Manuel Raimundo de Melo: diferenças entre revisões
vai entender as coisas clericais... |
Vamos bater o recorde de notas, e ainda nem abri os livros católicos e suas doidices... |
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==Contexto histórico do episcopado caetiteense == |
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[[Ficheiro:Henry McCall (by Koehne).jpg|miniaturadaimagem|esquerda|Rev. McCall sua "Escola Americana" foi o pivô da criação do bispado e, depois, da queda do bispo D. Manuel.]] |
[[Ficheiro:Henry McCall (by Koehne).jpg|miniaturadaimagem|esquerda|[[Henry John McCall|Rev. McCall]]: sua "Escola Americana" foi o pivô da criação do bispado e, depois, da queda do bispo D. Manuel.]] |
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A cidade de Caetité era uma ilha de cultura e educação no alto sertão baiano, quando ali se instalou o "Colégio Americano", dentro do espírito missionário presbiteriano do inglês [[Henry John McCall]], com apoio da classe dominante. Como reação, o padre Luiz Pinto Bastos conseguiu instalar ali o ''Instituto São Luiz Gonzaga'', trazendo para a cidade jesuítas [[portugueses]] que, [[Implantação_da_República_Portuguesa#Separação_entre_o_Estado_e_a_Igreja|perseguidos naquele país]], fugiam ao Brasil.{{Nota de rodapé|Perseguidos em Portugal, os jesuítas fugiram para a Espanha, Itália e Brasil; neste último Recife, Salvador e Caetité foram as principais cidades que receberam os sacerdotes na chamada Província Setentrional, então. Dessas cidades partiram para várias outras, como Belém, Baturité, Fortaleza, etc. Permaneceram na cidade baiana até cerca de 1925, quando foi reinstalada ali a [[Instituto de Educação Anísio Teixeira|Escola Normal]].<ref name=abc/>}} Assim, para atender "uma demanda política, principalmente de afirmação da educação católica diante do ensino protestante ou laico", em 1912 instalou-se a escola católica, o que fortaleceu a demanda do padre Bastos pela criação de uma diocese. Assim, a 20 de outubro de 1913, foi expedida a [[Bula pontifícia|bula]] ''Majus animarum bonum'' pelo papa [[Pio X]], autorizando a criação do bispado de Caetité.<ref name=abc>{{citar web|url=https://www.scielo.br/j/pp/a/yNqNsmLXS97NVMgBpC97kZL/?lang=pt |título=Religião e educação: os projetos dos jesuítas portugueses em tempos de exílio no Brasil (1910-1938) |autor=Carlos André Silva de Moura |data=2018 |publicado=Scielo |acessodata=21/1/2024 |língua=en |wayb=20231227185953|urlmorta=}}</ref> |
A cidade de Caetité era uma ilha de cultura e educação no alto sertão baiano, quando ali se instalou o "Colégio Americano", dentro do espírito missionário presbiteriano do inglês [[Henry John McCall]], com apoio da classe dominante. Como reação, o padre Luiz Pinto Bastos conseguiu instalar ali o ''Instituto São Luiz Gonzaga'', trazendo para a cidade jesuítas [[portugueses]] que, [[Implantação_da_República_Portuguesa#Separação_entre_o_Estado_e_a_Igreja|perseguidos naquele país]], fugiam ao Brasil.{{Nota de rodapé|Perseguidos em Portugal, os jesuítas fugiram para a Espanha, Itália e Brasil; neste último Recife, Salvador e Caetité foram as principais cidades que receberam os sacerdotes na chamada Província Setentrional, então. Dessas cidades partiram para várias outras, como Belém, Baturité, Fortaleza, etc. Permaneceram na cidade baiana até cerca de 1925, quando foi reinstalada ali a [[Instituto de Educação Anísio Teixeira|Escola Normal]].<ref name=abc/>}} Assim, para atender "uma demanda política, principalmente de afirmação da educação católica diante do ensino protestante ou laico", em 1912 instalou-se a escola católica, o que fortaleceu a demanda do padre Bastos pela criação de uma diocese. Assim, a 20 de outubro de 1913, foi expedida a [[Bula pontifícia|bula]] ''Majus animarum bonum'' pelo papa [[Pio X]], autorizando a criação do bispado de Caetité.<ref name=abc>{{citar web|url=https://www.scielo.br/j/pp/a/yNqNsmLXS97NVMgBpC97kZL/?lang=pt |título=Religião e educação: os projetos dos jesuítas portugueses em tempos de exílio no Brasil (1910-1938) |autor=Carlos André Silva de Moura |data=2018 |publicado=Scielo |acessodata=21/1/2024 |língua=en |wayb=20231227185953|urlmorta=}}</ref> |
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No ano de 1905 o caetiteense [[Aristides Spínola]], presidente da [[Federação Espírita Brasileira]], funda na cidade o "''Centro Psíquico de Caetité''" contando, dentre outros, com a participação de [[Mário Spínola Teixeira]] (irmão de [[Anísio Teixeira]]), seu cunhado Joaquim Manoel Rodrigues Lima e sobretudo, de João Gumes - um [[polímata]], no dizer de Jeremias Macário.{{sfn|Macário|2005}}<ref name=cincinato>{{citar web|url=https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/BUOS-BA7NDQ |título= Letramentos em uma instância religiosa: o caso do Centro Psychico de Caetité, Bahia (1905-1930) |autor=Joseni Pereira Meira Reis |data=2018 |publicado=Universidade Federal de Minas Gerais |acessodata=16/11/2023 |arquivourl=|arquivodata=|urlmorta=}}</ref> Jamir Guimarães da Silva observa que "João Gumes nasceu em uma família de formação católica, teve uma vida atuante na instituição, tocando instrumentos musicais e entendia latim. No entanto, na vida adulta se tornou espírita, após contato com leituras que abordavam a temática. Possivelmente, Gumes abraçou o espiritismo no início do século XX, haja vista ter ocorrido o último batismo de sua prole em 13 de janeiro de 1906, data do nascimento de sua filha Eponina Zita. A doutrina espírita passou a ser algo frequente em sua vida, marcando inclusive suas produções escritas, a exemplo do romance Seraphina". O pesquisador acrescenta: "A presença de um centro espírita na cidade parecia não incomodar nem aos protestantes presbiterianos, nem aos católicos, pois foi pouco mencionado nas fontes em estudo. O padre jesuíta Antônio Gonçalves relatou a presença do centro espírita em uma de suas cartas e qualificou os espíritas como “uns pobres homens, cheios de ignorancia; mas o certo é que o demonio lá está senhor delles”".<ref name=jamir/>{{Nota de rodapé|O autor manteve a ortografia original da época.}} |
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==Episcopado de D. Manuel == |
==Episcopado de D. Manuel == |
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Segundo registrou Joseph H. S. J. Foulquier, em 1940: "Aos 29 de abril de 1915{{Nota de rodapé|A referência trazia o ano como sendo 1914; como se pode conferir da notícia a seguir, contudo, a posse de D. Manuel se deu em 1915.}} fazia sua entrada solene o seu primeiro bispo Dom Manuel Raimundo de Melo. O primeiro cuidado de S. Ex.cia Re.ma foi consagrar a diocese ao [[Sagrado Coração de Jesus|S. C. de Jesus]] e tratar da fundação do Seminário".{{Nota de rodapé|Transcrito do livro "Jesuítas no Norte: segunda entrada da Companhia de Jesus 1911 – 1940"}}<ref name=jamir>{{citar web|url=https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48135/tde-04032021-160247/publico/JAMIR_GUIMARAES_DA_SILVA_rev.pdf |título=Central Brazil Mission: Conflitos e resistências durante a implantação e a atuação da Escola Americana de confissão de fé presbiteriana no Alto Sertão da Bahia (Caetité, 1900 - 1926) |autor=Jamir Guimarães da Silva |data=2020 |publicado=USP |acessodata=21/1/2024 |língua=|wayb=20210403231931|urlmorta=}}</ref> Em Salvador o jornal "A Notícia" publicava: "Em 29 do mês próximo findo, segundo telegrama, chegou à sua diocese o exm. revm. sr. bispo d. Manoel Raymundo de Mello, sendo recebido muitas léguas antes da cidade, por grande massa popular e vinte e um vigários da sua nova diocese. Durante os dias seguintes houve grandes festas em sua honra, pois o povo daquela zona não sabe como poderá demonstrar o seu júbilo pela criação da diocese".<ref>{{citar periódico|periódico=A Notícia |data=6/5/1915 |número=187 |página=3 |título=Bispo de Caetité: Sua chegada à nova diocese – Brilhante recepção |citação=Exemplar disponível na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional do Brasil. Foi feita a atualização ortográfica }}</ref> No mesmo mês já se confirmava sua participação no Congresso Episcopal em Salvador, convocado pelo arcebispo [[Jerônimo Tomé da Silva|Jerônimo Tomé]], representado sua diocese.<ref>{{citar periódico|periódico=A Notícia |data=31/5/1915 |número=199 |página=3 |título=O congresso episcopal |url=https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=720160&pesq=%22Manuel%20Raymundo%20de%20Mello%22&pasta=ano%20191&hf=memoria.bn.br&pagfis=1212 |acessodata=22/1/2024 |citação=Exemplar disponível na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional do Brasil }}</ref> |
Segundo registrou Joseph H. S. J. Foulquier, em 1940: "Aos 29 de abril de 1915{{Nota de rodapé|A referência trazia o ano como sendo 1914; como se pode conferir da notícia a seguir, contudo, a posse de D. Manuel se deu em 1915.}} fazia sua entrada solene o seu primeiro bispo Dom Manuel Raimundo de Melo. O primeiro cuidado de S. Ex.cia Re.ma foi consagrar a diocese ao [[Sagrado Coração de Jesus|S. C. de Jesus]] e tratar da fundação do Seminário".{{Nota de rodapé|Transcrito do livro "Jesuítas no Norte: segunda entrada da Companhia de Jesus 1911 – 1940"}}<ref name=jamir>{{citar web|url=https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48135/tde-04032021-160247/publico/JAMIR_GUIMARAES_DA_SILVA_rev.pdf |título=Central Brazil Mission: Conflitos e resistências durante a implantação e a atuação da Escola Americana de confissão de fé presbiteriana no Alto Sertão da Bahia (Caetité, 1900 - 1926) |autor=Jamir Guimarães da Silva |data=18/12/2020 |publicado=USP |acessodata=21/1/2024 |língua=|wayb=20210403231931|urlmorta=}}</ref> Em Salvador o jornal "A Notícia" publicava: "Em 29 do mês próximo findo, segundo telegrama, chegou à sua diocese o exm. revm. sr. bispo d. Manoel Raymundo de Mello, sendo recebido muitas léguas antes da cidade, por grande massa popular e vinte e um vigários da sua nova diocese. Durante os dias seguintes houve grandes festas em sua honra, pois o povo daquela zona não sabe como poderá demonstrar o seu júbilo pela criação da diocese".<ref>{{citar periódico|periódico=A Notícia |data=6/5/1915 |número=187 |página=3 |título=Bispo de Caetité: Sua chegada à nova diocese – Brilhante recepção |citação=Exemplar disponível na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional do Brasil. Foi feita a atualização ortográfica }}</ref> No mesmo mês já se confirmava sua participação no Congresso Episcopal em Salvador, convocado pelo arcebispo [[Jerônimo Tomé da Silva|Jerônimo Tomé]], representado sua diocese.<ref>{{citar periódico|periódico=A Notícia |data=31/5/1915 |número=199 |página=3 |título=O congresso episcopal |url=https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=720160&pesq=%22Manuel%20Raymundo%20de%20Mello%22&pasta=ano%20191&hf=memoria.bn.br&pagfis=1212 |acessodata=22/1/2024 |citação=Exemplar disponível na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional do Brasil }}</ref> |
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A memorialista [[Helena Lima Santos]] diz, em outra versão, que o evento se dera porque o bispo "não tardou a tomar conhecimento da doutrina espírita professada pelos Gumes" e "no dia da festa da Padroeira, lançou uma excomunhão, com toda a encenação (sic), proibindo a leitura de "A Pena", por todos os católicos", o que teria causado revolta na população.{{sfn|Santos|1997|p=342|loc=|ps=}} |
A memorialista [[Helena Lima Santos]] diz, em outra versão, que o evento se dera porque o bispo "não tardou a tomar conhecimento da doutrina espírita professada pelos Gumes" e "no dia da festa da Padroeira, lançou uma excomunhão, com toda a encenação (sic), proibindo a leitura de "A Pena", por todos os católicos", o que teria causado revolta na população.{{sfn|Santos|1997|p=342|loc=|ps=}} Ferdinand Azevedo, em estudo de 1986, repetiu parcialmente o que falou Santos: "Dom Manoel não tinha uma personalidade estável e mostrava sinais de excentricidade, desde sua chegada a Caetité. Já estava ele em Caetité alguns anos, quando tomou conhecimento da doutrina espiritista professada por João Antônio dos Santos Gumes, editor do Jornal “A Penna”. O prelado o excomungou numa pastoral lida na festa da Padroeira, em 26 de julho de 1918. Podemos imaginar o estouro criado por essa medida, pois, desde 1905, existia, em Caetité, o Centro Espírita Aristides Spínola. Nem mesmo com a criação da escola para moças o Bispo superaria a reação negativa. Foi com a ajuda das Religiosas do Bom Pastor que Dom Manoel pôde abrir essa escola em 1919. Porém, essa congregação não estava acostumada com atividades educacionais e por isso a escola só funcionou até 1925".<ref name=jamir/>{{Nota de rodapé|Apesar de repetida em várias fontes, nenhum documento comprova ter existido essa "excomunhão", e nem poderia: desde final do século XIX que a Igreja instituiu um procedimento no Direito Canônico abstraindo dos bispos o poder de, ''motu proprio'', proceder à excomunhão. Em Caetité não existe documentação sobre isso e André Koehne, apesar de reconhecer que "a briga foi feia, chegando a dividir a cidade", refutou essa informação em 2005, quando se dizia que a excomunhão de Gumes se estenderia até "a quinta geração".{{sfn|Macário|2005}}}} |
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{{Notas e referências}} |
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== Bibliografia consultada == |
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*{{citar livro|nome=Jeremias |sobrenome=Macário |título=A Imprensa e o Coronelismo no Sertão do Sudoeste |editora=UESB |local=Vitória da Conquista |ano=2005|capítulo=Excomungado |páginas=229 |id=CDD 0798142}} |
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*{{citar livro|nome1=Zélia Malheiro |sobrenome1=Marques|nome2=Marinalva Nunes |sobrenome2=Fernandes |nome3=Maria de F. Novaes |sobrenome3=Pires |título=Diocese de Caetité: 100 anos de fé e missão nas terras sagradas do sertão - Bahia |editora=Eduneb |ano=2013 |páginas=312 |língua=|isbn=9788578871949|ref=harv}} |
*{{citar livro|nome1=Zélia Malheiro |sobrenome1=Marques|nome2=Marinalva Nunes |sobrenome2=Fernandes |nome3=Maria de F. Novaes |sobrenome3=Pires |título=Diocese de Caetité: 100 anos de fé e missão nas terras sagradas do sertão - Bahia |editora=Eduneb |ano=2013 |páginas=312 |língua=|isbn=9788578871949|ref=harv}} |
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*{{citar livro|último=Santos|primeiro =Helena Lima |autorlink=Helena Lima Santos |título=Caetité, "pequenina e ilustre" |editora=Tribuna do Sertão |ano=1997 |capítulo=Os Bispos - Dom Manoel Raimundo de Melo|páginas=395 |língua=|isbn=|ref=harv}} |
*{{citar livro|último=Santos|primeiro =Helena Lima |autorlink=Helena Lima Santos |título=Caetité, "pequenina e ilustre" |editora=Tribuna do Sertão |ano=1997 |capítulo=Os Bispos - Dom Manoel Raimundo de Melo|páginas=395 |língua=|isbn=|ref=harv}} |
Revisão das 00h56min de 23 de janeiro de 2024
Manoel Raimundo de Melo | |
---|---|
Bispo da Igreja Católica | |
Bispo-emérito de Caetité | |
Atividade eclesiástica | |
Diocese | Diocese de Caetité |
Nomeação | 18 de abril de 1914 |
Entrada solene | 19 de março de 1915 |
Predecessor | criação diocese |
Sucessor | Dom Juvêncio de Brito |
Mandato | 1914 - 1923 |
Ordenação e nomeação | |
Ordenação presbiteral | 5 de novembro de 1894 |
Nomeação episcopal | 18 de abril de 1914 |
Ordenação episcopal | 21 de fevereiro de 1915 por Dom Jerônimo Tomé da Silva |
Lema episcopal | Per quem accepimus gratiam et apostolatum |
Brasão episcopal | |
Dados pessoais | |
Nascimento | Capela 4 de fevereiro de 1872 |
Morte | Propriá 11 de março de 1943 (71 anos) |
Nacionalidade | brasileiro |
dados em catholic-hierarchy.org Bispos Categoria:Hierarquia católica Projeto Catolicismo |
Dom Manoel Raimundo de Melo (Capela, 4 de fevereiro de 1872 - Propriá, 1943[1]), foi um religioso católico brasileiro, ordenado bispo pelo então Cardeal Primaz do Brasil, Dom Jerônimo Tomé da Silva. Foi o instalador da Diocese de Caetité, no estado da Bahia.
Após sua resignação, foi nomeado Arcebispo de Stobi.[2][3][nota 1]
Biografia
Dirigiu, em Aracaju, o colégio para meninos São Tomás de Aquino.[5]
Com a chegada do primeiro bispo de Sergipe, D. José Thomaz Gomes da Silva, esse expediu em uma circular ao clero no dia 21 de dezembro de 1911, a viger a partir do dia 1º de janeiro do ano seguinte, no qual passava a direção do "Boletim Diocesano" ao Monsenhor Manuel Raimundo de Melo, passando o periódico a ter formato de revista e a se chamar “A Diocese de Aracaju”, com no mínimo dezesseis páginas e periodicidade mensal.[6] Sua residência ali, à praça Camerino, foi onde o bispo instalou o seminário diocesano “Sagrado Coração de Jesus”, em 1913.[7]
Contexto histórico do episcopado caetiteense
A cidade de Caetité era uma ilha de cultura e educação no alto sertão baiano, quando ali se instalou o "Colégio Americano", dentro do espírito missionário presbiteriano do inglês Henry John McCall, com apoio da classe dominante. Como reação, o padre Luiz Pinto Bastos conseguiu instalar ali o Instituto São Luiz Gonzaga, trazendo para a cidade jesuítas portugueses que, perseguidos naquele país, fugiam ao Brasil.[nota 2] Assim, para atender "uma demanda política, principalmente de afirmação da educação católica diante do ensino protestante ou laico", em 1912 instalou-se a escola católica, o que fortaleceu a demanda do padre Bastos pela criação de uma diocese. Assim, a 20 de outubro de 1913, foi expedida a bula Majus animarum bonum pelo papa Pio X, autorizando a criação do bispado de Caetité.[8]
No ano de 1905 o caetiteense Aristides Spínola, presidente da Federação Espírita Brasileira, funda na cidade o "Centro Psíquico de Caetité" contando, dentre outros, com a participação de Mário Spínola Teixeira (irmão de Anísio Teixeira), seu cunhado Joaquim Manoel Rodrigues Lima e sobretudo, de João Gumes - um polímata, no dizer de Jeremias Macário.[9][10] Jamir Guimarães da Silva observa que "João Gumes nasceu em uma família de formação católica, teve uma vida atuante na instituição, tocando instrumentos musicais e entendia latim. No entanto, na vida adulta se tornou espírita, após contato com leituras que abordavam a temática. Possivelmente, Gumes abraçou o espiritismo no início do século XX, haja vista ter ocorrido o último batismo de sua prole em 13 de janeiro de 1906, data do nascimento de sua filha Eponina Zita. A doutrina espírita passou a ser algo frequente em sua vida, marcando inclusive suas produções escritas, a exemplo do romance Seraphina". O pesquisador acrescenta: "A presença de um centro espírita na cidade parecia não incomodar nem aos protestantes presbiterianos, nem aos católicos, pois foi pouco mencionado nas fontes em estudo. O padre jesuíta Antônio Gonçalves relatou a presença do centro espírita em uma de suas cartas e qualificou os espíritas como “uns pobres homens, cheios de ignorancia; mas o certo é que o demonio lá está senhor delles”".[11][nota 3]
Episcopado de D. Manuel
Segundo registrou Joseph H. S. J. Foulquier, em 1940: "Aos 29 de abril de 1915[nota 4] fazia sua entrada solene o seu primeiro bispo Dom Manuel Raimundo de Melo. O primeiro cuidado de S. Ex.cia Re.ma foi consagrar a diocese ao S. C. de Jesus e tratar da fundação do Seminário".[nota 5][11] Em Salvador o jornal "A Notícia" publicava: "Em 29 do mês próximo findo, segundo telegrama, chegou à sua diocese o exm. revm. sr. bispo d. Manoel Raymundo de Mello, sendo recebido muitas léguas antes da cidade, por grande massa popular e vinte e um vigários da sua nova diocese. Durante os dias seguintes houve grandes festas em sua honra, pois o povo daquela zona não sabe como poderá demonstrar o seu júbilo pela criação da diocese".[12] No mesmo mês já se confirmava sua participação no Congresso Episcopal em Salvador, convocado pelo arcebispo Jerônimo Tomé, representado sua diocese.[13]
Realizações
Em 1915 instalou na cidade o Colégio Imaculada Conceição, de freiras, em sistema de internato para meninas que ali tinham o ensino fundamental e complementar, além de aulas de artes. Em 1919 esse colégio passou a funcionar em prédio próprio, erguido à rua Rui Barbosa, e durou até 1925.[14]
Incidente com o jornal "A Penna"
Editava na cidade João Gumes o jornal "A Penna" e, figura ligada ao espiritismo local, mantinha entretanto bom relacionamento com as várias denominações religiosas e políticas, partidário de Deocleciano Teixeira. Gumes tinha algumas de suas filhas estudando na Escola Americana, e no seu periódico costumava publicar notas sobre a instituição presbiteriana. A situação, contudo, deteriorou-se por completo junto ao bispo quando, na edição de 24 de outubro de 1918, publicou uma nota sobre o encerramento do ano letivo e acrescentou o comentário: “Oxalá se diffundissem pelo sertão numerosas escholas como esta! Certo, a instrucção seria uma outra realidade” - e isto parece haver sido o que faltava para provocar uma reação de D. Manuel, assinante do jornal. Este, então, fez uma carta onde cancelava sua assinatura, escrita já no dia seguinte:[11][nota 6]
- "Senhor João Gumes.
- Bastante maguado pela propaganda systematica e indigna de seu jornal em favôr dos PROTESTANTES, por desdita nossa alojados n’esta cidade episcopal, e que andam quaes aves de arribação, não só com o intuito de derramar a sua heresia como principalmente o de prepararem o espírito de nosso povo na sua maioria inconsciente, afim de darem mais tarde entrada na America do Norte que visa unicamente açambarcar os produtos nossos, como café, cacáo, fumo, assucar, e sem exclusão dos nossos minerios, como ficou demonstrado em Cuba e ilhas Philippinas, eu protesto como Bispo em nome do pôvo catholico desta Diocese contra tal propaganda que considero vil, diabolica e torpes; e Deus permita que este nosso protesto não seja o inicio de uma reação em desafronta. Deixo de devolver-lhe o ultimo nº do referido jornal para poupal-o de uma decepção! não obstante deverá o Senhor suspender a remessa do mesmo para o nosso Paço até que tome juiso o pessoal responsavel da redação, e renuncie o infernal sistema.
- De V. S.ª atento servo do Senhor, Bispo Diocesano"
A memorialista Helena Lima Santos diz, em outra versão, que o evento se dera porque o bispo "não tardou a tomar conhecimento da doutrina espírita professada pelos Gumes" e "no dia da festa da Padroeira, lançou uma excomunhão, com toda a encenação (sic), proibindo a leitura de "A Pena", por todos os católicos", o que teria causado revolta na população.[15] Ferdinand Azevedo, em estudo de 1986, repetiu parcialmente o que falou Santos: "Dom Manoel não tinha uma personalidade estável e mostrava sinais de excentricidade, desde sua chegada a Caetité. Já estava ele em Caetité alguns anos, quando tomou conhecimento da doutrina espiritista professada por João Antônio dos Santos Gumes, editor do Jornal “A Penna”. O prelado o excomungou numa pastoral lida na festa da Padroeira, em 26 de julho de 1918. Podemos imaginar o estouro criado por essa medida, pois, desde 1905, existia, em Caetité, o Centro Espírita Aristides Spínola. Nem mesmo com a criação da escola para moças o Bispo superaria a reação negativa. Foi com a ajuda das Religiosas do Bom Pastor que Dom Manoel pôde abrir essa escola em 1919. Porém, essa congregação não estava acostumada com atividades educacionais e por isso a escola só funcionou até 1925".[11][nota 7]
Homenagens
Em Caetité Dom Manoel é nome de avenida e colégio.
A Academia Caetiteense de Letras dedicou-lhe o patronato da Cadeira 35, que teve por fundador o radialista Luís Pereira Benevides.[16]
Notas e referências
Notas
- ↑ A cidade macedônica de Stobi deixou de existir no século VII, de forma que este deve ter sido um título simbólico ao bispo resignado de Caetité. Tem-se registro remoto de que o bispo Budius de Stobio participou no Concílio de Niceia, no ano de 325, do bispo Eustáquio que ficou registrado num mosaico e do bispo Nicolau no Concílio Ecumênico de Calcedônia de 451 até que, ao final, de um bispo João de Stobi durante o Concílio de Constantinopla de 861 e do seu sucessor, em 692 - após o que as invasões eslavas teriam forçado a retirada dos cristãos e o fim da cidade. O site Catholic Hierarchy, entretanto, coloca a diocese como tendo seu primeiro ocupante D. Manuel Raimundo de Melo, entre 30 de julho de 1923 até sua morte, em 1943, quando então foi sucedido por Roman Richard Atkielski e nenhum outro ocupou o cargo.[4]
- ↑ Perseguidos em Portugal, os jesuítas fugiram para a Espanha, Itália e Brasil; neste último Recife, Salvador e Caetité foram as principais cidades que receberam os sacerdotes na chamada Província Setentrional, então. Dessas cidades partiram para várias outras, como Belém, Baturité, Fortaleza, etc. Permaneceram na cidade baiana até cerca de 1925, quando foi reinstalada ali a Escola Normal.[8]
- ↑ O autor manteve a ortografia original da época.
- ↑ A referência trazia o ano como sendo 1914; como se pode conferir da notícia a seguir, contudo, a posse de D. Manuel se deu em 1915.
- ↑ Transcrito do livro "Jesuítas no Norte: segunda entrada da Companhia de Jesus 1911 – 1940"
- ↑ Publicada em 1918, a carta está em domínio público. Manteve-se a grafia original.
- ↑ Apesar de repetida em várias fontes, nenhum documento comprova ter existido essa "excomunhão", e nem poderia: desde final do século XIX que a Igreja instituiu um procedimento no Direito Canônico abstraindo dos bispos o poder de, motu proprio, proceder à excomunhão. Em Caetité não existe documentação sobre isso e André Koehne, apesar de reconhecer que "a briga foi feia, chegando a dividir a cidade", refutou essa informação em 2005, quando se dizia que a excomunhão de Gumes se estenderia até "a quinta geração".[9]
Referências
- ↑ FlorianópolisO Apóstolo (313 (ano XIV)): 4. 1 de julho de 1943.
Faleceu na cidade de Propriá, Sergipe, o sr. D. Manoel Raimundo de Melo, bispo resignatário de Caetité, Baía
- ↑ «Arcebispos e bispos titulares». Almanach Eu Sei Tudo 1940: 68. 1940. Consultado em 22 de janeiro de 2024.
Disponível na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional do Brasil
- ↑ «Sergipe: necrológio de um arcebispo». A Manhã (497 (ano II)): 1. 24 de março de 1943. Consultado em 22 de janeiro de 2024.
Disponível na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional do Brasil
- ↑ «Stobi (Titular See) Stobensis» (em inglês). Catholic Hierarchy. Consultado em 22 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 11 de agosto de 2023
- ↑ Luís Antônio Barreto (16 de março de 2006). «Na virada do século a demonstração de fé». Serigy: a história de um povo. Consultado em 21 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 21 de janeiro de 2024
- ↑ Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas; Maria José Danta (2008). «Impressos católicos em Sergipe e suas contribuições para a história da educação». Universidade Federal de Sergipe. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (37): 146-147. Consultado em 20 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 20 de janeiro de 2024
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- ↑ a b Macário 2005.
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- ↑ a b c d Jamir Guimarães da Silva (18 de dezembro de 2020). «Central Brazil Mission: Conflitos e resistências durante a implantação e a atuação da Escola Americana de confissão de fé presbiteriana no Alto Sertão da Bahia (Caetité, 1900 - 1926)» (PDF). USP. Consultado em 21 de janeiro de 2024. Cópia arquivada (PDF) em 3 de abril de 2021
- ↑ «Bispo de Caetité: Sua chegada à nova diocese – Brilhante recepção». A Notícia (187): 3. 6 de maio de 1915.
Exemplar disponível na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional do Brasil. Foi feita a atualização ortográfica
- ↑ «O congresso episcopal». A Notícia (199): 3. 31 de maio de 1915. Consultado em 22 de janeiro de 2024.
Exemplar disponível na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional do Brasil
- ↑ Margarete Santos Dias; Rogério Soares Brito; Maria Lúcia Porto Silva Nogueira (2020). «Educação no Alto Sertão da Bahia (1901-1930): análise a partir de "Os Analphabetos"». USP: Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação, Ano 14 – Volume 1 – Janeiro-Junho. Consultado em 19 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 20 de janeiro de 2024
- ↑ Santos 1997, p. 342
- ↑ Institucional (s/d). «Patronos: D. Manoel Raimundo de Melo». Academia Caetiteense de Letras. Consultado em 26 de outubro de 2016
Bibliografia consultada
- Macário, Jeremias (2005). «Excomungado». A Imprensa e o Coronelismo no Sertão do Sudoeste. Vitória da Conquista: UESB. 229 páginas. CDD 0798142
- Marques, Zélia Malheiro; Fernandes, Marinalva Nunes; Pires, Maria de F. Novaes (2013). Diocese de Caetité: 100 anos de fé e missão nas terras sagradas do sertão - Bahia. [S.l.]: Eduneb. 312 páginas. ISBN 9788578871949
- Santos, Helena Lima (1997). «Os Bispos - Dom Manoel Raimundo de Melo». Caetité, "pequenina e ilustre". [S.l.]: Tribuna do Sertão. 395 páginas