No filme Jurassic Park - O Parque dos Dinossauros (1993), de Steven Spielberg, cientistas extraem DNA preservado em âmbar por milhões de anos para recriar dinossauros. Uma equipe de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), no Estados Unidos, se inspirou no longa-metragem para desenvolver um polímero que pode ser usado para armazenar DNA a longo prazo, de genomas humanos inteiros a arquivos digitais, como fotos.
A pesquisa foi publicada no último dia 12 na revista científica Journal of the American Chemical Society.
As técnicas atuais de armazenagem de DNA envolvem temperaturas baixas, o que consome muita energia e não é prático em várias partes do mundo. Já o polímero de âmbar pode manter o material conservado em temperatura ambiente, protegendo as moléculas de danos que podem ser causados pelo calor ou água.
"Congelar o DNA é o modo principal de preservá-lo, mas é muito caro, e não é modulável", diz James Banal, pós-doutorando do MIT e um dos autores do estudo, em comunicado. "Acredito que nosso método de preservação será uma tecnologia que conduzirá o futuro de armazenamento de informações digitais de DNA."
Armazenamento DNA
O DNA é estável, relativamente fácil de sintetizar e sequenciar, além de ser adequado para armazenar grandes quantidades de informação, incluindo as digitais. Os sistemas destes codificam textos, fotos e outros tipos de dados como uma série de 0s e 1s. A mesma informação pode ser codificada no DNA usando os quatro nucleotídeos que compõem o código genético, como A, T, G e C, por exemplo. Segundo o estudo, G e C poderiam representar 0, e A e T, o número 1.
Em 2021, Banal e seu orientador, Mark Bathe, professor de engenharia biológica do MIT, desenvolveram uma forma de conservar DNA em partículas de sílica, que podem ser rotuladas com marcações que revelam o conteúdo das partículas. Esse sistema de armazenamento, no entanto, leva vários dias para penetrar o DNA dessas partículas e, para removê-las, é necessário usar ácido hialurônico, possivelmente colocando os pesquisadores em perigo no processo.
Eles começaram então a estudar novas possibilidades. A primeira ideia foi utilizar um tipo de polímero conhecido como termofixo degradável, uma forma de polímero que fica sólido ao ser aquecido. O material tem conexões que podem ser cortadas com facilidade, permitindo que o polímero seja deteriorado de forma controlada.
"Com esses termofixos que podem ser desconstruídos, dependendo nos ligamentos divisíveis que colocamos neles, podemos escolher como queremos degradá-los", afirma Jeremiah Johnson, coautor da pesquisa e professor de química do MIT.
Os pesquisadores identificaram uma combinação de três monômeros que poderiam se transformar em polímeros que dissolvem o DNA ao ajudá-lo a interagir com o estireno. Assim, formam-se complexos esféricos com DNA carregado no centro e grupos hidrofóbicos que criam uma camada externa que interagem com a substância. Quando aquecida, a solução se torna um bloco sólido embutido com complexos de DNA.
O método ganhou o nome de T-REX (Thermoset-REinforced Xeropreservation) e demora algumas horas mas, de acordo com os autores, esse tempo pode diminuir com maior otimização. Para liberar o DNA, eles primeiro acrescentaram cisteamina, que abre caminho para as conexões que seguram o termofixo de poliestireno, o quebrando em pedaços menores. Um detergente chamado SDS pode ser adicionado para remover o DNA do poliestireno sem danificá-lo.
Guardando informações
Com esses polímeros, os cientistas do MIT mostraram que é possível encapsular o DNA de qualquer tamanho, de dezenas de nucleotídeos a um genoma humano inteiro. Para o estudo, codificaram o DNA com a Proclamação de Emancipação dos Estados Unidos, o logo da faculdade e a música tema de Jurassic Park.
Após o DNA ser armazenado e, então, removido, foi sequenciado. Não foram encontrados erros, o que é essencial para qualquer sistema de armazenamento digital de dados.
O estudo também revela que o polímero termofixo pode proteger o DNA de temperaturas até 75ºC. Atualmente, os autores estão focados em simplificar o processo de criação dos polímeros e formá-los em cápsulas de armazenamento de longo termo.
"A ideia é, por que não preservamos um registro master da vida para sempre?", questiona Banal. "Daqui a 10 ou 20 anos, quando a tecnologia tiver avançado mais do que poderíamos imaginar hoje, poderemos aprender mais e mais coisas. Ainda estamos na infância do entendimento do genoma e como se relaciona a doenças."