Abel Botelho
Abel Botelho | |
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Retrato de Abel Botelho (1889) de António Ramalho (1858-1916). | |
Nome completo | Abel Acácio de Almeida Botelho |
Nascimento | 23 de setembro de 1854 Tabuaço, Portugal |
Morte | 24 de abril de 1917 (62 anos) Argentina |
Nacionalidade | Português |
Ocupação | Escritor, coronel de Estado-Maior do Exército, político e diplomata |
Magnum opus | O Barão de Lavos |
Assinatura | |
Abel Acácio de Almeida Botelho (Tabuaço, 23 de setembro de 1854 — Argentina, 24 de abril? de 1917)[1] foi um coronel de Estado-Maior do Exército, escritor, político e diplomata português. Representante em Portugal do realismo extremo, conhecido como Naturalismo, escreveu, entre outros, o O Barão de Lavos e O Livro de Alda, os dois primeiros títulos da série Patologia Social.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Abel Botelho nasceu em Tabuaço, pequena vila da Beira Alta, a 23 de Setembro de 1854, e faleceu em Buenos Aires, como ministro da República Portuguesa, em 1917. Frequentou o Colégio Militar. Iniciando-se na carreira das armas como simples soldado raso, foi galgando os mais altos postos do Exército, tendo chegado a coronel. Entre outras funções, exerceu a chefia do Estado-Maior da Primeira Divisão Militar (Lisboa). Pertenceu a várias agremiações (Academia das Ciências, Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses, de Lisboa e do Porto, Associação da Imprensa, Sociedade Geográfica de Lisboa, etc.), e foi como um dos delegados dessa última agremiação que esteve em São Paulo, em 1910, por ocasião de um congresso de Geografia. Em 1911 é nomeado ministro da República (embaixador) em Buenos Aires, onde falece em 1917, cargo de grande importância pois a Argentina foi o primeiro país a reconhecer a República Portuguesa após a instauração republicana em 1910.
Sua carreira literária, começou-a em 1885, com um livro de versos chamado Lira Insubmissa.
No ano seguinte, lança Germano, drama em cinco actos, em verso. Proposta à direcção do Teatro Nacional, esta peça foi recusada. Originou-se uma polémica, por causa do artigo que Abel Botelho dirigiu aos responsáveis pela sua não-aceitação. Daí em diante escreverá outras peças de teatro: Jacunda (comédia em três actos; 1895), Claudina (estudo duma neurótica; comédia em três actos, representada no Teatro do Príncipe Real de Lisboa, na festa artística da actriz Lucinda Simões, a 18 de Março de 1890), Vencidos da Vida (peça satírica, representada a 23 de Março de 1892 no Teatro do Ginásio; três actos), Parnaso (peça lírica, em verso, em um acto, escrita para a récita de estudantes, em benefício da Caixa de Socorros a Estudantes Pobres, realizada no Teatro de São Carlos, em 3 de Maio de 1894), Fruta do Tempo (comédia, escrita para a actriz Lucinda Simões; 1904). Sendo de assunto em geral escabroso, delicado, como pedia o Naturalismo, essas peças causavam agitação, especialmente Imaculável, que terminou em arruaças e apupos, e Vencidos da Vida, que não pôde prosseguir em cena pelo que continha de crítica ao grupo literário com o mesmo nome, e por ser considerada imoral, criando-se uma polémica entre Abel Botelho e os responsáveis pela proibição.
Em 1891, Abel Botelho inicia o estudo da sociedade portuguesa na série "Patologia Social", que deveria ser o exame exigente e científico dos males gerais que infestavam Portugal, sobretudo Lisboa, capital e centro urbano de maior prestígio. O primeiro é O Barão de Lavos (1891), supostamente o primeiro romance em português com um enredo homossexual. Seguiu-se-lhe O Livro de Alda (1898), Amanhã (1901), o primeiro romance em português de sempre com um enredo em torno da classe operária e do anarquismo.[2] Posteriormente escreve Fatal Dilema (1907), Próspero Fortuna (1910). Além desses, deixou mais três romances: Sem Remédio… (1900), Os Lázaros (1904), e Amor Crioulo (incompleto e póstumo; seu título anterior era Idílio Triste; 1919) e o livro de contos Mulheres da Beira (1898; anteriormente publicados no Diário de Notícias, entre 1895 e 1896, e que serviu de inspiração para o filme homónimo de 1921). Também colabora em diversas publicações periódicas, nomeadamente nas revistas Brasil-Portugal[3] (1899-1914), Serões[4] (1901-1911), Azulejos[5] (1907-1909) e Atlântida[6] (1915-1920).
Vida pessoal
[editar | editar código-fonte]Abel Botelho casou-se, a 18 de Maio de 1881, com Virgínia de Alcântara Pinto Guedes de Vasconcelos, natural de Lamego, onde pertencia a uma família abastada e cujo pai era coronel do Estado-Maior. O casal não teve filhos.[7]
Curiosidades
[editar | editar código-fonte]- A ele se ficou a dever o projeto gráfico da bandeira da República Portuguesa, em que o verde representa a esperança e o vermelho o sangue derramado pelo povo nas muitas guerras travadas.
- Fez parte da Maçonaria, tendo sido iniciado no Grande Oriente Lusitano Unido em 1910, por comunicação, sob o nome simbólico de Spinosa.[8]
Obras
[editar | editar código-fonte]- Germano (1886)
- Claudina (1890)
- O Barão de Lavos (1891) (edição digital)
- Os Vencidos da Vida (1892)
- Jucunda (1895)
- A Imaculável (1897)
- O Livro de Alda (1898)
- Mulheres da Beira (1898) (contos)
- Sem Remédio (1900)
- Amanhã (1901)
- Os Lázaros (1904) (edição digital)
- Fatal Dilema (1907)
- Próspero Fortuna (1910)
- Amor Crioulo (1913) (eBook)
Referências
- ↑ "Abel, filho legitimo de Luiz Carlos d’Almeida Botelho, natural de Viseu, Freguesia da Sé e de D. Maria Preciosa d’Azevedo Botelho, desta Freguesia, nepto paterno de Christovão Antonio d’Almeida e Costa da Freguesia de Monsanto, Bispado de Castello Branco e de D. Helena Joaquina da Fonseca da Freguesia de Castello Bom, Bispado de Pinhel e materno de Bento d’Azevedo Leitão desta Freguesia, e de D. Maria Bernarda da Freguesia de Fonte arcada, deste Bispado, foi por mim solemnemente baptizado no dia vinte um de Novembro de mil oito centos cincoenta e quatro, tendo nascido a vinte e tres de Septembro do mesmo anno supra; foram Padrinhos seus avós maternos Bento d’Azevedo Leitão e D. Maria Bernarda e testemunhas o Rd.º P.e Antonio Vaz Pereira e o Rd.º P.e Manoel Ribeiro da Fonseca; e para constar fiz este assento que assignamos, O Abb.e Antonio Soares Martinho, P.e Ant.º Vaz Ferr. e P.e Manoel Rib.º da Fon.ca ..." (Fonte: Livro de Baptismos da Freguesia de Tabuaço, concelho de Tabuaço, Ano de 1854, Cx. 14, n.º 3, fl. 91 v.º) in Abel Botelho - Um Assento de Baptismo. Página visitada em 03-01-2014
- ↑ Anselmo Dias (30 de Janeiro de 2014). «A classe operária na literatura». Avante!. Consultado em 17 de Novembro de 2020
- ↑ Rita Correia (29 de Abril de 2009). «Ficha histórica: Brasil-Portugal : revista quinzenal illustrada (1899-1914).» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 26 de Junho de 2014
- ↑ Rita Correia (24 de Abril de 2012). «Ficha histórica: Serões, Revista Mensal Ilustrada (1901-1911).» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 23 de Setembro de 2014
- ↑ Rita Correia (3 de Novembro de 2016). «Ficha histórica: Azulejos : semanario illustrado de sciencias, lettras e artes (1907-1909)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 28 de novembro de 2016
- ↑ Rita Correia (19 de Fevereiro de 2008). «Ficha histórica: Atlantida: mensário artístico, literário e social para Portugal e Brasil» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 17 de Junho de 2014
- ↑ Manuela Martins. «Venha connosco numa viagem pela vida e obra de Abel Botelho». noticiasdetabuaco.pt. Consultado em 31 de março de 2024
- ↑ Mateus, Luís Miguel (2003). Franco-Mações Ilustres nas Ruas de Lisboa. Lisboa: Biblioteca-Museu República e Resistência. p. 70
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Projeto Vercial»
- «Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas»
- Pathologia social: O barão de lavos, Porto, 1898, na Biblioteca Nacional de Portugal
- Nascidos em 1854
- Mortos em 1917
- Nascidos em 1856
- Homens
- Naturais de Tabuaço
- Escritores de Portugal
- Escritores de Portugal do século XIX
- Escritores de Portugal do século XX
- Escritores naturalistas
- Republicanos de Portugal
- Revolucionários de Portugal
- Diplomatas de Portugal
- Embaixadores de Portugal na Argentina
- Oficiais superiores de Portugal
- Alunos do Colégio Militar (Portugal)
- Maçons de Portugal
- Maçons do século XX