No alto da atmosfera de Júpiter, astrônomos ficaram surpresos ao identificar novas formações estranhas e brilhantes, bem na região acima da Grande Mancha Vermelha — área que produz a maior tempestade anticiclônica do Sistema Solar.
A descoberta foi publicada em 21 de junho na revista Nature Astronomy. Os cientistas observaram a região acima da Grande Mancha usando o telescópio James Webb para descobrir uma variedade de características nunca vistas antes.
A sensibilidade infravermelha de Webb permite aos especialistas estudar a atmosfera superior de Júpiter com detalhes sem precedentes. O brilho da região costuma ser fraco e é um desafio para os telescópios terrestres discernirem detalhes dela, embora luzes brilhantes do norte e do sul polar do planeta já tenham sido observadas.
A equipe de cientistas ficou surpresa ao descobrir que a atmosfera superior abriga uma variedade de estruturas complexas, incluindo arcos escuros e pontos brilhantes, em todo o campo de visão. A observação foi feita com o Instrumento Espectrógrafo de Infravermelho Próximo (Near-InfraRed Spectrograph, NIRSpec) de Webb em julho de 2022.
“Nós achamos que essa região, talvez ingenuamente, seria realmente chata”, disse o líder da equipe Henrik Melin, da Universidade de Leicester, no Reino Unido. “Na verdade, é tão interessante quanto a aurora boreal, se não mais. Júpiter nunca deixa de surpreender.”
A atmosfera superior de Júpiter é a interface entre o campo magnético do planeta e a atmosfera subjacente. Por lá, as exibições brilhantes e vibrantes das luzes do norte e do sul podem ser vistas, segundo os cientistas. Elas são alimentadas pelo material vulcânico ejetado da lua de Júpiter, Io.
No entanto, mais perto do equador, a estrutura da atmosfera superior do planeta é influenciada pela luz solar incidente. Como Júpiter ganha apenas 4% da luz solar que é recebida na Terra, os astrônomos previram que essa região seria homogênea por natureza.
Mas este não era o caso. Há estruturas brilhantes e estranhas em Júpiter, possivelmente ocasionadas por um mecanismo que altera sua atmosfera superior.
“Uma forma de alterar esta estrutura é através de ondas gravitacionais – semelhantes às ondas que quebram numa praia, criando ondulações na areia”, explica Melin. “Essas ondas são geradas nas profundezas da turbulenta baixa atmosfera, ao redor da Grande Mancha Vermelha, e podem viajar em altitude, alterando a estrutura e as emissões da alta atmosfera.”
Essas ondas atmosféricas podem ser observadas ocasionalmente na Terra, porém são muito mais fracas do que as observadas em Júpiter por Webb. Os cientistas esperam realizar observações de acompanhamento com o telescópio para entender como os padrões de ondas se movem na atmosfera superior do planeta, entre outros mistérios.