Maio é o mês de aniversário da Glamour, e uma coisa é certa, e precisa ser comemorada: nos últimos oito anos, nós, mulheres, nos transformamos, nos reinventamos, adaptamos nosso vocabulário e vimos que só unidas e cientes da potência feminina chegaremos perto de um futuro com equidade. Aqui, você encontra (res)significados de palavras e expressões que marcaram nossa história e evolução:
Amor próprio
Amar a si mesma mais do que (acha que) ama o outro. Respeitar os próprios desejos, sentimentos e limites nos deixa cultivar relações saudáveis. Ah, não confundir com egoísmo, ok? “Sigo apaixonada pela mulher que batalhei para ser” – a poesia de Ryane Leão define tudo.
Ganhar poder, tomá-lo para si. Muito além do marketing, a palavra se mantém importante exatamente por tirar nós, mulheres, do papel “frágil” que nos foi imposto por séculos. “Na prática, é a tomada de consciência de que lugar de mulher é onde ela quiser, e que de forma alguma cabe sermos diminuídas pelo machismo estrutural”, diz Alline Cury, diretora de conteúdo da Glamour.
Empatia
Pelo senso comum, é se colocar no lugar do outro para entender como aquela pessoa se sente. A escritora e nossa colunista Ruth Manus mostra que é mais do que isso: “Acredito que empatia seja a capacidade de se sensibilizar com a situação de um terceiro, independentemente de se ver ou não nela. A empatia está em ver o valor no outro, e não no nosso reflexo”.
Lugar de fala
Dar voz ao protagonista do assunto/causa. “Ter uma equipe diversa nos torna cientes dos momentos em que devemos falar ou apenas ouvir. Além de praticarmos o exercício de detectar quem realmente acrescenta nas discussões sobre feminismo, racismo ou identidade de gênero, por exemplo, para que o protagonismo não seja o de quem não tem lugar de fala”, afirma Luanda Vieira, editora de moda da Glamour.
Conjunto de movimentos políticos, sociais e filosóficos que tem como objetivo assegurar os direitos das mulheres. Na prática, a frase da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie resume bem: “O feminismo não diz que você não pode casar e ter filhos, e sim que você deveria ter uma escolha. O feminismo quer que as mulheres escolham”.
Rivalidade quem? Foi-se o tempo em que mulheres precisavam ser “inimigas”. Sororidade é apoio, afeto e amizade. “Que alegria me dá essa palavra estar na boca de mulheres bem jovens. Que lindo é o desejo de levantar umas às outras – contrariando tudo o que o patriarcado quer nos dizer como ‘mulheres só sabem competir’. A irmandade feminina é a coisa mais revolucionária que o feminismo tem a nos dar”, diz a jornalista e escritora Nana Queiroz.
Equidade
Diferente de igualdade, que pressupõe que homens e mulheres têm os mesmos direitos. Luiza Brasil, comunicadora e colunista da Glamour, coloca os pingos nos is: “Equidade é reconhecer que existem privilégios. Mais que dar uma oportunidade, é adaptá-la para que contemple de forma justa a todos”.
Desconstrução
Repensar e parar de reproduzir ideias preconceituosas, questionar piadas e frases machistas e racistas às vezes culturalmente aceitas, entendendo que são formas de opressão estruturais. “A desconstrução de conceitos, modelos e ideais antigos é o ingrediente-chave para a expansão de uma maior consciência individual, coletiva e global. Para continuarmos a crescer e evoluir, será importante reconstruir, com empatia, um futuro mais plural e delicado”, afirma a especialista em tendência Iza Dezon.
O movimento sugere uma atitude neutra, realista e possível diante do próprio corpo. Joana Cannabrava, colunista da Glamour expert no assunto, explica: “Se considerarmos o peso dado à ‘beleza feminina’, fica fácil entender as loucuras que já fizemos em busca do corpo socialmente aceito. O body neutrality traz debates que nos ajudam a olhar para nós com menos rigidez, desconstruindo as demandas externas e a necessidade de agradar o outro”.
Ponto de contato entre feminismo e outro movimento, como o antirracista e o LGBTQ+. “’Diversas, mas não dispersas’ era o lema de um encontro feminista que fui e achei muito bonito. Entender que não existe uma Mulher, como categoria, foi um dos aprendizados mais importantes que o feminismo me trouxe”, diz Helena Bertho, diretora de redação da revista Azmina. “Somos muitas, enfrentamos dilemas diferentes, e falar em interseccionalidade é reconhecer isso, mas também reconhecer que algo nos une. Este algo é a luta por um mundo mais justo. E este mundo não vai existir se eu lutar só por aquilo que me falta como mulher branca de classe média. Só vai existir um mundo mais justo quando todas, negras, indígenas, LGBTQ+ (e tantos outros grupos) forem respeitadas e tiverem vidas dignas.”
Não é não
A campanha contra o assédio surgiu em 2017, durante o Carnaval, quando um coletivo feminista distribuiu adesivos com a mensagem no melhor esquema “se for preciso, a gente desenha”. Desde então, virou slogan antimachista − amigo, quando a gente fala “não” a uma investida, não é charme, nem timidez. É não mesmo. Favor não insistir.
Olha aí a desconstrução de padrões de novo. A mídia - das novelas às revistas (shame on us) −, ao longo dos anos, exibiu como norma a mulher branca e magra de classe média. Difícil a maior parte da população se identificar, né? Daí o conceito de representatividade, capaz de gerar identificação efetiva, e por que ele importa.
Patriarcado
A base da sociedade, na qual homens predominam em funções de liderança, assegurando a manutenção de padrões fundamentados pelo machismo estrutural. “O patriarcado deixa marcas profundas em nossa subjetividade”, eu, Giovana Romani, redatora-chefe da Glamour, li certa vez. E não é que é? Por causa dele, nós, mulheres, devemos desconstruir ideais machistas que moram em nós, por nos terem sido ensinados desde sempre.