Dissolução da Áustria-Hungria
A Dissolução ou Desintegração da Áustria-Hungria foi um processo que ocorreu após a derrota do país na Primeira Guerra Mundial e fez desaparecer como Estado em finais de 1918. De seus territórios surgiram a Primeira República da Áustria, a Primeira República da Checoslováquia, a República Democrática Húngara, o Reino da Iugoslávia, a Segunda República Polonesa; e; o Reino de Itália e o Reino da Romênia expandiram-se territorialmente.
A Áustria passou a ser considerada o estado sucessor da Áustria-Hungria.
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]As tensões que desde o século XIX estavam afetando o império foram agravadas pela guerra mundial com derrotas militares e dificuldades na retaguarda. A morte do imperador ancião, Francisco José I da Áustria, em 21 de novembro de 1916 acelerou a crise.[1]
As diferentes nacionalidades que compunham o estado intensificaram seus esforços para alcançar a independência.[1] Na Frente Oriental com as tropas checas e eslovacas desertando em grande número, formando a chamada Legião Checoslovaca com cerca de 50 000 soldados que lutavam para a Tríplice Entente.[1]
Os gestos do novo e jovem Imperador Carlos como a nomeação de um novo ministro do exterior (o conde tcheco Ottokar von Czernin, 22 de dezembro de 1916[2]), a assistência do Chefe de Gabinete ou a reabertura do Parlamento na Primavera de 1917, não conseguiram acalmar as tensões pela independência.[1]
O imperador, enquanto tentava conciliar os movimentos internos, procurou desde o início a paz com seus inimigos, usando os serviços de seu irmão, o príncipe Sixto de Bourbon-Parma (ver: Escândalo Sisto de Bourbon). As negociações fracassaram e Carlos perdeu sua capacidade de agir politicamente independente do Império Alemão.[3]
Pouco depois do escândalo sobre as conversações secretas pelas costas dos alemães, Carlos tentou novamente agradar políticos da oposição anistiando presos políticos em 2 de julho de 1918.[3] A atitude, relativamente bem recebida pelos adversários, foi muito mal-recebida pela maioria dos apoiantes da dinastia, especialmente os políticos conservadores alemães, que entenderam que recompensava os desleais.[3]
Dissolução
[editar | editar código-fonte]Após a ruptura da Frente de Salônica no final de setembro de 1918 e do pedido de armistício da Bulgária em 29 de setembro de 1918, acelerou-se a derrota do Império Austro-Húngaro e com ela a desintegração do país.[4]
Em 4 de outubro de 1918, os austro-húngaros solicitam, em conjunto com os alemães, um armistício ao presidente dos EUA, Woodrow Wilson, baseado em seu famosos Quatorze Pontos.[4] A resposta a isto, em 21 de outubro de 1918, marcou o golpe final na unidade do Império: Wilson recusou-se a aceitar uma mera autonomia da Checoslováquia e da Iugoslávia.[4] O político checo, Tomáš Masaryk, temendo um acordo de última hora, proclamou a independência da Checoslováquia a partir de Washington D.C. no dia 18.[4]
Em 5 de outubro de 1918, os deputados eslavos do sul reuniram-se em Zagreb para formar um conselho nacional.[4]
No dia 7, representantes polacos em Varsóvia proclamaram o início da formação de um governo nacional e um Parlamento livre. No mesmo dia, rutenos reuniram-se em Lemberga para escolher o seu próprio conselho nacional.[4] No dia 15, deputados polacos declararam-se sujeitos e cidadãos de um novo estado polonês reconstituído.[5] Em 16 de janeiro de 1919, após muitas vicissitudes, Józef Piłsudski foi nomeado como chefe de Estado interino, Ignacy Jan Paderewski como primeiro-ministro, e Roman Dmowski como ministro das relações exteriores.[5]
Em 12 de outubro de 1918, os deputados social-democratas austríacos se reuniram para formar um parlamento provisório e anunciar a formação de um Estado austríaco, sendo os primeiros a deixar o Parlamento Imperial (Reichsrat).[4]
Em 16 de outubro de 1918, tentando salvar a unidade do império, o imperador lançou seu famoso Manifesto, que convidava as províncias à formação de comitês nacionais (como estava acontecendo) e propôs a transformação do Império em uma federação.[4] Solicitou novamente a Wilson a paz em separado.[4]
A proposta do Imperador foi mal-recebida pelos políticos húngaros, que consideraram o Ausgleich de 1867, que regia as relações entre as duas partes do império, anulado.[6] A ação por sua vez, levou aos políticos eslovacos e romenos para fazer valer os seus direitos à autodeterminação.[6]
Em 21 de outubro de 1918, no mesmo dia em que recebeu a resposta do presidente estadunidense à exigência da paz austro-germânica, os deputados alemães do império se reuniram como parlamento interino e declararam independência.[6]
Em 28 de outubro de 1918, num golpe sem derramamento de sangue, os checos assumiram a administração da Boêmia e Morávia.[6] No dia seguinte, o Conselho Nacional Eslovaco se mostra favorável a união dos checos e eslovacos e formaram um conselho nacional conjunto em Praga.[6] Em 14 de novembro de 1918, a assembleia nacional elege Masaryk como presidente da nova república, Karel Kramář como primeiro-ministro e Edvard Benes como Ministro das Relações Exteriores.[5]
Em 29 de outubro de 1918, croatas e eslovenos declararam a independência e no dia 19, diante do avanço italiano, proclamam a união com os reinos da Sérvia e Montenegro.[5]
Em 11 de novembro de 1918, Carlos desistiu de seus direitos no território austríaco sem abdicar, no entanto, formalmente.[7] No mesmo dia abandonou Viena e se mudou para um pavilhão de caça em Eckartsau.[5] Dois dias depois fez o mesmo para a Hungria.[7] Em 12 de novembro, o parlamento austríaco proclamou a república e sua integração na nova república alemã.[6]
Em 13 de novembro de 1918, mesmo dia em que a delegação húngara consegue a renúncia dos direitos do imperador em seu refúgio em Eckartsau, o novo governo do Conde Mihály Károlyi assina um armistício em separado com a Entente, em Belgrado.[6] O Imperador aceita antecipadamente a forma de Estado que a Hungria decidir.[6] Em 16 de Novembro de 1918, o Conselho Nacional proclama a República Democrática Húngara.[6]
No final de novembro, os romenos de Bucovina declararam a sua união com o Reino da Romênia e em 1 de dezembro de 1918 fez o mesmo a Transilvânia.[5]
Consequências
[editar | editar código-fonte]Apesar das tentativas do imperador para não abdicar formalmente e manter a possibilidade de recuperar o trono, tanto a nova República Austríaca, tal como a Checoslováquia, aprovaram uma legislação de nacionalização de suas propriedades e anulando seus privilégios políticos.[5]
O desmembramento do império, eliminando assim uma das grandes potências europeias, levou à criação de muitos novos estados com problemas econômicos e rivalidades nacionalistas que foram mantidas durante o período entreguerras. A área passou a início do pós-guerra sob a influência da política francesa e, mais tarde, sob a influência econômica e política alemã.
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Criação da Iugoslávia
- Criação da Tchecoslováquia
- União da Transilvânia com a Romênia
- Partilha do Império Otomano
Referências
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Roucek, Joseph S. (1982). «The Problems connected with the Departure of Karl the Last from Central Europe». East European Quarterly. 15 (4). pp. 453–468