Imagine estar cercado de paisagens deslumbrantes de cânions, cachoeiras, grutas, rios e montanhas, além de exuberantes fauna e flora típicas do cerrado e sertão. Tudo isso pode ser visto na Chapada Diamantina, região marcada por altiplano com altitude de mil metros, no coração da Bahia. Transformada em parque nacional, a área de 152 mil hectares abrange seis cidades. Uma delas é Palmeiras, no Vale do Capão, com trilha para entrada no parque. Lá, uma família, que mora na capital Salvador, escolheu o terreno de 12 mil m² para erguer a casa-refúgio de 320 m², afastada de outras construções e com vista para o imponente Morro Branco.
O arquiteto Adriano Mascarenhas, do escritório Sotero Arquitetos, projetou a casa dividida em dois volumes que ocupam o mesmo nível em elevação do terreno com acesso em aclive. Um deles abriga a área social, com cozinha integrada, a suíte do casal e a área de serviço. No outro, ficam a suíte dos filhos adolescentes e o estúdio de dança da mãe deles, que é bailarina. “Como os jovens não acompanham os pais com frequência, eu coloquei a suíte deles no anexo, a poucos metros do volume principal, para proporcionar maior privacidade ao casal quando hospeda amigos ali”, explica o arquiteto.
A casa tem escala diminuta em relação à região e se relaciona com o exterior pelos painéis com vidro de forma exótica e poética, segundo Adriano. No meio da construção, um pátio interno abrigado de ventos é provedor de luz solar filtrada para a área social. “Esse pátio tem função importante porque transforma a casa em referencial para a escala humana diante da paisagem monumental”, diz o arquiteto, que projetou os volumes suspensos para evitar a umidade do solo permanente no Vale.
Outra preocupação de Adriano foi simplificar as linhas do projeto e empregar somente materiais naturais para integrar melhor a construção ao meio ambiente. Como o local é de difícil acesso, ele optou pela estrutura de concreto armado moldado na obra e escolheu a madeira garapeira para os elementos de carpintaria, como os caixilhos das portas e janelas e os painéis de fechamento nas fachadas. “Por ser clara, a madeira cria contraste interessante com o concreto.”
Para a construção interferir pouco na topografia, Adriano diminuiu os pontos de apoio do volume principal no terreno com a utilização de dois pilotis que apoiam duas vigas invertidas. “Isso permitiu que a parte da frente, onde está a área social, avançasse em balanço de cinco metros, chegando a ficar 3,50 m distante do chão no ponto mais elevado”, explica. Estas vigas ainda suportam a laje da varanda principal, com tirantes e guarda-corpo metálicos.
“Este conjunto de elementos confere leveza à construção”, acrescenta. Além disso, as lajes invertidas liberaram o vão das vigas, o que permitiu o uso de esquadrias do teto ao piso e a ausência do forro em todos os ambientes internos. “É emocionante porque possibilitou enquadrar melhor a paisagem”, diz ele. Na cobertura da casa, as vigas dessas lajes formam os guarda-corpos no teto-jardim, com deque e gramado, que coroa a construção, servindo de mirante.
O arquiteto tornou o projeto ainda mais atraente ao acrescentar uma linha diagonal para marcar os dois volumes da construção e causar tensão frente à monotonia, conforme explica: “Isso causa desequilíbrio e dinâmica interessante”. Por esses e outros detalhes construtivos, a casa conquistou no ano passado o prêmio de melhor projeto residencial da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura, Asbea. “A inserção da casa na paisagem não agride e, com o tempo, deve ficar mais incrustada no local, já que o concreto tem relação direta com as pedras da região”, conclui Adriano.