Mostrar código-fonte de História da América Latina

{{Multitag|mnot|wkf|ambig|p1=hist-am|data=junho de 2021}}
[[Imagem:PreColumbian American cultures.png|thumb|300px|Mapa da [[América]] indicando as principais [[Região cultural|regiões culturais]] na [[América pré-colombiana]].{{legenda|#4747a1|[[Ártico]]}}{{legenda|#50828e|Noroeste}}{{legenda|#40895d|[[Aridoamérica]]}}{{legenda|#b4581b|[[Mesoamérica]]}}{{legenda|#548434|Área intermediária}}{{legenda|#b1c759|[[Mar do Caribe|Caribe]]}}{{legenda|#b94343|[[Amazônia|Área amazônica]]}}{{legenda|#8b782a|[[América Andina|Área andina]]}}]]

'''A''' '''História da [[América Latina]]''' é o campo de estudos acerca da [[América Latina]] sob a perspectiva da [[História]]. Dos 32º de [[latitude]] [[norte]] aos 54° de [[latitude]] [[sul]], a América Latina cobre 21.173.000 km², ou seja 15,9% das terras emersas.<ref name="CHAUNU 7">{{citar livro|autor=CHAUNU, Pierre|título=História da América Latina||local=São Paulo: Rio de Janeiro|editora=DIFEL|ano=1979|página=7}}</ref> O termo [[América Latina]] é usado para designar os territórios de língua [[Língua castelhana|espanhola]], [[Língua francesa|francesa]] e [[Português brasileiro|portuguesa]] da América.<ref>{{citar web|url=https://brasilescola.uol.com.br/geografia/america-latina.htm|titulo=América Latina}}</ref> A ideia de que uma parte das Américas tem afinidade cultural ou culturas [[Línguas românicas|românicas]] remonta à década de [[1830]], principalmente com os escritos do francês [[Michel Chevalier]], que postulava que essa parte das Américas era habitada por pessoas da "raça latina" (um grupo etnolinguístico [[Línguas indo-europeias|indo-europeu]] identificado pelo uso de [[línguas itálicas]] às quais o [[latim]] pertence) e que poderia, portanto, aliar-se com a "[[Europa latina|Europa Latina]]" em luta com a "Europa Teutônica", a "[[América Anglo-Saxônica]]" e a "[[Europa eslava|Europa Eslava]]".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.pe/books?id=vPacXtsWhewC&redir_esc=y|título=The Idea of Latin America|ultimo=Mignolo|primeiro=Walter|data=2005|editora=Wiley|lingua=en}}</ref>

Posteriormente, a ideia foi retomada por intelectuais e líderes políticos [[latino-americanos]] de meados e do final do {{séc|XIX}}, que não olhavam mais para a [[Espanha]] ou [[Portugal]] como modelos culturais, mas para a [[França]].<ref>McGuiness, Aims (2003). "Searching for 'Latin America': Race and Sovereignty in the Americas in the 1850s" in Appelbaum, Nancy P. et al. (eds.). ''Race and Nation in Modern Latin America''. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 87-107.</ref> O termo atual "América Latina" foi cunhado na França sob {{lknb|Napoleão|III|de França}} e desempenhou um papel em sua campanha para implicar um parentesco cultural com a França, transformando a França em um líder cultural e político da área e instalando [[Maximiliano do México|Maximiliano]] como imperador do México.<ref>{{Citar livro|url=http://archive.org/details/borninbloodfirec00chas_0|título=Born in blood and fire|ultimo=John Charles Chasteen|data=2005|editora=W.W. Norton & Co.}}</ref> Em meados do {{séc|XX}}, especialmente nos [[Estados Unidos]], havia uma tendência de ocasionalmente classificar todo o sul dos Estados Unidos como "América Latina", especialmente quando a discussão se centrava em suas relações políticas e econômicas contemporâneas com o resto do mundo e não apenas em seus aspectos culturais.<ref>{{Citar livro|url=http://archive.org/details/latinamericainte00doze|título=Latin America, an interpretive history|ultimo=Dozer|primeiro=Donald Marquand|data=1962|editora=New York, McGraw-Hill}}</ref><ref>{{Citar livro|url=http://archive.org/details/latinamericansco0000olie|título=Latin Americans; contemporary peoples and their cultural traditions|ultimo=Olien|primeiro=Michael D.|data=1973|editora=New York, Holt, Rinehart and Winston}}</ref>

==História pré-colombiana==
Não há consenso geral sobre a origem dos [[Povos ameríndios|ameríndios]]. A teoria mais aceita é a postulada por Aleš Hrdlička, que, retomando o argumento de Samuel Haven,<ref>Samuel Haven. ''Archaelogy of the United States''. Smithsonian Institute, 1856.</ref> argumentou que os seres humanos haviam entrado na América pelo [[Alasca]], vindos da [[Sibéria]] cruzando o [[Estreito de Bering]]. Acredita-se que a possível data do primeiro povoamento das Américas foi 33.000 anos atrás.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=M4lSAwAAQBAJ&pg=PA406|título=The Oxford Handbook of the Archaeology and Anthropology of Hunter-gatherers|ultimo=Cummings|primeiro=Vicki|ultimo2=Jordan|primeiro2=Peter|ultimo3=Zvelebil|primeiro3=Marek|data=2014|editora=Oxford University Press|lingua=en}}</ref>

O processo de [[sedentarização]] trouxe consigo o surgimento de sociedades cada vez mais complexas e a construção das mesmas. Os povos americanos desenvolveram culturas autônomas originais a ponto de produzir duas [[Revolução neolítica|revoluções neolíticas]] distintas, na [[Mesoamérica]] e nos [[Andes|Andes sul-americanos]], que deram origem a dezenas de civilizações agrocerâmicas. Tais sociedades eram bastante estratificadas. Havia os nobres, os reis, sacerdotes, artesões, agricultores, comerciantes e guerreiros.

=== Mesoamérica ===
A [[Mesoamérica]] é a região cultural do continente americano que inclui a metade sul do [[México]], os territórios da [[Guatemala]], [[El Salvador]], [[Belize]], bem como o oeste de [[Honduras]], [[Nicarágua]] e [[Costa Rica]].

Entre 2000 e 300 a. C., culturas complexas começaram a se formar na Mesoamérica. Alguns amadureceram em civilizações mesoamericanas pré-colombianas avançadas, como os [[olmecas]], [[teotihuacan]], [[Civilização maia|maias]], [[zapotecas]], [[mixtecas]], [[huastecas]], [[Purépechas|purépecha]], [[toltecas]] e [[Civilização asteca|mexicas/astecas]].

Essas civilizações indígenas desenvolveram a construção de templos em pirâmide, [[matemática]],<ref>{{Citar web|url=https://www.lajornadadeoriente.com.mx/columna/puebla/medeinves/las-matematicas-y-la-astronomia-en-la-filosofia-mesoamericana_id_16021.html|titulo=Las matemáticas y la astronomía en la filosofía mesoamericana|acessodata=2020-11-09 |website=www.lajornadadeoriente.com.mx}}</ref> [[astronomia]],<ref>{{Citar web|url=https://www.revistacienciasunam.com/en/105-revistas/revista-ciencias-54/893-la-observacion-astronomica-en-mesoamerica.html#:~:text=Adem%C3%A1s%20de%20los%20planetas,%20los,la%20b%C3%B3veda%20celeste%20dejaron%20registro.&text=Constelaciones%20reconocidas%20por%20los%20mexicas%20seg%C3%BAn%20el%20C%C3%B3dice%20Florentino.|titulo=La observación astronómica en Mesoamérica - Revista Ciencias|acessodata=2020-11-09 |website=www.revistacienciasunam.com}}</ref> [[medicina]],<ref>{{Citar web|url=https://arqueologiamexicana.mx/mexico-antiguo/medicina-y-salud-en-mesoamerica|titulo=Medicina y salud en Mesoamérica|data=2017-01-14|acessodata=2020-11-09 |website=Arqueología Mexicana|lingua=es}}</ref> [[escrita]],<ref>{{Citar web|url=http://www.noticonquista.unam.mx/index.php/amoxtli/1987/1985|titulo=Los sistemas de escritura mesoamericanos|acessodata=2020-11-09 |website=www.noticonquista.unam.mx|lingua=es}}</ref> [[Calendário|calendários de alta precisão]],<ref>{{Citar web|url=https://arqueologiamexicana.mx/calendarios/el-calendario-mesoamericano|titulo=El calendario mesoamericano|data=2016-02-12|acessodata=2020-11-09 |website=Arqueología Mexicana|lingua=es}}</ref> belas artes, agricultura intensiva,<ref>{{Citar web|url=https://arqueologiamexicana.mx/mexico-antiguo/la-agricultura-en-mesoamerica|titulo=La agricultura en Mesoamérica|data=2016-08-26|acessodata=2020-11-09 |website=Arqueología Mexicana|lingua=es}}</ref> engenharia, uma calculadora de ábaco<ref>{{Citar web|url=https://es.globalvoices.org/2015/09/02/nepohualtzintzin-el-abaco-mesoamericano-que-tiene-vigencia-en-el-siglo-xxi/|titulo=Nepohualtzintzin, el ábaco mesoamericano que tiene vigencia en el siglo XXI · Global Voices en Español|data=2015-09-02|acessodata=2020-11-09 |website=Global Voices en Español|lingua=es}}</ref> e teologia complexa onde [[Sacrifícios humanos na América pré-colombiana|sacrifícios humanos]] foram incluídos.<ref>{{Citar web|url=https://arqueologiamexicana.mx/mexico-antiguo/el-sacrificio-humano-en-mesoamerica|titulo=El sacrificio humano en Mesoamérica|data=2017-02-23|acessodata=2020-11-09 |website=Arqueología Mexicana|lingua=es}}</ref> Eles também inventaram a roda, mas ela era usada apenas como um brinquedo.<ref>{{Citar web|url=https://www.revistacienciasunam.com/es/183-revistas/revista-ciencias-33/1715-la-rueda-y-la-vela-en-mesoam%C3%A9rica.html#:~:text=El%20conocimiento%20y%20uso%20de,ruedas%20sostenidas%20por%20unos%20ejes.|titulo=La rueda y la vela en Mesoamérica - Revista Ciencias|acessodata=2020-11-09 |website=www.revistacienciasunam.com}}</ref> Além disso, eles usaram [[cobre]], [[prata]] e [[ouro]] nativos para trabalhar os metais.

Os diversos povos mesoamericanos impuseram sua vontade a outros povos da região para obter benefícios como impostos, territórios, trabalho, etc.<ref name=":0">{{Citar web|url=https://arqueologiamexicana.mx/mexico-antiguo/la-guerra-en-mesoamerica|titulo=La guerra en Mesoamérica|data=2016-07-12|acessodata=2020-11-09 |website=Arqueología Mexicana|lingua=es}}</ref> Um dos principais objetivos da guerra era a captura de vítimas para sacrifícios humanos.<ref name=":0" /><ref>{{Citar web|url=http://www.letraslibres.com/mexico/revista/sacrificio-humano-mito-y-poder-entre-los-mexicas|titulo=Sacrificio humano, mito y poder entre los mexicas|acessodata=2020-11-09 |website=Letras Libres|lingua=es}}</ref>

==== Olmeca ====
[[Ficheiro:Olmeca_head_in_Villahermosa.jpg|miniaturadaimagem|Monumento 1, uma das quatro cabeças colossais encontradas em [[La Venta]], com altura aproximada de 3 metros]]
[[Ficheiro:La_Venta_Altar_5_(Ruben_Charles).jpg|miniaturadaimagem|Altar 5 de La Venta. O bebé jaguar-homem inerte segurado pela figura central é visto por alguns como uma indicação do sacrifício de crianças.]]
A [[Olmecas|cultura olmeca]] floresceu no centro-sul do [[México]] entre aproximadamente 1500 e {{AC|400|x}} e acredita-se que foi a civilização mãe de todas as civilizações mesoamericanas.<ref>{{Citar livro|url=http://archive.org/details/olmecsamericasfi0000dieh|título=The Olmecs : America's first civilization|ultimo=Diehl|primeiro=Richard A.|data=2004|editora=London : Thames & Hudson}}</ref> A civilização olmeca foi constituída principalmente em 3 centros cerimoniais: [[San Lorenzo]], [[La Venta]] e [[Tres Zapotes|Três Zapotes]]. Por volta de {{AC|950|x}}, San Lorenzo provavelmente sofreria um levante interno ou invasão devido à destruição de muitos monumentos ali.<ref>Coe (1967), p. 72.</ref> O declínio de San Lorenzo fez de La Venta o centro olmeca mais proeminente até seu abandono por volta de {{AC|400|x}} A extinção da cultura olmeca ainda é uma questão de estudo. Alguns acreditam que pode ter sido causado por mudanças ambientais que tornaram a terra imprópria para a agricultura.<ref>Diehl, p. 82</ref>

A cultura olmeca foi definida por seu estilo de arte.<ref>Coe (2002), p. 62.</ref> Eles trabalharam um grande número de mídias ([[jade]], argila, [[basalto]] e [[pedra verde]]) sendo em grande parte de tema naturalista. A característica distintiva da cultura olmeca seriam as cabeças colossais.<ref>Diehl, p. 111.</ref>

A cultura olmeca é creditada com a invenção do "derramamento de sangue" (perfurar o corpo de um indivíduo que serviu para manter a estrutura sociocultural e política) e talvez sacrifícios humanos, escrita e epigrafia, o zero e o calendário Mesoamericano, o jogo de bola, além da bússola. Alguns, como o historiador de arte [[Miguel Covarrubias]], postulam mesmo que os olmecas criaram os antecessores de muitas das divindades mesoamericanas mais tardias.<ref>Covarrubias, p. 27.</ref>

=== Civilizações andinas ===
As [[civilizações andinas]] eram sociedades complexas que se estendiam dos Andes, no sul da Colômbia, à [[Argentina]] e ao Chile. A civilização [[Caral]] do Peru é a civilização mais antiga conhecida nas Américas, datando de {{AC|3200|x}}<ref>Rodríguez, Gonzalo (2015). Guerrero, Ricardo; Pease, María Elena, eds. ''Culturas antiguas del Perú: Caral. Hacia la primera civilización de América'' '''1''' (1.ª edición). Lima: Editorial Septiembre S.A.C.</ref> Algumas dessas civilizações andinas avançadas foram os [[Cultura Chavín|Chavín]], os [[Cultura Moche|Mochicas]], os [[Chibchas|Muiscas]], os [[Cultura de Huari|Huari]], os [[Tiauanaco|Tiahuanaco]], os [[Cultura chimu|Chimú]] e os [[Império Inca|Incas]].

Devido ao seu isolamento de outras civilizações, os povos indígenas dos Andes tiveram que apresentar suas próprias, muitas vezes únicas, soluções para os desafios ambientais e sociais.<ref>McEwan, Gordon F. (2006). ''Los incas: nuevas perspectivas'' . Nueva York: WW Norton & Company. págs. 183-185.</ref>

== Período colonial (1492-1808) ==
Na Europa, entre 1475 e 1479 teria lugar a [[Guerra de Sucessão de Castela|Guerra da Sucessão Castelhana]], onde se enfrentariam os partidários de [[Joana de Trastâmara|Joana "a Beltraneja"]] e os de [[Isabel I de Castela|Isabel]]. A derrota dos adeptos de Joana permitiria a ascensão ao trono de Isabel que foi casada com [[Fernando II de Aragão]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=d8lTAAAAcAAJ&dq=Tercerias+de+Moura&hl=pt-BR&source=gbs_navlinks_s|título=Colleccao de livros ineditos de historia portugueza dos reinados de D. Joao I., D. Duarte, D. Affonso V., e D. Joao II publicados ... por Jose Correa da Serra|ultimo=Serra|primeiro=Jose Correa da|data=1792|editora=Offic. da Acad.}}</ref> Com o seu casamento, os reis católicos, [[Isabel de Castela]] e [[Fernando II de Aragão|Fernando de Aragão]], realizaram o primeiro esboço da unidade espanhola.<ref>{{citar web|url=http://www.emdiv.com.br/pt/mundo/asmaravilhas/730-castela-e-leao-espanha.html|título=Castela e Leão - Espanha|data=1º de setembro de 2008|acessodata=21 de janeiro de 2011|publicado=EmDiv}}</ref> Isabel e Fernando receberiam o nome de [[Reis Católicos de Espanha|Reis Católicos]]. Em 1492, os Reis Católicos conquistariam Granada, o último estado muçulmano da [[Península Ibérica]].

Naquela época, o [[mercantilismo]] havia se tornado a escola dominante de economia. Essa ideologia foi caracterizada por uma forte intervenção do Estado na economia. As primeiras teorias mercantilistas desenvolvidas no início do {{séc|XVI}} foram marcadas pelo [[Bulionismo|bullionismo]], pelo qual a riqueza era definida pela quantidade de metais preciosos que se possuía.<ref>{{Citar web|url=https://www.britannica.com/topic/bullionism|titulo=Bullionism {{!}} economics|acessodata=2020-11-10 |website=Encyclopedia Britannica|lingua=en}}</ref> Por sua vez, os indígenas tinham uma concepção diferente dos metais preciosos, o que lhes conferia um sentido religioso.

Esses dois povos desenvolveram-se paralelamente, sem interferências. Entraram em contato no final do {{séc|XV}} por intermédio dos povos ibéricos e das grandes navegações (por causa das guerras entre países europeu, ir para o [[Oriente]] por dentro do território estava se tornando perigoso. Por isso, eles tentaram novas rotas comerciais e acabaram chegando a América). Como na verdade eles queriam chegar a Índia (na [[Ásia]]) para comprar especiarias, acabaram denominando os povos desse "novo mundo" de índios. As especiarias eram utilizadas como métodos de preservação permitindo que os alimentos fossem mantidos em boas condições por mais tempo.<ref>{{Citar web|ultimo=March|primeiro=Fundación Juan|url=https://www.march.es/conferencias/anteriores/voz.aspx|titulo=Audio: Las plantas bajo el dominio del hombre (III): "De los grandes viajes a la hibridación vegetal"|acessodata=2020-11-10 |website=www.march.es|lingua=es}}</ref> Também serviam para dar aos pratos um sabor mais agradável e eram fonte de farmacopeia com algumas propriedades antissépticas, estimulando a digestão e o aparelho respiratório. Aos poucos, as cidades marítimas (Portugal e Espanha) vão forjando instrumentos de navegação em alto mar.<ref name="CHAUNU 10">{{citar livro|título=História da América Latina|autor=CHAUNU, Pierre|editora=DIFEL|ano=1979|local=São Paulo: Rio de Janeiro|página=10|}}</ref>

[[Imagem:Ridolfo Ghirlandaio Columbus.jpg|thumb|esquerda|[[Cristóvão Colombo]], [[Era dos Descobrimentos|descobridor]] da [[América]]]]

[[Imagem:Viajes de colon.svg|thumb|Rotas seguidas por Colombo em suas quatro viagens]]

Para se ir às [[Índia]]s haveria duas soluções.<ref name="CHAUNU 10"/> Os portugueses conceberam uma solução baseada na circunavegação de [[África]]. As várias expedições pela África confirmaram a riqueza do continente. [[Bartolomeu Dias]] demonstraria que era possível chegar ao Oceano Índico duplicando o [[Cabo da Boa Esperança]] em 1488.<ref name="mundoestranho.abril.com.br">{{citar web|url=http://mundoestranho.abril.com.br/historia/pergunta_286540.shtml|título=O que foram as Grandes Navegações?|acessodata=21 de janeiro de 2011|publicado=Mundo Estranho}}</ref>

Por sua vez, os Reis Católicos, após a [[Reconquista]] e a população recuperada das devastações da [[Peste Negra]], puderam dedicar-se ao financiamento de novas rotas de exploração e comércio ultramarinos. Em 1492, os reis decidiram financiar a expedição de [[Cristóvão Colombo]] na esperança de encontrar uma rota que chegasse às Índias navegando para oeste, cumprindo assim o [[Tratado das Alcáçovas-Toledo]], assinado em 1479, que reservava o caminho ao sul para Portugal da África. Em 12 de outubro de 1492, [[Cristóvão Colombo]], que partiu para descobrir [[Japão|Cipango]] e suas montanhas de ouro, as [[índias]] e suas especiarias, chegou à América sem saber.<ref>{{citar web|url=http://cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/d10.html|título=Descobrimento da América|acessodata=21 de janeiro de 2011|publicado=Navegações Portuguesas|autor=GARCIA, Catarina}}</ref> Cristóvão Colombo entraria em contato com os [[Taínos]].<ref>{{Citar web|url=https://www.abc.es/ciencia/abci-tainos-indigenas-encontro-colon-tienen-descendientes-vivos-201802192101_noticia.html|titulo=Los taínos, los indígenas que se encontró Colón, tienen descendientes vivos|data=2018-02-19|acessodata=2020-11-10 |website=abc|lingua=es}}</ref>[[Imagem:Spain and Portugal.png|300px|thumb|[[Meridiano de Tordesilhas]] (rosa) demarcando os territórios a explorar por Portugal e Espanha e o seu antimeridiano (verde)]]
[[Imagem:1500 map by Juan de la Cosa rotated.jpg|300px|thumb|O [[Mapa de Juan de la Cosa]] (1500), mais antiga carta náutica em que as Américas estão representadas<ref name="Anghiera"/>]]
No dia 24 de dezembro de 1492, [[Cristóvão Colombo]] fundava na [[ilha]] de [[Hispaniola]], a atual [[São Domingos (República Dominicana)|São Domingos]], o modesto estabelecimento de [[Natal|Navidad]].<ref>{{citar web|url=http://www.jmarcano.com/mipais/historia/discovery.html|título=Descubrimiento y Colonización de la República Dominicana|publicado=Mi País|língua=espanhol|acessodata=25 de janeiro de 2011}}</ref> Alguns homens e um tosco fortim: o embrião do Império "no qual o sol nunca se punha".<ref name="CHAUNU 15">{{citar livro|autor=CHAUNU, Pierre|título=História da América Latina|local=São Paulo: Rio de Janeiro|editora=DIFEL|ano=1979|página=15}}</ref> Depois, Colombo voltou à [[Espanha]] para aí ser triunfalmente recebido pelos [[Reis Católicos]].<ref name="www.portalsaofrancisco.com.br">{{citar web|url=http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/cristovao-colombo/cristovao-colombo-1.php|título=Cristóvão Colombo|publicado=Site Oficial do Colégio São Francisco|acessodata=25 de janeiro de 2011}}</ref>

Interessava ao espanhol confirmar a posse das terras encontradas na rota das [[Índias]], sobretudo, tendo em vista a inveja do [[Rei de Portugal]], {{lknb|João|II|de Portugal}}. O português há anos que procurava pelo sul o caminho marítimo para a [[Índia]], e o [[Espanha|espanhol]], favorecido pelo acaso, parecia ter ganho num único lance de dados aquilo que anos e anos não haviam ainda proporcionado ao seu vizinho oriental. Para que os confirmassem na posse tranquila das suas novas conquistas e, principalmente, na de quantas esperavam realizar na via aberta por [[Cristóvão Colombo]], os [[Reis Católicos]] voltaram-se para o [[Papa]], a autoridade superior à qual o [[direito público]] da [[Europa]] [[Idade Média|Medieval]] reconhecia o poder de repartir as terras que ainda não pertenciam a qualquer príncipe cristão.<ref name="CHAUNU 15" /><ref name="CHAUNU 16">{{citar livro|autor=CHAUNU, Pierre|título=História da América Latina|local=São Paulo: Rio de Janeiro|editora=DIFEL|ano=1979|página=16}}</ref> Por ventura não havia já o português obtido toda uma série de bulas confirmando seus direitos sobre as costas da [[África]]?<ref>Pela bula ''Aeterni Regis'' de 1481, Portugal obtivera a posse de todas as terras ao sul das [[ilhas Canárias]] e a ocidente da [[Guiné]], a fim de aí propagar a [[fé cristã]].</ref> A ocasião era excelente. Um Papa espanhol, [[Papa Alexandre VI|Alexandre VI]], ocupava o trono pontifício e tinham sido as intrigas dos [[Reis Católicos]], apenas elas, que o haviam guindado a um cargo a que nunca teria ascendido nem pela virtude nem pelo saber.<ref>{{citar web|url=http://veja.abril.com.br/idade/descobrimento/p_060.html|título=Pecados do papa|data=2000|publicado=[[Revista Veja]]|acessodata=25 de janeiro de 2011}}</ref>

A fim de por termo às ameaças [[Portugal|portuguesas]], a diplomacia espanhola obteve, sem dificuldade, da [[Santa Sé|cúria pontifícia]], a publicação de uma série de bulas (4 de maio de 1493), a última das quais, a [[Bula pontifícia|bula]] ''[[bula Inter Coetera|Inter Coetera]]'', fixou de maneira precisa o domínio espanhol e o domínio português.<ref name="www.mundoeducacao.com.br">{{citar web|url=http://www.mundoeducacao.com.br/historiageral/bula-inter-coetera-tratado-tordesilhas.htm|título=Bula Inter Coetera e Tratado de Tordesilhas|publicado=Mundo Educação|acessodata=25 de janeiro de 2011}}</ref> Entre elas traçava uma linha ideal que unia os dois pólos e passava por um ponto a 100 léguas a ocidente das [[ilha]]s de [[Cabo Verde]].<ref name="www.mundoeducacao.com.br"/> A oeste dessa linha, todas as terras descobertas pertenciam a [[Castela]].<ref name="www.mundoeducacao.com.br"/> A solução espanhola triunfava; de modo excessivo, sem dúvida.

O português sentia-se frustrado; o Papado renegava a suas promessas de 1481.<ref name="CHAUNU 16" /> Para acalmar os furores de João II, os [[Reis Católicos]] assinavam, a 7 de junho de 1494, o [[Tratado de Tordesilhas|Tratado de partilha de Tordesilhas]], que modificava ligeiramente em proveito de [[Portugal]] as estipulações das bulas pontifícias.<ref name="Tratado de Tordesilhas">{{citar web|url=http://veja.abril.com.br/historia/descobrimento/tratado-de-tordesilhas.shtml|título=Santa Cruz é nossa|publicado=Revista Veja|acessodata=25 de janeiro de 2011}}</ref> A linha de demarcação era recuada para o ocidente, doravante a 370 léguas de [[Cabo Verde]].<ref name="Tratado de Tordesilhas" /> Foi em virtude das bulas modificadas de 1493 que a [[Espanha]] reclamou sempre a posse integral das Índias castelhanas;.<ref name="Tratado de Tordesilhas" /> foi em virtude dessas bulas modificadas pelo [[Tratado de Tordesilhas]] que os [[portugueses]] fundaram legalmente seus estabelecimentos no [[Brasil]].<ref name="Tratado de Tordesilhas" />
{{Imagem dupla|left|Vicente Yáñez Pinzón.jpg|160|Pedro Álvares Cabral.jpg|155|[[Vicente Yáñez Pinzón]], considerado o descobridor do Brasil por diversos estudiosos, chegou ao [[Cabo de Santo Agostinho (acidente geográfico)|cabo de Santo Agostinho]] no litoral sul de [[Pernambuco]] em 26 de janeiro de 1500<ref name="Anghiera"/>|[[Pedro Álvares Cabral]] desembarcou em [[Porto Seguro]] no litoral sul da [[Bahia]] em 22 de abril de 1500, tornando a região colônia do [[Reino de Portugal]]<ref name="Anghiera"/>}}

Em 26 de janeiro de 1500, o navegador e explorador espanhol [[Vicente Yáñez Pinzón]] atingiu o [[Cabo de Santo Agostinho (acidente geográfico)|cabo de Santo Agostinho]] em [[Pernambuco]], e, aos 22 de abril do mesmo ano, [[Pedro Álvares Cabral]], capitão-mor de expedição portuguesa a caminho das [[Índias]], chegou em [[Porto Seguro]] na [[Bahia]], tornando a região, que ele pensou tratar-se de uma [[Ilha de Vera Cruz|ilha]], uma colônia do [[Reino de Portugal]].<ref name="Anghiera">{{Citar web|url=https://books.google.com.br/books?id=5rIVAAAAYAAJ&hl=pt-BR&source=gbs_navlinks_s|título=Manual de arqueología americana|página=77|idioma=espanhol|autor=Henri Beuchat|acessodata=27-4-2019}}</ref> Em 1501, partiu de Lisboa a primeira expedição lusa de reconhecimento da costa brasileira, expedição esta confiada a [[Américo Vespúcio]] e comandada por [[Gonçalo Coelho]]. A armada avistou no dia 17 de agosto de 1501 o [[cabo de São Roque]] no atual Rio Grande do Norte, já descoberto por Pinzón. Os portugueses seguiram em direção ao sul, percorrendo toda a costa leste do Brasil. Na altura de [[Santa Cruz Cabrália]], depararam-se com dois degredados advindos da esquadra de Cabral, os quais resgataram. Constatariam então que Cabral descobrira não uma ilha, mas sim um trecho de litoral do novo continente. A frota singrou até o cabo de Santa Maria no atual Uruguai.<ref>{{Citar web|url=https://www.cm-mirandela.pt/uploads/writer_file/document/169/3370.pdf|título=D. Manuel I|publicado=CM Mirandela|acessodata=1-5-2019}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://books.google.com.br/books/about/Prel%C3%BAdio_para_uma_hist%C3%B3ria.html?hl=pt-BR&id=z_BNPYRNmyYC&redir_esc=y|título=Prelúdio para uma história: ciência e tecnologia no Brasil|autor=Shozo Motoyama|acessodata=1-5-2019}}</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/arquivos/File/BIBLIOGRAFIACPC/ESPIRAIS/prg4.pdf|título=Bens tombados em Paranaguá|publicado=Secretaria de Estado da Cultura do Paraná|acessodata=1-5-2019}}</ref> Nos anos seguintes, foram construídas na costa brasileira as primeiras [[feitorias portuguesas]], nas regiões de Pernambuco, [[Porto Seguro]] e [[Cabo Frio]], que tinham maior concentração de [[pau-brasil]]. Pernambuco, lugar onde se iniciou a [[Ciclo do pau-brasil|exploração da árvore]], tinha a madeira mais cobiçada no Velho Mundo, o que explica o fato de o pau-brasil ter como principal nome "Pernambuco" em idiomas como o [[:fr:Pernambouc (arbre)|francês]] e o [[:it:Caesalpinia echinata|italiano]].<ref name="Terra_Brasilis">{{citar web|url=http://terrabrasilisdidaticos.com.br/images/stories/revistanucleovivaciencia/conhecendoopaubrasil.pdf|título=Conhecendo o Pau-Brasil: história e biologia|publicado=Terra Brasilis Didáticos|acessodata=21-2-2019}}</ref><ref name="História">{{citar web|url=http://www.sohistoria.com.br/ef2/descobrimento/p6.php|título=Pau-brasil|publicado=Só História|acessodata=28 de junho de 2016}}</ref> Em 1509, [[Diogo Álvares Correia]], atirado à costa, nas proximidades do lugar onde Cabral havia ancorado, firmava um tratado com um chefe indígena e criava uma das primeiras famílias mestiças.<ref>{{citar web|url=http://viagem.uol.com.br/guia/cidade/ilha-de-itaparica.jhtm|título=Águas rasas, mansas e mornas dão um toque especial a essa tranquila ilha da Bahia|publicado=UOL Viagem|acessodata=25 de janeiro de 2011}}</ref> Outro português, [[João Ramalho]], imitava-o na região de [[São Paulo (estado)|São Paulo]].<ref>{{citar web|url=http://www.webartigos.com/articles/38788/1/FAMILIA-RAMALHO/pagina1.html|título=Família Ramalho|autor=ALMEIDA, Djalmira Sá|publicado=Webartigos|acessodata=25 de janeiro de 2011}}</ref> Em 1516, foi construído no litoral pernambucano o primeiro [[engenho de açúcar]] de que se tem notícia na América portuguesa, mais precisamente na [[Feitorias de Igaraçu e na Ilha de Itamaracá|Feitoria de Itamaracá]], confiada ao administrador colonial [[Pero Capico]] — o primeiro "Governador das Partes do Brasil".<ref>{{citar web|url=http://www.ibrac.net/index.php/o-ibrac/historico|título=Um pouco de história|publicado=IBRAC|acessodata=29 de outubro de 2016}}</ref> Em 1526 já figuravam direitos sobre o [[açúcar]] de Pernambuco na Alfândega de Lisboa.<ref name="Jacques">{{citar web|url=https://www.ebiografia.com/cristovao_jacques/|título=Biografia de Cristóvão Jacques|publicado=Ebiografia.com|acessodata=1-5-2017}}</ref> Também em 1526, [[Aleixo Garcia]], desembarcando no atual [[Estado de Santa Catarina]], partia em busca de ouro, à frente de um grupo de índios.<ref>{{citar web|url=http://br.oocities.com/copia_a/500anos2.html|título=A chegada de Caboto à ilha de Santa Catarina e o contato com os nativos|publicado=Oocities|acessodata=25 de janeiro de 2011}}</ref> Modesta e lentamente, esboçava-se, segundo a partilha de Tordesilhas, o Império Português da América.<ref name="CHAUNU 17">{{citar livro|autor=CHAUNU, Pierre|título=História da América Latina|local=São Paulo: Rio de Janeiro|editora=DIFEL|ano=1979|página=17}}</ref> Mas só tardiamente os [[portugueses]], mais interessados pelas perspectivas da [[Índias Orientais]] do que pela exploração do Novo Continente, compreenderam o interesse pelo domínio que o acaso lhes havia dado a ocidente.<ref name="CHAUNU 17"/>

[[Imagem:Amerigo Vespucci.jpg|thumb|200px|[[Américo Vespúcio]]]]

A conquista da [[América]] foi, de início e principalmente, uma façanha espanhola.<ref name="CHAUNU 17"/> Persuadido de que atingira os postos avançados das [[Índias]], [[Cristóvão Colombo]] obstinou-se.<ref name="www.portalsaofrancisco.com.br"/> Voltou por três vezes, acabando por individualizar as costas do [[Mar do Caribe|Mediterrâneo americano]].<ref name="CHAUNU 17"/> Caído em desgraça, morreu sem ter compreendido o seu erro.<ref>{{citar web|url=http://columbus-day.z12.net/christopher-columbus-death.php|título=Christopher Columbus Death|publicado=Columbus Day Online|língua=inglês|acessodata=25 de janeiro de 2011}}</ref> Durante os trinta anos que se seguiram à sua primeira viagem, os [[espanhóis]] apossaram-se das [[Grandes Antilhas]]. [[Américo Vespucci]], que deu o nome ao [[Novo Mundo]],<ref>{{citar web|url=http://www.e-biografias.net/biografias/americo_vespucio.php|título=Biografia de Américo Vespucci|publicado=E-Biografias|acessodata=25 de janeiro de 2011}}</ref> [[Juan Ojeda]], [[Juan de la Cosa]], [[Vasco Núñez de Balboa]], o primeiro a chegar, surpreendidos (25 de setembro de 1513), às margens do [[Oceano Pacífico|Pacífico]], viram surgir um continente novo.<ref>{{citar web|url=http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/colonizacao-da-america/descobrimento-da-america-4.php|título=Descobrimento da América|publicado=Site Oficial do Colégio São Francisco}}</ref>

Na rota das especiarias, não havia já para os espanhóis senão um obstáculo a contornar. Foi essa tarefa que o português [[Fernão de Magalhães]] tentou levar a bom termo por conta do [[Rei da Espanha]] {{nwrap||1519|1521}}.<ref name="CHAUNU 17"/> Da sua aventura, basta que retenhamos o passo decisivo que ela fez dar ao conhecimento do continente e os direitos que outorgou ao senhor sobre as futuras [[Filipinas]], anexo longínquo da [[Nova Espanha]] que se estava esboçando no próximo momento em que Magalhães deixava às costas europeias.<ref>{{citar web|url=http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/filipinas/historia-das-filipinas.php|título=História das Filipinas|publicado=Site Oficial do Colégio São Francisco|acessodata=25 de janeiro de 2011}}</ref>

=== Conquista dos impérios (1519-1550) ===
==== Conquista da Nova Espanha ====
Em 1519 finda a época das sondagens.<ref name="CHAUNU 18">{{citar livro|autor=CHAUNU, Pierre|título=História da América Latina|local=São Paulo: Rio de Janeiro|editora=DIFEL|ano=1979|página=18}}</ref> Desiludidos com as [[Antilhas]], onde não haviam encontrado o procuravam e incapazes de manterem suas plantações com a [[mão-de-obra]] indígena, pois esta com o [[trabalho]] forçado fundia como [[neve]] exposta ao [[sol]],<ref>É difícil calcular a população das [[Antilhas]] ao tempo da Descoberta. O número de {{formatnum:300000}}, apresentado por muitos [[historiador]]es [[estadunidenses|americanos]] (Cf. notadamente A. Curtis Wilgus, pág. 151), carece de base. Era certamente muito mais elevada, devendo, só para [[São Domingos (República Dominicana)|São Domingos]], aproximar-se do meio milhão. Entretanto nessa [[ilha]] já só havia {{fmtn|50000}} em 1510 e {{fmtn|16000}} no início da década de 1930, não restando praticamente [[indígena]]s dez anos depois. O mesmo aconteceu no conjunto das [[Antilhas]] (Cf. P. Chaunu, ''Séville et Atlantique'', t. VIII, 1, pág. 495 e segs.).</ref> atraídos pelos relatos dos [[indígena]]s, desejosos de lhes agradar, e movidos também pela ânsia de conquistar novas almas para [[Cristo]] e ganhar o céu, os [[espanhóis]], enquanto arrancavam riquezas do "Vale de lágrimas", enviaram várias expedições à costa mexicana onde as mesmas se perderam {{nwrap||1517|1519}}.<ref name="CHAUNU 18"/>

Era no coração do mundo [[Povo indígena|índio]] que o [[Espanhóis|espanhol]], doravante, enfrentava as fortes civilizações dos [[planalto]]s.<ref name="CHAUNU 18"/> Nas altas planuras do [[México]] onde as ''[[Sierra Madre|terras frias]]'' se estendem entre os 2000 e os 3000 metros de altitude,<ref>{{citar web|url=http://www.britannica.com/EBchecked/topic-art/379167/2620/The-Sierra-Madre|título=Sierra Madre|publicado=Encyclopædia Britannica Online|língua=inglês|acessodata=26 de janeiro de 2011}}</ref> duas civilizações brilhantes permaneciam ainda justapostas.<ref name="CHAUNU 18"/>
[[Imagem:Aztec Sun Stone Replica cropped.jpg|thumb|esquerda|Réplica da Pedra do Sol - O [[calendário asteca]]]]

A mais antiga, a mais refinada, a [[civilização maia]], originária dos planaltos de [[Anahuac]], fora, pouco a pouco, empurrada para o litoral.<ref>{{citar web|url=http://www.grupoescolar.com/materia/civilizacao_asteca_%7C_1000_ac_a_1500_dc.html|título=Civilização Asteca|publicado=GrupoEscolar.com|acessodata=26 de janeiro de 2011}} {{Verificar credibilidade}}</ref> Mas quando [[Hernán Cortés|Cortés]] desembarcou nas costas mexicanas, os [[astecas]] ampliavam um domínio militar, fundado um século antes.<ref name="CHAUNU 19">{{citar livro|autor=CHAUNU, Pierre|título=História da América Latina|local=São Paulo: Rio de Janeiro|editora=DIFEL|ano=1979|página=19}}</ref> A nossa visão foi muitas vezes confundida pela corte brutal que fixou a hora, talvez sem amanhã, da grandeza asteca.<ref name="CHAUNU 19"/> Era uma cultura áspera em plena evolução a que foi aniquilada pela aventura castelhana.<ref name="CHAUNU 19"/> Faltou-lhe talvez tempo para ultrapassar o estádio de pessimismo sangrento em que se demorava ainda no {{séc|XVI}}.<ref name="CHAUNU 19"/> Uma [[religião]] refinada e bárbara: [[culto]] do Sol e da Lua,{{cf|data=junho de 2022}} culto de um [[panteão]] bizarro,<ref>{{citar livro|autor=SOUSTELLE, Jacques|título=A civilização asteca|local=Rio de Janeiro|editora=Jorge Zahar Editor|ano=2002|página=78}}</ref> dos deuses cruéis que exigem dos seus fiéis sacrifícios sangrentos e que fazem da [[guerra]],<ref name="CHAUNU 19"/> fonte de prisioneiros destinados aos sacrifícios, uma necessidade inerente ao culto.<ref name="CHAUNU 19"/>

A cabeça desse [[estado]] [[militar]] e [[Teocracia|teocrático]], o rei era escolhido no seio de uma família eleita, por um conselho de anciãos.<ref>{{citar web|url=http://www.historiadomundo.com.br/asteca/governo-asteca.htm|título=Governo Asteca - História do Governo Asteca|publicado=História do Mundo|acessodata=26 de janeiro de 2011}}</ref> A terra, base de toda a riqueza, pertencia aos deuses e ao Estado; o [[clã]] repartia o que esses poderes lhe deixavam.<ref name="CHAUNU 19"/> Uma parte da [[mão-de-obra]] era fornecida pelos [[escravo]]s, antigos [[prisioneiro de guerra|prisioneiros de guerra]] ou condenados de [[direito comum]].<ref>{{citar web|url=http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/civilizacao-asteca/sociedade-asteca.php|título=Sociedade Asteca|publicado=Site Oficial do Colégio São Francisco|acessodata=26 de janeiro de 2011}}</ref> A técnica não havia ainda atingido a [[idade do ferro]].<ref name="CHAUNU 19"/>

[[Imagem:Hernán Cortés anónimo.jpg|thumb|Hernán Cortés, Museo Naval, Madrid]]

Para se impor aos [[astecas]], Diogo Velázquez, [[governador]] de [[Cuba]], recorreu a [[Hernán Cortés]], o mais belo tipo de ''[[conquistadores|conquistador]]''.<ref>{{citar web|url=http://www.infoescola.com/espanhol/hernan-cortes-invasao-imperio-asteca/|título=A invasão de Hernán Cortés ao império de Montezuma|autor=SALEME, Roseliane|data=10 de dezembro de 2009|publicado=Info Escola|acessodata=26 de janeiro de 2011}}</ref>

Nascido na [[Estremadura (Espanha)|Estremadura]], em 1485,<ref name="www.algosobre.com.br">{{citar web|url=http://www.algosobre.com.br/biografias/hernan-cortes.html|título=Hernán Cortés|publicado=Algosobre.com.br|acessodata=26 de janeiro de 2011}}</ref> [[Hernán Cortés]] era da pequena [[nobreza]];<ref>{{citar web|url=http://www.emdiv.com.br/pt/mundo/asmaravilhas/313-a-conquista-da-america-espanhola.html|título=A Conquista da América Espanhola|data=12 de agosto de 2008|publicado=EmDiv|acessodata=26 de janeiro de 2011}}</ref> a [[família]] enviou para [[Salamanca]] a fim de cursar [[Direito]],<ref>{{citar web|url=http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/HernaCor.html|título=Hernán Cortés|publicado=Só Biografias|acessodata=26 de janeiro de 2011}}</ref> mas, chamado irresistivelmente pela carreira das [[armas]], embarcou para [[Hispaniola]] onde se revelou [[homem]] audacioso e sociável.<ref name="CHAUNU 19"/> Dotado de indomável [[energia]] e de uma confiança absoluta no seu destino, Cortés aliava à paixão da [[riqueza]] uma [[fé]] ardente à maneira [[Espanha|espanhola]].<ref name="CHAUNU 19"/>

O indivíduo afirma-se em todo o lado do modo mais agressivo.<ref name="CHAUNU 19"/> Destituído por Velásquez, Cortés antecipa a sua partida de [[Santiago de Cuba|Santiago]] (18 de novembro de 1518) e passa três meses ao longo do [[litoral]] de [[Cuba]], completando as suas forças nos próprios domínios de seu chefe, sem que ousem resistir-lhe, de tal forma o sabem homem disposto a agir sem escrúpulos,<ref name="CHAUNU 19"/> de tal forma também o espaço americano, no alvorecer do {{séc|XVI}}, é pouco permeável a uma autoridade central.<ref name="CHAUNU 20">{{citar livro|autor=CHAUNU, Pierre|título=História da América Latina|local=São Paulo: Rio de Janeiro|editora=DIFEL|ano=1979|página=20}}</ref>

Os meios de que dispõe podem parecer insignificantes: onze [[navio]]s de cerca de 100 [[tonelada]]s e seiscentos soldados que não são todos [[espanhóis]].<ref>{{citar web|url=http://www.revistamuseu.com.br/naestrada/naestrada.asp?id=19909|título=Expo Caminhos da Fé|publicado=Revista Museu|acessodata=26 de janeiro de 2011}}</ref> Cem [[Canhão|canhões]], dezesseis [[cavalo]]s,<ref>{{citar web|url=http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/2027594|título=Os Astecas|publicado=Recanto das Letras|acessodata=26 de janeiro de 2011}}</ref> dois [[intérprete]]s. Seus trunfos: a superioridade técnica, o terror que incutem nas [[alma]]s simples as armas brancas de ferro e aço, as [[Arma de fogo|armas de fogo]], os cães e os [[cavalo]]s, as divisões intestinas dos adversários, e sobretudo o ardor das [[tropa]]s [[Espanha|espanholas]], a superioridade do chefe.<ref name="CHAUNU 20"/>

[[Imagem:Ruta de Cortés.svg|thumb|500px|esquerda|Conquista do México 1519-1521]]

Em fevereiro de 1519, [[Hernán Cortés|Cortés]] desembarca na costa da [[Península de Iucatã]].<ref name="www.algosobre.com.br"/> Informado da riqueza do [[Império asteca]] de [[Montezuma]], decide atacá-lo contra o parecer dos seus, após ter tomado a precaução de se fazer reinvestir pela municipalidade de [[Veracruz (cidade)|Vila Rica de Vera Cruz]], recém fundada.<ref name="www.algosobre.com.br"/> Depois de um reide épico através do país onde, como [[Júlio César|César]], soube jogar com a desunião dos [[indígena]]s e os ódios suscitados pelo domínio asteca, penetra a 8 de novembro de 1519 em [[Tenochtitlán]] ([[México]]), isolada no centro de sua [[laguna]].<ref>{{citar web|url=http://www.ahistoria.com.br/batalha-cerco-a-tenochtitlan-guerra/|título=A História da Batalha e Cerco a Tenochtitlán (Guerra)|publicado=A História|acessodata=26 de janeiro de 2011}}</ref> Apodera-se de Montezuma, volta a [[Veracruz (cidade)|Veracruz]] para afastar o perigo de uma contra expedição enviada por Velázquez mas, ao regressar a [[Tenochtitlán]] não consegue dominar uma revolta geral dos [[indígena|índios]], indignados com a avidez e o espírito iconoclasta dos seus novos senhores.<ref name="www.dhi.uem.br">{{citar web|url=http://www.dhi.uem.br/publicacoesdhi/janus/04.html|título=O outro lado da História: Traumas da conquista|autor=COELHO, Eva S.|data=julho de 1998|publicado=Revista de História e Ciências Sociais da Universidade de Maringá|acessodata=26 de janeiro de 2011}}</ref> Cortés, com muita dificuldade, consegue sair da [[cidade]] por uma de suas saídas, mas perde um terço de seu [[exército]], na célebre ''noche triste''.<ref name="www.dhi.uem.br"/> Alguns dias depois, em [[Otumba]], por um momento parecia inevitável o aniquilamento dos [[espanhóis]], sempre perseguidos, mas Cortés acabou vencendo ([[batalha de Otumba]]) e, ajudado por seus aliados de [[Tlaxcala]], apresenta-se novamente ante [[Tenochtitlán]], cujo [[Cerco de Tenochtitlan|cerco]] e destruição assinalaram um dos acontecimentos mais trágicos da [[História da América|história americana]].<ref name="www.dhi.uem.br"/>

O [[Império Asteca|Império de Montezuma]], graças à posição central, serve de ponto de partida de novas conquistas para o [[sul]] e para o norte. Para o sul, onde [[Pedro de Alvarado]], [[Cristóbal de Olid]] e o próprio Cortés procuram estabelecer ligação com as posições do istmo, enquanto no México as intrigas se desenvolvem contra o governador todo-poderoso. 1526: Cortés é substituído por um funcionário, o frouxo [[Luís Ponce de León]]. O marquesado do [[vale de Oaxaca]] e uma prodigiosa fortuna não bastam para o consolar. Na [[Nova Espanha]], entretanto, a era dos conquistadores terminou. No dia 13 de dezembro de 1527 a primeira ''audiência'' de [[Nova Espanha]] é instalada e a conquista cede o lugar à organização.<ref name="CHAUNU 21">{{citar livro|autor=CHAUNU, Pierre|título=História da América Latina|local=São Paulo: Rio de Janeiro|editora=DIFEL|ano=1979|página=21}}</ref>

Mas prolonga-se para o norte, em busca aí, também, das riquezas mais ou menos míticas que, depois de haverem lançado os [[espanhóis]] através do [[Oceano Atlântico|Atlântico]], os conduziram ao [[Continente]].<ref name="CHAUNU 21"/> Nas [[Litoral|costas]] da atual [[Califórnia]], [[w:es:Francisco de Ulloa|Francisco de Ulloa]] segue, em 1539, na esteira de um Cortés envelhecido.<ref>{{citar web|url=http://famousamericans.net/franciscodeulloa1/|título=Francisco de Ulloa|publicado=FamousAmericans.net|língua=inglês|acessodata=26 de janeiro de 2011}}</ref> Em demanda das "sete Cidades", de [[Quivira e Cíbola|Cibola, de Quivira]], ou de outros [[país]]es do [[Norte]], mais ou menos fabulosos, partiram muitos e nem todos voltaram. Um Nuño Beltrán de Guzmán {{nwrap||1529|1530}}, um [[Álvar Núñez Cabeza de Vaca|Nuñez Cabeza de Vaca]] (1539-42), um [[Hernando de Soto (explorador)|De Soto]], mais hábil — durante os seus périplos através do sudeste dos atuais Estados Unidos - na caça ao índio do que na descoberta do ouro, todos mais ou menos felizes, todos impelidos pelo "mesmo sonho heroico e brutal".<ref name="CHAUNU 21"/>

==== Conquista da Nova Castela ====
[[Imagem:Cedulas1534-1539.png|thumb|Divisão das [[Império Espanhol|colônias espanholas]] em governos ([[Governo de Nova Andaluzia|Nova Andaluzia]], [[Governo de Nova Leão|Nova Leão]], [[Governo de Nova Castela|Nova Castela]], [[Governo de Nova Toledo|Nova Toledo]]) criados por [[Real cédula|reais cédulas]] entre 1534 e 1539]]

A conquista de Nova Castela, entendendo-se por tal não apenas o [[Peru]], mas praticamente toda a [[América do Sul]] espanhola, oferece analogias profundas com a conquista da [[Nova Espanha]].<ref>{{citar web|url=http://www.kalipedia.com/historia-peru/tema/gobernaciones.html?x=20080607klphishpe_15.Kes&ap=4|título=Las gobernaciones|publicado=Kalipedia.com|acessodata=28 de janeiro de 2011}}</ref> O mesmo móbil: a procura do ouro, mais brutal ainda, sem uma nota de idealismo religioso. Uma personalidade poderosa: [[Francisco Pizarro]]. Um Estado a vencer: o Império Inca; duas fortes culturas indígenas a esmagar: a cultura [[Incas|incaica]] e a cultura [[Chibchas|chibcha]].<ref name="CHAUNU 21"/>

Nos altos vales da atual [[Colômbia]], a civilização inca permanece a grande civilização dos [[Andes]] colombianos, a civilização dos [[planalto]]s por excelência e que acaba por se estender ao conjunto da cordilheira andina, desde o [[Equador]] ao norte do [[Chile]] e cujo berço se encontra algures no corredor que se estende, a mais de {{fmtn|3000}} metros de altitude, de [[Chaco]] ao [[Lago Titicaca|Titicaca]].{{cf|data=junho de 2022}} O [[Império Inca]] é potência teocrática, sobre a qual a classe sacerdotal exerce uma autoridade quase ilimitada.<ref>{{citar web|url=http://www.smartkids.com.br/especiais/maias-incas.html|título=Especial sobre Maias e Incas para crianças|publicado=SmartKids.com.br|acessodata=31 de janeiro de 2011}}</ref>

E, simultaneamente pela sua organização econômica e social, pelo seu organismo agrário de estado e pela amplitude dos trabalhos coletivos realizados que a civilização incaica nos impressiona.<ref name="CHAUNU 21"/> A terra estava dividida em três partes desiguais: uma reservada ao deus solar, outra ao rei a terceira ao povo. Cada família recebia um lote proporcional às suas necessidades.<ref name="CHAUNU 22">{{citar livro|autor=CHAUNU, Pierre|título=História da América Latina|local=São Paulo: Rio de Janeiro|editora=DIFEL|ano=1979|página=22}}</ref> A propriedade individual do solo não existia; força e [[fraqueza]].<ref name="CHAUNU 21"/> Força porque o regime incaico permitiu a realização de prodigiosos [[Trabalho (economia)|trabalhos]] de ordem coletiva, palácios, templos, rede de estradas pavimentadas, fortalezas em pontos estratégicos, culturas em degraus, [[aqueduto]]s para abastecimento das cidades e [[irrigação]];{{cf|data=junho de 2022}} fraqueza talvez porque preparasse um povo de [[camponês|camponeses]] dóceis para se submeter a todas as exigências, isto é, para mudar de senhores.<ref name="CHAUNU 22"/>

[[Imagem:Francisco-Pizarro-um1540.png|esquerda|thumb|Francisco Pizarro em seus aparentes 40 anos de idade]]

[[Francisco Pizarro]] era um [[bastardo]], [[analfabeto]],<ref>{{citar web|url=http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/tupac_amaru2.htm|título=Tupacamaru: Nativismo e Independência|autor=SCHILLING, Voltaire|publicado=Terra Educação|acessodata=31 de janeiro de 2011}}</ref> da [[Estremadura (Espanha)|Estremadura]].<ref name="www.passeiweb.com">{{citar web|url=http://www.passeiweb.com/saiba_mais/biografias/f/francisco_pizarro|título=Francisco Pizarro - Passeiweb|publicado=Passeiweb.com|acessodata=31 de janeiro de 2011}} {{Verificar credibilidade}}</ref> No [[Panamá]] ouvira falar das riquezas do país inca. Com a ajuda de dois aventureiros, Diego Almagro, analfabeto como ele,<ref>{{citar web|url=http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_1873.html|título=Don Diego de Almagro
|publicado=NetSaber.com.br|acessodata=31 de janeiro de 2011}} {{Verificar credibilidade}}</ref> e ainda mais ambicioso e feroz, se é possível, e [[Hernando de Luque]], organizou expedições para o sul.<ref>{{citar web|url=http://educacao.uol.com.br/historia/imperio-inca.jhtm|título=Da guerra civil a Francisco Pizarro|autor=TURCI, Érica|publicado=UOL Educação|acessodata=31 de janeiro de 2011}} {{Verificar credibilidade}}</ref> Sem apoio das autoridades do istmo, malograram.<ref name="CHAUNU 22"/> Passando por cima da hostilidade da administração local, Pizarro voltou à Espanha obteve do Imperador, a 26 de julho de 1529, uma "capitulação" em regra, que o investiu na missão de anexar ao domínio espanhol o Império Inca,<ref name="www.passeiweb.com"/> e lhe conferiu plenos poderes sobre uma faixa de território de 200 léguas de largura a partir da costa. Almagro não foi tão bem aquinhoado.<ref name="CHAUNU 22"/> A partilha de 1529 trazia em si a promessa de querelas futuras.<ref name="CHAUNU 22"/>

Pizarro deixou o Panamá em janeiro de 1531 com 180 homens e trinta e sete cavalos,<ref>{{citar web|url=http://www.ibc.gov.br/media/common/Livros_Adaptados_IBC_PNLD_2004_b_historia_8serie_Para_Compreender_a_Historia_1%C2%AC%20Parte.txt|título=Para Compreender a História 8ª série -- Ensino Fundamental|autor=MOCELLIN, Renato|data=1997|publicado=Site Oficial do Instituto Benjamim Constant|acessodata=31 de janeiro de 2011}}</ref> ainda menos do que [[Hernán Cortés|Cortés]], para um país mais vasto e de acesso mais difícil: um planalto de 3 a {{fmtn|3500|m}} de altitude, fechado entre [[cordilheira|cadeias de montanhas]] de mais de {{fmtn|6000|m.}}<ref name="CHAUNU 22"/> E, no entanto, Pizarro conseguiu em dois anos, pela astúcia e pela violência, derrubar o Império Inca.<ref name="www.passeiweb.com"/>

Para se tornarem senhores do país, os espanhóis precisaram de dez anos ensanguentados pela [[guerra civil]]. Pizarro e Almagro sucumbiram. Foi assim aberto o campo à autoridade real para colher os frutos da aventura de Pizarro, tal como, dez anos antes, colhera os frutos da aventura de Cortés na [[Nova Espanha]].<ref name="CHAUNU 22"/><ref name="CHAUNU 23">{{citar livro|autor=CHAUNU, Pierre|título=História da América Latina|local=São Paulo: Rio de Janeiro|editora=DIFEL|ano=1979|página=23}}</ref>

[[Imagem:Buenos Aires shortly after its foundation 1536.png|thumb|Buenos Aires pouco após sua fundação, em 1536]]

O papel que desempenhou ao norte o submetido [[Império Asteca]] desempenhou-o ao sul o Império Inca, base das entradas de Belalcazar, Federmann, Orellano, construtores prestigiosos das [[Índias]] de [[Castela]], enquanto, para atingir mais facilmente as riquezas do [[Peru]], [[Pedro de Mendoza]] fundava, pela primeira vez, [[Buenos Aires]] (1536).<ref>{{citar web|url=http://www.mibuenosairesquerido.com/Argentina7.htm|título=História da Argentina|publicado=Mi Buenos Aires Querido|acessodata=31 de janeiro de 2011}}</ref>

Pelo ano de 1550, a conquista do continente estava praticamente acabada do lado espanhol. O português não ocupa ainda senão uma estreita faixa ao longo Atlântico; entre os Andes, coração das Índias de Castela e à borda do [[planalto brasileiro]], persiste um imenso hiato, a tal ponto que, no decurso dos séculos que se seguem, os portugueses levam a fronteira do seu Império, sem guerra aberta, a vários milhares de quilômetros para além da [[linha de Tordesilhas]].<ref name="CHAUNU 23"/> O Araucano resiste e resistirá até ao {{séc|XIX}}.{{cf|data=junho de 2022}} A [[Patagônia]], os próprios Pampas permanecem durante muito tempo como feudo dos os índios selvagens.<ref name="CHAUNU 23"/> A segunda metade do {{séc|XVI}} e os séculos posteriores verão a Nova Espanha estender-se pela [[Flórida]], pela [[Califórnia]], pelo [[Novo México]].<ref>{{citar web|url=http://www.nps.gov/archive/jeff/lewisclark2/circa1804/heritage/SpanishInfluence/SpanishInfluence.htm|título=Spanish contributions to North America, 1492-1898|publicado=Site Oficial do Serviço Nacional de Parques|língua=inglês|acessodata=31 de janeiro de 2011}}</ref> Mas, em 1550, a parte principal da obra está realizada. Encerrado o século dos [[conquistador]]es, principiam a organização e a exploração da conquista.<ref name="CHAUNU 23"/>

==== Caraterísticas da conquista ====
Os [[Península Ibérica|ibéricos]], sobretudo os [[espanhóis]], percorreram em todos os sentidos, em trinta anos de 1519 a 1550, com 24 milhões de km² de um [[território]] cujos [[Fronteira|limites]] estavam quase definitivamente marcados.<ref name="CHAUNU 23"/>

[[Imagem:Francisco de Orellana1.JPG|thumb|esquerda|[[Francisco de Orellana]]]]

Prodigiosa rapidez a dessa aventura, levada a efeito com meios insignificantes. [[Hernán Cortés|Cortés]] lançou-se ao assalto do [[Império Asteca]] com seiscentos homens; [[Francisco Pizarro|Pizarro]] iniciou-o com [[cento e oitenta]] homens. Os outros grandes devoradores de espaços nunca tiveram sob as suas ordens mais do que um punhado de [[aventureiro]]s; e com esses [[exército]]s insignificantes venceram as [[cilada]]s de um [[território]] desconhecido, hostil e que não foi concebido numa escala humana: Pizarro passa das [[planície]]s doentias do [[litoral]] aos [[planalto]]s do [[Sertão (conceito)|interior]].<ref name="CHAUNU 23"/> [[Francisco de Orellana]] percorre dezenas de milhares de [[légua]]s através das [[floresta Amazônica|florestas da Amazônia]], enfrentando-se constantemente com o desconhecido. 

Essa conquista foi realizada contra [[povo]]s indígenas, no centro da [[América do Sul]] e nas ilhas, mas também contra povos que haviam chegado a um alto grau de complexidade e de [[organização social]], como os [[Incas]]. Luta de alguns punhados de homens famintos e esgotados pela [[fadiga]] contra multidões, conquista total a que se seguiu em toda a parte o aniquilamento completo das [[cultura]]s [[Povo indígena|indígenas]] e das suas respetivas [[Organização política|organizações políticas]]. Talvez mais do que pela sua superioridade técnica, esse desfecho explica-se pela superioridade dos homens.<ref name="CHAUNU 24">{{citar livro|autor=CHAUNU, Pierre|título=História da América Latina|local=São Paulo: Rio de Janeiro|editora=DIFEL|ano=1979|página=24}}</ref>

Superioridade de alguns indivíduos que arrastam [[exército]]s ávidos. A conquista das [[Índias]] é, por excelência, a obra da ''Virtú''. Realiza-se à margem e quase sempre contra a vontade das nascentes [[Administração|administrações]] [[Colónia (história)|coloniais]], e, no caso de [[Hernán Cortés|Cortés]], contra a própria vontade do [[Rei]]. Só a iniciativa individual pôde levar a cabo a obra da conquista, num {{séc|em}} que a distância de meses, de um ano, e por vezes mais, separa a [[Europa]] da [[América]].<ref name="CHAUNU 24"/>

Mais do que a paixão da [[aventura]], e do que o zelo missionário, o motor da conquista foi a ânsia do lucro. Tal como [[Cristóvão Colombo]], os ''conquistadores'' partiram em busca das [[montanha]]s de [[ouro]] que recuavam para is limites do [[horizonte]] e que finalmente, os levaram até o fim do mundo. Agitando essa [[miragem]] que eles mesmo perseguiam, conseguiram atrair às fileiras das suas expedições os milhares de [[homem|homens]] vigorosos e rudes com os quais percorreram e conquistaram as [[Índias]]. Os [[Povo indígena|índios]] quer pelo desejo de agradar a um senhor temido, quer pelo desejo de ver seguir para longe um hóspede incômodo, contribuíram para atirar o [[espanhóis|espanhol]] cada vez mais longe para o [[Sertão (conceito)|interior]] atrás do seu sonho: [[ouro]] [[Astecas|asteca]], ouro [[Incas|inca]], miragens do Norte, miragens do Sul, ''Siete Ciudades'' aqui, ''[[El Dorado]]'' acolá, e caça ao escravo também.<ref name="CHAUNU 24"/><ref name="CHAUNU 25">{{citar livro|autor=CHAUNU, Pierre|título=História da América Latina|local=São Paulo: Rio de Janeiro|editora=DIFEL|ano=1979|página=25}}</ref>

[[Imagem:Mayflower in Plymouth Harbor, by William Halsall.jpg|thumb|[[Mayflower]] na Baía de Plymouth (''por William Halsall'', 1882)]]

Para caçarem [[tesouro]]s, os [[espanhóis]] conquistaram em trinta anos os seus domínios. Na [[América Espanhola|América Ibérica]], a conquista precedeu a colonização; na [[América Anglo-Saxônica]]<ref>Arciniegas, ''Contradições e unidade da América''.</ref> "a colonização precedeu a conquista". Os ingleses tomam posse, um {{séc|depois}} dos espanhóis, da sua parcela da [[América]]. Decorridos dois séculos, no final do {{séc|XVIII}}, as [[Treze Colônias]] não ultrapassam os primeiros contrafortes dos [[Apalaches]]. Em dois séculos, os anglo-saxões penetraram 200&nbsp;km no [[Sertão (conceito)|interior]] do seu país; em trinta anos, os [[Espanhóis|castelhanos]] atravessaram de lado a lado, um [[continente]]. A colonização anglo-saxônica é uma [[colonização]] de [[povoamento]], os [[peregrino]]s do ''[[Mayflower]]'' e os seus êmulos tomaram o rumo da [[América]] para encontrar nela uma pátria onde viver como na sua, ao abrigo da perseguição religiosa ou para fugir aos credores. O povoamento é contínuo; a marcha para o [[Oeste]], comandada pelas necessidades da colonização agrícola, é uma nódoa de óleo que alastra vagarosamente. A conquista louca do Oeste, o {{séc|dos}} conquistadores, só começa a sério para os anglo-saxões no {{séc|XIX}} com a revolução técnica dos [[transporte]]s. Para o anglo-saxão, [[agricultor]] mais ávido de [[Terreno|terras]] do que de [[ouro]], o "melhor índio é o índio morto". Para o castelhano, mais ávido de [[ouro]] que de [[Terreno|terra]], o índio é o colaborador de que tem necessidade na [[exploração]] das terras e na exploração das [[riqueza]]s, um colaborador que por vezes brutaliza. A conquista ibérica é um problema de homens, a união com a índia uma necessidade fisiológica: uma [[América]] mestiça opõe-se a uma América [[Caucasiano|branca]], dois ritmos de vida, dois ritmos de produção.<ref name="CHAUNU 25"/> O desenvolvimento da [[América Anglo-Saxônica]] evoluiu paralelamente à ocupação da [[Terreno|terra]]; a ocupação sumária da terra na [[América Latina]] precedeu o seu aproveitamento, colocando problemas insolúveis à sua transformação em realidade. As marcas que trinta anos de conquista imprimiram na América Latina acentuaram-se ainda mais com dois séculos e meio de [[história]] [[Colónia (história)|colonial]].<ref name="CHAUNU 26">{{citar livro|autor=CHAUNU, Pierre|título=História da América Latina|local=São Paulo: Rio de Janeiro|editora=DIFEL|ano=1979|página=26}}</ref> A [[América Latina]] como conhecemos hoje é a junção do território colonizado cruelmente pelo europeu português e espanhol, habitado inicialmente pelos índios. o produto de uma síntese que se fez em detrimento do elemento [[Povo indígena|índio]], foi ao longo de três [[século]]s e meio da história colonial que ela se formou.<ref name="CHAUNU 11">{{citar livro|título=História da América Latina|autor=CHAUNU, Pierre|editora=DIFEL|ano=1979|local=São Paulo: Rio de Janeiro|página=11|}}</ref> Não é demais insistir sobre a importância da fusão operada, pois os traços marcantes do caráter da América Latina, advêm daí.<ref name="CHAUNU 11" /> Durante esses três [[século]]s, os dois elementos, o índio e o [[Península Ibérica|ibérico]], fundiram-se, os [[negros]] foram trazidos pelos traficantes de [[escravo]]s e a América Latina tornou-se aquilo que continua a ser, a terra da economia destrutiva.<ref>{{citar web|url=http://www.consciencia.org/a-formacao-etnica-historia-do-brasil-ary-da-matta|título=A FORMAÇÃO ÉTNICA – História do Brasil|acessodata=22 de janeiro de 2011|publicado=Consciência.org|autor=MATTA, Ary da}}</ref>

Importância primordial da era colonial, unidade primordial também. Em menos de cinquenta anos, os [[conquistadores]], atrás de fortuna e ideal, percorrendo de ponta a ponta, e em todos os sentidos, o seu domínio, construído na dimensão do [[continente]], e vasculhando todos os seus recantos, concluíram, nas suas grandes linhas, a conquista da [[América Latina]].<ref name="CHAUNU 11" />

== Organização da conquista ==
A história colonial das [[Índias]] de [[Castela]] e a do [[Brasil]] oferecem semelhanças flagrantes. Nada se parece mais com o sistema colonial [[Espanha|espanhol]] do que o sistema colonial [[Portugal|português]]. É que existe, de fato, um sistema colonial característico do [[Antigo Regime]] [[Política|político]] e [[econômico]] e que transcende o sistema ibérico. Muitas vezes chamaram-lhe [[Pacto Colonial]]: as [[Colónia (história)|colônias]], exploradas pela Metrópole e seu benefício, constituem para ela uma fonte de [[matéria-prima|matérias-primas]] baratas e um [[território]] para [[escoamento]] dos produtos de sua indústria pelo menor preço. De modo geral, corresponde à implantação no [[continente]] do sistema [[Mercantilismo|mercantilista]] que considera uma [[balança comercial]] favorável como a expressão mais segura da prosperidade nacional. Se ele se tornou rapidamente elástico na [[Espanha]] e [[Portugal]], na prática e não na teoria, graças ao extraordinário desenvolvimento do [[contrabando]], foi porque a [[Espanha]], e mais ainda [[Portugal]], revelaram-se incapazes, a partir do {{séc|XVII}}, de fornecer às suas colônias os [[produto (economia)|produto]] manufaturados de que estes necessitavam.

O [[sistema colonial]] estabelecido pela [[Espanha]] nem por isso deixa de ser um dos mais notáveis que o [[homem]] concebeu nos tempos modernos, porque os [[país]]es [[Península Ibérica|ibéricos]] haviam sido preparados, pela sua [[história]], para a tarefa que os esperava. Países novos e zonas [[Fronteira|fronteiriças]] a administrar, e repovoar após a conquista, [[População|populações]] [[alienígena]]s a converter, a fundir no ''melting pot'' nacional, ou a eliminar. a Península oferece oito [[século]]s, uma imagem em miniatura das Índias. Ao longo dos oito séculos da sua reconquista, a [[Espanha]], a fim de resolver os problemas da [[administração]] [[Colónia (história)|colonial]], elaborara instituições cuja transplantação parcial para as [[Índia]]s bastou para resolver problemas análogos. A [[história]] das instituições das [[Índias]] resume, em alguns séculos, a [[história]] [[Milênio|milenar]] das instituições da Península.

=== Organização administrativa das Índias de Castela ===
[[Imagem:Banner of arms crown of Castille Habsbourg style.svg|thumb|esquerda|[[Bandeira]] da [[Coroa de Castela]]]]

As bases foram lançadas sob os [[Reis Católicos]] e {{lknb|Carlos|V|do Sacro Império Romano-Germânico}}. Em virtude da bula de [[Papa Alexandre VI|Alexandre VI]] (1493), as Índias sempre foram consideradas como propriedade pessoal da [[Coroa de Castela]]. As [[Índias]] eram [[Castela|castelhanas]], antes de serem espanholas; eram uma coisa do [[rei]] que criou, para administrá-las, uma série de organismos próprios cujo [[desenvolvimento econômico|desenvolvimento]] se processou paralelamente ao das instituições [[Metrópole|metropolitanas]]. O [[rei]] conferia a quem lhe agradava a tarefa de conquistar frações dos seus domínios; distribuía aos seus fiéis terras e o rebanho índio, parcelas da sua coisa (tal como foi a origem da ''[[encomienda]]''). O poder que a bula de Alexandre VI lhe conferiu sobre as [[Índias]], exercia-o o rei por intermédio de organismos análogos às instituições metropolitanas. O primeiro, pela ordem cronológica, foi a [[Casa de Contratação]]. Criada em 1503, composta de uma [[tesoureiro]], de um superintendente e de um secretário (primeiro núcleo em volta do qual vieram enxertar outros funcionários), supervisava as relações marítimas e comerciais entre as [[Índias]] e a [[Metrópole]], assegurava a organização e a proteção dos [[comboio]]s para a [[América]] e zelava pela entrada das rendas reais e pelo encaminhamento do correio administrativo entre a [[Espanha]] e as [[Índias]]. 

Desempenhou ainda o papel de escola de navegação e de organismo de pesquisas [[oceanografia|oceanográficas]], posteriormente, o de Corte de Justiça soberana no setor de comércio das [[Índias]]. A criação do cargo de [[Presidente]] do [[Tribunal]] da Casa de Contratação, encarregado de assegurar a coordenação com o [[Conselho das Índias]], foi etapa para a elaboração desse organismo mais complexo. Nascido da autoridade real, nem por isso deixou de opor à autoridade real essa notável força de inércia de que já tinha o segredo a administração espanhola, a mais antiga e a mais eficaz, inicialmente, todas as administrações do [[Antigo Regime]].
==== Conselho das Índias ====

[[Imagem:Orteliusamerica.jpg|thumb|[[Mapa]] da [[América]] do {{séc|XVI}}]]

O [[Conselho das Índias]] (''Consejo de Indias'') foi, a princípio, uma simples excrescência da ''Casa'', uma comissão encarregada de vigiar a [[administração]] das [[Índias]]. Criado por [[Fernando I de Portugal|D. Fernando]] em 1511, não adquiriu a sua feição legal definitiva senão em agosto de 1524 para receber a sucessão de [[Juan Rodríguez de Fonseca]], homem de leis dedicado aos interesses de seu senhor, já exercia, desde 1493, as funções de ministro das [[Colónia (história)|colônias]], embora sem o título. Uma vez morto, em março de 1524, o lugar ficou vago, então o Conselho das Índias. Com os seus oito conselheiros, o Conselho acompanhava o rei nas suas várias viagens. Foi o equivalente para as Índias do [[Conselho de Castela]]. Sob a [[presidência]] do [[rei]], direta ou não, preparava as leis e decretos referentes ao [[Novo Mundo]], dava forma legal às ordens emanadas da Coroa, redigia a correspondência administrativa transmitida pelos órgãos da ''Casa'', fazia as indicações de nomes para os funcionários coloniais e funcionava como [[Supremo Tribunal de Justiça]].

Tais eram, ''grosso modo'', os órgãos que davam forma à vontade real e que a transmitia aos ''órgãos administrativos locais''. A história da [[administração]] das [[Índias]] reproduz, com diferenças que o tempo e a distância explicam, a [[história]] administrativa da [[Espanha]]. No reinado dos [[Reis Católicos]] e nos primeiros anos de {{Lknb|Carlos|V|do Sacro Império Romano-Germânico}}, a centralização do poder real alcançou, na [[Espanha]], uma vitória decisiva sobre as forças centrífugas da [[nobreza]] e das [[cidade]]s; episódio ibérico de um movimento que afetou, nuns lados mais cedo e noutros mais tarde, os principais países da [[Europa Ocidental]]. Nas [[Índias]], administração dos ''conquistadores'' e dos ''ajuntamientos'' das [[cidade]]s recentemente criadas deviam ceder o passo à administração dos [[vice-rei]]s.

A conquista das [[Índias]] foi realizada por [[aventureiro]]s, os ''[[conquistadores]]'' que receberam o título de ''[[adelantado]]'' (na maioria dos casos, conjuntamente com o de [[governador]] e de [[capitão-general]]). Na história ibérica medieval, o ''[[adelantado]]'' era o [[governador]] de uma [[província]] [[fronteira|fronteiriça]] investido diretamente pela autoridade real; os seus poderes não tinham teoricamente limite. Como o ''[[adelantado]]'' ibérico, o adelantado colonial, também investido diretamente pela autoridade real, fora do alcance de todo o controle real sobre a fração do [[senhorio]] das [[Índias]] que ele tinha a missão de conquistar, gozava de poderes apenas limitados pela dificuldade das comunicações em seu próprio domínio, pelas [[cidade]]s e pelas suas administrações, os ''ayuntamientos''.

[[Imagem:Cabildos del Virreinato.JPG|thumb|esquerda|Aspectos dos principais cabildos do [[Vice-Reinado do Rio da Prata]]]]

O [[Espanhóis|espanhol]], ao por o pé na [[América]], fundara imediatamente [[cidade]]s em uma [[administração]] cuja [[independência]] aumentou ainda mais com a [[distância]]. Moses pôde escrever <ref>Moses, ''Spanish Dependencies'', t. II, pág. 370, cit, por Merriman, ''Rise of Spanish Empire'', t. III, pág. 638.</ref> sem muito exagero: "Nas [[colônia (história)|colônias]] [[Inglaterra|inglesas]] da [[América]], a [[cidade]] cresceu para corresponder às necessidades do campo, enquanto nas colônias [[Espanha|espanholas]], a [[população]] dos campos aumentou para satisfazer as necessidades das [[cidade]]s". Um Conselho de quatro a doze ''regidores'', presidido por ''alcalde mayor'' assessorado pelos alcaldes ordinarios para a [[justiça]], administrava a [[cidade]]. Era o ''ayuntamiento'', o ''[[cabildo colonial|cabildo]]'', como não tardaram a chamá-lo. [[Hernán Cortés|Cortés]] caído em desgraça junto de Velásquez, na véspera daquele se lançar em demanda de [[Tenochtitlán]]. Os ''cabildos'', em várias ocasiões, enviaram representantes ao [[Conselho das Índias]] para lhe expor as suas aspirações e, não poucas vezes, bombardearam o [[governo]] com as suas petições de natureza comercial.

A primeira metade do {{séc|XVI}} foi, para as [[Índias]], a época mais bela em matéria de autonomia municipal até que o poder real a reduziu por um processo análogo ao que a [[Metrópole]] conhecera nos séculos XIV e XV. Dessa primeira experiência de ''self-government'', as [[Índias]] conservaram, entretanto, uma recordação tenaz que se avivou mais tarde durante a crise da [[Independência]].

O poder real não só reduziu a autonomia municipal, mas autoridade, quase feudal, dos conquistadores. Assim, uma nova administração que veio substituir a antiga foi pouco a pouco construída no {{séc|XVI}}, ao sabor de necessidades, num equilíbrio sábio de poderes que se espiavam e se limitavam habilmente, concebido para deixar ao [[rei]] distante a sua liberdade de decisão e para reduzir ao mínimo o grande mal que subsistia: a largura dessa imensa faixa de água, o [[Oceano Atlântico|Atlântico]] da [[navegação]] a [[vela]], e mais monstruosa ainda, a extensão das [[Terreno|terras]], interpostas entre a cabeça do [[Conselho das Índias]] e os agentes de execução.

[[Imagem:Grabado-Huaman-Poma-de-Ayala.png|thumb|Gravura de [[Felipe Guamán Poma de Ayala]] representando a Real Audiência de [[Lima]]]]
O poder real exercia-se por intermédio da Audiência e do ''[[Vice-Rei]]''.

Primitivamente, a audiência era um [[tribunal]]; o [[decreto]] de 15 de outubro de 1511 criou a primeira ''audiência'' do [[Novo Mundo]]; em 1527, uma outra audiência foi instalada no [[México]]; em 1535, no [[Panamá]], em 1542, em [[Lima (Peru)|Lima]], em 1550 estavam em funcionamento seis audiências Outras foram criadas mais tarde paralelamente à penetração em profundidade da colonização espanhola: [[Charcas (Bolívia)|Charcas]], [[Quito]], [[Buenos Aires]] (1661), [[Cusco]] (1717). Uma ''audiências'' era formada por um [[presidente]] — o [[Vice-Rei]], quando a sede coincidia com a do [[Vice-Reino]], o [[capitão-general]] quando não era o caso — e um número variável de ''oidores'' ricamente remunerados. A audiências, na [[América]], foi, a princípio, aquilo que ela era na [[Espanha]]: um [[tribunal]] que julgava em recurso os casos julgados na primeira instância pelas cortes inferiores dos ''corrigimientos'' e alcaldes maiores. Esse tribunal supremo só tinha acima de si o [[Conselho das Índias]].

Mas a audiência acumulava os poderes administrativos e os poderes judiciários. Era [[administração]] feita pelos tribunais. As ''audiências'' exerciam apertada vigilância sobre todos os [[funcionário]]s. A audiência do [[México]] foi, na [[Nova Espanha]], ressalvadas a proporções, o que o [[Conselho de Castela]] foi em [[Castela]]. Em caso de vacância da [[autoridade]] do [[vice-rei]], a ''audiência'' assegurava a interinidade.

==== Vice-Rei ====
A autoridade do [[Vice-Rei]] veio substituir a dos ''[[conquistadores]]'' demasiado incômodos. O exemplo destes últimos tornara desconfiada a autoridade real. A lentidão das [[comunicações]] e a [[ignorância]] quase completa que havia no [[Escorial]] dos negócios americanos podia ser, para o [[Vice-Rei]], terrível tentação. Correndo o risco de emperrar. a máquina administrativa das [[Índias]], o "Rei Prudente" e os seus sucessores souberam garantir-se contra o sucesso de [[independência]] dos seus agentes executores.

Escolhido no seio das [[família]]s mais ilustres da [[Espanha]], rodeado de toda a pompa real, o [[Vice-Rei]] representava a [[Monarquia|Coroa]] e exercia o direito de protetor, controlava as [[mina (mineração)|mina]], zelava pela cristianização dos [[Povo indígena|indígenas]] e presidia a [[Real Audiência|audiência]], mas, de fato, tal como escreve Merriman, era "muito menos onipotente do que parecia implícito nos termos da lei". As relações do [[Vice-Rei]] com a audiência permitem que se evidencie a limitação dos poderes vice-reais. Quando a audiência se reunia como [[Palácio|Corte]], o [[Vice-Rei]] assumia a sua [[presidência]] sem poder participar do [[voto]]; o seu papel restringia-se a assinar as decisões da Corte (não tinham supremacia judiciária como o [[Rei da Espanha]]). Qualquer pessoa podia atacar a sua [[administração]] perante a ''audiência''. Como todo o funcionário das [[Índias]], o Vice-Rei, submetido às obrigações de ''Residência'' e da ''Visita'', era obrigado ao abandonar o [[cargo]] a permanecer no local onde havia exercido a sua [[autoridade]], a fim de permitir que toda e qualquer pessoa lesada pela sua [[administração]] fizesse valer os seus [[direito]]s. Tomavam-se todas as precauções, mas a prudência, ultrapassando por vezes o seu objetivo, tinha como consequência a extraordinária lentidão da máquina administrativa das [[Índias]].

Junto das ''audiências'' distantes, os [[Capitão-general|capitães generais]] desempenhavam o papel do [[Vice-Rei]], submetidos a este último como à [[Monarquia|Coroa]]. As audiências que abrangiam áreas várias vezes superiores à da [[metrópole]] dividiam-se em Corregimentos, à frente dos quais os corregedores, assessorados pelos alcaides, exerciam a realidade da [[administração]] [[Cotidiano|quotidiana]]. A massa índia repartida em partidos, era administrada por intermédio ou dos chefes [[Povo indígena|indígenas]], os [[cacique]]s, ou do encomendeiro, que reinava como um senhor, em nome do [[rei]], sobre o seu rebanho de [[Povo indígena|índios]].

[[Microcosmo]] da [[história da Espanha]], as [[Índias]] reproduziram as transformações administrativas da [[Metrópole]]. Em 1701, a [[dinastia]] dos [[Habsburgos]], que sob o reinado de {{lknb|Filipe|IV|da Espanha}} {{nwrap|r.|1621|1668}} e do seu filho {{lknb|Carlos|II|da Espanha}} {{nwrap|r.|1668|1700}} atingira o máximo da decadência, cedeu lugar aos [[Bourbons]]. A [[Monarquia]] [[Espanha|espanhola]], amputada do peso morto das suas possessões europeias pelo [[Tratado de Utrecht]] (1713), experimentou nos reinados de {{lknb|Filipe|V|da Espanha}} {{nwrap|r.|1700|1746}} e de {{lknb|Carlos|III|da Espanha}} {{nwrap|r.|1759|1788}}, um renascer de energias, participando em segundo plano da euforia econômica do {{séc|XVIII}} [[Europa|europeu]]. Filipe iniciou, em 1718, uma reforma administrativa que visava a introduzir e adaptar na [[Espanha]], segundo o modelo [[França|francês]], a administração dos intendentes e a tornar mais leve nas [[Índias]] a máquina ferrugenta da administração dos vice-reis. De 1765 a 1771, o território da [[Nova Espanha]] foi dividido em onze intendências; à cabeça de cada uma ficou um [[intendente]] nomeado pelo [[rei]]; subdelegados à moda francesa substituíram corregedores e alcaides maiores no governo local e na vigilância dos [[povo indígena|índios]]. Em 1790, a Reforma, pouco a pouco, estendera-se ao conjunto das [[Índias]] de [[Castela]]. A [[administração]] espanhola realizou, nesses últimos anos, um esforço apreciável para se renovar e obter mais eficácia.

Com o seu sistema administrativo, a [[Espanha]] levou também para as [[Índias]] o seu sistema tributário, complicado e pesado e isso mais pelos vexames inerentes ao seu recebimento do que propriamente pelo ônus que representava. Quanto se perdia da taça aos lábios? As [[Índias]] financiaram de fato uma boa parte, embora menos do que se diz, na [[Monarquia]] [[Espanha|espanhola]]. Pagavam os [[direito]]s que incidiam sobre o seu [[comércio]],<ref>Preciosos para o [[historiador]] pois permitem a elaboração
de índices sobre a [[Porto (transporte)|atividade portuária]].</ref> os ''almojarilazgos'', a avería, variável segundo as épocas, cobrada sobre as mercadorias, tanto à ida como à volta, entre o [[Guadalquivir]] e a [[América]], para assegurar a proteção dos [[Galeão|galeões]] e das [[frota]]s. E pagavam ao rei os donativos, dádivas que nada tinham de gratuitas; o [[tributo]] que pesava sobre todo [[Povo indígena|índio]] varão em estado de [[Trabalho|trabalhar]], as diferentes ''alcabalas''. Mas o maior tributo que as [[Índias]] pagavam era o das minas. O [[rei]], como não as explorava, confiava o seu aproveitamento ao capital privado e percebia sobre a produção o pesado [[direito]] do quinto.

Por dispendiosa que fosse essa [[administração]], tão bem paga, tão rica de sinecuras onde redourar o [[brasão]] do Grande da [[Espanha]] e do [[fidalgo]] famélico, o [[saldo]] era positivo para a [[Espanha]]. E isso foi assim, sobretudo no final do {{séc|XVI}} e no final do XVIII, à luz dos estudos estatísticos, embora a imaginação romântica nem sempre o acredite.

Não se pode separar o estudo da [[administração]] do [[clero]] que foi um dos seus melhores agentes. A [[Monarquia|Coroa]] gozava de fato, em virtude de bula de Alexandre VI, de um [[direito]] de proteção que colocou toda a [[administração]] da Igreja das [[Índias]] nas mãos do [[rei]]. Este fazia as nomeações para os cargos eclesiásticos por intermédio do [[Conselho de Índias]] e fixava os limites das [[diocese]]s; com a sua própria autoridade levantava, em nome do [[clero]], o dízimo que lhe era devido em virtude de uma bula de 1501. Agente da autoridade real, a [[Igreja]] o era duplamente; ajudava o rei a conservar na mão a [[Demografia da Espanha|população espanhola]] por intermédio da Inquisição instaurada nas [[Índias]] por um decreto real de 26 de janeiro de 1509. O primeiro [[tribunal]] da Inquisição entrou em funcionamento em [[Lima (Peru)|Lima]], em 1570, e no [[México]] em 1571. A Inquisição tratava de afastar todos os traços de [[heresia]]; o governo teve sempre a preocupação de manter longe do [[Novo Mundo]] os colonos de cuja fé se poderia suspeitar: [[mouros]], [[judeus]] ou [[marranos]]. Talvez mais eficaz pelo terror que espalhava do que propriamente pela ação real, a [[Inquisição]] não inquietava os [[povo indígena|índios]], tidos como crianças grandes, incapazes de heresia.

Mas a obra capital da [[Igreja Católica]] foi, antes de mais, a conversão dos [[Povo indígena|índios]] a um [[cristianismo]] sumário, primeiro e decisivo passo no sentido da europeização. O [[clero secular]], desconhecedor das [[línguas indígenas]] e ávido de gozar as suas gordas prebendas, não se entregou à grande obra missionária. Mas as [[Ordem religiosa|ordens religiosas]] - [[franciscanos]], [[dominicanos]], [[agostinhos]] - desempenharam, no trabalho de conversão dos [[Povo indígena|indígenas]], um papel [[capital]] antes que os [[jesuítas]] viessem ocupar o lugar de vanguarda nos séculos XVII e XVIII.<ref>Robert Ricard, ''A conquête spirituelle de Ia Nouvelle-Espagne'', Paris, 1933.</ref> Levaram a cabo um trabalho [[linguística|linguístico]] e [[Etnologia|etnológico]] de compreensão em profundidade, a fim de darem alicerces à obra realizada. O grande pioneiro foi Bernardino Ribeira de Sahagún, o pai da etnologia índia na [[Nova Espanha]] do {{séc|XVI}}. Essa obra foi também de proteção dos [[Povo indígena|índios]] e a ela ficará para sempre ligado o nome de [[Bartolomé de Las Casas]], que conseguiu comover o imperador espanhol {{lknb|Carlos|V|do Sacro Império Romano-Germânico}} ao relatar-lhe as desgraças de que fora testemunha e que esteve na origem do Código das Novas Leis (1545), cuja aplicação efetiva nunca conseguiu obter. Os [[jesuítas]], nos séculos XVII e XVIII, exerceram sôbre os [[Povo indígena|índios]] das suas missões uma proteção vigilante, mas muitas vezes tirânica; forçados a viver em [[aldeia]]s (''reducciones'') e a trabalhar aí a terra, castigados como crianças com punições corporais, eram mais os [[súdito]]s de pequenas teocracias do que propriamente do [[rei da Espanha]]. A frente de milícias índias, os [[jesuítas]] das célebres missões do [[Paraguai]] repeliam os assaltos dos caçadores de [[escravo]]s, os [[Entradas e bandeiras|bandeirantes]] [[São Paulo (estado)|paulistas]]. O espírito de independência da Companhia valeu-lhes inimizades sólidas que se cristalizaram no [[decreto]] de expulsão de 27 de março de 1767. Ninguém pode avaliar o golpe assestado por essa medida nas [[Índias]] de [[Castela]]. O melhor traço de união entre a [[Europa]] e o mundo índio foi destruído pela vontade de {{lknb|Carlos|III|da Espanha}}.

=== Eficácia da administração espanhola ===
A administração espanhola satisfez plenamente a defesa do [[império colonial espanhol]]. Durante três séculos, pôde manter contra todos os apetites dos países marítimos, que desde o fim do {{séc|XVI}} superavam nitidamente a Espanha no domínio dos [[mar]]es. Não se trata evidentemente de fazer o histórico de todos os ataques à América espanhola, desde as tentativas de colonização de Jean Ribaut, na [[Flórida]] (1558), capturado e executado por ordem do [[vice-rei]] da Nova Espanha, até os primeiros ataques dos piratas de todas as nacionalidades do [[Mar do Caribe]], iniciados em 1540, e seguidos pelos de [[Francis Drake]] {{nwrap||1540|1596}}, [[John Hawkins]] {{nwrap||1520|1595}}, Sir [[Walter Raleigh]] {{nwrap||1552|1618}}, pelas tentativas [[França|francesas]], [[Países Baixos|holandesas]] e [[Inglaterra|inglesas]] dos séculos XVII e XVIII.

Os tesouros das [[Índias]] foram interceptados mais de uma vez, mas fora as [[Guianas]] e do senhorio das [[Antilhas]], onde franceses, ingleses e holandeses conseguiram instalar-se, a América Latina permaneceu espanhola e portuguesa até ao alvorecer do {{séc|XIX}}.

Se a imensidade da América Latina contribuiu para as proteger, essa mesma imensidade foi o grande obstáculo que a administração nunca conseguiu vencer completamente. Basta ter presente que era necessário mais de um ano às frotas de [[Sevilha]] para realizarem a viagem de ida e volta entre a [[Andaluzia]] e a [[Nova Espanha]].<ref>no tempo de [[Alexander Humboldt|Humboldt]], no início do {{séc|XIX}}, no final da era colonial, eram ainda precisos "de três a cinco meses para ir do [[Panamá]] a [[Lima (Peru)|Lima]]", e trinta dias levavam os [[carro]]s de [[boi]]s para irem de [[Rosário (Argentina)|Rosário]] a [[Tucumã]].</ref> Protegido pela lentidão das comunicações, o funcionário colonial acabava por fazer tudo pela sua [[cabeça]], refugiado numa desobediência polida, simbolizada na fórmula "''obedezco pero no cumplo''" e tratava de se reembolsar com usura dos gastos que havia realizado com a compra do cargo.

=== Brasil ===
A [[administração]] [[Portugal|portuguesa]] do [[Brasil]] embora, nas suas grandes linhas, a administração das [[Índias]] de [[Castela]]. O ponto de partida é, todavia, um pouco diferente.

Foi só em 1534 que os portugueses começaram a prestar atenção nessa [[Colónia (história)|possessão]], para eles um tanto embaraçosa, pois os afastava das [[Índias Orientais]], seu centro de interesse. Deve-se a isso, sem dúvida, o fato de o [[rei de Portugal]] ter organizado a administração do [[país]] pelo menor custo, confiando-o a grandes senhores, os [[donatário]]s, providos de feudos gigantescos sobre os quais dispunham de poderes discricionários. Esse ponto de partida refletiu-se pesadamente na [[história]] do [[Brasil|País]]; retardou a sua [[exploração]] [[Economia|econômica]] e a formação de uma [[administração]] eficaz. Consciente, sem dúvida, do seu erro inicial, a [[Casa de Avis]] esforçou-se, a partir de 1549, por dar ao [[Brasil]] uma administração análoga à das [[Índias]]. Em 1549, os poderes [[político]]s dos [[donatário]]s foram revogados, mas os seus enormes domínios, base econômica do seu poderio, subsistiram. A nova administração das [[Capitanias do Brasil|capitanias]] foi então criada: treze no {{séc|XVI}}. À frente de cada uma, um capitão; um [[capitão-general|Capitão general]], espécie de [[vice-rei do Brasil]], representava na [[Bahia]], e depois no [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]], um embrião de autoridade central. Progressos decisivos foram realizados pela [[administração]] [[brasil]]eira durante os sessenta anos da união dinástica de [[Portugal]] e [[Espanha]], sob a autoridade da [[Casa de Habsburgo]] {{nwrap|r.|1580|1640}}. As duas administrações permaneceram independentes, mas, sob a influência da [[Espanha]], a administração portuguesa modelou-se pela de Madri. Foi em 1604 que foi criado o [[Conselho das Índias]], versão portuguesa do Conselho das Índias. Foi a administração do [[capitão-general|Capitão general]] e dos seus ouvidores, que o representavam em cada capitania, que acabou por suplantar, no {{séc|XVII}}, a administração anárquica e [[feudo|feudal]] dos capitães. A larga autonomia das cidades governadas pelos senados da Câmara lembra a administração das Índias pelos cabildos.

Durante os três séculos da sua história colonial, o [[Brasil]] deu provas de resistência aos assaltos estrangeiros: o malogro da [[França Antártica]] que o [[Villegaignon]] tentou fundar em 1556 no [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]] e, sobretudo, nos anos da unidade ibérica, a luta contra os ataques [[Países Baixos|holandeses]]. Mas o avanço do [[Brasil]] em detrimento das [[Índias]] de [[Castela]], é o testemunho mais claro dessa vitalidade. No {{séc|XVI}}, o Brasil apenas cobria ainda uma estreita faixa de [[território]] que não ultrapassava sensivelmente, ao [[norte]] e ao [[sul]], a [[Tratado de Tordesilhas|linha de demarcação de 1494]], essa linha que corria da [[foz]] do [[Amazonas]] até a um ponto vizinho de [[São Paulo (estado)|São Paulo]]. No {{séc|XVII}}, o Brasil estendia-se já para além do [[Rio São Francisco]]; aproximava-se das [[nascente (hidrografia)|nascente]] do [[rio Paraguai]]; no fim da era colonial, dilatava-se quase até aos [[Andes]], sobre os {{fmtn|8500000|km²}} que ocupa hoje. A [[capital|sede]] de [[terreno|terras]] novas para uma economia destruidora à procura das minas, para além das [[Minas Gerais]], e sobretudo a caça desenfreada ao [[escravo]] realizada pelos [[Entradas e bandeiras|bandeirantes]] paulistas, foram os móbiles de uma penetração que os tratados sucessivamente ratificaram após o fato consumado.

==História moderna==
{{Corrigir|Esta seção|hist-am|}}
{{Reciclagem|Esta secção|hist-am|data=setembro de 2020}}

=== Guerras de independência na América espanhola ===
[[Ficheiro:BatallaCarabobo01.JPG|miniaturadaimagem|Batalha de Carabobo, decisiva para a independência da Venezuela]]
As [[guerras de independência na América espanhola]] foram as numerosas guerras contra o [[Império Espanhol]] na [[América espanhola]], que resultaram na criação de 18 países independentes <ref name=":1">{{Citar web|url=https://www.todamateria.com.br/independencia-da-america-espanhola/|titulo=Independência da América Espanhola|acessodata=2021-04-06 |website=Toda Matéria}} {{Verificar credibilidade}}</ref>.

==== Antecedentes ====
O império colonial espanhol, desde o {{séc|XVIII}}, estava dividido em quatro vice-reinados e quatro capitanias gerais. Os vice-reinados eram: Nova Espanha (México e parte dos Estados Unidos); Nova Granada (integrada por Colômbia, Panamá e Equador); Peru; e Rio da Prata (área equivalente a Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia). As quatro capitanias eram nos territórios de Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile.<ref name=":1" />

As revoluções que surgiram na América Espanhola foram nitidamente inspiradas pelas ideias [[Iluminismo|iluministas]], tais como as de autodeterminação dos povos (em detrimento do colonialismo), livre comércio (em detrimento do mercantilismo) e oposição ao absolutismo. A sua força motriz foi a sensação de exclusão quanto aos rumos do império espanhol nas elites intelectuais crioulas (filhos de espanhóis nascidos na América, desprovidos de amplos direitos políticos) e a insatisfação popular com as péssimas condições de trabalho e a situação de miséria que vigoravam nas colônias, que já tinham gerado revoltas populares anteriores, como a Rebelião Tupac Amaru e o Movimento Comunero.<ref>{{Citar web|url=https://mundoeducacao.uol.com.br/historia-america/independencia-america-espanhola.htm|titulo=Independência da América Espanhola|acessodata=2021-04-06 |website=Mundo Educação}}</ref>

Naquele período, a Espanha passava por um período difícil. A derrota na [[Batalha de Trafalgar]] havia prejudicado severamente a então famosa marinha espanhola, dificultando a sua comunicação com as colônias. Ao mesmo tempo, a presença de militares franceses em solo espanhol fragilizou a coroa, a ponto de [[Napoleão Bonaparte]] conseguir forçar a abdicação do rei Carlos IV e de seu filho [[Fernando VII de Espanha|Fernando VII]], e impor o seu irmão, [[José Bonaparte]], como rei da Espanha.<ref name=":2">{{Citar web|url=https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/independencia-na-america-espanhola-lutas-europeias-disseminaram-ideal-de-liberdade.htm|titulo=Independência na América Espanhola: Lutas europeias disseminaram ideal de liberdade|acessodata=2021-04-06 |website=educacao.uol.com.br}}</ref> Como reação a isto, formaram-se as Juntas Governativas a favor de Fernando VII, que tiveram sucesso em garantir a lealdade de espanhóis e colonos ao rei, impedindo-os de apoiar o novo governo. Percebendo isto, Napoleão resolveu mudar de estratégia nas Américas, apoiando os movimentos [[Independentismo|independentistas]] hispano-americanos.

==== Conflitos internos nas Juntas Governativas ====
As Juntas Governativas na América Espanhola eram formadas a partir de ''cabildos'' (assembleias) e dominadas por dois grupos: crioulos (filhos de espanhóis nascidos nas Américas) e chapetones (espanhóis nativos). Em diversas colônias americanas, a demanda dos crioulos por mais representação política passou a criar conflitos com os chapetones, gerando inúmeras rebeliões locais. Os crioulos foram, então, gradualmente utilizando seu maior conhecimento da área para dominar os cabildos e ir expulsando os chapetones de seu território.<ref name=":2" />

==== Contrabando de armas ====
Além disso, sem uma ativa fiscalização metropolitana e com a guerra na Europa, os revolucionários foram ajudados por armas e munições que lhes foram fornecidas pelo Reino Unido e suas colônias. Assim, começou a criação e o equipamento de novos exércitos patrióticos regulares.<ref>{{citar livro|título=War, Demobilization and Memory: The Legacy of War in the Era of Atlantic Revolutions War, Culture and Society, 1750-1850.|ultimo=Blaufarb|primeiro=Rafe|editora=Springer|ano=2016|páginas=100-114}}</ref> Com o controle total da Grã-Bretanha sobre os mares e suas colônias no Caribe, notadamente na Jamaica e em Trinidad, isso tornou o tráfico de armas muito mais fácil de realizar. O grande excedente de armas que sobrou da guerra napoleônica da Grã-Bretanha significava que elas eram baratas e prontamente disponíveis.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=YRJnAAAAMAAJ|título=Introduction. Correspondence with Latin America|ultimo=Webster|primeiro=Sir Charles Kingsley|data=1938|editora=Ibero-American institute of Great Britain|lingua=en}}</ref> Comerciantes britânicos tanto no Caribe quanto na Europa deram empréstimos e suprimentos que permitiram aos revolucionários sul-americanos garantir os meios para realizar novas campanhas.<ref>{{citar livro|título=A History of Latin America|ultimo=Keen|primeiro=Benjamin|ultimo2=Haynes|primeiro2=Keith|editora=Cengage Learning|ano=2012|páginas=172-173|edição=9}}</ref> Como resultado, os comerciantes britânicos cortaram os monopólios detidos pela elite espanhola. Com o aumento de comerciantes, veio um influxo de novas ideias e novas pessoas da Europa, incluindo acadêmicos, artesãos e comerciantes. Com o aumento de europeus em toda a América do Sul, a meta da Grã-Bretanha de aumentar o comércio influenciou a luta de um continente pela independência.<ref>{{Citar web|url=https://history.blog.gov.uk/2016/04/25/british-diplomacy-and-the-independence-of-south-america/|titulo=British diplomacy and the independence of South America - History of government|acessodata=2021-04-06 |website=history.blog.gov.uk|lingua=en}}</ref>
{| class="wikitable"
|+'''Tráfico de Armas, 1815 - 1825'''
!Tipo de arma
!'''Quantidade'''
|-
|Mosquetes
|704.104
|-
|Pistolas
|100.637
|-
|Arma de pederneira
|35.617.864
|-
|Balas de mosquetes
|4.508 toneladas
|-
|Bolas de canhões
|10.254 toneladas
|-
|Sabres
|209.864
|}
[[Ficheiro:Portrait of Simón Bolívar by Arturo Michelena.jpg|miniaturadaimagem|353x353px|Simón Bolívar.]]
Com todos esses fatores favorecedores, foi possível formar exércitos revolucionários armados, e em 1810, Venezuela, México, Chile, Argentina e Colômbia se declararam independentes.<ref name=":2" />

==== Apoio britânico ====
Inicialmente, os movimentos independentistas não contavam com apoio oficial da Grã-Bretanha, visto que o país estava em guerra com o [[Império Napoleônico]]. Dessa forma, as primeiras rebeliões, ocorridas no período de 1810 a 1816, foram em sua maioria fracassadas.

Após a derrota de Napoleão pelas tropas inglesas, entretanto, passaram a ter apoio para a independência fornecido pela Inglaterra.<ref name=":1" />

==== Rebeliões vitoriosas ====
Entre as principais lideranças das rebeliões vitoriosas esteve [[Simón Bolívar]], que libertou e liderou Bolívia, Venezuela, Panamá, Colômbia, Peru e Equador.<ref>{{citar web|url=http://teacherlink.ed.usu.edu/tlresources/units/champions/simonbolivar.pdf|titulo=Simon Bolivar - (1783-1830)}}</ref> Em troca do apoio fornecido pelos [[haitianos]], cuja libertação se deu antes da América Espanhola, Bolívar prometeu [[Abolicionismo|abolir a escravidão]] em todos os territórios que libertasse.<ref name=":1" />

Já [[José de San Martín]] foi o primeiro líder da parte sul da [[América do Sul]] que obteve sucesso no seu esforço para a independência da [[Espanha]], tendo participado ativamente dos processos de independência da [[Argentina]], do [[Chile]] e do [[Peru]].

O processo de independência do [[México]] teve mais controversas que o do resto da América Espanhola, visto que foi formado por dois grupos: os liberais, defensores de uma república, e os conservadores, defensores de uma monarquia.  O processo também passou por várias fases, contando, inclusive, com movimentos de guerrilha. Em 1821, entretanto, foi assinado o Tratado de Córdoba, e o México se tornou uma nação independente.<ref>{{Citar web|url=https://www.infoescola.com/historia/independencia-do-mexico/|titulo=Independência do México - História|acessodata=2021-04-06 |website=InfoEscola}}</ref>

=== Pós-independência e consequências da independência ===
O movimento de independência devido a seu efeito divisivo foi o resultado natural da fragmentação dos países emergentes. Não houve nenhuma alteração na estrutura administrativa; nem mesmo houve alterações sociais das chamadas castas: crioulos, mestiços, pardos, ou para índios e escravos negros. Desapareceu o monopólio comercial e, portanto, o [[protecionismo]], com o empobrecimento de muitas regiões latino americanas que não poderiam competir com as indústrias na Europa. A independência não está ligada a qualquer melhoria econômica ou social ou de administração. Pode-se dizer que o sonho de Bolívar de criar uma América unida, a [[Grã Colômbia]], fracassou.

Também não houve um esforço, por parte da burguesia, em cooperar para a construção dos novos países. Em vez disso, continuaram servir a interesses estrangeiros, como nos tempos coloniais:

{{Quote|A América Latina logo teve suas constituições burguesas, muito envernizadas de liberalismo, mas em compensação, não teve uma burguesia criadora, no estilo europeu ou norte-americano, que se propusesse à missão histórica do desenvolvimento de um capitalismo nacional pujante. As burguesias dessas terras nasceram como simples instrumentos do capitalismo internacional, prósperas peças da engrenagem mundial que sangrava as colônias e as semicolônias. Os burgueses de vitrina, agiotas e comerciantes, que açambarcaram o poder político, não tinham o menor interesse em impulsionar a ascensão das manufaturas locais, já mortas ao nascer quando o livre-cambismo abriu as portas à avalanche de mercadorias britânicas. Seus sócios, os donos das terras não estavam, por sua vez, interessados em resolver "a questão agrária", senão na medida de suas próprias conveniências. O latifúndio consolidou-se sobre o saque, ao longo do século XIX. A reforma agrária foi, na região, uma bandeira precoce.|{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=H53RagIg0N0C|título=As veias abertas da América Latina|ultimo=Galeano|primeiro=Eduardo|data=2010-09-29|editora=L&PM Editores|página=118}}}}

==== Doutrina Monroe ====
A chamada [[Doutrina Monroe]] foi anunciada pelo presidente americano [[James Monroe]] (presidente de 1817 a 1825) em sua mensagem ao [[Congresso dos Estados Unidos|Congresso]] em 2 de dezembro de 1823.<ref>{{Citar web|url=https://www.loc.gov/rr/program/bib/ourdocs/|titulo=Primary Documents in American History, created by Kenneth Drexler and Mark F. Hall, Digital Reference Specialists (Virtual Programs & Services, Library of Congress)|acessodata=2021-04-06 |website=www.loc.gov}}</ref>

: ''"Julgarmos propícia esta ocasião para afirmar, como um princípio que afeta os direitos e interesses dos Estados Unidos, que os continentes americanos, em virtude da condição livre e independente que adquiriram e conservam, não podem mais ser considerados, no futuro, como suscetíveis de colonização por nenhuma potência europeia […]'' "(Mensagem do Presidente James Monroe ao Congresso dos EUA, 1823)

A frase que resume a doutrina é: "América para os americanos"

O seu pensamento consistia em três pontos:

* a não criação de novas colônias nas [[América]]s;
* a não intervenção nos assuntos internos dos países americanos;
* a não intervenção dos Estados Unidos em conflitos relacionados aos países europeus como guerras entre estes países e suas colônias.

Tal doutrina auxiliou no processo de consolidação da independência dos países latino-americanos, ao impor defesas contra tentativas de reconquista das colônias emancipadas. Entretanto, mais tarde, ao fim do {{séc|XIX}}, os Estados Unidos deram um caráter imperialista à doutrina Monroe e começaram a fortalecer sua influência militar, econômica e política na região do [[Caribe]], inclusive através de intervenções militares. O objetivo era transformar este mar das Caraíbas num [[Mare Nostrum|''mare nostrum'']] devido à sua importância estratégica. Intervenções para a cobrança de dívidas também passaram a ser justificadas.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=tIOzDAAAQBAJ&pg=PA789&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false|título=Encyclopedia of U.S. - Latin American Relations|ultimo=Leonard|primeiro=Thomas|ultimo2=Buchenau|primeiro2=Jurgen|ultimo3=Longley|primeiro3=Kyle|ultimo4=Mount|primeiro4=Graeme|data=2012-01-31|editora=CQ Press|lingua=en}}</ref>

==== Efeito econômico ====
As consequências de curto prazo da independência latino-americana foram a fragmentação do poder político, a militarização da sociedade e a mobilização de recursos e homens para a guerra.<ref>{{citar livro|título=Wealth and Poverty of Nations|ultimo=Landes|página=313}}</ref> A turbulência política não terminou com a independência. Disputas sobre fronteiras nacionais e guerras civis continuaram por décadas.

Os custos e benefícios da independência foram avaliados por Coatsworth, que concluiu que, no curto prazo, os benefícios econômicos diretos e indiretos da independência eram pequenos, assim como os custos mensuráveis do colonialismo: os limitados benefícios líquidos da independência foram superados por novos custos, como guerras prolongadas, conflitos civis e instabilidade econômica. No longo prazo, entretanto, houve benefícios econômicos com a destruição da ordem institucional colonial: a independência levou à modernização institucional, como a abolição da escravidão em muitos países, o fim do monopólio do comércio externo e a possibilidade de levantar capital em mercados internacionais.<ref>{{Citar livro|url=https://www.cambridge.org/core/books/economic-history-of-latin-america-since-independence/849AA61529EC2D8C272411A722A93B04|título=The Economic History of Latin America since Independence|ultimo=Bulmer-Thomas|primeiro=Victor|data=2014|editora=Cambridge University Press|edicao=3|series=Cambridge Latin American Studies|local=Cambridge}}</ref>

==Cronologia por século==
*XV: Impérios [[Império Inca|Incas]] e [[Civilização asteca|Aztecas]].
*XVI: Apogeu colonial de Potosi, México, Nordeste.
*XVII: pecuária extensiva na Bacia Platina e Sertão Nordestino.
*XVIII: Vila Rica nas Minas Gerais emerge como polo econômico.
*XIX: como o Rio de Janeiro e Buenos Aires. Montevideo passa a ser um pólo secundário cuja função básica é evitar o conflito direto entre os dois últimos pólos.
*XX: Regiões como o México voltam a crescer fortemente. São Paulo e Buenos Aires idem. Brasília ganha a sede para um saturado Rio. Regiões como Assunção, Nordeste Sul-americano, Potosi e cia, que foram regiões das mais ricas e importantes no hemisfério perdem muito peso após sabotagens geopolíticas nos bastidores.
*XXI: A América Latina e o Sul Global apresenta um crescimento econômico pela exportação de commodities e relativa estabilização política. Brasil, México e Argentina se consolidam como principais economias. 

==Ver também==
* [[História do México]]
* [[História da América Central]]
* [[História da América do Sul]]

{{Referências}}

==Bibliografia==
* CHASTEEN, J. (2001), “América Latina: uma história de sangue e fogo”
* MARTÍ, J. (1993), “Nuestra América”
* THORPE, R. (2002), “A América Latina e a economia internacional, da Primeira Guerra Mundial à Grande Depressão”
* WASSERMAN, C. (2002), “Palavra de Presidente”

==Ligações externas==
* [http://www.historyworld.net/wrldhis/PlainTextHistories.asp?historyid=aa87 History of Latin America] (em inglês)

{{História da América}}
{{Portal3|História|América Latina}}

{{DEFAULTSORT:Historia Da America Latina}}
[[Categoria:História da América]]
[[Categoria:América Latina]]