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Língua tigré

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Se procura pela região homônima na Etiópia, veja Tigré (região).
Tigré

ቲግሬ Tigre, ኻሳ Xasa

Falado(a) em: Eritreia,
Sudão
Total de falantes: 825 mil[1]
Família: Afro-asiática
 Semítica
  Meridional
   Etiópica
    Etiópica setentrional
     Tigré
Escrita: ge'ez
árabe
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: tig
ISO 639-3: tig
Mapa etno-demográfico da Eritreia. O povo tigré habita as planícies ocidentais do país.

A língua tigreia ou língua tigré (ትግረ, tigre ou ትግሬ, tigrē IPA: [tɨgɾe][2]; também conhecida como xasa no Sudão, no alfabeto árabe ألخاصية, ḫāṣiyah[3]) é uma língua semítica pertencente à família etiópica setentrional, sendo assim próxima à língua ge'ez e à língua tigrínia. É falada por aproximadamente 800 mil pessoas na Eritreia,[1] contando ainda com um reduzido grupo de falantes no Sudão. É a língua falada pelo povo tigré e é utilizada como segunda língua por parte do povo nara.[4] A língua, os falantes e o território do Tigrés não devem ser confundidos com o povo tigrínio, que também vive na Eritreia e que fala a língua tigrínia, nem com a região de Tigré, na Etiópia.

O tigré é uma das nove línguas reconhecidas oficialmente na Eritreia,[5] cuja constituição prevê que a "igualdade entre todas as línguas eritreias é garantida".[6] A língua está no nível 4 da escala EGIDS, que mede o grau de desenvolvimento e perigo de extinção de uma língua. Nessa posição, a língua é tida como sem perigo de extinção, sendo utilizada institucionalmente, para além das famílias e comunidades.[1]

Desde o século XIX, a língua tigré tem sido escrita no alfabeto ge'ez, utilizado em outras línguas etiópicas como o tigrínia e o amárico. Essa escrita foi introduzida por missionários suecos para traduzir a Bíblia nessa língua.[7] No entanto, por questões políticas e religiosas, muitos tigrés muçulmanos preferem o uso do alfabeto árabe.[8]

Não há informações precisas em relação à origem do nome da língua tigré. Sabe-se que há outros povos, línguas e locais com nomes parecidos nessa região, na Eritreia e na Etiópia. O povo tigrinya, cuja língua tem o mesmo nome, é a etnia mais populosa da Eritreia; eles vivem bem próximo aos tigrés e pertencem à mesma família linguística. Há ainda a região de Tigré (tigray), no norte da Etiópia, na qual vivem os tigrinya etíopes, conhecidos na Etiópia como tigray. Esses nomes semelhantes levam a confusões entre as etnias e regiões.[9]

Distribuição

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O tigré é falado na região da costa do Mar Vermelho e nas planícies do norte e do oeste da Eritreia, além de uma pequena parcela de falantes no Sudão. Essa é uma região onde a prática do multilinguismo é muito comum, o que faz com que o tigré seja a segunda língua de pessoas de outros grupos étnicos da região.[5]

Há uma grande variedade de dialetos do tigré. O mais documentado e que serviu de base para as primeiras pesquisas linguística e registros escritos da língua é o dialeto do subgrupo étnico Mensaʿ. Outros dialetos incluem os do subgrupo Ḥabāb e o da cidade de Gindaʿ, na região do Mar Vermelho Setentrional. [10]

A língua dahalik, falada no arquipélago de dalaque, já foi considerada um dialeto do tigré, mas hoje acredita-se que sejam línguas distintas.[11] O grau de inteligibilidade mútua entre os dialetos do tigré é de cerca de 91%, enquanto a inteligibilidade entre o dahalik e o tigré varia entre 24 e 51%, a depender do dialeto.[1]

O tigré é a língua viva mais próxima do ge'ez, língua litúrgica da Igreja Ortodoxa Eritreia e Etíope. A similaridade léxica entre as duas línguas é de 71%.[1] Outra língua com bastante influência no tigré é o árabe, tanto pela presença de grupos cuja primeira língua é o árabe na Eritreia e em países próximos (especialmente o Sudão), quanto pelo uso do árabe nos rituais e orações do islamismo, religião da vasta maioria do povo tigré. Há um grande número de empréstimos linguísticos do árabe no tigré, inclusive em palavras da lista de Swadesh.[12] Além do léxico, a língua árabe também influenciou aspectos morfológicos e fonológicos do tigré, como na faringealização de consoantes ejetivas e na formação dos diminutivos. [12]

Para a representação dos sons na língua tigré, esse artigo usa, no geral, um sistema que é comum (embora não universal) entre linguistas que estudam as línguas semíticas da Etiópia, mas difere um pouco das convenções do alfabeto fonético internacional. Quando o símbolo no IPA for diferente, este será indicado no quadro entre colchetes.

A língua tigré é uma língua acentual, portanto, não apresenta tom.

O inventário consonantal do tigré conta com 25 fonemas.[13]

Consoantes da língua tigré
Bilabial Labiodental Dental / Alveolar Pós-alveolar Palatal Velar Faríngea Glotal
Plosiva b t d k ɡ ʔ
Africada t͡ʃ d͡ʒ t͡ʃʼ
Nasal m n
Vibrante r
Fricativa f s z ç ħ ʕ h
Semivogais w j
Lateral l

As consoantes /ṭ/, /ḳ/, /ṣ/, e /č̣/ são ejetivas, ou seja, consoantes surdas pronunciadas fechando simultaneamente a glote. O fonema /ḳ/ tem como alofones [k], [k̚] (o diacrítico ◌̚ indica uma consoante sem realização audível, que é articulada, mas não se percebe o fim da oclusão), [q], [q̚] ou [ʔ] quando aparece em sílabas átonas.[14]

Exemplos de alofones de /ḳ/
Fonemas Fones Significado
/afāl/ k'fæːl] segmentos
/ḥao-hā/ [haqoˈhæː] então
/awməyat/ [ʔomˈjæt] grupo étnico

A oclusiva glotal ʾ [ʔ] pode não ser realizada em sequências vocálicas átonas, como no caso da sequência /aʾa/ e da sequência /ā ʾə/ (com a oclusiva glotal em início de palavra). Nesses casos, a sequência é realizada como [a] ou [æ], ou, ainda, como [ɞ] após a semivogal [w]. [15]

Exemplos de supressão da oclusiva glotal
Fonemas Fones Significado
/ga⁠ʾa/ æː] (isso) foi
/wa- ʾarəyšoni/ [wɞɾɨˈʃoni] ou laranja
/nətfanātā ʾəngabbiʾ/ [nɨtfæˈnatænɡæbˈbiʔ] nós estamos sendo separados

O inventário vocálico do tigré conta com sete fonemas.[16]

Vogais da língua tigré
Anterior Central Posterior
Fechada i ə [ɨ] u
Média e o
Aberta a, ā [a:]

As vogal /i/, /e/, /o/ e /u/ são realizadas como [i], [e], [o] e [u] respectivamente.[16]

A vogal ə é realizada, normalmente, como [ɨ]. Ela pode surgir em um processo de epêntese, entre uma consoante plosiva e /r/. Os nomes próprios tigré e tigrinya são exceções a essa regra.[17]

Fonemas Fones Significado
/madrasat/ [mæɡɨɾɪ'sæt] escola
/ḳadra/ [ɾædɨɾæ] ele é capaz

O fonema /a/ tende a ser realizado como [æ], enquanto /ā/ normalmente é realizado como [a] ou [æ:] (o diacrítico : indica maior duração da vogal). O fonema /a/ sofre processo de assimilação e se realiza como [a] quando precedido de uma consoante faríngea ou glotal, comoʿ [ʕ] e ḥ [ħ]. [18]

Fonemas Fones Significado
/salas/ [sælæs] três
/ḥamalmāl/ amælmal] (nome de um lugar)
/ləbān/ [lʉˈbæːn] incenso

Sistema de escrita ge'ez (etiópico)

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Os falantes nativos do tigré nunca desenvolveram ou adotaram um sistema de escrita. A implementação da escrita para o idioma começou por iniciativa de missionários protestantes suecos, que buscavam evangelizar os povos tigré, de maioria muçulmana. Foi utilizada uma adaptação do sistema de escrita ge'ez, o alfabeto utilizado para a escrita da língua amárica, língua oficial da Etiópia, e da língua tigrinya, a mais falada na Eritreia.[7]

O sistema de escrita ge'ez é um abugida, ou seja, as letras são todas consoantes e a notação das vogais é feita por meio de diacríticos ou pequenas alterações gráficas na consoante.[19]

O fonema /ɐ/ não é encontrado nas gramáticas da língua tigré. Provavelmente, os caracteres que representam sílabas com esse fonema foram mantidos do sistema original, criado para representar a língua ge'ez.

Sistema de escrita ge'ez do tigré[3]
ä [ɐ] u i e ə[ɨ]/∅ o exemplo de som
h rápido, no dialeto mineiro
l lâmpada
ḥ [ħ] carro, porém com a base da língua contra a faringe
m mente
r perro, em espanhol
s sapato
š [ʃ] xícara
ḳ [] carro, acompanhado de uma pausa glotal
b barriga
t tampa
č [] tchau
x arte, no dialeto carioca
n nariz
∅/ʔ [ʔ] a pausa na expressão de negação "ãhn-ãhn"
k carro
w aval no português brasileiro
ʕ dormir, em alguns dialetos, porém com a base da língua contra a faringe
z casa
ž [ʒ] janela
y [j] cuia
d dente
j [] James, em inglês
ɡ gota
t’ [] torre, acompanhado de uma pausa glotal
c’ [tʃʼ] tchau, acompanhado de uma pausa glotal
s’ [] sapo, acompanhado de uma pausa glotal
f foca
p perna
k’w carro, acompanhado de uma pausa glotal e seguido de [w]
xw arte, no dialeto carioca, seguido de [w]
kw quando
gw água

Sistema de escrita arábe

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Parte do povo tigré prefere o uso do alfabeto árabe para escrever o tigré por motivos históricos, políticos e religiosos. A maioria da população é muçulmana e valoriza a língua árabe, presente na liturgia islâmica. Além disso, a escrita ge'ez é associada ao amárico, à Igreja Ortodoxa Etíope e, portanto, aos tempos de domínio etíope sobre o atual território da Eritreia, quando o amárico era ensinado nas escolas e as línguas locais eram desvalorizadas. Desse modo, o uso do sistema de escrita ge'ez é visto como uma forma de apagamento da identidade islâmica e eritreia dos tigré.[8]

Sistema de escrita árabe do tigré[3]
caracteres árabes exemplo de som
h ه rápido, no dialeto mineiro
l ل lâmpada
ḥ [ħ] ح carro, porém com a base da língua contra a faringe
m م mente
r ر perro, em espanhol
s ج sapato
š [ʃ] ش ; س xícara
ḳ [] ق carro, acompanhado de uma pausa glotal
b ب barriga
t ت tampa
č [] ڛ tchau
x خ arte, no dialeto carioca
n ن nariz
∅/ʔ [ʔ] ا a pausa na expressão de negação "ãhn-ãhn"
k ك carro
w و aval no português brasileiro
ʕ ع dormir, em alguns dialetos, porém com a base da língua contra a faringe
z ز ; ذ ; ظ casa
ž [ʒ] ژ janela
y [j] ج ; ي cuia
d د ; ض dente
j [] ج James, em inglês
ɡ غ gota
t’ [] ط torre, acompanhado de uma pausa glotal
c’ [tʃʼ] ڟ tchau, acompanhado de uma pausa glotal
s’ [] ص sapo, acompanhado de uma pausa glotal
f ف foca
p پ perna

Pronomes pessoais

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Os pronomes pessoais do tigré variam de acordo com gênero (exceto na primeira pessoa) e número.[20]

Pronomes pessoais do tigré
singular plural
tigré português tigré português
ʾana eu ḥəna nós
ʾənta tu, você (masculino) ʾəntum vós, vocês (masculino)
ʾənti tu, você (feminino) ʾəntən vós, vocês (feminino)
hətu ele hətom eles
həta ela hətan elas

Pronomes genitivos

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O pronome nay indica posse ou características de um nome, de forma semelhante ao caso genitivo do inglês com a partícula 's.[21]

Exemplos do uso do pronome nay
šaʿab nay təgra o povo tigré
əmtəḥān nay mātrik o exame de matrícula
la-ʿəmer nayna nossa idade

Outros pronomes genitivos, que têm função semântica semelhante aos pronomes possessivos do português, são sufixais, ou seja, adicionados no fim de um nome ou preposição.[22]

Pronomes genitivos sufixais do tigré
pessoas singular plural
-ye, -y -na
2ª Masc -ka -kum
2ª Fem -ki -kən
3ª Masc -u -om
3ª Fem ā -an

O pronome sufixal da primeira pessoa do singular pode se modificar dependendo da última letra da palavra à qual ele se junta. -ye é usado na maioria dos casos, mas após uma vogal, a partícula se reduz para -y, e seguida de /t/ ela forma -če. [22]

Adição do pronome sufixal de 1ª pessoa a nomes no tigré
nomes significado nomes sufixados significado
kətāb livro kətābye meu livro
ḥāl tio materno ḥālye meu tio materno
morā palito morāy meu palito
ʿəntāt olhos ʿəntāče meus olhos
mankinat carro mankinače meu carro

As raízes nominais no tigré são formadas por consoantes apenas. Essas raízes consonantais são preenchidas com vogais e combinadas a afixos para formar nomes.[23]

Formação de nomes no tigré
raiz consonantal tigré português tigré português
ʾ-b-n ʾəbən pedra ʾəbbanāy pedregoso
b-z-ḥ bəzuḥ muitos mabzəḥ a maioria
d-r-s madrasat escola darsa ele recitou

O gênero gramatical é marcado geralmente pelas partículas -t ou -at. No entanto, alguns nomes femininos não têm marcação de gênero, como ṣaḥay ("sol") e ʾəm ("mãe"). Nesses casos, o gênero pode ser marcado por pronomes.[24]

Nomes femininos no tigré
tigré português
šaybat mulher de cabelo grisalho
ʿammat tia paterna
ğabanat garrafa de café
ʾəssit mulher

Em casos em que um nome masculino tem uma estrutura CVCVC, ao passar para o gênero feminino a estrutura fonológica muda para CVCC-at. Processo semelhante ocorre com a adição de pronome sufixal feminino.[24]

Mudança de gênero gramatical em nomes
nome masc. português nome fem. português
kaləb cachorro kalbat cadela
šayəb pessoa de cabelo grisalho šaybat mulher de cabelo grisalho
kətəb livro kətbā livro dela

Os nomes plurais no tigré são classificados como externos ou internos. Os plurais externos têm marcação de número por meio de sufixação. No geral, são adicionados os sufixos -āt ou -otāt, mas há exceções, como -āč e -āyt, usados para marcar o plural em af (boca) e āč (pai).[25]

Exemplos de plurais externos no tigré
singular plural português
suḳ suḳāt mercado(s)
ʾəm ʾəmmāt mãe(s)
ḥāl ḥālotāt tio(s) materno(s)
šayəb šaybotāt homem(ns) de cabelo grisalho

Os plurais internos são caracterizados por perda ou alteração das vogais. Por vezes, são acompanhados por alteração, perda ou adição de sufixos (normalmente perda do sufixo -at ou -t ou adição do sufixo -t) ou pela adição do prefixo -ʾa. Podem ser acompanhados por geminação das consoantes, também.[25]

Exemplos de plurais internos no tigré
singular plural português
ḳəbər ʾaḳbər sepultura(s)
ʾəbən ʾəban pedra(s)
kaləb kəlāb cachorro(s)
ḥarmāz ḥaramməz elefante(s)
dəmmu damammit gato(s)
algat ʾālug bebê(s)

Em ambos os tipos de plural, objetos ou seres não humanos são gramaticalmente considerados como singulares, ou seja, a concordância de verbos e pronomes com eles se dá na forma singular. Nos plurais externos não humanos, o gênero do nome singular nem sempre é o mesmo do plural. Nos internos não humanos, o gênero é sempre masculino.[25]

Tempo, modo e aspecto

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Há quatro formas verbais conjugadas por pessoa, número e gênero, que compreendem tempo, modo e/ou aspecto. Essas formas são o perfectivo, o imperfectivo, o jussivo e o imperativo. A partir de formas compostas e uso de verbos auxiliares, é possível formular sentenças em tempos, modos e aspectos distintos, como o futuro e o aspecto contínuo. [26]

Como nas raízes dos nomes no tigré, a conjugação de tempo, modo e aspecto são determinadas pela organização das consoantes nas palavras. [26]

Conjugações de tempo, modo e aspecto no tigré
estrutura da base verbal exemplo português
perfectivo CVCC- (seguido de sufixo iniciado em vogal)

CVCV- (seguido de sufixo iniciado em consoante)

ḳatla; ḳatalko ele matou; eu matei
imperfectivo -CVCCVC- (consoante geminada)

-CVCC-

ləḳatlo; ləḳattəllo eles matam; ele o mata
jussivo -CCVC- təḳtali que você (fem.) mate
imperativo -C(ə)CVC- ḳətal mate (você, masc.)

O perfectivo pode indicar o pretérito perfeito ou, em verbos intransitivos, verbos de estado no presente. O imperfectivo indica, normalmente, o tempo presente, e em alguns dialetos do tigré pode se referir também ao futuro. O jussivo aparece quase sempre em formas compostas para o futuro ou para possibilidade, desejo ou causalidade (de forma semelhante ao modo subjuntivo no português). O imperativo é usado para ordens, instruções ou conselhos, sempre na segunda pessoa.[26]

Formas compostas podem ser construídas à partir das quatro conjugações. Por exemplo, a construção "ʾəgəl (para, por) + jussivo + verbo de ligação" é usada como tempo futuro em alguns dialetos.[27]

ṭabʿan ʾana ʾab bun ʾəgəl ʾəthāga tu
agora eu sobre café vou-falar
Agora, vou falar sobre café

Outra forma composta possível é "imperfectivo + halla (há, existe) ou ʿala (houve, existiu)" para o aspecto contínuo, respectivamente no presente e no passado.[27]

ḥuye ʾaza maṣṣəʾhalla
meu-irmão agora ele-está-vindo
Meu irmão está vindo
mən ʾəlla bet ʾənfaggər hallena
de essa sala nós-estamos-saindo
Nós estamos saindo dessa sala

A sintaxe da língua tigré é influenciada por traços incorporados das línguas cuxíticas, além de características gerais das línguas semíticas. Essa mistura de influências na organização da sentença ocorre também em outras línguas próximas ao tigré, como o tigrinya e o amárico.[28]

As sentenças seguem, no geral, uma ordem sujeito-objeto-verbo (SOV).[29]

ṭabʿan ʾana ʾab bun ʾəgəl ʾəthāga tu
agora eu sobre café vou-falar
Agora, vou falar sobre café.
ḥuyeʾaza maṣṣəʾ halla
meu-irmão agora ele-está-vindo
Meu irmão está vindo agora.
ṣaḥay faggər hallet
so dem.-fem.-está nascendo
O sol está nascendo.

O texto "O conto dos dois donos de burros" está presente em uma das únicas coletâneas de textos tigré escritos no alfabeto ge'ez, e não transcritos foneticamente, que é a coletânea "Publications of the Princeton Expedition to Abyssinia", do linguista Enno Litmann, de 1910. Nessa publicação, há contos, canções e listas de expressões. Os textos foram traduzidos para o inglês e o alemão.[30]

ክልኦት ፡ እናስ ፡ ሕድ ፡ ትከበተው ፡ እት ፡ ገበይ ። ወክል ፡ ምኖ ም : አድግ : ዐላ ፡ እሉ ። ከለሰብ ፡ እግል ፡ ሕድ ትሳለመው ። ለአዱ ግ ፡ ሀዬ ፡ እት ፡ አፍ ፡ ሕድ ፡ እንዶ ፣ ደነው ፤ እግል ፡ ሕድ ፡ ጼነው። ወለዎሮት ፡ እናስ ፡ እግል ፡ ለመለሀዩ ፡ ትሰአላ ፡ እት ፡ ልብል ፣ ሕና ዲ ፡ እግል ፡ ሕድ ፡ ትሳለምና ፡ ለአዱግ ፡ ሀዬ ፡ እግል ፡ ሚ እት አ ፍ ፡ ዐድ ፡ ሕድ ፡ ደነው ፡ ለሀይ ፡ ሀዬ ፡ በልሳ ፡ እቱ እሊ ኢተአም ር ፧ አዱግ ፡ ዎሮት ፡ አድግ ፡ ፈዳብ ፡ እት ፡ ረቢ ፡ ልእካም ፡ ሀለው፤ እቱ ፡ እግል ፡ ልጥራዕ ፡እሎም በሀለት ረቢ ምን ሐንቴ አዳም፡ ሐራ ፡ እግል ፡ ለፍግሮም ። ከለአድግ ፡ ለትለአካ አቅበላ ማ ኢፋ ሉ ፧ እንዶ ፡ ቤለው ፡ እግል ፡ ሕድ ፡ ልሸአሎ ፡ ሀለው፣ ቤሎ ። ከአዱ ግ ፡ ኩሉ ፡ እብላ ፡ ጋሪት ፡ እግል ፡ ሕድ ፡ እት፡ ልሰአል እት አፍ፡ ሕድ ፡ ደንን ፤ ልትበሀል ። እብሊ ፡ ድግም ፡ ልትርኤ ፤ ክላ ፡ ለፍጥረ ት ፡ ሐራ ፡ ክም ፡ ትሰፍለል ።

Tradução:

Dois homens se encontraram em uma estrada; cada um deles tinha um burro. Então, os homens se cumprimentaram: os burros, também, colocando seus narizes juntos e cheirando um ao outro. E um dos homens perguntou a seu companheiro "Nós nos cumprimentamos. Por que os burros também juntaram suas cabeças?". O outro homem o respondeu: "Você não sabia disso? Os burros enviaram um burro forte para o Senhor para queixar-se diante dEle que o Senhor deve libertá-los da tirania dos homens. Agora eles perguntam um ao outro dizendo 'O burro mensageiro voltou ou não?'". E diz-se que todos os burros perguntam sobre esse assunto aproximando suas bocas. Nesse conto se vê que toda criatura anseia por liberdade.

Lista de maldições da língua tigré

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Essa lista contém algumas das maldições listadas também na coletânea "Publications...". A lista completa tem mais de 300 maldições.

Lista de maldições[31]
tigré português
ሀድፍ አባይ ግባእ Encontre o inimigo inesparadamente!
ሀክብ አባይ ሊዴ Que Ele faça você ser procurado pelo inimigo!
ሁህ እት ትብል ጊስ Vá tossir!
ሁሉብ ወቱኩስ ግባእ Fique cheio de cicatrizes e ferimentos!
ሁዱል ወዑቁል ግባእ Que suas mãos e pés sejam amassados!

Referências

  1. a b c d e «Tigré». Ethnologue (em inglês). Consultado em 15 de março de 2023 
  2. Elias 2014, p. 257.
  3. a b c «Tigre alphabet and pronunciation». omniglot.com. Consultado em 21 de março de 2023 
  4. «Tigrè». Treccani Enciclopedia on line (em italiano). Consultado em 15 de março de 2023 
  5. a b Elias 2014, p. 1.
  6. Constituição da Eritreia. Capítulo 1, Artigo 4, Inciso 3. Consultado em 18 de março de 2023.
  7. a b Andemariam, Sander W. (2012). «The Story of the Translation of the Bible into Tǝgre (1877-1988)» (PDF). Universidade de Mekelle. ITYOP̣IS (em inglês). Vol. II. Consultado em 15 de março de 2023 
  8. a b Woldemikael, Tekle (Abr. 2003). «Language, Education, and Public Policy in Eritrea». African Studies Association. African Studies Review (em inglês). vol. 46 (nº 1): p. 117-136. Consultado em 21 de março de 2023 
  9. Jenkins, Orville Boyd. «Tigre, Tigray, Tigrinya - Ethnicites, languages and politics». Modaina. Consultado em 18 de março de 2023 
  10. Elias 2014, p. 2.
  11. Idris, Saleh Mahmud (2012). «Dahalik: an endangered language or a Tigre variety?». University of Asmara. Jornal of Eritrean Studies (em inglês). vol. 6 (1): 51-74. Consultado em 18 de março de 2023 
  12. a b Bulakh, Maria; Kogan, Leonid (2011). «Arabic influences on Tigre: A preliminary evaluation». Universidade de Cambridge. Bulletin of the School of Oriental and African Studies (em inglês). vol. 74 (Nº 1): p. 1-39. Consultado em 18 de março de 2022 
  13. Elias 2014, p. 13.
  14. Elias 2014, p. 13-15.
  15. Elias 2014, p. 15-16.
  16. a b Elias 2014, p. 20.
  17. Elias 2014, p. 20-22.
  18. Elias 2014, p. 22-25.
  19. «Ge'ez (Ethiopic) syllabic script and the Amharic language». omniglot.com. Consultado em 25 de março de 2023 
  20. Elias 2014, p. 35-37.
  21. Elias 2014, p. 37-38.
  22. a b Elias 2014, p. 39-42.
  23. Elias 2014, p. 46.
  24. a b Elias 2014, p. 48-51.
  25. a b c Elias 2014, p. 51-53.
  26. a b c Elias 2014, p. 74-80.
  27. a b Elias 2014, p. 80-83.
  28. Eaz, S. (junho de 1980). «Tigre Syntax and Semitic Ethiopian». Cambridge University Press. Bulletin of the School of Oriental and African Studies (em inglês). vol. 43 (nº 2): 235-250. Consultado em 24 de março de 2023 
  29. Elias 2014, p. 178.
  30. Littmann 1910, p. 1.
  31. Littmann 1910, p. 326-335.
  • Elias, David L. (2014). The Tigre Languages of Gindaʿ, Eritrea (em inglês). Leiden: Brill. ISBN 978-90-04-27120-3 
  • LIttmann, Eno (1910). Publications of the Princeton expedition to Abyssinia, vol. 1 & 2. Leiden: Late E. J. Brill Ltd. 

Ligações externas

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