• Ana Posses e Duilia de Mello
Atualizado em
O hemisfério norte de Vênus (Foto: NASA/JPL)

O hemisfério norte de Vênus (Foto: NASA/JPL)

Você sabia que Vênus é tão parecido com o nosso planeta que os astrônomos chamam os dois de gêmeos? Vênus tem massa, tamanho e composição muito similares às da Terra e está também na área habitável do Sistema Solar que fica entre Vênus e Marte.

Quando a sonda Pioneer Venus 1, da Nasa, tirou fotos do planeta em 1978, ficamos maravilhados com sua beleza. Mas podemos notar uma diferença bem marcante: não é possível ver o solo venusiano, apenas as nuvens da sua atmosfera espessa. Como sabemos, então, que Vênus atualmente não tem oceanos, que é rochoso e que abriga montanhas altas e atividade vulcânica?

Estrutura de nuvens na atmosfera venusiana em 1979, revelada por observações ultravioletas da sonda Pioneer, da Nasa (Foto: NASA)

Estrutura de nuvens na atmosfera venusiana em 1979, revelada por observações ultravioletas da sonda Pioneer, da Nasa (Foto: NASA)

Todo esse conhecimento vem de mais de meio século de exploração espacial do planeta, que começou com a Mariner 2, lançada pela Nasa em 1962. A sonda passou bem próxima a Vênus e fez seu primeiro sensoriamento. Mas quem conquistou mesmo o planeta foram os soviéticos, que pousaram a sonda Venera 7 no solo venusiano no final de 1970, um ano após os americanos pisarem na Lua, em 1969.

Na verdade, os soviéticos desistiram de pousar no nosso satélite, já que não seriam mais os pioneiros, e focaram a exploração espacial em Vênus. Foram eles os primeiros não só a pousar uma sonda em outro planeta, mas também a fazer transmissão de dados em solo. A Venera 7 durou apenas 23 minutos devido à alta pressão (90 vezes a da Terra) e à alta temperatura (475ºC), que chega a derreter chumbo.

Em 1978, a agência espacial dos EUA enviou duas sondas, Pioneer Vênus 1 e Vênus 2, que penetraram a atmosfera espessa durante 67 minutos, analisando seus componentes. Mas os soviéticos não desistiram e continuaram explorando o planeta depois da Venera 7, enviando ao todo oito outras sondas até 1983.

Apesar de durarem pouco tempo no solo venusiano, as veneras 9 e 10 enviaram imagens históricas que mostram um local inóspito e o solo parecido com o deserto terrestre.

Sondas Venera 9 e 10 enviaram imagens históricas de Vênus que mostram um local inóspito e o solo parecido com o deserto terrestre.  (Foto: NASA)

Sondas Venera 9 e 10 enviaram imagens históricas de Vênus que mostram um local inóspito e o solo parecido com o deserto terrestre. (Foto: NASA)

Mas uma das missões de maior sucesso na exploração do nosso irmão gêmeo pode ser atribuída ao satélite da Nasa Magellan, equipado com radares que mapearam o planeta de 1989 a 1994.

Graças a ele, vimos imagens do terreno venusiano que mostraram evidências de vulcanismo, movimento tectônico, ventos turbulentos na superfície e canais de lava. Magellan descobriu também que pelo menos 85% da superfície de Vênus é coberta por fluxos vulcânicos.

Planeta tóxico

As agências espaciais europeia (ESA) e japonesa (JAXA) também enviaram sondas até Vênus já no século 21. Hoje podemos afirmar que a atmosfera de lá é tóxica para a vida, cheia de dióxido de carbono (CO2) e nuvens espessas de ácido sulfúrico e gás metano.

Vênus passou, e ainda passa, pelo que chamamos de efeito estufa descontrolado. O CO2, por exemplo, é transparente à luz do sol, mas é opaco à energia térmica. Então a luz que entra acaba não conseguindo sair do planeta.

Efeito estufa da radiação solar na superfície da Terra causado pela emissão de gases poluentes. (Foto: Wikimedia Commons)

Efeito estufa da radiação solar na superfície da Terra causado pela emissão de gases poluentes. (Foto: Wikimedia Commons)

Isso quer dizer que Vênus pode ter tido oceanos no passado, mas que não foi capaz de reter a água devido ao aumento da temperatura causado pelo efeito estufa. Tudo leva a crer que há menos de 1 bilhão de anos os oceanos ferveram e o vapor de água ficou preso na atmosfera, piorando ainda mais a situação.

A atmosfera ficou mais espessa, prendendo ainda mais luz solar e tornando o planeta o que ele é hoje, um verdadeiro laboratório onde vemos ao vivo o que acontece durante mudanças climáticas drásticas. 

Estudos recentes mostram que o vulcanismo de Vênus também pode ter sido responsável pelo seu estado atual, já que gases associados ao efeito estufa são produzidos durante a formação de grandes depósitos de rochas magmáticas, também conhecidos como LIPs (sigla em inglês para large igneous provinces, ou “grandes províncias ígneas”). Caso muitos LIPs tenham ocorrido ao mesmo tempo, eles poderiam ter desencadeado o efeito estufa descontrolado que praticamente matou o planeta.

Fazer uma analogia do que está se passando em Vênus com o que acontece na Terra é necessário, pois precisamos adquirir todo tipo de conhecimento para frear a emergência climática do nosso planeta.

Se tudo der certo, a Nasa voltará a Vênus em 2028 e 2029 com as sondas Veritas e DaVinci, e a ESA com a sonda EnVision, em 2031, para aprendermos mais com o nosso planeta gêmeo. Quem sabe assim conseguimos evitar seguir seu rumo.