Stalking: como reconhecer um stalker e qual o número de casos no Brasil

Seja por meio de ligações, envio de mensagens, envio de presentes, violação da propriedade privada e perseguição física, a obsessão pode impactar diretamente o bem-estar das vítimas. Quem é perseguido pode desenvolver problemas como insônia, ansiedade, hipervigilância e até mesmo pensamentos suicidas.

A prática de stalking é crime previsto pelo Código Penal brasileiro desde 2021. A pena para pessoas condenadas pelo crime é de reclusão pelo período de seis meses a dois anos e uma multa. O Código Penal ainda prevê agravamento da pena nos casos em que o crime for cometido contra crianças, adolescentes e idosos ou contra mulheres por razões da condição de sexo feminino. Também há aumento do tempo em reclusão se a perseguição for feita com mais de uma pessoa ou com o emprego de arma de fogo.

Apesar de ter ganhado corpo com a internet e redes sociais, o stalking não é uma prática recente, e acumula casos com desfechos fatais. John Lennon, por exemplo, foi assassinado por um fã que conhecia toda a sua rotina e sabia exatamente quando e onde ele teria a oportunidade de disparar contra o ex-Beatle. Outro exemplo de destaque é o da cantora americana Selena Quintanilla, morta em 1995 por uma stalker. Presidente de um fã-clube da artista, a mulher a perseguiu por anos e até chegou a ter contato direto com a cantora, trabalhando com ela e sua família.

Embora os casos que cheguem ao grande público sejam normalmente relacionados a famosos e outras figuras públicas conhecidas, é importante salientar que o stalking pode ser acometido contra qualquer pessoa – como é retratado na série "Bebê Rena". A produção da Netflix é baseada na história real de Richard Gadd, jovem comediante britânico que, que após oferecer uma bebida a uma mulher, passa a ser perseguido por ela.

Números de casos de stalking crescem no Brasil

Segundo um levantamento do jornal Folha de S. Paulo, feito a partir dos boletins de ocorrência enviados pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), o Brasil registrou cerca de 93,1 mil casos de stalking em 2023. O valor indica um aumento de 38,5% na comparação com o ano anterior.

Dentre esses casos, ainda há um recorte social a ser considerado: dos 93,1 mil registros, em 85,6% deles (ou em 79,7 mil ocorrências), as vítimas eram mulheres. Desde o início da vigência da Lei n° 14.132/2021, há três anos, já foram registradas 169 mil denúncias de stalking com vítimas mulheres, enquanto o número relativo a homens é de 28 mil.

Em relação aos estados, o único a registrar baixa no número de denúncias em comparação com 2022 foi o Mato Grosso do Sul (-5,5%). Enquanto isso, as taxas de crescimento mais altas são de Tocantins (+128,2%) e Roraima (+115%).

Em publicação no portal Healthnews, o psicoterapeuta irlandês John Crimmins explica que os stalkers são frequentemente diagnosticados com transtornos de personalidade. Narcisistas, delirantes ou erotomaníacos (que desejam se envolver com alguma pessoa de destaque), muitos deles vivem na fantasia de que a vítima está apaixonada por eles. Assim, quando ocorre rejeição, a paixão se transforma rapidamente em raiva.

O profissional argumenta que os stalkers podem ser classificados em cinco tipos diferentes. Essa divisão é baseada nas características de comportamento que eles apresentam .

1. Rejeitados: é o tipo mais comum de stalker. São aqueles que perseguem a vítima após situações como um término de um relacionamento. Muitas vezes, reúnem uma mistura complicada de desejo e vingança. Normalmente, têm antecedentes criminais e casos de violência.
2. Em busca de intimidade: desejam uma conexão íntima com a vítima que acreditam ser seu “verdadeiro amor”. Acham que suas vítimas são perfeitas ou imaculadas e enxergam nelas outras características únicas, baseadas numa idealização. A maioria sofre fantasias erotomaníacas ou tem obsessões mórbidas pela vítima.
3. Incompetentes: estão cientes de que o alvo não está interessado. Mesmo assim, persistem na expectativa de que sua conduta resulte em um relacionamento. A perseguição pode ser interpretada como tentativas de sedução.
4. Perseguidores ressentidos: são motivados pelo ressentimento. Tentam aterrorizar e atormentar a vítima. Muitos têm características paranoicas ou enfrentam condições psicóticas. Podem ter rancor de uma determinada vítima ou, por se sentirem ressentidos, escolhem uma vítima aleatoriamente.
5. Perseguidores predatórios: planejam cometer ataques sexuais. Eles perseguem para descobrir vulnerabilidades da vítima e raramente emitem avisos, de modo que a vítima muitas vezes não percebe o perigo. Normalmente, alimentam fetiches sexuais e têm condenações criminais sexuais anteriores.

Alguns cuidados podem ajudar a evitar crimes do tipo:

• Não publicar informações intimas e pessoais nas redes sociais (endereço, nome completo, número de documento, etc.);
• Publicar posts que compartilham localização apenas após já ter saído do local;
• Ignorar e bloquear mensagens e e-mails de perfis desconhecidos;
• Saber onde buscar ambientes seguros (casas de amigos e familiares, postos de polícia, postos de bombeiros, etc.);
• Alternar entre as rotas de destino em caminhos que você faz todo dia;
• Andar sempre com celular carregado e com carregador disponível.

Caso você esteja sendo perseguido ou se sinta ameaçado por alguém, não hesite em buscar ajuda. As denúncias de stalking podem ser feitas tanto presencialmente, nos postos de polícia, quanto em plataformas digitais de atendimento.