• Redação Galileu
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Perseverance tira uma selfie enquanto olha para a rocha Rochette, a primeira amostrada com sucesso pelo rover (Foto: NASA/JPL-Caltech/MSSS)

Perseverance tira uma selfie enquanto olha para a rocha Rochette, a primeira amostrada com sucesso pelo rover (Foto: NASA/JPL-Caltech/MSSS)

Em um achado impressionante, o rover Perseverance, da Nasa, coletou rochas marcianas com sinais de alterações causadas pela água — substância essencial para a vida tal como a conhecemos. As pedras, coletadas no fundo da cratera Jezero, foram analisadas em estudo publicado nesta quinta-feira (25) na revista Science.

Resultados mais detalhados estão em um segundo artigo na Science e em dois outros estudos publicados na revista Science AdvancesAs rochas investigadas estavam em quatro lugares de Jezero, no norte marciano, e apresentaram indícios de serem ígneas cumuladas, isto é, resultado do resfriamento de magma derretido.

A cratera foi escolhida como local de estudo por apresentar um grande delta de rio que antes desaguava em um antigo lago. Desde o pouso de Perseverance em fevereiro de 2021, cientistas exploram a composição geológica da área com ferramentas a bordo que tiram fotos e analisam quimicamente as rochas. Eles suspeitam que Marte era aquoso e teria sustentado a vida bilhões de anos atrás.

“De uma perspectiva de amostragem, isso é grandioso", considera David Shuster, membro da equipe científica da Nasa que coletou as amostras, em comunicado. Para o geoquímico, as evidências de alteração aquosa nas rochas ígneas empolga no que diz respeito à compreensão das condições que poderiam ter sustentado a vida após a formação dessas rochas.

Caminho percorrido pelo rover Perseverance e seus locais de coleta de amostras de rochas (Foto: Nasa)

Caminho percorrido pelo rover Perseverance e seus locais de coleta de amostras de rochas. Os pontos vermelhos indicam os locais de amostragem do fundo da cratera; os pontos azuis são as atuais localizações do Perseverance(à esquerda) e do helicóptero Ingenuity (Foto: Nasa)

Antes da missão do Perseverance, esperava-se que o chão de Jezero estivesse cheio de sedimentos ou rochas derretidas que esfriaram bem rápido. Porém, em dois locais conhecidos como Séítah (“entre a areia”, no idioma indígena navajo), as rochas parecem ter se formado no subsolo e esfriado lentamente.

De acordo com Kenneth Farley, cientista do projeto Perseverance, os pesquisadores debateram por nove meses o que eram as rochas da cratera. Eles concluíram tratar-se de rochas ígneas com uma forma surpreendente, que “não se parece com algo que se formou em profundidade e esfriou gradualmente em uma grande câmara de magma”.

Imagens dos instrumentos do rover e uma análise de fluorescência de raios-X confirmaram que as rochas de Jezero foram formadas por grãos de olivina de tamanho milimétrico, misturados com piroxênio que só poderiam ter sido resultado de resfriamento lento. 

Em um outro local da cratera, chamado Máaz (“Marte”, em navajo), também havia rochas ígneas, mas de uma composição diferente. Elas podem ter sido parte de uma camada superior do lago de magma, fruto de uma erupção vulcânica posterior a de Séítah, na qual haveria rochas produzidas por um resfriamento mais rápido. 






Em ambos os locais, o que chamou mais atenção foi o fato de que havia alterações nas rochas provocadas pela água. As pedras de Máaz continham bolsões de minerais que podem ter se condensado a partir de salmoura, uma solução de água saturada de sal. Já as rochas de Séítah reagiram com água carbonatada. 

Os cientistas só poderão saber os momentos precisos em que as várias camadas se formaram em Jezero ao analisarem as amostras em laboratório, dado que as ferramentas necessárias são grandes demais para terem sido colocadas em Perseverance. Os estudiosos terão que esperar uma década para saber mais: as amostras só serão devolvidas à Terra em 2033.