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Álvares de Azevedo

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Álvares de Azevedo
Nascimento 12 de setembro de 1831
São Paulo, São Paulo, Império do Brasil
Morte 25 de abril de 1852 (20 anos)
Rio de Janeiro, Império do Brasil
Nacionalidade brasileiro
Ocupação Escritor, contista e poeta
Movimento literário Romantismo (Ultrarromantismo)
Magnum opus Noite na Taverna
 Nota: Para o nobre brasileiro, veja Manuel Antônio Álvares de Azevedo, barão de Itapacorá.

Manoel Antônio Álvares de Azevedo[1] (São Paulo, 12 de setembro de 1831Rio de Janeiro, 25 de abril de 1852), conhecido também como "Maneco" pelos amigos mais próximos, familiares e admiradores de sua obra, foi um escritor da segunda geração romântica (Ultrarromântica, Byroniana ou Mal-do-século), contista, dramaturgo, poeta, ensaísta e expoente da literatura gótica brasileira, autor de Noite na Taverna.[2][3] As obras de Álvares de Azevedo tendem a jogar fortemente com as noções opostas, como amor e morte, sentimentalismo e pessimismo, platonismo e sarcasmo, sendo influenciado por Musset, Chateaubriand, Lamartine, Goethe e, principalmente, Byron.

Filho de Inácio Manoel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Silveira da Motta Azevedo, passou a infância no Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos. Voltou a São Paulo, em 1847, para estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde, desde logo, ganhou fama por brilhantes e precoces produções literárias. Destacou-se pela facilidade de aprender línguas e pelo espírito jovial e sentimental.[4]

Ao longo de seus estudos de Direito, realizou a tradução do quinto ato da peça "Otelo" de Shakespeare e também verteu para o português "Parisina" de Lord Byron. Além disso, foi o fundador da revista Ensaio Filosófico Paulistano em 1849, participou ativamente da Sociedade Epicureia e começou a escrever o poema épico intitulado "O Conde Lopo", do qual apenas fragmentos sobreviveram.

Não concluiu o curso, pois foi acometido de uma tuberculose pulmonar nas férias de 1851-52, a qual foi agravada por um tumor na fossa ilíaca, ocasionado por uma queda de cavalo, falecendo aos 20 anos.[5] No entanto, vale ressalva, a causa mortis do autor é um tema historicamente controverso, com diferentes hipóteses.

A sua obra compreende: Poesias diversas, Poema do Frade, o drama Macário, o romance O Livro de Fra Gondicário, Noite na Taverna, Cartas, vários Ensaios (incluindo "Literatura e civilização em Portugal", "Lucano", "George Sand" e "Jacques Rolla") e Lira dos vinte anos

Suas principais influências são: Goethe, François-René de Chateaubriand, mas principalmente Alfred de Musset.

Figura no cânone da poesia brasileira. Foi muito lido até as duas primeiras décadas do século XX, com constantes reedições de sua poesia e antologias.[6] As últimas encenações de seu drama Macário foram em 1994 e 2001. É patrono da cadeira 2 da Academia Brasileira de Letras.

Entre outras coisas, sua obra é conhecida por revolucionar o tema do erótico na literatura brasileira. Antecipando em um século o que seria feito pelo modernismo, trata do erótico sem subterfúgios, sem requintes retóricos.[7]

Lira dos Vinte Anos

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Álvares de Azevedo.

Lira dos Vinte Anos (inicialmente planejada para ser publicada num projeto — As Três Liras — em conjunto com Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães).[8] é o título da principal obra do autor.

É evidente a explicitação de Álvares de Azevedo na postura consciente do fazer poético, afinal em seus prefácios há um alto grau de conhecimento quanto à proposta ultrarromântica, a qual exibe um certo metarromantismo marcada pelo senso crítico.

É, provavelmente, o primeiro a incorporar o cotidiano na poesia no Brasil, com o poema Ideias íntimas, da segunda parte da Lira. O autor de Lira dos Vinte Anos estabelece valores e critérios a sua obra. Revela-se, assim, uma verdadeira teorização programada.

No segundo prefácio de Lira dos Vinte Anos, o seu autor nos revela a sua intencionalidade e o vincula de tal maneira ao texto poético, que a gratuidade e autonomia perde espaço e revela a intencionalidade do poeta, isto é, explicação de temas, motivos e outros elementos.

Um aspecto característico de sua obra e que tem estimulado mais discussão diz respeito à sua poética, que ele mesmo definiu como uma "binomia", que consiste em aproximar extremos, numa atitude tipicamente romântica. É importante salientar o "Prefácio" à "Segunda parte" de Lira dos Vinte Anos, um dos pontos críticos de sua obra e na qual define toda a sua poética.

Machado de Assis publicou na coluna “Semana Literária” do jornal Diário do Rio de Janeiro de 26 de junho de 1866 uma análise da Lira dos vinte anos. Ali escreveu: “Álvares de Azevedo era realmente um grande talento; só lhe faltou o tempo, como disse um dos seus necrólogos. [...] Era daqueles que o berço vota à imortalidade. Compare-se a idade com que morreu aos trabalhos que deixou, e ver-se-á que seiva poderosa não existia naquela organização rara.” “Em tão curta idade, o poeta da Lira dos vinte anos deixou documentos valiosíssimos de um talento robusto e de uma imaginação vigorosa. Avalie-se por aí o que viria a ser quando tivesse desenvolvido todos os seus recursos”.[9]

O crítico literário português Lopes de Mendonça, num perfil literário de Álvares de Azevedo, escreve: “O jovem poeta não cantava somente para as turbas que se deixassem comover pela harmonia de seus cantos; cantava porque lhe ardia no peito um fogo devorador, porque a sua alma ébria, e palpitante, lhe acendia a imaginação, e como lhe intimava, que traduzisse aos outros, a magia dos seus sonhos, o fervor dos seus desejos, o esplêndido irradiar da sua esperança”.[10]

O jornal niteroiense A Pátria de 16 de maio de 1856, numa “Meditação aos ossos do poeta Álvares de Azevedo”, afirma que “aquele crânio foi um livro de versos sublimes como os de Byron, foi uma página divina de Shakespeare; foi um raio da inteligência de Homero; aquele crânio guardava um cérebro cheio como o de Camões, e constituiu uma cabeça que merecia uma coroa, como a que Tasso teve no Capitólio!”.[9]

Atualmente, a literatura de Álvares de Azevedo tem suscitado alguns estudos acadêmicos, dos quais sublinham-se "O Belo e o Disforme", de Cilaine Alves Cunha (EDUSP, 2000), e "Entusiasmo indianista e ironia byroniana" (Tese de Doutorado, USP, 2000); "O poeta leitor. Um estudo das epígrafes hugoanas em Álvares de Azevedo", de Maria C. R. Alves (Dissertação de Mestrado, USP, 1999); "Álvares de Azevedo: A busca de uma literatura consciente", de Gilmar Tenorio Santini (Dissertação de Mestrado, UNESP, 2007); "Uma lira de duas cordas", de Rafael Fava Belúzio (Scriptum, 2015).

O crítico literário Alexei Bueno faz uma interessante observação sobre a "característica quase esquizoide da alma de Álvares de Azevedo", a dissociação entre sua obra "onde não faltam bebedeiras e orgias altamente byronianas" e sua vida pacata de "excelente e responsabilíssimo aluno, de enorme afeição familiar e provavelmente bastante casto".[11] Essa mesma polarização é problematizada em "Uma lira de duas cordas", obra que faz uma inovadora leitura da recepção crítica do poeta.

Devido a sua morte prematura, todos os trabalhos de Álvares de Azevedo foram publicados postumamente.

Álvares de Azevedo também escreveu muitas cartas e ensaios e traduziu para o português o poema Parisina, de Lorde Byron, e o quinto ato de Otelo, de William Shakespeare.

Homenagem ao poeta pelo Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco.
  • 1831, 12 de setembro – Nascido em São Paulo, na esquina da rua da Feira com a rua Cruz Preta, atuais Senador Feijó e Quintino Bocaiuva.
  • 1831 – Transfere-se para o Rio de Janeiro.
  • 1835 – Morre em 26 de junho seu irmão mais novo, Inácio Manoel, em Niterói, ainda bebê, com menos de dois anos, deixando o futuro poeta profundamente abalado.
  • 1840 – É matriculado no Colégio Stoll, em Botafogo. Seu desempenho rende elogios do proprietário do colégio, o Dr. Stoll: "Ele reúne, o que é muito raro, a maior inocência de costumes à mais vasta capacidade intelectual que já encontrei na América num menino da sua idade".
  • 1844 – Transfere-se para São Paulo, após estudos de francês, inglês e latim volta para o Rio no fim do ano.
  • 1845 – Matricula-se no 5º ano do internato do Colégio Pedro II, no Rio, onde muito sofreu, devido ao gênio folgazão, que o levava a caricaturar colegas e professores.
  • 1846 – Cursa o 6º ano no mesmo colégio, tendo como professor Domingos José Gonçalves de Magalhães.
  • 1847 – Recebe, a 5 de dezembro, o grau de bacharel em Letras.
  • 1848 – Ingressa, a 1 de março na Faculdade de Direito de São Paulo, onde conhece, entre outros, José de Alencar e Bernardo Guimarães.
  • 1849 – Matricula-se no 2º ano. Pronuncia um discurso a 11 de agosto, na sessão comemorativa do aniversário da criação dos cursos jurídicos no Brasil. Passa as férias no Rio, com constantes pensamentos de morte.
  • 1850 – Escreve um romance de 200 e tantas páginas, dois poemas, um em 5 e outro em 2 cantos, ensaios, fragmento de poema em linguagem muito antiga (hoje perdido). A 9 de maio, profere o discurso inaugural da sociedade "Ensaio Filosófico". De volta a São Paulo, matricula-se no 3º ano. Em setembro, suicida-se, por amor, o quintanista Feliciano Coelho Duarte, o poeta faz, a 12 do mesmo mês, o discurso de adeus.
  • 1851 – Cursa o 4º ano. Em 15 de setembro, morre João Batista da Silva Pereira. Passa as férias em Itaboraí, na fazenda do avô.
  • 1852, 25 de abril – Após complicações advindas de uma queda de cavalo, no município de Itaboraí, no trajeto de Visconde para Porto das Caixas, cria-se um tumor na fossa ilíaca que tentou ser retirado segundo alguns biólogos sem anestesia, a ferida infecciona e após 40 dias de febre alta falece, às 17 horas no Rio de Janeiro em casa. É enterrado no dia seguinte, num cemitério na praia vermelha na zona sul do Rio de Janeiro que mais tarde viria a ser destruído pelo mar em ressaca. Segundo biógrafos seu cachorro teria encontrado seus restos mortais. Hoje está sepultado no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro, num mausoléu da família perto dos túmulos de Floriano Peixoto e outros grandes nomes do final do séc. XIX — tendo sido o décimo segundo a ser sepultado nesse cemitério inaugurado em 1854, como consta da primeira página de seu livro de registros.[12]
Túmulo do poeta Álvares de Azevedo (lápide)
  • 1853 Poesias de Manoel Antônio Álvares de Azevedo'Lira dos Vinte Anos e Poesias diversas;
  • 1855 Obras de Manoel Antônio Álvares de Azevedo, primeira publicação da sua prosa (Noite na Taverna);
  • 1862 Obras de Manoel Antônio Álvares de Azevedo, 2ª e 3ª edições, primeira aparição do Poema do Frade e "Terceira parte" da Lira.
  • 1866 O Conde Lopo, poema inédito.

Merece um destaque especial a Lira dos Vinte Anos, composta de diversos poemas. A Lira é dividida em três partes, sendo a primeira e a terceira da Face Ariel e a segunda da Face Caliban. A Face Ariel mostra, supostamente, um Álvares de Azevedo ingênuo, casto e inocente. Já a Face Caliban apresenta poemas irônicos e sarcásticos.

Referências

  1. Como consta da lápide de seu túmulo e de referências ao poeta na imprensa da época, p. ex., no ensaio de Lopes de Mendonça citado adiante.
  2. Jornal de Poesia. «Álvares de Azevedo». Consultado em 27 de março de 2012 
  3. Vilarinho, Sabrina. «Álvares de Azevedo». Brasil Escola. Consultado em 27 de março de 2012 
  4. UOL Educação. «Álvares de Azevedo». Consultado em 27 de março de 2012 
  5. Enciclopédia Itaú Cultural. «Azevedo, Álvares de (1831–1852)». Consultado em 27 de março de 2012 
  6. De fato, na página 3 do jornal político, literário e noticioso A Actualidade de 28/8/1861, lemos: “Álvares de Azevedo ocupa incontestavelmente um lugar mui distinto na nossa literatura. A facilidade com que se esgotou a primeira edição [de sua obra poética, em 3 volumes, pela Garnier], e isto em um país onde aliás poesias de mérito não acham leitores, o interesse com que era procurada a obra, são sinais inequívocos do apreço em que o público tem o poeta.” Jornal acessado em 1/12/2018 na Hemeroteca Digital.
  7. Schargel, Sergio (3 de junho de 2024). «Considerações sobre o erótico na prosa de Álvares de Azevedo». O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira (1): 131–144. ISSN 2358-9787. Consultado em 23 de agosto de 2024 
  8. «Álvares de Azevedo – O poeta ultrarromântico». Mundo Educação. Consultado em 27 de março de 2012 
  9. a b Acessado na Hemeroteca Digital em 1/12/2018.
  10. O Globo, Jornal Comercial, Literário e Político, 10 de abril de 1855, pág. 3.
  11. Alexei Bueno, "A Ideia da Morte em Álvares de Azevedo" em Machado, Euclides & outros monstros, p. 15.
  12. Alexei Bueno, op.cit., pp. 26-7.
  • ALVARES DE AZEVEDO, A. (BUENO). Obra. Nova Aguilar, 2000.
  • CAVALHEIRO, E. Álvares de Azevedo'. Melhoramentos, 1943 (Biografia)
  • RAMOS, P.E.S.(Org.). Poesias Completas de Álvares de Azevedo. Ed. Unicamp, 2002.

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