se isso corresponde à realidade, mas é fato que a falta de compreensão sobre o todo é muito forte. As pessoas no QG clamaram por um golpe, mas muitas não tinham dimensão da gravidade do que estavam inseridas.”

As mulheres, no ginásio, ficavam frequentemente juntas, rezando e se acolhendo. “Estavam sempre com parentes, primas, irmãs. Elas pediam atendimento [da polícia] em conjunto, queriam ficar unidas como uma forma de proteção. Algumas me disseram que estavam nos QGs há tempos e criaram laços entre si.”

Atendimento médico e reclamações do banheiro

Na parte do estacionamento da academia da Polícia Federal foi montado um posto de atendimento médico. “As pessoas eram atendidas de forma rápida. Algumas tinham ferimentos e machucados, mas conversei com muita gente e ninguém reportou agressão por parte da polícia. Perguntei sobre maus tratos e ninguém disse ter passado por isso. Bastante gente passou mal de ansiedade e desespero”, conta Flávia.

Vídeos em que detidas reclamavam do banheiro viralizaram na internet nos últimos dias. “Não estava exatamente limpo, mas o volume de pessoas era muito grande. A limpeza é proporcional ao volume de pessoas que se pretende receber naquele ambiente. Ninguém ali tinha a expectativa de receber aquele tanto de pessoas ao mesmo tempo. Não vi nada que fosse insalubre, apesar de elas reclamarem bastante.”

Fake news em ação

A distribuição de fake news segue forte entre os bolsonaristas. Houve uma notícia, já repetidamente desmentida, sobre uma idosa que teria morrido no ginásio. “As pessoas de fato acreditaram que alguém morreu ali, aquilo virou uma verdade. Elas não contestavam, perderam o juízo crítico, e isso me chamou muito a atenção”, diz a advogada.

“Eles se alimentam disso, de mentiras plantadas. Conversei com várias pessoas sobre isso. Uma me disse: ‘Duas pessoas morreram aqui. Bem ali ó!’. E me apontou o lugar, no centro do ginásio. Perguntei se ela havia visto. E ela: ‘Eu vi!’. Aí eu dizia que ia por o nome dela no relatório e a história mudava. Pessoas que possuem essa tendência de contar mentiras têm carência afetiva muito grande. É o hábito de viver de falsa notícia.”

O fato de os detidos estarem com celulares, comunicando-se com a família e postando nas redes sociais, gerou críticas. Segundo a advogada, seria impossível retirar os bens de todas as pessoas e catalogar. “Não tinha nem contigente para isso. Essa exigência seria inviável. Mas depois que eles passavam pela triagem, se fossem presos, aí sim o celular era retirado. Até porque acredito que esses aparelhos serão objeto de perícia, tanto para a defesa, para tentar provar que a pessoa não estava nos atos, quanto para a tese da acusação.”

Damares, Bolsonaro e frustração

“Algumas pessoas me perguntaram se eu tinha notícias do Bolsonaro. Eu dizia que, de acordo com as notícias, ele estava fora do país. Questionavam também sobre a Damares. Eu deixava claro que não representava nenhum deles e que não estava lá para defendê-los, mas para observar as condições em que estavam sendo mantidos. Mas eles ficavam bem chateados. Um disse: ‘Tá vendo? Eles não estão nem aí’. Havia uma esperança de que alguém aparecesse para salvá-los”, conta Flávia. “Isso foi muito frustrante para eles.”

Segundo a criminalista, a situação foi “extrema” e não havia ninguém orgulhoso do que aconteceu. “O clima estava muito pesado para todo mundo. Para os detidos, óbvio, mas também para a polícia, para os delegados, os agentes, os voluntários, os integrantes do Ministério Público. Todos estavam consternados com a proporção que a coisa tomou.”

Nem eu me recuperei ainda. Foram dias muito duros. Conversei com policiais que estavam acordados desde domingo. Soube de relatos de agentes que desmaiaram de cansaço. É uma carga emocional muito forte, todo mundo estava desgastado. Foi um cenário de muito estresse. Mas percebi os agentes e delegados extremamente centrados, não tinha nada fora do controle ali, ninguém exaltado. No entanto, o clima era muito pesado. Fiquei sem dormir vários dias, estou tomando remédio. É uma exaustão emocional profunda.”
— Flávia Guth, advogada criminalista
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