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Etnomedicina

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Elementos da medicina tradicional em um mercado em Antananarivo, Madagascar

Etnomedicina é uma área de pesquisa ou aplicação da etnologia cujo objeto são as práticas voltadas para conservação e recuperação da saúde ou a medicina, como o nome indica. Envolve as descrições etnográficas sobre práticas e crenças (narrativas míticas) com que uma cultura específica, usualmente de povos indígenas ou considerados primitivos, previne e tratam as doenças e/ou os estudos etnológicos comparativos dessa prática e estudo das teorias que dão suporte a essa comparação.

Por sua prática associada à utilização de plantas medicinais pode ser considerada como um sub-campo associado à etnobotânica ou incluído na antropologia médica que lida com o estudo das medicinas tradicionais, não apenas aquelas que têm as fontes escritas (por exemplo, medicina tradicional chinesa ou ayurvédica), mas sobretudo aquelas cujo corpo de conhecimentos e práticas têm sido transmitidos oralmente ao longo ao longo dos séculos. [1]

Observe-se, como assinala Helman [2] que os médicos e seus pacientes, ainda que tenham a mesma origem social e cultural, vêem a má saúde de formas muito diferentes, suas perspectivas baseiam-se em premissa bastante diversas, empregam um sistema diferente de comprovação e avaliam a eficácia do tratamento de modo variado. Os integrantes da EPASA. [3] destacam que a etnomedicina é uma área especializada da etnologia que não se restringe a descrever práticas de cura "exóticas", mas, na verdade, oferece ajuda prática na medicina clínica diária, facilitando a comunicação com pacientes de todas as esferas da vida. O registro e análise de um pesquisador nesse campo das concepções características e inerentes aos pacientes, no que diz respeito à doença e terapia, aumentam a "aderência" ao tratamento e integração com a equipe médica e de enfermagem.


Etnomedicina e antropologia médica

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Segundo Fabrega, (1975), a quem se atribui a introdução do conceito, a etnomedicina é uma área intelectual, que engloba preocupações teóricas que são relevantes tanto para as ciências sociais como biológicas. A relação que existe entre a doença, o comportamento social e adaptação do ser humano constitui a questão principal objeto de etnomedicina. Esta relação é examinada em termos das capacidades, únicas do homem, para a simbolização e a cultura. As generalizações etnomédicas buscam explicar como grupos sociais lidam com o adoecer, o que pode ser usado para examinar os problemas contemporâneos que envolvem a organização e prática médica, bem como os problemas que decorrem das relações do sistema médico com outros subsistemas do grupo. [4]

Ainda segundo esse autor, devem-se distinguir dois grandes tipos de ênfases na maioria dos estudos dessa área: o que pode ser compreendido no campo descrito como etnomedicina dentro da etnologia e o campo da antropologia médica e/ou a interação entre a antropologia e o campo biomédico ocidental. Sendo que no primeiro tipo, os problemas médicos são abordados do ponto de vista dos grupos e indivíduos estudados. Ou seja, a doença tende a ser vista como uma categoria cultural e como um conjunto de eventos culturais relacionados. Observa que quando um investigador adota um ponto de vista emico mesmo enfocando um problema médico, a palavra "doença" será usado para rotular a unidade analítica daquele povo. [5]

Desenvolvimento e perspectivas

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A antropologia médica é um ramo do conhecimento que vem de longa data, tão antigo quanto a antropologia, com contribuições de viajantes e naturalistas e pesquisas recentes, inclusive relevantes para o desenvolvimento de políticas de saúde pública.[6] George M. Foster e Barbara Anderson Gallatin (1978) analisam seu desenvolvimento a partir de quatro fontes distintas: o interesse da antropologia física na evolução humana e adaptação (geografia/ecologia humana), interesse etnográfico nas primitivas formas de tratamento de doenças (medicina) e estudos da relação entre a cultura e as manifestações psiquiátricas e da personalidade humana [7] Observe-se que nessa perspectiva, a etnomedicina praticamente limita-se ao estudo das práticas relacionadas à conservação e recuperação da saúde nos sistemas culturais dos povos tidos como primitivos ou os complexos sistemas das civilizações não ocidentais.

O desenvolvimento de tais estudos tornaram-se uma necessidade não só pela dificuldade dos colonizadores em interagir com os povos considerados primitivos ou com as populações colonizadas e as sobrevivências culturais, estudadas como folclore, tradições populares que se constituem com “barreiras” existentes para comunicação e difusão de algumas medidas de saúde [8] mas também pelo que os colonizadores puderam aprender com esses povos na adaptação ao "novo mundo" durante o processo de expansão capitalista.

Lévi-Bruhl (1857-1939), já em 1921, [9] comentava, a partir de uma série de relatos de diversas partes do mundo, a ambigüidade e mesmo hostilidade nas relações médico-paciente entre os considerados primitivos e os médicos europeus.

Em função do muito que se aprendeu com a identificação de plantas medicinais utilizadas inicialmente somente por algumas etnias e que passaram a fazer parte da farmacopéia que integra a medicina cosmopolita e/ou deram origem à fármacos modernos, desenvolveu-se o segmento, que como visto acima, confunde-se com a própria etnomedicina (etno-terapêutica ?) ou é considerada uma área paralela e interdependente conhecida como etnobotânica / etnofarmacologia vem se ampliando o interesse nas próprias noções de “doença “, suas causas e formas de prevenção e controle nas diversas culturas, com resultados promissores ou questionáveis a exemplo da relativamente recente assimilação ocidental de práticas feito a acupuntura [10] [11] [12] , yoga [13] [14] ou a meditação [15] e a utilização de plantas psicoativas a exemplo da ayahuasca e outras empregadas em processos semelhantes à psicoterapia [16] [17] [18]

Estrela [19]chega a afirmar que a medicina tradicional é no momento atual (a partir dos anos 70) o campo de estudo mais importante na antropologia médica graças ao interesse do Estado em aplicar para seus próprios fins alguns aspectos do saber médico tradicional e o estímulo dos organismos internacionais sobretudo para o desenvolvimento de programas de atenção primária à saúde.

  1. ACHARYA, Deepak; SHRIVASTAVA, Anshu: Indigenous Herbal Medicines: Tribal Formulations and Traditional Herbal Practices. Aavishkar Publishers Distributor, Jaipur / India 2008, ISBN 9788179102527, p. 440. Book Presentation Arquivado em 3 de outubro de 2011, no Wayback Machine. Dez. 2011
  2. HELMAN, Cecil G. Cultura Saúde e Doença. Porto Alegre, Artemed, 2009. p. 113
  3. EPASA - (Ethnomedicine Practitioners Association of South Africa). Ethnomedicine. Acesso Março, 2013
  4. FABREGA, Horacio. The need for an ethnomedical science. Science 19 September 1975: Vol. 189 no. 4207 pp. 969-975 Abstract Non. 2011
  5. FABREGA, Horacio Medical Anthropology. Biennial Review of Anthopology 1971, Vol 7. USA Stanford University Press, 1971 JSTOR Discipline(s): Anthropology
  6. CAMPBELL, Dave. “Anthropology's Contribution to Public Health Policy Development.” McGill journal of medicine : MJM : an international forum for the advancement of medical sciences by students vol. 13,1 (2011): 76.
  7. FOSTER, George M.; GALLATIN, Barbara A. Medical Anthropology. New York: John Wiley and Sons, 1978. in: McElroy, A (1996), "Medical Anthropology" 1996 Arquivado em 1 de outubro de 2012, no Wayback Machine. Nov. 2011
  8. NUNES, Everaldo D. Tendências e perspectivas das pesquisas em ciências sociais em saúde na América Latina: uma visão geral. In: ___ (org.) As ciências sociais em saúde na América Latina. Tendências e perspectivas. Brasília OPAS, 1985, p. 31-79
  9. LÉVI-BRUHL, Lucien. A mentalidade primitiva. SP, Paulus, 2008
  10. Cyranoski, D. (2018). Why Chinese medicine is heading for clinics around the world. Nature, 561(7724), 448–450. doi:10.1038/d41586-018-06782-7
  11. Lu DP, Lu GP. An Historical Review and Perspective on the Impact of Acupuncture on U.S. Medicine and Society. Med Acupunct. 2013 Oct;25(5):311-316. doi: 10.1089/acu.2012.0921. PMID: 24761180; PMCID: PMC3796320.
  12. Hao JJ, Mittelman M. Acupuncture: past, present, and future. Glob Adv Health Med. 2014 Jul;3(4):6-8. doi: 10.7453/gahmj.2014.042. PMID: 25105069; PMCID: PMC4104560.
  13. Vorkapic CF. Yoga and mental health: A dialogue between ancient wisdom and modern psychology. Int J Yoga. 2016 Jan-Jun;9(1):67-71. doi: 10.4103/0973-6131.171720. PMID: 26865774; PMCID: PMC4728962.
  14. Kamradt JM. Integrating yoga into psychotherapy: The ethics of moving from the mind to the mat. Complement Ther Clin Pract. 2017 May;27:27-30. doi: 10.1016/j.ctcp.2017.01.003. Epub 2017 Jan 27. PMID: 28438276; PMCID: PMC5654398.
  15. Bogart, G. (1991). The Use of Meditation in Psychotherapy: A Review of the Literature. American Journal of Psychotherapy, 45(3), 383–412. doi:10.1176/appi.psychotherapy.1991.45.3.383
  16. Metzner, R. (1998). Hallucinogenic Drugs and Plants in Psychotherapy and Shamanism. Journal of Psychoactive Drugs, 30(4), 333–341. doi:10.1080/02791072.1998.10399709
  17. Frecska, E., Bokor, P., & Winkelman, M. (2016). The Therapeutic Potentials of Ayahuasca: Possible Effects against Various Diseases of Civilization. Frontiers in pharmacology, 7, 35. https://doi.org/10.3389/fphar.2016.00035
  18. PERES, Julio Fernando Prieto; SIMAO, Manoel José Pereira; NASELLO, Antonia Gladys. Espiritualidade, religiosidade e psicoterapia. Rev. psiquiatr. clín., São Paulo , v. 34, supl. 1, p. 136-145, 2007 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832007000700017&lng=en&nrm=iso>. access on 08 Mar. 2020. https://doi.org/10.1590/S0101-60832007000700017.
  19. ESTRELA, Estrela. As contribuições da antropologia à pesquisa em saúde. in NUNES, Everaldo D. (org.) As ciências sociais em saúde na América Latina. Tendências e perspectivas. Brasília OPAS, 1985
Curandeiro Ojíbua

Ligações externas

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