• Redação Galileu
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Reconstrução artística do Yunnanozoon criatura extinta do início do período Cambriano (Foto: Yang Dinghua)

Reconstrução artística do Yunnanozoon criatura extinta do início do período Cambriano (Foto: Yang Dinghua)

Uma lacuna fóssil que explicaria a evolução dos invertebrados para vertebrados pode ter sido finalmente esclarecida por cientistas. Em estudo publicado nesta quinta-feira (7) na revista Science, uma equipe descobriu que os Yunnanozoon, estranhas criaturas extintas há 518 milhões de anos, seriam os primeiros vertebrados conhecidos.






Esses seres do período Cambriano seriam os mais antigos “vertebrados de tronco” — termo que se refere aos vertebrados extintos, mas diretamento relacionados aos vertebrados vivos. A pesquisa foi liderada por especialistas do Instituto de Geologia e Paleontologia de Nanjing, da Academia Chinesa de Ciências, e da Universidade de Nanjing.

Entre exemplos de vertebrados estão peixes, anfíbios, répteis, aves, mamíferos e a espécie humana. Todos compartilham características únicas, como espinha dorsal e crânio. Os invertebrados, por sua vez, não têm espinha dorsal.

O processo que os levou a se tornarem vertebrados é um mistério para os cientistas há séculos. Ao longo dos anos, em busca de respostas, profissionais têm investigado arcos faríngeos, estruturas que produzem partes da face e do pescoço, como músculos, ossos e tecido conjuntivo.

O tronco vertebrado de um Yunnanozoon (Foto: Zhao Fangchen)

O tronco vertebrado de um Yunnanozoon (Foto: Zhao Fangchen)

Especialistas acreditavam anteriormente que esse arco evoluiu de uma haste de cartilagem não articulada em ancestrais dos vertebrados, como as lanceletas (Cephalochordata). Porém, não é certo se tal anatomia existiu nesses seres antigos.

Os autores do novo estudo então procuraram entender melhor o papel do arco faríngeo em vertebrados do passado. Para isso, a equipe estudou fósseis de 127 exemplares de Yunnanozoon encontrados na província de Yunnan, na China. Resíduos carbonáceos bem preservados, com menos de 1 centímetro de comprimento, permitiram aos cientistas realizar observações ultraestruturais e análises geoquímicas detalhadas.







Com diversas técnicas, incluindo microtomografia de raios-X e microscopia eletrônica de varredura, os especialistas confirmaram que os Yunnanozoon têm cartilagens celulares na faringe — uma característica específica dos vertebrados. Isso significa que as criaturas são mesmo “vertebrados de tronco”.

Todos os sete arcos faríngeos nos fósseis eram semelhantes entre si, com segmentos e filamentos que lembram bambu. Eles são conectados por hastes horizontais dorsais e ventrais, formando uma cesta. Não por acaso, um esqueleto faríngeo com o aspecto dessa mesma planta está presente em vertebrados atuais, como peixes sem mandíbula, lampreias (Petromyzontidae) e peixes-bruxa (Myxini).

"Dois tipos de esqueletos faríngeos — os tipos em forma de cesta e isolados — ocorrem no Cambriano e nos vertebrados vivos”, conta Tian Qingyi, primeiro autor do estudo, em comunicado. “Isso implica que a forma dos esqueletos faríngeos tem uma história evolutiva inicial mais complexa do que se pensava anteriormente”, conclui.