Camal
Camal[1] é uma peça de proteção medieval que consiste num colar ou avental de pescoço, que descaía pelo pelos ombros, feito em malha metálica[2], encontrando-se ligado à peça de armadura que protegia a cabeça, geralmente a barbuda ou mais tarde o bacinete.[3] [4]
Esta peça que ganha particular preponderância na segunda metade do século XIV, surgindo muito ligada ao bacinete.[3]
Com efeito, o próprio cronista português Fernão Lopes deixou anotado que as antigas protecções, conhecidas como barbudas, passaram a chamar-se durante o seu período histórico «bacinete de camal», o que denota a evolução da referida peça de protecção da cabeça, bem como a estreita relação entre ela e o camal.[5]
Etimologia
[editar | editar código-fonte]O substantivo camal provém do provençal, capmal[6], aglutinação dos étimos «cap» (cabeça) e «mal» (malha).
Distinção com o almofre
[editar | editar código-fonte]O almofre [7] (também grafado almafre)[8] distingue-se do camal, na medida em que, ao contrário do camal, que é um colar ou avental, que recobre o pescoço dos militares[4], o almofre é um carapuço flexível de malha metálica, usado pelas tropas medievais, sob o elmo, para proteger a cabeça, o pescoço e, por vezes, também o queixo e a boca.[9][10]
Distinção com o gorjal
[editar | editar código-fonte]Esta peça distingue-se do gorjal, que era uma peça de proteção do queixo, do pescoço e da clavícula do guerreiro, e que de acordo com historiadores como João Gouveia Monteiro e Alvaro Soler del Campo, faz parte do arnês do cavaleiro.[11] Sendo que o gorjal, enquanto peça do arnés, era amiúde feito placas metálicas e não de malha, como o camal.[11]
De tal maneira que o camal e o gorjal podiam ser usados em conjunto.[11] Com efeito, o cronista português Fernão Lopes, quando escreveu sobre a justa do cerco de Benavente, faz menção de um cavaleiro francês, que foi atingido pela lança, e que se encontrava vestido com dois camais e um gorjal. [12]
“ | «E a primeira carreira que coreram, encontrou Maaborny o outro no pescoço; e pero trouuesse dous camaaes e huum gorjall, pasou-lhe todo e teue a llamça da outra parte, e posse-o na pomta della fora da sella» | ” |
Porém, é também defendido por vários historiadores que o gorjal também podia ser feito de malha metálica ou de couro fervido.[13]
Há, por isso, alguma tensão doutrinal entre historiadores, porquanto há aqueles que, ao arrepio do advogado por João Gouveia Monteiro e Alvaro Soler del Campo, afirmam que chegaram a haver gorjais de malha metálica e de couro, socorrendo-se, para o efeito, por exemplo, de menções históricas, como as feitas pelo cronista português Fernão Lopes que, ao descrever o equipamento do defensor de Guimarães, durante o cerco liderado por D. João I, em 1395, mencionou a presença de um cavaleiro com gorjal de malha.[11]
Em todo o caso, há autores modernos, como Paulo Jorge Agostinho, que conciliam estas duas posições defendendo que o gorjal de malha mencionado pelo cronista português se trataria de uma variedade particular, daí que tenha sido mencionada expressamente como «huum gorjall de malha».[11] Assim, sustenta que as duas variedades de gorjal terão coexistido.[11]
Referências
- ↑ «camal». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia
- ↑ S.A, Priberam Informática. «camal». Dicionário Priberam. Consultado em 10 de abril de 2023
- ↑ a b Agostinho, Paulo Jorge Simões (2012). Vestidos para matar : o armamento de guerra na cronística portuguesa de quatrocentos. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 81. 222 páginas. ISBN 978-989-26-0302-5. OCLC 855996399
- ↑ a b Martins, M. G. (2014). A arte da guerra em Portugal: 1245 a 1367. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 237. 571 páginas
- ↑ Agostinho, Paulo Jorge Simões (2012). Vestidos para matar : o armamento de guerra na cronística portuguesa de quatrocentos. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 82. 222 páginas. ISBN 978-989-26-0302-5. OCLC 855996399.
«nos chamamos agora aas barvudas bacinetes de camall»
- ↑ «camal». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia
- ↑ «almofre». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia
- ↑ «almafre». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia
- ↑ Agostinho, Paulo Jorge Simões (2012). Vestidos para matar : o armamento de guerra na cronística portuguesa de quatrocentos. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 81. 222 páginas. ISBN 978-989-26-0302-5. OCLC 855996399
- ↑ Martins, M. G. (2014). A arte da guerra em Portugal: 1245 a 1367. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 231. 571 páginas
- ↑ a b c d e f Agostinho, Paulo Jorge Simões (2012). Vestidos para matar : o armamento de guerra na cronística portuguesa de quatrocentos. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 83. 222 páginas. ISBN 978-989-26-0302-5. OCLC 855996399
- ↑ Agostinho, Paulo Jorge Simões (2012). Vestidos para matar : o armamento de guerra na cronística portuguesa de quatrocentos. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 83. 222 páginas. ISBN 978-989-26-0302-5. OCLC 855996399.
«E a primeira carreira que coreram, encontrou Maaborny o outro no pescoço; e pero trouuesse dous camaaes e huum gorjall, pasou-lhe todo e teue a llamça da outra parte, e posse-o na pomta della fora da sella»
- ↑ Martins, M. G. (2014). A arte da guerra em Portugal: 1245 a 1367. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 237. 571 páginas