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Velho do Restelo

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 Nota: Para o filme, veja O Velho do Restelo.
O Velho do Restelo (1904), por Columbano Bordalo Pinheiro no Museu Militar de Lisboa.

Velho do Restelo é uma personagem introduzida por Luís de Camões entre as estrofes 94 e 104 do canto IV da sua obra Os Lusíadas.[1] O Velho do Restelo é variamente interpretado como símbolo dos pessimistas,[2] dos que não acreditavam no sucesso da epopeia dos Descobrimentos Portugueses, e surge na largada da primeira expedição à Índia com avisos sobre a odisseia que estaria prestes a acontecer:[3][4] No episódio, narra-se a partida de Vasco da Gama aos mares (a saída do porto, ainda em Portugal). Um ancião (o Velho do Restelo) põe-se então a acoimar as viagens e os ocupantes das naus, sob o argumento de que os temerários navegadores, movidos pela cobiça de fama, glória e riquezas, procuravam desastre para si mesmos e para o povo português.

Eis a arenga do Velho contra as viagens marítimas:

94
Mas um velho, de aspecto venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só d'experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
95
— "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
96
— "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo digna de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
97
— "A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?
Os Lusíadas, Canto IV, 94-97[5]

Não se sabe ao certo qual o grau de assentimento de Camões à apóstrofe do Velho, havendo certa contradição entre, duma parte, a escrita de uma epopeia de grandes dimensões sobre as navegações, na qual se patenteia claro entusiasmo pelo empreendimento marítimo e, doutra parte, o discurso em questão, bem como alguns outros passos do poema, em que transpiram pessimismo e receio.[6]

Referências

  1. Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto IV, 94-97
  2. Vieira, Gastão, Entrevista, Tangará da Serra, MT: 1 de fevereiro de 2013 .
  3. «Velho do Restelo». Infopédia. Consultado em 2 de maio de 2013 
  4. «Velho do Restelo». CITI. Consultado em 2 de maio de 2013 
  5. «Os Lusíadas de Luís de Camões». Tabacaria. Consultado em 2 de maio de 2013 
  6. de Camões, Luís Vaz. «O Velho do Restelo». Os Lusíadas. PasseiWeb. Consultado em 2 de maio de 2013 
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