Marcela Mc Gowan

Quando o tema sexualidade surge, nos colocamos ansiosas para receber aquele compilado de dicas infalíveis ou segredos mágicos que vão automaticamente transformar nossas vidas sexuais.

Tenho algo a confessar.

Existem, sim, muitas maneiras de tornar nossa vida sexual mais prazerosa, de apimentar a relação, de fazer um sexo oral inesquecível e até de ter múltiplos orgasmos em uma noite. E ficarei feliz em compartilhar todas essas informações com vocês. Porém, se há algo que aprendi trabalhando com sexualidade nos últimos anos é que soluções superficiais são temporárias.

Para uma verdadeira transformação na sexualidade, precisamos entender de onde vêm nossos maiores problemas. Resumidamente: antes de construir o que queremos, precisamos descontruir o que aprendemos errado: a maneira como fomos educadas, criadas e ensinadas sobre nosso corpo e nossa sexualidade, a forma como a sociedade trata o tema, e todos os conceitos e preconceitos que carregamos uma vida toda.

O que começa com “fecha essas pernas, menina”, “senta que nem moça” e “tira a mão daí” passa por uma série de repressões ao longo da vida que, associadas à falta de educação sexual, de informação, desconhecimento e desconexão com o próprio corpo, resulta em mulheres adultas que não se conhecem nem percebem seus desejos. Mulheres que receberam, a vida toda, mensagens negativas sobre sexo e que magicamente deveriam amar transar e saber tudo sobre ter e dar prazer.

Sou médica ginecologista e, durante minha especialização, percebi a quantidade enorme de mulheres que tinham alguma questão sexual --e mais ainda, vi como recebiam pouquíssima assistência ou solução sobre a queixa. Isso me motivou a entender mais sobre o assunto, e eu embarquei em duas formações, uma em Sexualidade Humana e outra em Terapia Sexual.

Nessa formação, descobri que os estudos confirmavam minha percepção, e mais da metade das mulheres relatavam alguma insatisfação com suas vidas sexuais. Depois, atendendo em consultório, arrisco dizer que essa taxa é ainda maior.

Mas o que acontece? De onde vem tanta insatisfação? Será que realmente as mulheres não gostam de sexo? É algo biológico?

Esses questionamentos cruzaram minha mente quando, em meus atendimentos, fui percebendo que poucas dessas mulheres tinham realmente um diagnóstico, alguma alteração hormonal, ou algo passível de tratamento medicamentoso ou cirúrgico. O que ficou evidente foi que o denominador comum ali estava na socialização e na falta informação.

Para piorar há uma expectativa de que, o que não soubermos sobre sexo, os homens devem ensinar. Só que eles também não receberam nenhuma educação. A vantagem que têm é a permissão que recebem para explorar seus desejos e sua sexualidade desde cedo --o que, por outro lado, faz com que tudo que saibam seja extremamente enviesado. Além disso, tendem a levar em conta somente o ponto de vista deles sobre o assunto (ou os “aprendizados” precários e muito distantes da realidade que a pornografia lhes deu).

O resultado disso é uma vida sexual construída a partir dessa lógica que leva em conta somente o prazer de corpos que tem um pênis, onde a penetração é apresentada como a principal prática, sendo as outras tratadas como secundárias, “preliminares” que acabam sendo vistas como menos importantes e recebendo menos atenção do que merecem.

Ou seja, a relação sexual acaba envolvendo menos práticas que favorecem o prazer feminino, menos orgasmos e, consequentemente, menos desejo sexual. E, aqui, repito a reflexão: mulheres gostam menos de sexo do que homens ou gostam menos desse modelo de sexo que foi ensinado como o correto? Elas têm menos tesão ou não aprenderam sobre seus desejos, já que foram ensinadas que o mais importante era ser desejáveis, mas nunca desejar?

Nova revolução sexual

Há alguns anos, no entanto, isso vem mudando. Vivemos o que considero uma nova REVOLUÇÃO SEXUAL, em que finalmente os estudos olham para a sexualidade feminina, o foco está no PRAZER de corpos com vulva, e ocupamos cada vez mais espaços públicos para falar abertamente sobre o tema.

Mas ainda estamos engatinhando e temos muitos passos para chegar lá! Há muitos pontos para serem revisitados e, principalmente, muita DESCONSTRUÇÃO precisa acontecer antes que possamos construir uma nova realidade.

Por isso, antes de dicas infalíveis, eu te convido a uma reflexão sobre seu corpo e sua sexualidade. O quanto você sabe sobre você? O quanto conhece seu corpo? O que já aprendeu sobre sexo e prazer? Você sabe o que deseja? Você sabe o que te dá prazer? Você se sente tranquila para comunicar sobre isso?

Esses são pontos extremamente importantes, porque quando mapeamos o que nos falta, entendemos exatamente o que temos que preencher, que informações buscar, para onde olhar com carinho. Você pode seguir curiosa e querendo aprender técnicas de um oral perfeito, sem julgamentos, todos queremos agradar. Mas para uma transformação sólida e duradoura, o caminho é um pouco mais complexo e interno.

Vamos juntas?

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