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Spin doctor

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 Nota: Se procura a banda de rock dos EUA chamada Spin Doctors, veja Spin Doctors.

Spin doctor (do inglês spin, verbo, no sentido de 'girar' ou 'torcer', e doctor, também como verbo, no sentido de 'alterar algo para obter o resultado desejado') refere-se a um profissional especialista em controlar a apresentação dos fatos, eventualmente torcendo-os, a fim de favorecer determinada interpretação ou opinião.[1][2][3] Frequentemente a serviço de políticos, sobretudo durante as campanhas eleitorais - mas também de empresas que enfrentam crises ou pessoas de grande exposição pública, tais como artistas, esportistas e indivíduos envolvidos em ações judiciais e escândalos - o spin doctor dedica-se a influenciar o público, mediante a apresentação de informações enviesadas à mídia. O fenômeno de spin doctoring pode pervadir uma assessoria de imprensa, levando-a manipular estatísticas, engendrar informações falsas, fabricar mensagens subliminares, distribuir releases falsos e cooptar jornalistas, com o propósito de difundir uma verdade que melhor se adapte aos seus interesses.[4] Spin doctoring tem, portanto, um caráter depreciativo, aplicando-se a atividades de relações públicas e marketing político e eleitoral que enfatizam ou exageram os aspectos mais positivos de alguém ou de algo,[5] e os spin doctors são vistos como agentes políticos que, geralmente, atuam nos bastidores do poder.

Há, todavia, quem defenda a natureza dessa atividade e desse tipo de profissional da comunicação. Para Vasco Ribeiro, da Universidade do Porto,[6] "spin doctoring é a projeção positiva para o espaço público de um determinado sujeito ou ação, através das mais sofisticadas e atualizadas técnicas de manipulação e persuasão. Neste processo destacam-se os media como canal preferencial para a distribuição e indução de mensagens, tendo como motor o relacionamento interpessoal com os jornalistas."[7] Nas palavras do autor, é a "propaganda da passagem do milénio, embora enriquecida com as mais atuais, eficazes e, por vezes, dispendiosas técnicas de comunicação". Ribeiro acredita também que a locução esteja perdendo sua "carga negativa", porque, afinal, gera "grandes resultados para quem o aplica" e portanto continua a ser usado "não só para promover políticos, partidos e governos, mas também empresas, marcas e produtos". A permanência do spin doctoring seria explicada, "por um lado, pelo facto de as empresas de comunicação social dependerem cada vez mais de informações e eventos produzidos exclusivamente para elas; e, por outro, pelo facto de esta atividade contornar as já gastas, obsoletas, redundantes e pouco eficazes técnicas tradicionais de assessoria de imprensa (conferências de imprensa, press releases, press kits etc.)".[8]

Ainda que a locução seja uma criação relativamente recente, o spin doctoring não é um fenómeno novo.[4] A atividade existe, pelo menos, desde o início do século XX e parece ter origem na forma como, em 1910, Ivy Lee se definia — doctor of publicity - e no termo spin, que James Reston usava sistematicamente nos seus textos no New York Times de análise política da administração Eisenhower, em meados dos anos 1950, numa analogia à técnica usada no basebol. No jargão esportivo, spin é o efeito que o jogador dá à bola, imprimindo-lhe um movimento giratório, na tentativa de enganar o adversário. Reston, que havia sido jornalista esportivo no mesmo jornal, nos anos 1930, manteve o uso do termo, mesmo depois de se tornar correspondente de política em Washington, em 1950.[7]

Mas a locução spin doctor só seria introduzida - e logo popularizada - em 1984, por um outro jornalista do New York Times, William Safire, para distinguir os especialistas em relações públicas políticas, frequentemente inescrupulosos, dos especialistas em comunicações em geral, tais como porta-vozes e assessores de imprensa. Safire utilizou-a, pela primeira vez, durante a corrida eleitoral à Casa Branca de (Ronald Reagan e Walter Mondale, em 21 de outubro daquele ano, dia do segundo debate televisivo entre os candidatos:

"Esta noite, por volta das 9:30, segundos após o fim do debate Reagan-Mondale, um bazar vai se materializar, de repente, na sala de imprensa do Auditório Municipal de Kansas City. Uma dúzia de homens vestidos com ternos caros e mulheres de vestidos de seda circularão, com grande desenvoltura, entre os repórteres, expressando opiniões confiantes. Eles não serão apenas agentes de imprensa tentando dar um spin favorável a um comunicado de rotina. Eles serão os spin-doctors, conselheiros sênior dos candidatos e estarão jogando por apostas muito altas. O quão bem eles façam seu trabalho pode ser tão importante quanto o quão bem os candidatos façam o seu.[9]

A locução acabou por ganhar maior destaque internacional graças à atuação dos assessores de imprensa de Ronald Reagan — Michael Deaver e David Gergen -, e, mais tarde, no Reino Unido, com os homólogos de Tony BlairPeter Mandelson e Alastair Campbell. Assim, ao longo das décadas de 1980 e 1990, quando um comentador, jornalista ou ativista pretendia qualificar negativamente um assessor político de imprensa, chamava-o, quase invariavelmente, de spin doctor, em alusão aos spins (interpretações enviesadas das informações dadas à imprensa ou ao público em geral) que produzia.

Referências

  1. Lexico: 'doctor'
  2. Merriam-Webster: spin e 'spin control' e 'doctor'.
  3. Termium plus: 'Spin doctor'
  4. a b KARAM, Francisco José; SCHMITZ, Aldo Antonio (30 de junho de 2013). «Os spin doctors e as fontes das notícias». Brazilian Journalism Research. 9 (1): 98-115. ISSN 1981-9854 
  5. VALENTINI, Chiara (2016). Spin Doctoring. The International Encyclopedia of Political Communication. DOI:10.1002/9781118541555.wbiepc035
  6. Página de Vasco Ribeiro, no site da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
  7. a b RIBEIRO, Vasco (2015). «O spin doctoring em Portugal: Perspectivas de governantes, jornalistas e assessores de comunicação que operam na assembleia da república». Observatório (OBS*) Journal, 9(2), 225-256. Consultado em 30 de junho de 2015 
  8. RIBEIRO, Vasco (2013). O spin doctoring em Portugal: Estudo sobre as fontes profissionais de informação que operam na Assembleia da República. Braga: Universidade do Minho. Consultado em 1º de julho de 2015 
  9. No original, "Tonight at about 9:30, seconds after the Reagan-Mondale debate ends, a bazaar will suddenly materialize in the pressroom of the Kansas City Municipal Auditorium. A dozen men in good suits and women in silk dresses will circulate smoothly among the reporters, spouting confident opinions. They won’t be just press agents trying to impart a favourable spin to a routine release. They’ll be the spin-doctors, senior advisers to the candidates, and they’ll be playing for very high stakes. How well they do their work could be as important as how well the candidates do theirs."«The Debate and the spin doctors». The New York Times. 21 de outubro de 1984. ISSN 0362-4331 
Em espanhol
  • AIRA FOIX, Toni (2009) Los spin doctors. Cómo mueven los hilos los asesores de los líderes políticos. Barcelona: Editorial UOC.
  • MONTAÑA CABACÉS, Jordi (2009). Los spin doctors y los gabinetes de comunicación, como un obstáculo para el periodiosmo especializado en política, I Congreso Internacional Latina de Camunicacion Social (pp. 1-9). Tenerife: Universidade de La Laguna.
  • PRIOR, Hélder (2013) "Spin doctors: De la política mediática e la política del negativo en las campañas electorales". In I. Crespo & J. d. Rey (eds.), Communicación política & campañas electorales em América Latina (pp. 127-137). Barcelona: Editorial Biblios / Politeia.
Em inglês
  • MALTESE, John A. (1992) Spin control: The white house iffice of communications and the management of presidenctial news. Chapel Hill and London: The University of North Carolina Press.
  • KURTZ, Howard (1998) Spin cycle: How the white house and the media manipulate the news. New York: Touchstone.
  • JONES, Nicholas, 1995 - Soundbites and spin doctors: How politicians manipulate the media and vice versa. London: Indigo.
  • HOLLINGSWORTH, Mark (1997) The ultimate spin doctor: The life and fast time of tim bell. London: Coronet Books.
  • JONES, Nicholas (1999) Sultans of spin: The media and the new labour government. London: Victor Gollancz.
  • PRESS, Bill (2001) Spin this! New York: Pocket Books.
  • PRINCE, Lance (2005) The spin doctor's diary: Inside number 10 with new labour. London: Hodder & Stoughton.
  • MOORE, James, & SLATER, Wayne (2007) The architect: Karl Rove and the dream of absolute power. New York: Thress Rivers
  • STOCKWELL, Stephen Edward (2007) Spin doctors, citizens and democracy. In S. Young (Ed.), Government communication in australia (pp. 130-143). Melbourne: Cambridge University Press.
  • SELLERS, Patrick (2010) Cycles of spin: Strategic communication in the U.S. Congress. Cambridge: Cambridge University Press.
Em português
  • TRAQUINA, Nelson (1993) "Introdução Geral". In N. Traquina (Ed.), Jornalismo: Questões, teorias e "estórias" (pp. 167-176). Lisboa: Vega.
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  • RIBEIRO, Vasco (2009) Fontes sofisticadas de informação: Análise do produto jornalístico político da imprensa nacional diária de 1995 a 2005. Lisboa: Formal Press.
  • RIBEIRO, Sofia (2015) Spin Doctors: manipulação ou comunicação estratégica? Comunicando, Vol. 4, 2015, A Sociedade em Foco: Globalização, questões políticas e desafios societais. (pp. 148-161).

Ligações externas

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