• Larissa Saram
  • Colaboração para Marie Claire
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A norte-americana Sophie Sandberg, criadora do projeto (Foto: Reprodução Instagram)

A norte-americana Sophie Sandberg, criadora do projeto (Foto: Reprodução Instagram)

Em 2016, Sophie Sandberg era uma estudante universitária norte-americana que precisava entregar um projeto da faculdade. O trabalho poderia tratar de qualquer assunto, desde que fosse algo com o qual Sophie tivesse bastante envolvimento e que fosse possível documentar nas redes sociais. "Escolhi falar sobre assédio nas ruas porque é algo com o qual lido faz tempo, já que cresci em Nova York. Desde a adolescência ouço homens fazendo comentários sexuais e inapropriados sobre o meu corpo. Não sabia como responder, me sentia com medo, desconfortável e silenciada. Pensei que o projeto poderia ser também uma resposta", contou em entrevista para Marie Claire.

Foi então que ela criou no Instagram o @catcallsofnyc, perfil que reúne fotos de frases e diálogos de assédio escritos com giz colorido nas calçadas da cidade. "Gosto como as cores chamam a atenção e fazem as pessoas pararem para ler e pensar sobre o assédio que tantas meninas, mulheres e pessoas de LGBTQIA+ enfrentam todos os dias", diz Sophie.

Cinco anos depois, ela conta com a ajuda de 40 voluntários para transcrever as cantadas obscenas reportadas pelo público via mensagem direta no Instagram. A popularidade do profeto gerou a criação de mais de 200 outras contas ao redor do mundo, com a participação de mais de 600 ativistas.

Sophie se sente feliz por ter dado o start em uma campanha que tocou tanta gente: "É absolutamente incrível ver como meu projeto inspirou um movimento mundial! Criamos uma enorme rede de apoio e apoiamos uns aos outros para advogar contra o assédio nas ruas", diz Sophie. Uma busca rápida com o termo @catcallsof dá uma noção de como o movimento se espalhou.

No Brasil, cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Roraima já têm perfil criado para denunciar as ameaças de importunação. "Simpatizo com a causa por ter sofrido outros tipos de assédio e o que mais me motivou a desenvolver o projeto aqui foram os relatos das minhas amigas. Já sofri transfobia, mas nunca me assediaram na rua. Apesar de não ter começado a transição ainda e parecer uma mulher qualquer aos olhos de um estranho, é uma violência pela qual não passei. Isso me dá mais segurança de agir e acho que é um privilégio que tenho que usar". O relato é de Natan Carmelo, 17 anos, criador do @catcallsofsaopaulo.

Ele conta que conheceu o projeto pelo perfil de Sophie no TikTok. "Achei interessante, é uma forma de dar voz para essas situações que a sociedade ignora. Escrevendo na rua, não temos escolha a não ser acreditar que as violências acontecem e começarmos a fazer algo sobre isso", diz.

Assim como Sophie, Natan transcreve nas calçadas histórias que recebe via rede social. "A maioria são relatos de assédio experienciado dentro de casa ou na escola, mas também há muitas situações de assédio na rua, algumas delas enviadas por menores de idade. O projeto aqui no Brasil mudou um pouco do formato original, que se trata principalmente de cantadas nas ruas, mas acho que todas questões como racismo, gordofobia, transfobia, mesmo que enviados em menor quantidade, valem a pena serem abordados".

Natan não sabe, mas sua iniciativa em criar o perfil tem tudo a ver com os próximos passos que Sophie quer dar com o "Catcalls of NYC": "Sempre planejamos novas campanhas e agora estamos convocando homens e meninos a lutarem contra o assédio nas ruas. Muitas vezes, apenas meninas e mulheres estão envolvidas nessas conversas. Para acabar com essa violência, precisamos de todos!", finaliza.