• Redação Galileu
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Água líquida também pode existir por bilhões de anos em planetas muito diferentes da Terra (Foto: Reprodução/Universidade de Berna)

Água líquida também pode existir por bilhões de anos em planetas muito diferentes da Terra (Foto: Reprodução/Universidade de Berna)

A grandiosidade do Universo levar cientistas e astrônomos a acreditarem que a Terra não é o único planeta habitável na imensidão. Como a vida em nosso planeta começou nos oceanos, a água líquida é considerada um ingrediente-chave na busca por vida em outros astros. Para encontrá-la, pesquisadores normalmente buscam por planetas com características semelhantes ao nosso, sendo esse é o principal parâmetro da ciência atual.

Entretanto, cientistas da Universidades de Berna e Zurique e do Centro Nacional de Competência em Pesquisa (NCCR) PlanetS, todos da Suiça, sugerem que água líquida também pode existir por bilhões de anos em planetas muito diferentes da Terra. Isso coloca em questão a ideia centrada na Terra de que planetas potencialmente habitáveis precisam ser parecidos com o nosso. As conclusões foram publicadas na revista Nature Astronomy nesta terça-feira (27).

Estufa natural

De acordo com Ravit Helled, professor de astrofísica teórica da Universidade de Zurique, um dos fatores pelos quais a água pode ser encontrada em forma líquida na Terra é sua atmosfera. Com seu efeito estufa natural, ela retém a quantidade certa de calor para criar as condições certas para oceanos, rios e chuva.

“Quando o planeta se formou a partir de gás e poeira cósmica, coletou uma atmosfera composta principalmente de hidrogênio e hélio – a chamada atmosfera primordial”, explica Helled, em comunicado. “No entanto, ao longo de seu desenvolvimento, a Terra perdeu essa atmosfera primordial.”

Segundo o cientista, planetas mais massivos podem coletar atmosferas primordiais muitos maiores, que também podem produzir o efeito estufa. Portanto, o estudo procurou analisar se essas atmosferas poderiam também criar as condições necessárias para a água líquida, tal qual na Terra.

Potencialmente habitáveis

Para entender esse processo, a equipe modelou inúmeros planetas e simulou seu desenvolvimento ao longo de bilhões de anos. Eles se concentraram não apenas pelas propriedades das atmosferas dos astros, mas também na intensidade da radiação de suas respectivas estrelas, bem como no calor interno dos planetas irradiando para fora.

Enquanto na Terra esse calor geotérmico desempenha apenas um papel menor nas condições da superfície, em outros planetas com atmosferas primordiais maiores ele pôde de contribuir de forma mais significativa.

O resultado mostrou que em muitos casos, atmosferas primordiais foram perdidas devido à intensa radiação das estrelas, especialmente em planetas próximos de sua estrela. Mas, nos casos em que as atmosferas permanecem, surgiram condições adequadas para a água líquida, condições essas que podem persistir por longos períodos de tempo – até dezenas de bilhões de anos.

Christoph Mordasini, professor de astrofísica teórica da Universidade de Berna e membro do NCCR PlanetS revela que, para muitos, isso pode ser uma surpresa. Normalmente, os astrônomos esperam que a água líquida esteja em regiões ao redor das estrelas que recebem a quantidade certa de radiação: não muito, para que a água não evapore, e nem muito pouco, para que tudo congele.

Embora os resultados sejam empolgantes, a pesquisa ainda tem um longo caminho a percorrer. Para que esses planetas tenham água líquida por muito tempo, é necessário ter a quantidade certa de atmosfera, fator que ainda precisa ser estudado.

“Mesmo nas condições certas, não está claro qual é a probabilidade da vida surgir em um habitat potencial tão exótico. Essa é uma questão para os astrobiólogos. Ainda assim, com nosso trabalho, mostramos que a ideia centrada na Terra como único planeta com condições para reter água liquida pode ser muito limitante", conclui Mordasini.