O papel do conceito de histeria na construção do conceito de fantasia em Freud

Abstract

Esta dissertação tem por objetivo demonstrar, por meio de um percurso epistemológico pela obra freudiana, como o conceito de histeria influenciou Sigmund Freud na elaboração do conceito de fantasia. Em um primeiro momento, examinou-se o conceito de histeria como componente essencial no processo de criação da psicanálise, com ênfase na imersão de Freud no universo das pacientes histéricas, influenciado por Jean-Martin Charcot. O objetivo foi verificar o quanto Freud conseguiu transcender as ideias preconizadas por Charcot, e para registrar a démarche teórica freudiana. Nesse sentido, analisou-se o livro Estudos sobre a histeria, em que se evidencia a tentativa do autor de esclarecer a histeria; analisou-se, igualmente, a influência de Josef Breuer, principalmente no que concerne ao uso do método catártico. Procura-se demonstrar o quanto esse método, cujo escopo é o de investigar a gênese dos sintomas, possibilitou a Freud estabelecer uma escuta clínica. A partir da clínica, no entanto, Freud detectou limitações de tal método fazendo-o criar, então, a regra fundamental da psicanálise ? a associação livre ?, com a qual registrou seu ineditismo. Ademais, com a publicação do livro ?A interpretação dos sonhos?, estabeleceu-se um marco teórico essencial para Freud adentrar o conceito de fantasia com a criação de sua primeira tópica. A partir disso, com Dora, Freud encontrou, por meio da análise dos sonhos e dos sintomas, as fantasias que estavam por trás dessas formações de compromisso. Assim sendo, houve uma abertura teórica importantíssima, a partir da qual Freud conseguiu associar a fantasia com a literatura, com a repressão, com o sonho, com o delírio, com o desejo, com a sexualidade e, por último, com a histeria, dos quais se serviu para formular a hipótese da importância essencial da histeria no desenvolvimento e elaboração do conceito de fantasia. É assim que os sintomas, bem como o ataque histérico, podem ser melhor descritos como um tipo de fantasia manifestada no corpo.

Abstract : This dissertation aims to demonstrate, by means of an epistemological journey through Sigmund Freud?s written texts, the way the concept of hysteria influenced the development of the concept of fantasy. At first, we examined the concept of hysteria as an essential component in the process of creation of psychoanalysis, with emphasis on the immersion of Freud in the universe of hysterical patients under the influence of Jean-Martin Charcot. We examine carefully to understand how much did Freud manage to transcend the ideas advocated by Charcot, and to highlight the Freudian theoretic démarche. In this sense, we analyze texts of the book Studies on Hysteria, in which we detect his efforts to clarify aspects of hysteria; we analyze also the influence of Josef Breuer, especially in respect of the use of the cathartic method. We intend to demonstrate how this method, whose scope was to investigate the genesis of symptoms, made possible Freud?s use of listening in therapy; however, Freud found out limitations of such method when conjugated to practice, and from that devised the fundamental rule of psychoanalysis ? free association ? by which he recorded his originality. In addition, with the publication of The Interpretation of Dreams, an essential theoretical milestone was established leading Freud to introduce his concept of fantasy by means of his first topic. From this point and from the important example of hysterical neurosis in Dora?s Case, Freud found out, through the analysis of dreams and symptoms, the underlying fantasies in the compromise formation. Thus, there was a very important theoretical development enabling Freud to associate fantasy with literature, repression, dream, delirious, desire, sexuality and finally, with hysteria, from which he could formulate the hypothesis on the essential importance of hysteria in the development and elaboration of the concept of fantasy. Therefore, the symptoms, as well as the hysterical attack, can be better described as a kind of fantasy manifested in one?s body.